terça-feira, 30 de outubro de 2007

Humanos, cães e arbustos

Poucas são as calçadas em Florianópolis, a capital catarinense, onde é possível ficarem, lado a lado, um ser humano, um cão e um arbusto. Não há espaço. Se um cão com aparência de raivoso aparece na virada da esquina, há duas alternativas: atravessar a rua ou arriscar-se a tropeçar na pata do bicho e levar uma mordida. Se há árvores ou arbustos na calçada, pior ainda. Melhor atravessar a rua.
Os arbustos e árvores, por sua vez, não mordem, mas galhos volta e meia atingem o rosto do pedestre. Também estão estressados. Basta ver o curta “Parálisis”, de Gabriel Acevedo Velarde (Peru/México 2005). Ao longo de dois minutos e meio, arbustos de calçada tremelicam e resmungam à passagem dos humanos. Quase ao final, um arbusto parece estar à beira de um enfarte, quase vomitando folhas.
Cada vez mais, o pedestre é discriminado na Ilha da Magia.

sábado, 27 de outubro de 2007

Genuinamente latino-americana

Cartazes da Pobres e Nojentas!

... E as mulheres criaram a revista


Pobres e Nojentas chega ao número 9

Pobres e Nojentas número 9 circula a partir da semana de 29 de outubro “divinamente lua e nua”. A luta dos moradores da Ponta do Leal, em Florianópolis, para ter o direito de morar, reportagem assinada por Marcela Cornelli que é um tributo ao jornalismo de qualidade; a Teologia da Libertação hoje, escrita por Elaine Tavares; a luta pelos hospitais 100% públicos, de Raquel Moysés; o perfilpoema de Ana, a que sonha com os leões, do poeta e jornalista Fernando Karl; a série de Raul Fitipaldi sobre as mulheres latino-americanas, nesta edição falando de Delmira Agustini a partir do trabalho de Kintto Lucas; a luta do povo da Costa Rica contra o Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos; a discussão sobre a “mulheridade” a partir do perfil de Catarina Gewehr; a resenha de um livro que denuncia a venda da Patagônia; a coluna de Su&Li; as crônicas de Míriam Santini de Abreu e de Sandra Werle; a apresentação de Catatau, o cão revolucionário de Abya Ayala... Tudo isso está na Pobres. E estamos cada vez mais pobres, mas também cada vez mais “nojentas”. E sabemos: Pobres & Nojentas... Ninguém compra, mas todo mundo lê! Acesse o nosso blog,
http://pobresenojentas.blogspot.com
Para adquirir o novo número, escreva para
eteia@gmx.net ou misabreu@yahoo.com.br

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

REUNI goela abaixo

O Conselho Universitário da UFSC quis colocar goela abaixo o Reuni, programa do Lula que desmonta e torna ainda mais frágil a Universidade, preparando-a para a privatização. A luta de estudantes e trabalhadores impediu que tudo fosse aprovado na última terça-feira, 23, mas a turma da pesada vai voltar à carga nesta sexta, 26. Veja o que nos diz sobre isso o nosso ídolo Che Catatau - "el perro" mais nojento da UFSC.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Argentina escolhe novo presidente

Por Elaine Tavares - jornalista no OLA

Bem antes da chegada dos espanhóis à região que hoje forma a Argentina, aquela era um espaço de liberdade. Parte dela era ocupada por povos originários (querandís, charruas e guaranis) que tinham vida nômade; e a outra parte, mais próxima ao Chile (dos mapuches e quéchuas), estava integrada ao império Inca. A vida se fazia farta às margens do Paraná-Guazú (rio grande como o mar) como os originários chamavam o rio que mais tarde foi batizado de Rio da Prata. Este nome foi dado por Sebastião Caboto, em 1526, quando o navegador, vendo muita prata na mão dos indígenas, acreditou que ali abundasse o material. Ledo engano. A prata havia sido botim de uma escaramuça dos índios com uma esquadra portuguesa. E, apesar de logo os espanhóis descobrirem que ali não havia prata alguma, o engano acabou dando nome à região. Do nome latim “argentun” (prata) passou à Argentina, e desde então assim foi.

