Míriam Santini de Abreu
K, de cujos cabelos se desprende um odor de limões, contou-me que as letras dormiam no fundo de um cântaro de lápis-lazúli. Encontrou-o uma mulher que se abrigara em uma caverna, surpreendida pela neve que soterrava de brancura a terra onde hoje está Badakshan. Quase morta por uma fome sem nome, por uma sede incapaz de adjetivos, ela aninhou-se no manto de pêlos úmidos daquele jovem animal que ferira e matara, e que agora esquentava seu corpo. E assim, esfaimada, apoiou a cabeça sobre uma pedra, e ali, a centímetros, entreviu o cântaro. Deslizou sobre a terra, e logo seus dedos frios alcançaram o gargalo azulado e nele mergulharam. Apanhou sete pedras que aprisionavam minúsculos caracteres, e apertou os olhos para desvendar-lhes o segredo. E assim, na noite do tempo, deu a si mesma um nome.
Um comentário:
uiii.. que lindo!
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