quarta-feira, 22 de março de 2023

Jornalista Paulo Clóvis Schmitz, o PC, é o quarto entrevistado do projeto repórteres SC







Fotos: Rosane Lima

Por Míriam Santini de Abreu

Foi cercado pelas personagens do boi-de-mamão, que nos espiavam na sala tomada de empréstimo no Mercado Público de Florianópolis, que o jornalista Paulo Clóvis Schmitz, o PC, nos concedeu a quarta entrevista do projeto Repórteres SC. 

O lugar, com os janelões de madeira aparando o sol e o vento, não poderia ser mais adequado! PC falou sobre ele em um de seus livros, “Mercado Público e suas histórias” (2013), com o fotógrafo Danísio Silva, obra ampliada a partir da anterior, de 2007, com situações e personagens de um dos mais emblemáticos pontos de encontro da capital catarinense.

Com o caderno de anotações no colo, PC falou sobre a infância em Quilombo, no oeste do estado, onde, na Biblioteca da Prefeitura, descobriu o mundo das histórias. Em Florianópolis, cursando Letras, começou a trabalhar no jornal O Estado, onde ficou por uma década, e nas décadas seguintes foi afinando a experiência como repórter, colunista, editor, editorialista, cronista, assessor de imprensa e também escritor, além de ter atuado como professor.

Na entrevista, PC analisa a cobertura de cidade pela imprensa e avalia o atual cenário jornalístico da capital e do estado e as consequências para a produção de reportagens. Ele fala ainda sobre as coberturas que fez na área de cultura, tendo entrevistado artistas de diferentes áreas, e relembra as matérias nascidas de acontecimentos imprevistos ocorridos em lugares onde ocasionalmente ele estava de passagem. Como diziam na redação, é um desses repórteres que a notícia procura.

PC, que bom para o jornalismo catarinense que tu existas!


segunda-feira, 13 de março de 2023

Júlio Castro, repórter

Foto: Rosane Lima

Com uma trajetória iniciada em Tubarão, desenvolvida em Florianópolis e hoje alcançando diferentes regiões do estado, através da Central de Imprensa das Federações Esportivas de Santa Catarina (Cifesc), o jornalista Júlio Castro é o terceiro entrevistado do Projeto Repórteres SC. 

Ainda no colégio em Tubarão, Júlio se envolveu com uma equipe que fazia a Gazeta Estudantil. E foi na juventude, ouvindo rádio, que se apaixonou pelo fazer dos narradores e comentaristas, em especial do esporte, e começou a atuar na área. Laçou uma oportunidade que apareceu e se mudou para Florianópolis, onde trabalhou em diferentes veículos e funções, entre elas o rádio esportivo. A entrevista, que começou na Praça XV, se completou na Travessa Ratcliff, pertinho da sede da Rádio Guarujá, onde Júlio trabalhou em duas ocasiões, com endereço na Rua Nunes Machado, Edifício Tiradentes.

Na entrevista, ele falou sobre as coberturas marcantes das quais participou, citou colegas que marcaram sua trajetória, analisou a cobertura do esporte amador e relembrou a passagem de Pelé por Santa Catarina, que noticiou quando integrante da equipe de jornalistas de A Notícia durante a cobertura dos Jogos Abertos de Santa Catarina em São Bento do Sul, em 1996.

Na equipe, Elaine Tavares e Míriam Santini de Abreu na entrevista, Felipe Maciel Martínez na gravação e a repórter fotográfica Rosane Lima no making of.


quarta-feira, 8 de março de 2023

Jornalista Júlio Castro destaca Jornalismo Esportivo






Com uma trajetória iniciada em Tubarão, desenvolvida em Florianópolis e hoje alcançando diferentes regiões do estado, através da Central de Imprensa das Federações Esportivas de Santa Catarina (Cifesc), o jornalista Júlio Castro foi o terceiro entrevistado do Projeto Repórteres SC. 

Ainda no colégio em Tubarão, Júlio se envolveu com uma equipe que fazia a Gazeta Estudantil. E foi na juventude, ouvindo rádio, que se apaixonou pelo fazer dos narradores e comentaristas, em especial do esporte, e começou a atuar na área. Laçou uma oportunidade que apareceu e se mudou para Florianópolis, onde trabalhou em diferentes veículos e funções, entre elas o rádio esportivo. A entrevista, que começou na Praça XV, se completou na Travessa Ratcliff, pertinho da sede da Rádio Guarujá, onde Júlio trabalhou em duas ocasiões, com endereço na Rua Nunes Machado, Edifício Tiradentes.

Na entrevista, ele falou sobre as coberturas marcantes das quais participou, citou colegas que marcaram sua trajetória, analisou a cobertura do esporte amador e relembrou a passagem de Pelé por Santa Catarina, que noticiou quando integrante da equipe de jornalistas de A Notícia durante a cobertura dos Jogos Abertos de Santa Catarina em São Bento do Sul, em 1996.

O vídeo estará disponível em breve! Na equipe, Elaine Tavares e Míriam Santini de Abreu na entrevista, Felipe Maciel Martínez na gravação e a repórter fotográfica Rosane Lima no making of.


quarta-feira, 1 de março de 2023

A Pobres & Nojentas inicia o projeto "Trajetórias e Histórias"


Jornalista Elaine Tavares é a primeira entrevistada


Por Míriam Santini de Abreu

A equipe da Pobres & Nojentas inicia em março de 2023 mais um projeto, o Trajetórias e Histórias. O objetivo é conversar com pessoas cuja história de vida se entrelaça com as lutas populares em Santa Catarina. Eu e Elaine Tavares faremos as entrevistas, com gravação e edição do jornalista Rubens Lopes de Souza.

A primeira entrevistada é a jornalista Elaine Tavares, cujo fazer profissional é narrar as sucessivas rebeliões do vivido no cotidiano dos e das trabalhadoras. Desde pequena, nascida na fronteira, a guriazinha de Uruguaiana vive para continuamente fazer coisas.

Elaine já viveu em quatro estados, atuou em todas as áreas e funções pelas quais um jornalista pode passar (tevê, rádio, jornal, assessoria de imprensa, assessoria parlamentar, sindical, docência) tanto na mídia tradicional quanto no jornalismo independente. 

Ela trabalha no Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA/UFSC), tem um programa semanal na Rádio Comunitária Campeche, cuida do blog da Pobres & Nojentas e também do próprio blog, o Palavras Insurgentes, no qual a primeira postagem foi em outubro de 2007. Ali está a lista dos livros escritos por Elaine, nove, fora os capítulos publicados em coletâneas.

Ela já andou muito pelos pagos do mundo, afiou seus sortilégios nas terras da Andaluzia, da China, da Rússia, do Egito, da Pátria Grande Latino-Americana, mas ama Florianópolis do fundo do peito; saltita Centro afora feito uma lebre vendo as tendências com nossa querida amiga em comum Jussara Godoi e faz poema das veredas arenosas do Campeche, onde uma coruja dourada a aguarda todas as noites. 