Segundo maior país da América do Sul, a Argentina tem uma história rica de lutas e desafios que vêm desde as primeiras batalhas dos povos autóctones por seu território até o grande levante popular do início do século XXI, quando o povo derrubou dois presidentes num movimento cascata, exigindo vida digna e repudiando as políticas neoliberais. Apesar de diferenças geográfica abissais, que vão desde as geladas terras da Patagônia, passando pelos Andes, pela Pampa, até o sufocante Chaco, o país tem um povo unido, culto e guerreiro, cuja tradição de luta ultrapassa as fronteiras de Abya Yala.

Pois é esse povo que vai às urnas no próximo domingo, dia 28, para escolher o novo presidente da nação. Depois de viver experiências dramáticas como dois grandes períodos de ditadura, ambos pós-Perón, um dos maiores nomes nacionais, a Argentina ainda busca encontrar seu caminho seguro para uma vida de fartura, na qual caibam todas as gentes.

Desde as lutas por independência sob o comando de San Martin, o povo argentino, amalgamado por criollos e originários, tem sido incansável no desejo de construir uma nação independente e soberana. Mas não tem sido fácil. Nos últimos anos, passada a feroz ditadura militar que ceifou a vida de mais de 30 mil pessoas, os tropeços também têm sido grandes. O governo Menen, pós-ditadura, que apareceu como uma vereda segura para a volta do peronismo e do poder popular se mostrou serviçal do neoliberalismo e carregou a nação para um processo de desmonte e pobreza extrema. Tudo isso acabou na revolta que derrubou dois presidentes e conduziu Nestor Kirchner à presidência.

Os últimos quatro anos foram de relativa calmaria. Kirchner, que era um desconhecido e muito mais afinado com a direita, se mostrou um dirigente capaz de restaurar uma relativa ordem na economia, proclamou moratória, fechou acordos com Hugo Chávez e deu tintas de esquerda para seu governo, muito mais do que o governo de Lula, por exemplo. De qualquer forma, Kirchner não escapa das críticas de uma parte da esquerda que o considera um farsante, alguém que fez algumas reformas, mas que não tem compromisso com as transformações estruturais que a Argentina precisa.

Ainda assim, é a senadora Cristina Fernández de Kirchner, esposa do presidente, ligada ao Partido Justicialista, quem lidera a corrida presidencial. Advogada, ela ganhou notoriedade no país no movimento de luta pelos direitos humanos e pela participação da mulher na vida política. Apesar de não ter o carisma de Eva Perón (eterna madrecita dos argentinos), Cristina evoca a nova mulher, bonita, inteligente, independente e lutadora. Daí a sua força junto ao eleitorado. As pesquisas indicam que ela pode até ganhar no primeiro turno, tamanha sua popularidade.

De maneira inédita, é também uma mulher a segunda colocada na corrida pela Casa Rosada, Elisa Carrió, candidata da Coalizão Cívica e incluída no rótulo de centro-esquerda. Também advogada, Elisa é ex-deputada nacional por Buenos Aires e coordenadora do Instituto de Formação Cultural e Política Hannah Arendt. Já concorreu ao cargo em 2003 e baseia sua campanha na luta por ética e distribuição de riqueza. Tem avançado nas pesquisas.

Mais à direita está Roberto Lavagna, que foi ex-ministro da Economia dos governos de Eduardo Duhalde (2002-2003) e de Néstor Kirchner (entre 2003 e 2005). Foi o seu ministério que o assumiu a recuperação do país no auge da crise de 2002, mas ao ser afastado do cargo por Kirchner, passou para a oposição. O outro candidato de direita é Ricardo López Murphy, que foi ministro da Defesa e da Economia durante o governo de Fernando de la Rua (1999-2001) e derrotado por Kirchner nas eleições presidenciais de 2003.