Conheci Elaine em agosto de 2000, quando assumi como jornalista no Sindicato dos Trabalhadores da UFSC, o Sintufsc, em plena greve dos servidores técnico-administrativos. Ela foi coordenadora de Comunicação do Sindicato e por ela e pela também coordenadora e jornalista Raquel Moysés conheci a obra dos jornalistas Adelmo Genro Filho e Marcos Faerman, para mim desencadeadores de epifania jornalística. Já estou na segunda carteira profissional e posso afirmar que não houve lugar de trabalho mais importante na minha própria trajetória do que o Sintufsc. 

Particularmente, ao longo de 23 anos de convivência com a Elaine, a quem chamo de Cabecinha, a imagem que melhor define nossa caminhada é a cena final do filme "Anahy de las Misiones", de 1997. Ela é fronteiriça, eu sou serrana, e seguimos juntas em marcha rumo ao vasto e inevitável abismo, nas nossas carroças já rangentes, do embornal caindo projetos maravilhosamente fadados a prejuízos financeiros, mas movidas pelo contentamento e encantamento mútuo de fazer coisas.

Rumo ao nascente, Anahy, minha amiga, ao levante, sempre pra frente!!! Abra-se o maldito abismo!


EM TEMPO! Gravamos a entrevista na Praça XV, de frente para a Figueira. A Elaine está para publicar um novo livro chamado "Mentindo para a Figueira". Mas, na entrevista, só trouxe verdades!



quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Sérgio Vignes - repórter


Foto: Rosane Lima

O projeto Repórteres SC apresenta hoje o repórter fotográfico Sérgio Vignes, entrevistado na frente da Kibelândia, na Victor Meirelles, uma das ruas que expressa a boêmia urbana no Baixo Centro de Florianópolis.

Vignes contou como foi o primeiro contato dele com a fotografia, ainda menininho. Ao longo da entrevista, ele detalhou a atuação na FATMA, hoje IMA (Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina) e narrou os fatos que levaram aos belos registros fotográficos que fez de Franklin Cascaes, pesquisador do folclore ilhéu, em 1982. Vignes falou ainda sobre o trabalho desenvolvido para o Instituto Observatório Social, ligado à CUT, suas experiências no fotojornalismo e também a prática da fotografia urbana no Centro de Florianópolis, que divulga pelas redes sociais, documentando assim o cotidiano urbano do Centro de Florianópolis. 

Essa segunda entrevista contou com o trabalho do cinegrafista Felipe Maciel Martínez, da repórter fotográfica Rosane Lima, que fez as fotos dos bastidores, e de Elaine Tavares e Míriam Santini de Abreu na entrevista.

O projeto iniciou em fevereiro com a entrevista do repórter Edson Rosa.


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

Edson Rosa - repórter


Foto: Rosane Lima

Gravado no histórico Largo da Alfândega, no Centro de Florianópolis, o primeiro episódio do projeto Repórteres SC está na nuvem, trazendo a belezura da história e do trabalho do repórter Edson Rosa. Nascido na capital, Edson fala sobre sua infância e juventude, o primeiro trabalho, ainda muito jovem, lidando com jornal, a passagem por jornais de Santa Catarina, a parceria com colegas nas coberturas e a relação com a vida e as pautas que pululam na cidade, prontas para quem tem olhos para ver e ouvidos para ouvir.

Entre outras premiações, em 2016 Edson recebeu o Prêmio Dakir Polidoro de Imprensa, uma das principais homenagens a comunicadores no Estado, em sessão solene na Câmara Municipal de Vereadores. Ele é reconhecido por suas matérias sobre a cidade e o meio ambiente, tendo especial apreço por tudo que envolve a pesca, os pescadores e o mar. 

Na conversa aparecem histórias deliciosas, como a da “isca” ele que usou para convidar à reportagem uma família de gaviões carcará que habitava as copas das árvores da Praça 15. O texto, com as fotos de Daniel Queiroz, pode ser lido em https://ndmais.com.br/noticias/em-extincao-familia-de-gavioes-carcara-reina-entre-as-copas-das-arvores-de-florianopolis/

A costura da memória trouxe, pela fala de Edson, outros e outras repórteres, repórteres fotográficos e cinegrafistas, pauteiros, editores e também motoristas que fizeram história no jornalismo catarinense e que serão entrevistados no decorrer do ano.

A equipe do projeto, que já gravou a segunda entrevista (aguardem!) é composta por Míriam Santini de Abreu – jornalista; Elaine Tavares – jornalista; Rubens Lopes – jornalista; Rosane Lima - repórter fotográfica; Leonardo Antônio – músico; Leopoldo Paqonawta – design; Felipe Maciel Martínez – cinegrafista; Paulo Renato Venuto – músico. 

E assim vai se constituindo a memória dos fazeres e saberes dos e das trabalhadoras do jornalismo catarinense. Sigamos!

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Música



O projeto Repórteres SC segue agregando gente disposta a contribuir para que o trabalho fique bonito. Esta semana terminamos de gravar a trilha sonora que acompanhará os vídeos de entrevista, dando belezura para a vinheta de abertura e colorindo as passagens. O trabalho musical é dos músicos Paulo Renato Venuto e Leonardo Antônio. A parte técnica da gravação foi conduzida por Rubens Lopes com o apoio de Uaná Lopes.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Edson Rosa é o primeiro entrevistado do Projeto Repórteres/SC



Texto: Miriam Santini de Abreu

Fotos: Rosane Lima

Com o sol de janeiro esbravejando, no histórico Largo da Alfândega, fizemos nesta quarta-feira (25) a primeira gravação do projeto "Repórteres SC". O repórter Edson Rosa abriu os trabalhos, falando sobre sua infância e juventude, o primeiro trabalho, ainda muito jovem, lidando com jornal, a passagem por jornais de Santa Catarina, a parceria com colegas nas coberturas e a relação com a vida e as pautas que pululam na cidade, prontas para quem tem olhos para ver e ouvidos para ouvir.

Histórias deliciosas, como a da "isca" que usou para convidar à reportagem uma família de gaviões carcará que habitava as copas das árvores da Praça 15. O texto, com as fotos de Daniel Queiroz, pode ser lido em https://ndmais.com.br/noticias/em-extincao-familia-de-gavioes-carcara-reina-entre-as-copas-das-arvores-de-florianopolis/

A gravação ficou com o jornalista Rubens Lopes de Souza, e a repórter fotográfica Rosane Lima fez o making-of, capturando lindamente a alegria que foi essa primeira conversa do projeto. A costura da memória trouxe, pela fala de Edson Rosa, outros e outras repórteres, repórteres fotográficos e cinegrafistas, pauteiros, editores e também motoristas que fizeram história no jornalismo catarinense.

Feita a entrevista, rimos muitos de pautas e coberturas antológicas lembradas por Edson e Rosane, que trabalharam juntos. Em meio às recordações de tantos apuros para trazer notícias, os dois vieram com uma tirada das boas: "Pensa na roubada que rende!"