Além destes que são os mais citados nas pesquisas, disputam a vaga outros dez candidatos divididos entre direita e esquerda. A que encontra mais eco entre os movimentos sociais mais críticos ao governo de Kirchner é, sem dúvida, a do cineasta Fernado Solanas, conhecido por sua filmografia engajada e apaixonante, sempre dizendo da luta do povo argentino e de suas potencialidades. Junto com ele caminha o sindicalista Angel Cadelli, figura importantíssima na luta contra a privatização do estaleiro Río-Santiago, um dos maiores da América Latina.

E, assim, com toda essa variedade de pensamento e propostas, as gentes da Argentina devem decidir, nas urnas, no dia 28, o seu destino. Seja ele qual for, quem conhece a história sabe: se a coisa não andar direito, o povo se levanta e muda tudo. Tem sido assim, desde os memoráveis charruas. Não será diferente.

O OLA é um projeto de observação e análise das lutas populares na América Latina.
www.ola.cse.ufsc.br

domingo, 21 de outubro de 2007

Dia do Saci

O dia 31 de outubro é o Dia do Saci e de seus Amigos. O Curupira é um deles. A imagem fantástica ao lado foi capturada do blog http://www.obugio.blogspot.com/

sábado, 20 de outubro de 2007

Episódio na cervejaria Bürgerbräukeller

Fernando José Karl, de Curitiba

Aqui, na cervejaria Bürgerbräukeller, entabulo conversa com o garçom, que me traz logo uma cerveja e inicio a primeira leitura do Testamento para El Greco, do escritor grego Nikos Kazantzakis – que sugere o total isolamento para que se possa desvelar o mais profundo do ser humano. O mesmo Nikos disse em algum lugar:


– As únicas coisas que importam na vida: idéias, frutas, mulheres.

O banheiro da cervejaria Bürgerbräukeller – arruinado, sujo. Almas acossadas em cada recanto sombrio. O dono do bar não é o Esteves, aqui não é a Tabacaria, aquele que me fita da mesa ao fundo não é o Fernando Pessoa. Se não é o Fernando, quem é? É Jorge Luis Borges e solicita que eu leia um texto de sua autoria intitulado “A escrita do Deus”: “Perdi o número dos anos que estou na treva; eu, que uma vez fui jovem e podia caminhar por esta prisão, não faço outra coisa senão aguardar, na postura de minha morte, o fim que me destinam os deuses. Com a profunda faca de pedernal abri o peito das vítimas e agora não poderia, sem magia, levantar-me do pó”.

Que estou na treva, estou. Sem magia, não me levanto jamais do pó nem alcanço o copo de água. Sem magia eu não ressuscito nem pra beijar a boca da Ingrid, aquela safada. Minha alma – agora sei – foi vista pela última vez na página 72 de “O livro perdido de Tácito”. Acontece que, numa faxina aqui em casa, perdi “O livro perdido de Tácito” e só Deus sabe quando vou encontrá-lo de novo. Por enquanto minha alma continua perdida e eu aproveito para seguir religiosamente o conselho do espanhol Pablo Picasso para uma vida perfeita: de manhã, missa; de tarde, touradas; à noite, bordel.

Escrevo, aqui na cervejaria Bürgerbräukeller, num guardanapo: “Deus morreu nos meus braços naquele sábado em que eu e Júlia nos amávamos no Calvário. A língua vai para onde quer, o espírito sopra onde quer; o Olho por onde espio o vento é o Olho por onde o vento me espia. Meus olhos vão ver o paraíso, sim, mas serão olhos apodrecidos.”

Palavra

Fernando José Karl, de Curitiba

A palavra é matéria fina de toda certeza.
Ela --- a palavra --- é que, com nosso sopro, tece o antigo paraíso,
que nunca envelhece.
Também os vendavais nunca envelhecem.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Beleza em foto


Sinto falta de sapos, de grilos e de vagalumes. Onde estarão? Fiquemos com a delicada imagem capturada por Martine Franck, da Magnum.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Luta pela informação livre

Veja no You Tube vídeo das manifestações contra o monopólio nos meios de comunicação.
Acesse também a página http://www.sarcastico.com.br

domingo, 14 de outubro de 2007

Medos Privados em Lugares Públicos

Por Míriam Santini de Abreu, jornalista

Três flechas me atingiram em Medos Privados em Lugares Públicos (França/Itália, 2006, 120 minutos), filme do francês Alain Resnais que há uma semana estava em cartaz na sala de cinema do Centro Integrado de Cultura de Florianópolis:
* a onipresente neve a gelar Paris
* a personagem Charlothe (Sabine Azéma), uma inquietante hieródula moderna que, bem distante do templo, sensualiza a humanidade das personagens masculinas com eróticos movimentos do seu corpo gravados em vídeo
* a incompreensível solidão do outro, só compreendida quando também é a nossa
Filme a ser visto.
O cinema do CIC é o único lugar na Capital catarinense onde os celulares não tocam.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Miran


Não deixe de visitar o blog de Oswaldo Miranda, o Miran, nascido em Paranaguá, Paraná, Diretor de arte, Cartunista e Editor da revista "Gráfica"- Arte Internacional.
É http://www.mirancartum.blogspot.com/
Acima, a arte de Miran.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

A incrível vitória do sim

Por Elaine Tavares - jornalista

Poderia ser o roteiro de uma novela, um folhetim, destes bem dramáticos que inundam as telas das televisões em toda a América Latina. Senhores feudais usando toda a sua força de coerção, o grande patrão geral fazendo chantagem, o uso da poderosa arma do medo e toda a sorte de intrigas e armações. Assim foi o referendo acontecido na Costa Rica, no último domingo, dia 9, que daria a resposta popular sobre se o país deveria ou não implementar o Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos, eterno vampiro a sugar as riquezas nacionais.

Por longos meses, o movimento social da Costa Rica conseguiu organizar uma imensa rede de defensores do “não”. Comitês patrióticos foram criados em cada cantinho recôndito do país. É, porque as gentes costarriquenses sabiam muito bem, tal qual já anunciara José Martí que: “união econômica é união política. O povo que compra, manda e o povo que vende, serve”. Por isso e por saber que os Estados Unidos nunca foi um parceiro, e sim um carrasco, é que o povo se organizou e construiu a possibilidade do referendo. Um ato inédito nesta “nuestra América”. Um momento histórico. Todas as pesquisas davam como certa a vitória do “não”, tendo chegado, nos últimos dias, a encantar quase 60% do eleitorado.

Pois, feita a votação e iniciado o escrutínio dos votos, veio a surpresa. O “sim” era vencedor. Já na manhã de segunda-feira, o jornal estadunidense Washigton Post estampava na sua primeira página: Chávez é derrotado na Costa Rica. A alusão ao governante venezuelano se dava por conta de que ele vem tentando implantar uma outra integração, a Alternativa Bolivariana para as Américas. Que é generosa, que não é predadora, que respeita a autonomia dos povos. Pois este era verdadeiramente o embate que estava sendo travado na Costa Rica, ALBA contra ALCA, esta última, a proposta de uma nova colonização a ser feita pelos Estados Unidos.

Na semana da votação, o poder do império já se fez sentir. Os meios de comunicação anunciavam à exaustão que se não fosse referendado o TLC, os Estados Unidos iriam retirar todos os investimentos do país, o desemprego aumentaria assustadoramente, a violência cresceria. Foi instalado o clima de terror. O presidente da república, Oscar Arias falava à nação, o embaixador dos Estados Unidos também e até o Secretário Geral da Organização das Nações Unidas, que deveria apenas fiscalizar o processo, deu declarações a favor do sim. Ou seja, todas as figuras nefastas, os cães de guarda do império, foram para as ruas praticar a velha e suja coerção.