Foi bonito demais! Edson, tu és grande!






domingo, 22 de janeiro de 2023

Projeto Repórteres SC



 As jornalistas Miriam Santini de Abreu e Elaine Tavares falam sobre como surgiu a ideia do projeto que contará a história de vida e as práticas dos repórteres de Santa Catarina. 

Veja no Youtube


quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Planejando o projeto Repórteres SC


As jornalistas Elaine Tavares e Míriam Santini de Abreu estiveram reunidas para o planejamento do projeto Repórteres SC. A primeira fase da proposta tem sido o levantamento dos nomes dos profissionais de texto, foto, imagem e rádio que serão entrevistados. A intenção é buscar os repórteres nas diversas regiões do estado visando também garantir espaço para o pessoal que trabalha no interior e que, geralmente, fica mais invisibilizado. É um trabalho de longo alcance que deve se estender por bastante tempo, afinal, como é comum no jornalismo independente, os meios materiais para dar concretude às ideias são sempre ínfimos. Ainda assim as pobrinhas estão dispostas a caminhar, descortinando a memória do jornalismo catarinense, eternizando as histórias pessoais e coletivas, além de plasmar na memória uma forma de fazer jornalismo que não existe mais. 

A primeira fase do projeto consiste de entrevistas aprofundadas com os repórteres e a segunda fase buscará, nos colegas e amigos, a memória daqueles e daquelas que já partiram desse plano. Por fim, a intenção é deixar registrada a caminhada desses profissionais e, nelas, a história do fazer jornalístico no nosso estado. 

Na próxima semana a ideia começa a andar, com a primeira entrevista já marcada. Aguardem... Construiremos juntos esse largo e luminoso caminho...


Repóteres SC


 Ainda que o jornalismo seja uma prática que parece estar em hibernação, não são poucos os grandes repórteres – homens e mulheres - que fazem e fizeram a história do jornalismo em Santa Catarina. Gente da melhor qualidade, comprometida com o jornalismo de verdade, esse que investiga, que observa, que enxerga a realidade, que contextualiza, que interpreta, que narra com bossa, seja na palavra ou na luz. 

E é para eternizar a história desses profissionais que a Pobres e Nojentas começa neste ano de 2023 um projeto novo chamado “Repórteres SC”, através do qual vão contar, em vídeo, a história de vida e a caminhada profissional de cada um e cada uma que escolheu narrar a realidade dos catarinenses. 

A ideia é montar um banco de informações para que estas histórias se eternizem garantindo assim a memória viva do jornalismo do nosso tempo. Na produção estaremos as pobrinhas: eu e Míriam Santini de Abreu, contando também com a parceria de Rubens Lopes. Um projeto modesto, mas que tem por ambição plasmar a memória do que há de melhor no jornalismo catarinense. 

Aguardem, que já chega. Estamos já em produção... O janeiro começa quente...

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Marcha pela Vida






Fotos: Rosane Talayer de Lima

Canções, palavras de ordem, bandeiras e pessoas em luta rasgaram a manhã nublada da capital catarinense na manhã desta segunda feira (24.10). Foram os representantes de mais de 600 famílias que hoje estão batalhando pelo seu direito de morar, lutando contra o despejo. A ameaça está sob a cabeça porque as comunidades nas quais moram são consideradas ilegais pelo poder público, ainda que algumas delas existem há mais de 20 anos. A verdade mesmo é que elas ocupam espaços que hoje está sob a cobiça da especulação imobiliária que tudo o que quer é "tirar os pobres da sala". Não bastasse isso, em Palhoça, por exemplo, a prefeitura define obras que atravessam comunidades sem a realização de audiências públicas, sem ouvir as famílias, sem diálogo e ainda ferindo a lei ambiental.

A marcha pela Moradia contra o Despejo começou no estreito, bairro continental de Florianópolis e veio em direção à ilha, passando pela ponte Hercílio Luz, o cartão de visitas da capital. Desde 1986 que a "velha senhora" não via a marca de uma manifestação popular - no campo da moradia - sob suas vigas. Foi bonito de ver a mistura dos núcleos das bandeiras com o céu azul e o cinza brilhante da ponte. O espaço, que desde sua reinaupulação tem servido de cenário para fotos e visitas turísticas, sentiu a vibração das famílias locais, como que vivem e sofrem a cidade real, trabalhadores e trabalhadores que muitas vezes não tem o dinheiro da passagem para uma visita aos domingos com a família. Por isso, em meio à luta, foi com alegria que as famílias cruzam o caminho, com crianças, velhos e jovens vivendo esse momento pela primeira vez.

A reivindicação principal da marcha é a manutenção da ADPF 828, uma normativa que proíbe despejos na pandemia e que tem seu prazo de validade até o dia 30 deste mês. Na semana passada os movimentos que estão na luta junto com as comunidades já realizaram uma visita à Assembleia Legislativa, onde arrancou uma Audiência Pública sobre o tema, que vai acontecer no dia 8 de novembro. O foco mais urgente é as ações de despejo e o projeto da Avenida Beira-Rio em Palhoça, que deveria atingir imediatamente 300 famílias das comunidades Benjamin e Fé em Deus. Mas, outras comunidades também estão ameaçadas.

A intenção do movimento foi justamente ocupar o "cartão postal" da cidade para chamar a atenção das autoridades acerca da questão da moradia, visto que na capital, por exemplo, há anos que inexiste qualquer projeto de construção de moradias populares, tema que também é pouco discutido nos municípios mais demais da região metropolitana. E é justamente por isso que não resta alternativa às famílias que não conseguem pagar os altosomus, a não ser ocupars vazios que não cumprem com sua função social.

A meia caminhadasou o Estreito, cruzou a ponte e seguiu para o centro de Florianópolis. Além da movimentação na rua, para dar visibilidade ao momento de luta, foram entregues documentos referentes à Campanha Despejo Zero no Ministério Público Estadual e Federal, nas prefeituras dos municípios da região e da capital, no Tribunal de Justiça e também aos representantes da Diocese da Igreja Matriz, onde a marcha descansou. Na fala do padre Vilson Groh, ficou o compromisso de levar para as paróquias o debate sobre o tema da moradia. O mesmo documento deveria ser entregue aos candidatos a governador e presidência da República, já que o tema moradia não aparece nas campanhas.

São presentes famílias das ocupações Vale das Palmeiras, Contestado, Anita Garibaldi, Marielle Franco, Vila Esperança, Benjamin, Fé em Deus, Beira Rio, Mestre Moa, Carlos Marighella, Fabiano de Cristo, Vila Aparecida e Elza Soares. Uma coluna com adultos, velhos e crianças, que sabe muito bem que só a luta garante direitos à classe e trabalhadora que, por mesmo isso, não se furta ao corajoso ato de reivindicar. Foi assim para encontrar um espaço onde erguer a casa, foi assim para construir as moradias sem apoio algum, e é assim que se unem para defender um direito que é de todos os brasileiros: morar com dignidade.

No dia 30 de outubro, além de marcar as eleições, será um momento de tensão para as famílias que vivem a ameaça de despejo. E isso não é coisa só do nosso entorno, está em todo o país, pois com o fim do prazo para o despejo zero, muitas ações deverão acontecer no sentido de tirar as famílias de sua morada. Por isso esse movimento precisa estar de pé.