O resultado (51% para o sim e 48% para o não) dividiu o país e criou uma fissura que só tende a se ampliar. Ninguém sabe ainda se houve fraude ou se o parte do povo se amedrontou, afinal, o poder do terror não pode nem deve ser subestimado. O certo é que no dia seguinte, os serviçais do governo estadunidense já estavam negociando a pátria. Estes três por cento que derrotaram o povo organizado vai cobrar a fraude que, se não foi nas urnas, efetivamente, foi política, como denunciam os movimento sociais. Ou afinal, como poderia ser chamado o uso indiscriminado da máquina pública, a danosa parceria dos meios de comunicação e a bem orquestrada campanha estadunidense, com toda sorte de embustes e jogos?

Assim, com a boca arreganhada, o TLC já começou a andar na Costa Rica. Muito em breve as gentes vão ver acontecer tudo aquilo que seus governantes disseram que aconteceria se ganhasse o não. Aumento da pobreza, desemprego, violência e todas as mazelas que o sistema predador estadunidense traz para os países onde finca as garras. O que a elite entreguista da Costa Rica não sabe é que aqueles 48% (coisa que não é pouca) não ficarão parados. As gentes lutarão! Há de chegar o dia em que a roda da vida vai girar. Foi só uma batalha, uma das tantas que ainda necessitarão ser travadas contra o capital. Fica a lição. O poder da água ainda é grande.

Por outro lado, na mesma semana, nasce finalmente o Banco do Sul, proposta integradora da Alternativa Bolivariana para as Américas. Tremem os criadores do FMI, Banco Mundial e toda a rede de predadores da América Latina. Um banco de desenvolvimento, de fomento, que deve trabalhar numa outra lógica, não de dominação, mas de efetiva parceria. Não é à toa que Washington joga todas as suas fichas contra a figura de Hugo Chávez. Então, em meio a tristeza da derrota na Costa Rica, me vêm de novo as palavras de Martí: “Os homens estão sempre caindo, é verdade, mas quando vêem um que anda firme, por conta da vergonha, todos saem andando!”... Andemos, pois.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Árvores crescem com o vento


Por Fernando José Karl, de Curitiba

Segunda-feira flagrei a eternidade
na esquina abandonada ao vento.
Vinha silenciosa acima das tumbas,
rente aos ciprestes e altares.

A que lava louça no quintal
imaginou ter sido raptada
pela sombra azul da eternidade.
Árvores crescem com o vento,

vento que nada sabe de pictogramas
impressos em tabuinhas de argila.
A que se banha na ribeira

sonha que sobe ao espaço sideral,
ou descansa se escuta sinos
que a despertam do sono de
não ser.

P&N recomenda

Sítios para entrar e se deliciar:

http://www.quartinhodaempregada.blogspot.com/

http://paginas.terra.com.br/arte/PopBox/kamiquase/nindex.htm
http://paginas.terra.com.br/arte/PopBox/kamiquase/anim.htm

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Família de caturritas


Míriam Santini de Abreu, jornalista

Cesoca é um gozador. Dia desses, no trapiche da Lagoa, distraíamo-nos com o vôo de uma gaivota e comentei com ele: - Que coisa... Se pudessem ser aves, todos desejariam ser águias. Eu haveria de ser um corvo. E Cesoca emendou: - E eu, uma caturrita.
Pois andava ele à procura de uma morada lá no Rio Grande quando topou com um apartamento não muito diferente de outros vistos, mas com dois detalhes: plátanos espiando pelas janelas e... caturritas fazendo algazarra. Comprou.
Li na internet que as caturritas estão sempre trocando beijinhos e adoram sementes de girassol. Cesoca também. Quando era pequeno, adorava devorar os (ex) futuros girassoizinhos e ver crescer a montanha de cascas. Meses se passavam quando, enfiando os dedos nos vãos do sofá, tateávamos sobras de sementes fugidas da montanha.
Família de caturritas.

ZUNÁI, beleza em revista de poesia & debates


Recomendamos! Acesse http://www.revistazunai.com.br para conferir o trabalho primoroso editado por Claudio Daniel e Rodrigo de Souza Leão e que já está no terceiro ano. A imagem acima foi extraída de ZUNÁI.

domingo, 7 de outubro de 2007

Solidariedade nos 40 anos da morte de Che

Nos dias 8, 9 e 10 de outubro, acontece em Florianópolis a Jornada de Solidariedade e Trabalho Voluntário/Militante - "40 Anos do Assassinato do Comandante Che Guevara".
Confira a programação:
Dia 8 – segunda, 13h - Saída do TICEN em caminhada até o HEMOSC para doação de sangue;
Dia 9 – terça, 8h - Manifestação no HU;
Dia 10 –quarta, 10h - Manifestação no CEPON, unidade Itacorubi - 18h30 - Saída da Concha Acústica até o CED - UFSC

sábado, 6 de outubro de 2007

Imagens


A liturgia profana e a pureza de Bento Nascimento

Por Fernando Karl, poeta e jornalista

Quando visitei a casa de Bento Nascimento (1962-1993), em Itajaí, ele já havia morrido; observei que, na penumbra da velha sala, a Bíblia estava marcada no capítulo 69 dos Salmos: “Salva-me, ó Deus, porque as águas me sobem até a alma. Estou atolado em profundo lamaçal, que não dá pé; estou nas profundezas das águas, e a corrente me submerge”.
No dia em que Bento Nascimento nasceu, um coro de oceânides, com certeza, soprou da praia de Cabeçudas acordes gentis sobre a voz dele –, uma voz cristalina sempre atenta à pedra da elegia que respira em todas as coisas.
De novo o capítulo 69 dos Salmos: “Estou cansado de clamar, secou a minha garganta; os meus olhos desfalecem de tanto esperar por meu Deus”.
Dentre as infinitas possibilidades de acesso à obra desse bardo itajaiense, uma é saborear os verdadeiros achados poéticos que ele trouxe à tona e os tatuou, a ferro e flor, na retina nossa. A poesia de Bento reza a partitura de uma liturgia profana. A poesia dele é punk, podre, sarcástica e a lâmina de seus versos nos fere fundo com esse antiqüíssimo amor que nunca se realiza, que espera, e contempla a tudo platonicamente. A história do pensamento humano é, talvez, a coleção das feridas que esse pensamento acumulou ao precipitar-se contra as fronteiras da língua. Na linguagem de Bento Nascimento tudo é um bréviare d’amour (breviário de amor), tudo é uma febre da imagem e da palavra, tudo é anticlassicismo, tudo é adeus e ira contra esses que, mesmo tendo muito, são mal-agradecidos, nada celebram e ainda odeiam, com todas as forças, a Poesia.
Bento Nascimento nunca saiu de Itajaí, embora tenha sido, por breve período, professor de literatura na cidade de Luís Alves. Sua poesia é, ainda hoje, referência marcante na cidade de Itajaí. E como não seria?

Leiam, por exemplo, este poema:

Não adianta, baby,
pôr escorpiões no meu sapato

amo

e só ando descalço



E este outro:

Quando soube que ele partiu
a primeira coisa ela desmanchou o penteado

desalinhou a mente jogou os brincos fora

nua correu lânguida desvairada pela rua
empalou-se num hidrante


Mais este:

Estou em Zimbros
cumprindo os dias que me deram nesta vida.

Que me deram
e que eu não sei
porque aceitei.


E agora este:

Exercito a minha sina adiando os compromissos.

Dou sumiço em certas responsabilidades,
engaveto problemas e fico horas sem tempo para nada.

A vida é um anzol, vivo com água na boca.


E por último:

Estou criando um crocodilo
embaixo da cama
e uma garça bem esbelta
que fez seu ninho sobre o guarda-roupa.

Um dia quero
colocar o pantanal mato-grossense
dentro do meu quarto
para não precisar mais dormir
e ter a sensação
de uma vitória-régia
mergulhando e escutando os chios
brotarem da noite.