A luta segue e se fará presente outra vez na Alesc, dia 08 de novembro.

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sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Como operam os mecanismos da ideologia na cobertura jornalística das ocupações urbanas e das remoções na pandemia de Covid-19?


Míriam Santini de Abreu - jornalista

Apresentei artigo no 31º Simpósio Nacional de História que examina como operam os mecanismos da ideologia na cobertura jornalística das ocupações urbanas e das remoções na pandemia de Covid-19. O material de análise é composto por dez reportagens, sendo oito do jornalismo tradicional e duas do jornalismo independente brasileiro. Analisa-se também como a alienação urbana aparece nas reportagens, que revelam o agravamento, pela pandemia, do processo que leva do aluguel instável à ocupação, e da ocupação à remoção e à situação de rua. Para milhares de pessoas, a cidade paulatinamente encolhe, restando tendas, barracas e pisos de viadutos.

As coberturas jornalísticas trazem à tona relatos das faces cada vez mais perversas da alienação urbana sob a crise econômica, o desemprego e a pandemia: a miséria se alastrando do centro para as periferias das cidades, a busca da rua para saciar a fome mesmo pelos que têm moradia e as omissões e coerções institucionais nos abrigos, nas arquiteturas excludentes e na criminalização de formas consideradas ilegais de sobrevivência. Um aspecto importante nos textos é a abertura à fala de quem experimenta, no cotidiano, o desespero e o abandono à espera de soluções que não aparecem. Faltam, porém, abordagens mais aprofundadas do papel do estado nesse processo, em especial sob o governo de Jair Bolsonaro.

Das análises destaca-se a posição do grupo de mídia catarinense ND, que desde 2018 – e de forma ainda mais intensa a partir do início da pandemia – sistematicamente criminaliza as ocupações urbanas e seus moradores em Florianópolis e cidades vizinhas. A ideologia posta em funcionamento credita aos empobrecidos a responsabilidade pela destruição da paisagem da cidade, valorizada como mercadoria turística, legitimando o discurso dos grupos dominantes e ocultando o papel deles nos processos ambientalmente insustentáveis provocados pela expansão do setor de turismo.

Na foto, pintura no prédio onde está a Ocupação Anita Garibaldi, no bairro Capoeiras, em Florianópolis, onde, desde o dia 17 de setembro, estão cerca de 100 famílias sem-teto. Trata-se de uma ocupação organizada por moradia inédita em Florianópolis, e talvez no estado, por ser em prédio abandonado. Historicamente, as ocupações organizadas na capital catarinense foram em terrenos.

O artigo completo está no link https://bit.ly/2YbvfAu

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Livro “A rebelião do vivido no jornalismo independente de Florianópolis” narra experiências de mídia alternativa na capital catarinense


O livro “A rebelião do vivido no jornalismo independente de Florianópolis”, produção da revista Pobres & Nojentas e da Letra Editorial, traz oito artigos que contam como foram as riquíssimas experiências que, desde os anos 1980, moveram e movem, na capital catarinense, jornalistas comprometidos com o que se tem chamado de jornalismo independente/alternativo/contra-hegemônico. Com elas mostram-se a força e a capacidade de organização do movimento popular de Florianópolis e o jornalismo que deu e dá visibilidade a esses movimentos.

A organização é da jornalista Míriam Santini de Abreu,  da equipe do sítio Folha da Cidade, com projeto e diagramação da jornalista Sandra Werle. São autores do livro Ana Claudia Rocha Araujo, Anita Grando Martins, Claudia Weinman, Coletivo do Portal Catarinas, Dario de Almeida Prado Júnior, Elaine Tavares, Jeffrey Hoff e Míriam Santini de Abreu.

Estão contadas as rebeldias da Bernunça (anos 1980), da Folha da Lagoa (anos 1990), do jornal Guarapuvu, da Rádio Comunitária Campeche, da Pobres & Nojentas, do Portal Desacato (anos 2000), do Daqui na Rede e do Portal Catarinas (anos 2010).

Míriam, organizadora do livro, conta que a ideia surgiu durante a pesquisa que fez para sua tese no Curso de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), intitulada “Espaço e cotidiano no jornalismo: crítica da cobertura da imprensa sobre ocupações urbanas em Florianópolis”, defendida em agosto de 2019. O objetivo da pesquisa foi examinar as manifestações da ideologia produzidas pelo jornalismo tradicional e explorar as potencialidades do jornalismo independente na cobertura do cotidiano no espaço urbano, vislumbrando a possibilidade de o jornalista ser capaz de uma prática criadora que constitua o jornalismo como obra, valor de uso, em contraposição ao jornalismo como produto, valor de troca.

A partir da discussão de como se deu a produção do espaço na cidade de Florianópolis (SC), Míriam pesquisou a cobertura jornalística de três diferentes processos de ocupação urbana – dois por moradia (Ocupação Amarildo de Souza e Ocupação Marielle Franco) e um por lazer/cultura (ocupação da Ponta do Coral) nos jornais Diário Catarinense e Notícias do Dia (jornalismo tradicional) e na revista Pobres & Nojentas, no portal Desacato e no coletivo Maruim (jornalismo independente).

A pesquisa evidenciou a importância de trazer à luz a história e a contribuição dos veículos independentes analisados e ampliar o estudo do papel de outros veículos ao longo dos últimos 40 anos em Florianópolis. “Os veículos tradicionais, hegemônicos, são fartamente estudados, mas os independentes são, de modo geral, ignorados, apesar de cumprirem, em diferentes períodos históricos, um papel fundamental na visibilização das lutas populares”, afirma Míriam. Pela dificuldade de sustentação financeira, esses veículos têm dificuldade de se manter, mas mesmo os de vida curta trazem experiências riquíssimas tanto de jornalismo (formas de organização, de sustentação financeira, de distribuição, de seleção de pautas) quanto de compreensão da vida da cidade e seus habitantes. Entre os veículos citados no livro, apenas três continuam até hoje a produzir conteúdo jornalístico de forma regular.

Há, nas histórias, descobertas valiosas, entre elas, por exemplo, a forma como os veículos hegemônicos orquestram campanhas contra os independentes quando a cobertura jornalística neles feita não convém os grupos de poder na cidade e a construção teórica fundamental que move os independentes, como a de soberania comunicacional.

É nessa linha, afirma Míriam, que o livro, apesar de trazer exemplos de Florianópolis, tem interesse para todo e qualquer veículo, jornalista ou comunicador que tenha o compromisso de efetivamente narrar a experiência vivida de uma cidade e seus habitantes.

Para comprar o livro em formato digital, por R$ 15,00, acesse https://pay.hotmart.com/D42479643K?checkoutMode=10&bid=1603742423665&fbclid=IwAR0B51PfswI81KPi4heB49PvZQCxx3u8FwEzzJu23IYisjRJjmdCgfL_hRY

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

A rebelião do vivido



Entrevista com a jornalista Miriam Santini de Abreu, organizadora do livro que eterniza a história de oito experiências de jornalismo independente em Florianópolis. Algumas já viraram história, mas outras seguem sendo o espaço de resistência e luta dos movimentos sociais, sindicatos e lutas populares da capital. 

O livro em formato eletrônico está a venda, por 15 reais.

COMPRE AQUI


domingo, 30 de agosto de 2020

Sobre Wakanda e o socialismo

 Por Elaine Tavares

Chadwick Boseman é um ator negro que morreu aos 40 e poucos anos e causou uma grande comoção nos Estados Unidos. Ele interpretou um rei africano de uma terra imaginária, Wakanda, no cinema. Um filme sobre um reino negro, feito só com pessoas negras. Um marco nos Estados Unidos. Não vou entrar aqui no debate sobre a mensagem do filme, absolutamente liberal. Vou apenas perguntar: e poderia ser diferente? 

Sempre é importante lembrar que as ideias socialistas e comunistas foram varridas dos Estados Unidos na grande cruzada realizada pelo nefasto Joseph McCarthy entre os anos 1946 a 1958. Durante anos a fio qualquer pessoa com ideias mais à esquerda era denunciada e cassada. Acredita-se que mais de 10 mil pessoas perderam seus empregos e caíram no ostracismo social durante a chamada era McCarthy: professores, sindicalistas, artistas, escritores. Até o grande Charles Chaplin viveu na pele esse horror. 

Nas universidades se algum professor resolvesse incluir nas suas aulas de história a verdade sobre a Segunda Guerra ou algo sobre a Revolução Russa já era denunciado por alunos e imediatamente expulso. Se alguém numa empresa qualquer fizesse um abaixo-assinado para ter café para os trabalhadores também era apontado como comunista. E o comunismo passou a ser um inimigo a ser extirpado do país. Vale lembrar que muitas dessas pessoas que foram execradas não eram comunistas. Eram apenas pessoas que queriam lutar por direitos, mínimos às vezes. McCarthy promovia uma caça aos comunistas e a população apoiava fortemente, porque toda a mídia de massa divulgava a necessidade de combater o perigo vermelho.  

Foi uma campanha tão virulenta que o Partido Comunista dos Estados Unidos quase chegou a extinção, sobrando muito pouca gente identificada com essa proposta. E quando nos anos 1960 assomam as lutas pelos direitos civis, os direitos da população negra e contra a Guerra do Vietnam, as ideias que as movimentam são mais no campo liberal. Os Panteras Negras, que falavam de socialismo e apresentaram uma visão mais radical da luta contra o racismo, igualmente foram presos e execrados, sobrevivendo uma visão mais “palatável” da luta, com as ideias pacíficas de Luther King. Muitos avanços vieram a partir daí, ainda que cobrando alto em sangue e dor da população negra. Mas, tudo redução de danos, a considerar a realidade atual via massacre sistemático dos negros naquele país. O que dizer quando um negro desarmado leva sete tiros nas costas e um branco armado de fuzil mata e sai andando? 

Hoje, observando as figuras que representam as ideias mais progressistas nos Estados Unidos – de qualquer etnia - fica bastante claro que a visão vencedora – não apenas no campo da luta contra o racismo, mas também nas demais lutas por direitos – foi a visão liberal. Assim, o máximo que a turma consegue chegar é nas pautas que traduzem as lutas contra as desigualdades, o que significa que as desigualdades seguirão existindo, só que menos. Bom, isso não é suficiente. 

Essa é também a mensagem do filme Pantera Negra, do qual Chadwick Boseman foi protagonista. E, na indústria do cinema estadunidense isso já foi altamente transformador. Seria obviamente impensável que Hollywood colocasse na tela um filme só de negros, com uma mensagem revolucionária: ou seja, Wakanda saindo de seu isolamento para comandar uma revolução mundial, acabando de vez com as desigualdades e com a exploração. Não. Isso não sairia da cidade dos anjos. O que pode sair é o que saiu. Wakanda dando uma de Banco Mundial, FMI, Nações Unidas, financiando programas de redução da pobreza. Até aí, tudo bem.

Cá no meu cantinho eu entendo perfeitamente a comoção da população negra estadunidense com a morte daquele que representa um rei imemorial dos ancestrais. E sua história de luta contra a doença, mesmo durante as filmagens, o torna ainda mais heroico como ser humano e como homem negro tentando sobreviver na selva real. Ele certamente viverá na memória das crianças negras, que nunca tinham visto um rei negro no cinema. Levá-los a ultrapassar esse limite é a tarefa hercúlea dos partidos e dos movimentos revolucionários, que ainda são minúsculos nos Estados Unidos. 

Mas, por hoje, é isso que se pode ter. Não morreu apenas um ator negro, um bom ator a se considerar sua performance como James Brown, morreu alguém que representou, pela primeira vez em muito tempo, uma imagem positiva do negro estadunidense – ainda que camuflada em rei africano e limitada pela proposta liberal.  Chadwick representa um marco no cinema estadunidense e, na pele do rei de Wakanda, representa uma esperança para muitos meninos e meninas negras acostumados a ver seus iguais apenas em papel de empregados, drogados ou bandidos. Cruzar o muro do liberalismo é o próximo passo. 

A luta pelo socialismo/comunismo nos Estados Unidos é uma estrada que vem sendo reconstruída com muito vagar. Tanto que o Partido Comunista de lá passou décadas sem conseguir eleger sequer um vereador. Apenas no ano passado, o partido pode garantir um assento no legislativo da pequena cidade de Ashlan (oito mil habitantes), ao norte, no estado de Wisconsin, conhecido por ser o berço do chamado “progressismo” ainda no final do século XIX.


sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Para o Grupo ND, a clandestinidade tem classe: os empobrecidos

Famílias da Ocupação Marielle Franco em luta por moradia

Por Míriam Santini de Abreu - jornalista

O Grupo ND, cada vez mais alinhado com e irrigado pelo projeto genocida de Jair Bolsonaro, voltou à carga na campanha contra os empobrecidos de Florianópolis. Em março de 2019, o grupo fez circular o Dossiê Floripa, impresso de 20 páginas que elegia as chamadas “invasões” como um dos principais problemas da capital catarinense, sob a manchete “Invasões e Omissão”. Agora, passados quase um ano e seis meses, na edição de 22/23 de agosto, em meio a uma pandemia que se alastra com mais força nos bairros periféricos, o grupo publica o chamado Relatório ND, com a manchete “Cidade ameaçada”. Tanto naquele dossiê quanto neste relatório, o discurso genérico quanto aos problemas provocados pelas chamadas invasões e construções ditas clandestinas – em uma cidade na qual 51% das construções são consideradas irregulares – é ricamente ilustrado apenas por aquelas ocupadas por populações empobrecidas. 

Ao longo de 36 páginas do Relatório ND, praticamente todas as entrevistas são com fontes oficiais, empresariais, institucionais e especializadas. Essa cidade-mercadoria concebida pelo poder e negada a uma parte dos moradores aparece em uma das chamadas de capa do Relatório ND: “Especialistas projetam soluções para combater as invasões”. Fora uma declaração de três linhas de uma moradora da Ocupação Marielle Franco, não nomeada, o caderno não entrevista sequer um morador de ocupação. Esse silenciamento radical apaga toda e qualquer experiência vivida nesses espaços tão fortemente criminalizados pelos discursos oficiais, abafando falas que pudessem minimamente permitir ao leitor levantar o véu de clandestinidade sob o qual o grupo ND esconde essas populações. O fato de dominar, com o Grupo NSC, a mídia local, ainda possibilita que esse tipo de cobertura alastre seus efeitos na TV, jornal, revista e internet, contando com notas de colunistas refugados pelo Grupo NSC, ex-RBS, velhos porta-vozes do empresariado local. 

O Grupo ND sistematicamente compara a situação de Florianópolis a do Rio de Janeiro. No caso do Rio, a pesquisadora Rose Compans mostrou como a apropriação do discurso da preservação ambiental foi fundamental para a retomada da discussão sobre remoções de favelas, medida rechaçada no processo de redemocratização do país. A autora analisa a campanha promovida, em 2005, pelo jornal O Globo, intitulada “Ilegal. E daí?”, que teve como consequência uma ação movida pelo Ministério Público Estadual solicitando à Prefeitura a remoção de 13 áreas favelizadas, processo similar ao que ocorre agora em Florianópolis. Os segmentos interessados na retomada desta política, afirma a autora, utilizam o discurso que associa ocupação irregular do solo à degradação ambiental, atribuindo aos pobres a responsabilidade pelo desmatamento e a poluição dos corpos hídricos ocorridos ao longo de décadas. Essa associação veio no lugar de outra, a que localizava nas favelas os focos de epidemias e da marginalidade. 

O Relatório ND caminha nessa senda ao insistentemente associar as ocupações ao tráfico de drogas e à degradação da paisagem. O grupo jornalístico, porém, foi o mais árduo defensor dos beachs clubs no mais caro balneário da Ilha, Jurerê Internacional. Esses clubes estão sobre Áreas de Preservação Permanente, provocam poluição sonora e privatizam parte do acesso à praia, fatos que geraram embate judicial. São, portanto, dois pesos e duas medidas: o jornal culpa os entraves ambientais e o rigor da justiça contra os beachs clubs pelas dificuldades de Florianópolis em se consolidar como destino turístico, mas cobra rigor contra as ocupações para moradia em nome da preservação ambiental. 

Clandestinos quem? 

A palavra clandestino vem do latim e significa "às ocultas". Feito às escondidas. É pelo que não diz que o Grupo ND toma partido da clandestinidade sorrateira dos grupos dominantes de Florianópolis, que há décadas, às escondidas, tomam as terras, mudam as leis conforme a conveniência e se apoderam dos recursos públicos para valorizar as localizações que lhes convêm. Três exemplos! 

1) Pesquisa da professora de Arquitetura e Urbanismo da UFSC Maria Inês Sugai revela que, em Florianópolis, no período de 1970 a 2000, o Estado, em suas três esferas, fez os mais significativos investimentos públicos nas áreas residenciais de mais alta renda da capital catarinense, não apenas dotando-as de equipamentos como hospitais, universidades e edifícios públicos como também formando uma rede de vias que as conectou, englobando o acesso à Ilha, os bairros centrais e os balneários ao Norte e Leste da Ilha. Em parte, esse processo ocorreu graças às apropriações, pelo Estado (e também pelas camadas sociais mais influentes), das áreas públicas e das terras comunais (terras de uso comum de pequenos produtores) existentes em toda a extensão da Ilha, graças a um decreto estadual de 1934. 

2) Pesquisa do historiador Gert Schinke nos arquivos do extinto Instituto de Reforma Agrária de Santa Catarina (IRASC), que funcionou entre as décadas de 1960 e 1970, revelou que, dos cerca de 16 mil títulos de propriedade entregues pelo órgão no estado, em torno de 11.200 poderiam ser considerados no mínimo irregulares pelos critérios que legalmente davam base para reforma agrária. Em vez de serem entregues prioritariamente a camponeses, posseiros e pescadores, como previa a lei, as terras foram concedidas a militares, funcionários públicos, empresários pecuaristas e profissionais liberais.  Investigação sobre essa fraude imobiliária gigantesca está no Ministério Público Federal (MPF). 

3) Para construir o Costão Golf, o empresário Fernando Marcondes de Mattos conseguiu mudar o zoneamento do distrito onde ele ficou localizado, o Distrito de Ingleses do Rio Vermelho. A aprovação do projeto que viabilizou a mudança – com apenas três votos contrários do total de então 21 vereadores – ocorreu na última sessão do ano de 2003 da Câmara Municipal de Florianópolis, à meia-noite de 16 de dezembro, e a lei foi sancionada às vésperas do Natal pela então prefeita Angela Amin. 

As páginas centrais do Relatório ND trazem o “Mapa das invasões e moradias irregulares de Florianópolis” e das 9 mencionadas – ignorando o fato trazido pelo próprio jornal de que 51% das construções na capital são consideradas irregulares – cabe ressaltar o enquadramento de duas: Monte Cristo, no Continente, e Maciço do Morro da Cruz, no Centro. O Monte Cristo tem ocupações consolidadas há pelo menos 30 anos, e o Maciço desde ao menos o início do século passado, ou seja, são ocupações muito anteriores às das mais badaladas praias de Florianópolis. Ainda assim, recebem o carimbo da clandestinidade. Apesar de o jornal não mencionar o fato, no caso da Vila do Arvoredo, também chamada de Favela do Siri e também citada como invasão, houve várias tentativas para realocar as famílias e, nessas ocasiões, moradores das áreas escolhidas fizeram abaixo-assinado contra a presença daquela população em sua vizinhança. 

Cabe destacar a perversidade dessa cobertura em um momento no qual, segundo o Covidômetro da Prefeitura de Florianópolis, o Monte Cristo e o Monte Serrat, no Maciço, estão respectivamente na segunda e na sexta posição na taxa de casos por habitante (dado de 26/08/2020). O Novo Continente, na mesma região do Monte Cristo, está em primeiro lugar. A Prefeitura apresenta os dados por bairro e, lamentavelmente, não há informação pública sobre o quantitativo de casos que, nos bairros no entorno do Maciço, como Agronômica, Trindade, Saco dos Limões ou Pantanal, englobam especificamente famílias moradoras do Maciço. No final de julho, porém, a Prefeitura realizou ação sobre cuidados pela infecção de covid-19 na comunidade do Morro do 25 após a alta dos números de moradores contaminados na comunidade. No Covidômetro, porém, os casos foram lançados no bairro Agronômica. 

A reivindicação de testes para covid-19 já levou a duas manifestações em Florianópolis, nos dias 7 e 12 de junho. Na do dia 12, a caminhada organizada, entre outros, pelo Movimento de Luta por Moradia e o Coletivo Ocupações Urbanas, iniciou na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), contornou o Maciço do Morro da Cruz e encerrou na entrada do Morro do Mocotó. A luta pela testagem para a população mais vulnerável busca conhecer as reais condições da subnotificação nestes territórios e assim aplicar as medidas sanitárias e de amparo mais adequadas às comunidades. Nas manifestações, os moradores denunciaram que o aprofundamento da segregação em Florianópolis leva as populações empobrecidas para as áreas de localização cada vez mais periférica.

Essa errância sem fim marca o cotidiano de famílias que indefinidamente tentam achar um lugar no espaço para permanecer, no sentido mesmo de continuar sendo, de encontrar um “cantinho” para viver. As línguas, segundo o filósofo Henri Lefebvre, precursor do conceito de direito à cidade, expressam pobremente o tempo social e a prática social e, para a realidade urbana, as palavras são escassas, não dão conta de nomear os fenômenos. Se tivesse conhecimento das manhas da língua portuguesa, ele certamente concordaria que há grande riqueza simbólica em expressões muito usadas por aqui como “Vai procurar teu canto” ou “Aluguei um cantinho”. Na vida cotidiana brasileira, onde o habitar plenamente a cidade é privilégio, miragem, aos empobrecidos restam, com sorte, os cantos. Em Florianópolis e na Área Conurbada como um todo (com São José, Biguaçu e Palhoça), nem mais os cantos. 

O Grupo ND pergunta, junto à manchete “Cidade ameaçada”: “qual tipo de cidade queremos para viver? Dada a racionalidade político-empresarial que costura a cobertura jornalística do Relatório ND, a pergunta que lhe convém seria: que cidade eu posso vender e quem eu quero que compre?

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Relatório ND e o ópio do povo


Por Fernando Calheiros - cientista social e professor da rede pública. Atualmente cursa mestrado no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Santa Catarina
 

Mais uma vez a diplomada ignorância e o notório analfabetismo urbanístico se juntam ao ódio de classe para atacar os pobres da Grande Florianópolis. Trata-se de mais um embuste promovido pelo jornal Notícias do Dia – o ND, filiado não por acaso à indústria da fé do bispo e empresário Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus e proprietário do grupo Record. 

O pretenso relatório [1] com foco nas “invasões irregulares” busca associar mais uma vez de forma leviana a origem do “caos urbano” da Grande Florianópolis às populações periféricas. Através do velho discurso de guerra ao tráfico, as matérias produzidas e propagandeadas pelo que há de mais tacanho e reacionário no jornalismo catarinense buscam legitimar as ações policiais violentas e arbitrárias que se intensificaram nas comunidades por meio da derrubada de casas, agressões e intimidações aos moradores. Violência que vem crescendo na conjuntura de pandemia, aumentando ainda mais a insegurança, impunidade e violações de direitos. 

O ataque promovido contra as populações mais vulneráveis não será inócuo, pois, ao mesmo tempo em que vai buscar transformar os culpados em vítimas, passando o pano para a prefeitura e para os verdadeiros criminosos, devedores e usurpadores de terras públicas, vai também, de modo dissimulado e perverso, buscar transformar as vítimas em culpados, transferindo a culpa da falta de políticas habitacionais e da histórica grilagem de terras promovida pelas elites às populações empobrecidas da região. 

Lembremos aqui das origens dos problemas fundiário e habitacional da região que, além da vinculação junto ao processo originário de acumulação e de expropriação dos pequenos produtores açorianos, vai apresentar particularidades próprias de ocupação do solo que abarcarão desde a apropriação das áreas de uso comum pelas classes mais abastadas; passando pela entrega de terras públicas através da maquiada “reforma agrária” realizada pelo IRASC no período ditatorial; chegando ao contexto atual de avanço das agendas e pautas neoliberais e do processo de financeirização da terra e moradia no país, conjuntura que vai proporcionar um agravamento da precarização habitacional. Trata-se, de modo geral, do processo histórico de mercantilização e apropriação da terra pelo grupos políticos e econômicos dominantes, processo que vai acabar inviabilizando o acesso de grande parcela dos trabalhadores de baixa renda ao solo e também à moradia no município de Florianópolis. 

No que se refere ao conteúdo do relatório publicado, esse não faz mais do que ratificar a defesa ao modelo autoritário, elitista e segregador de cidade, o qual visa transformar a capital catarinense numa meca das elites locais e internacionais. Contudo, para que esse projeto elitista se torne cada vez mais concreto e hegemônico, é preciso excluir o máximo de populações não solváveis da cidade, ou seja, os setores mais empobrecidos da classe trabalhadora, que por sua condição de exploração e miséria não conseguem se enquadrar nos padrões de consumo estabelecidos pelas elites. 

Servindo como lacaios e bocas de aluguel de especuladores, construtores e agentes ligados ao capital imobiliário, os diversos colunistas do “Relatório ND” buscam a todo custo atacar os mais pobres e vulneráveis, uma vez que, além de tornarem-se uma “paisagem indesejável”, acabam inviabilizando as possibilidades de lucro e renda do mercado imobiliário, transformando-se, por esse motivo, em inimigos da ordem e promotores do caos urbano. 

No entanto, nem um pio quando o assunto diz respeito à apropriação ilegal de terras e crimes ambientais cometidos pelas elites locais, essas que, diferentemente dos pobres, podem escolher onde vão construir seus empreendimentos de alto padrão e que, por opção, escolhem as localizações privilegiadas, de área de preservação permanente, na beira da praia, privatizando e comprometendo o bem público e o meio ambiente. Nota-se, portanto, a partir da parcialidade dos noticiários, do pretenso relatório e dos comentaristas abomináveis, o nível de intolerância, perversidade e preconceito de classe na hora de discutir sobre a problemática urbana. 

Trata-se, sem dúvida, de uma guerra declarada aos pobres da Grande Florianópolis. Essa que, mesmo diante do avanço da pandemia na região, não parou um só minuto. Ao contrário, valendo-se da lógica de “passar a boiada”, enquanto os holofotes e atenções estão todos voltados ao controle e combate do vírus, as prefeituras locais, a exemplo da Capital, aproveitam o momento de fragilidade para intensificar ainda mais as práticas de segregação e violência contra as populações mais empobrecidas da região. 

É inadmissível que as populações empobrecidas continuem sendo tratadas com tamanho preconceito e violência por parte da grupo ND. Nenhuma ação, sobretudo as que ignoram processos jurídicos e a própria constituição, pode justificar a derrubada de casas e agressões contra o povo trabalhador das periferias, tão essencial nesse momento de crise sanitária e ao mesmo tempo tão reprimido e violentado. 

Fiel porta-voz dos interesses empresariais e da indústria da fé, o grupo ND agora se volta contra parte dos próprios fiéis da Universal, povo sofrido das periferias, favelas e ocupações, que muitas vezes deixam de comer para alimentar a fome insaciável da igreja por dinheiro e poder. Por trás dessa aparente contradição, revela-se a contraface perversa e cruel do grupo ND/RECORD, que, além de lucrar com a exploração da fé, alimentando a situação de vulnerabilidade e pobreza dos fiéis, agora também busca criminalizá-los por sua condição precária de moradia e de miséria. Eis o ópio do povo! 

[1] Relatório ND: Invasão define o caos urbano na região central de Florianópolis

https://ndmais.com.br/infraestrutura/dossie-nd-invasao-define-o-caos-urbano-na-regiao-central-de-florianopolis/ 

Relatório ND: A nova rocinha não é aqui em Florianópolis

https://ndmais.com.br/infraestrutura/dossie-nd-a-nova-rocinha-nao-e-aqui-em-florianopolis/ 

Cidade ameaçada: as construções clandestinas em Florianópolis

https://www.youtube.com/watch?time_continue=11&v=zoMkmYldRzc&feature=emb_title


quarta-feira, 29 de abril de 2020

O tráfico, a dor e o Mocotó



Por elaine tavares

O Mocotó é uma das primeiras comunidades de periferia de Florianópolis, ela nasceu quando os negros e pobres foram tirados do centro numa operação de “limpeza” da cidade que começava a crescer. Sem ter como bancar aluguéis ou cumprir a lei sanitária que obrigava a ter banheiro em casa, as famílias buscavam, na ocupação dos morros, o espaço para viver. Lá, já vivam outras famílias, de fugitivos da escravidão ou ex-escravos, que igualmente não encontraram lugar no centro, onde começavam a se erguer os sobrados da gente rica. O pé do morro onde fica o Hospital de Caridade, lá pelo meio do 1800 era chamado de Toca, e ali ia crescendo a comunidade. Com o passar do tempo outros espaços no entorno do Morro da Cruz foram sendo tomados, prioritariamente pelas famílias negras, mas também com brancos pobres. Não é sem razão que a cidade chame os morros de “espaço da criminalidade”, porque, na verdade, esse sempre foi o nome dado a quem não participa do grande banquete das famílias abastadas. Ser pobre parece ser potencialmente bandido. E é por isso que ao longo dos tempos esses lugares onde abundam as moradias precárias, o esgoto a céu aberto, as vielas, os trabalhadores, são também espaço da repressão. Assim, sucessivamente e historicamente, é nessas comunidades onde a polícia vai buscar os bandidos, e onde a lei parece não fazer qualquer sentido. São comuns os relatos de invasões de casa, sequestro de pessoas, assassinatos, agressões, violências. E tudo fica respaldado porque, afinal, "são bandidos". Ontem (28), enquanto noticiava uma manifestação no Morro do Mocotó contra o assassinato de três jovens da comunidade, a jornalista da televisão encerrava a nota dizendo: “a polícia informa que os três mortos são ligados ao tráfico de drogas”. Opa, então tá! Aí sim! São traficantes, então tudo se justifica. Já para as famílias que montaram barricadas na Mauro Ramos para denunciar e expressar sua dor e seu protesto, aqueles jovens tinham nome, sobrenome, história, sonhos. E mesmo que fossem ligados ao tráfico, eram o peixe miúdo, aquele que surge da necessidade ou do ódio. Sim, há bandidos no Mocotó, no Mont Serrat, no Horácio, assim como há bandidos na Beira-Mar, na Bocaiuva, na Trompovski. Mas, nesses lugares chiques a polícia não chega atirando, sequer chega. Nos espaços onde vivem à larga os donos do tráfico há advogados de plantão e malas de dinheiro prontas para agir se necessário for, mas nunca é. Porque os peixes grandes não são tocados. Sempre é mais fácil exterminar a raia miúda, que não tem nada por ela a não ser os seus corpos em rebelião. Eu lembro que há alguns anos pegou fogo no Hospital de Caridade. Era de noite. E mesmo antes da chegada dos bombeiros, os jovens da comunidade do Mocotó já estavam lá tirando pessoas, ajudando a apagar o fogo e ali ficaram pé até que tudo estivesse debelado, realizando um trabalho de gigantes. Naqueles dias a imprensa subiu o morro para contar dos atos heroicos da rapaziada. Provavelmente os mesmos jovens que são mortos pela polícia nas noites de calmaria. E os que foram salvos por aquela gente invisível agradeciam emocionados. Provavelmente os mesmos que hoje fazem muxoxo diante da fala da apresentadora de televisão. O tráfico de drogas não é coisa para ser banalizada. Ele é responsável pela destruição de tantas e tantas vidas. Mas, já vai longe essa política de extermínio dos jovens negros das comunidades de periferia. Se essa fosse a política correta, então já era para ter acabado o tráfico. Mas, por que a polícia mata e tudo segue igual? Essa é uma pergunta de fácil resposta. Porque a fonte do tráfico não está na favela. Ali vicejam os aviões e os gerentes de baixo clero. Mesmo os que têm seus barracos cheios de pequenas riquezas não chegam sequer aos pés dos verdadeiros traficantes. Logo, a abordagem policial parece não ter como foco o fim do tráfico. Na verdade, as ações contra a raia miúda são para fingir que há o enfrentamento do problema. Não há. E nessa guerra de extermínio, também os policias - que são trabalhadores - acabam sendo vítimas. Seja quando tombam nos confrontos, seja quando se transformam em criaturas sem parâmetros éticos. A dor sempre fica para os “de abajo”, ou alguém já viu algum dia um traficante de peso ser assassinado ou mesmo preso? Eu nunca vi.

Ontem, no Mocotó, as famílias se manifestaram tacando fogo na rua. Sabem que não há caminho negociado. Não são ouvidas. A única maneira de serem vistas é na manifestação coletiva, na rua. 

Ontem eles tacaram fogo nos pneus para dizer basta. É a única forma de abrir diálogo. Alguém aí vai dizer: tá com pena? Leva pra casa. É porque a maioria das gentes acredita que a solução dos problemas passa pela ação individual. Não, não adiantaria levar para casa a juventude do Mocotó ou de qualquer outro lugar de periferia do país. Porque o problema não está na pessoa. Está no sistema.  É essa forma de organizar a vida que gera a violência. É da natureza do capitalismo manter  a bota sobre a cabeça dos empobrecidos. É da natureza do capitalismo manter uma periferia no limite da vida, para que as pessoas possam ser melhor exploradas. É da natureza do capitalismo fazer do narcotráfico um dos pilares da indústria da morte – que vende armas, equipamentos de segurança e gente. 

Ontem, as famílias do Mocotó botaram fogo no meio da rua para fazer ouvir seu grito. As mesmas famílias que limpam as casas, lavam a roupa, fazem a comida, atendem no comércio, nas creches, nas escolas e ainda salvam vidas quando confrontadas com a tragédia do outro. Como um dia fizeram, salvando os internados no hospital privado mais famoso da cidade.  As mesmos que são esquecidas no dia seguinte quando todos já estão confortavelmente instalados em suas casas quentinhas. 


“Ai, que romântico, quero ver se um negrinho desses um dia tirar a vida de um familiar teu”, gritam os de sempre. Sim, será trágico, e ainda assim não será culpa dele. Será do sistema que o engendrou. Enquanto isso, alguns “branquinhos” seguirão tirando a vida de muitos da classe média e alta sem que ninguém lhes aponte o dedo.