É ou não é, esse Bento, um poeta à deriva pelas inumeráveis marés do sentir humano? Bento criou uma poética singular que continua espalhando aos quatro ventos o soturno e o possível ouro do sol. Por todos os seus escritos perpassa uma agonia e um desejo de estar sempre à sombra das moças em flor, fossem elas quem fossem: concha, camisa, os olhos da namorada.
O leitor que travar o primeiro contato com qualquer fração de um texto do Bento, talvez ache insólito o modo como ele destrói a gramática lusitana, ferindo-a de leve com sua própria voz, selvagem e jazzística. A voz de Bento, coloquialmente sentimental, nunca perde o ritmo e parece dizer, de forma incisiva que, nesse mar cheio de ondas perigosas, o melhor seria praticarmos um pouco mais a poesia ou praticarmos a pureza com mais ferocidade; contudo, para que isso aconteça, deveríamos também prestar cálida atenção às menores coisas deste mundo. Para Bento, as menores coisas do mundo são:

quando vou ao supermercado
em sua companhia
a cidade aprende alegria

arroz, fósforo
café


Acabo, por conta disto, de recordar um aforismo de Machado de Assis: “O tempo é um tecido invisível em que se pode bordar tudo, uma flor, um pássaro, uma dama, um castelo, um túmulo. Também se pode bordar nada. Nada em cima do invisível é a mais sutil obra deste mundo, e acaso do outro”.
Bento Nascimento, em seus escritos, nos cumula de prodígios e conjuros. O que ele grafa em cada página deserta são uns minutos de sua respiração. Aqui, neste novo livro do poeta de Itajaí: Bento Nascimento – Aos vivos, poderemos ler, sem dúvida, a potencialidade do nada que parece existir em todo objeto externo ou interno. Ele nos apresenta, quase sempre, o simples, sem perder a elegância de desvelar o que, sob as palavras, possui as tintas da melancolia e o látego da sátira.
Bento Nascimento, com apenas 31 anos, morreu de forma estúpida: caiu de uma pickup a 500 m de sua casa; casa esta onde nasceu e viveu a sua vida inteira.
Morreu?
As linhas em brasa de seus versos desmentem a sua morte. Que a pickup morra, que sóis feneçam, que a cabeça de Bento rache e o martelo bata sem piedade em sua pele de açucena delicada, e que cesse a hora, que tudo se perca, que os mundos findem, mesmo assim lá estarão, guardados num relicário humano demasiado humano, os versos desse Bento Nascimento que se apagou muito cedo, mas deixou por aí os rastros de seu vulcão.

Ou por acaso não é um vulcão este poema?

Quando você sorriu
eu descobri que você já foi piranha
e eu me lembrei
dos áureos tempos de tubarão
quando eu comia os surfistas
e mastigava os turistas
e engolia os banhistas
seus óculos e seus maiôs

pecado é uma coisa marinha
e os mariscos
não me deixam mentir

Um coro de oceânides continua soprando da praia de Cabeçudas, continua soprando através dos poemas que Bento Nascimento nos deixou – poemas marcados com uma pureza difícil de apagar.
Nota da editora: na foto, Mercado Público de Itajaí, a terra de Bento Nascimento - acervo da prefeitura municipal

A pedido


Che Catatau, o cão revolucionário que acompanha passeatas e manifestações na Universidade Federal de Santa Catarina, divulga seu blog na Internet:

http://fabulemicas.blogspot.com/

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

O povo da Costa Rica diz não

Por Elaine Tavares - jornalista

Foi Cristóvão Colombo quem lhe deu o nome de Costa Rica, em 1502, na quarta viagem que fez ao novo mundo. E ali, naquelas terras, viviam pouco mais de 30 mil almas pertencentes aos povos güetares, chorotegas e borucas que lutaram bravamente pelo território até 1530, quando foram finalmente vencidos. Desde aí, o pequeno espaço viveu sob a dominação de Espanha, só se libertando no turbilhão emancipatório do início do século XIX. Mas, tal e qual outros países da América Central e do Caribe, a Costa Rica experimentou um período de crescimento que acabou em dependência econômica, com a instalação das malfadas “plantations” sob o comando da estadunidense United Fruit.
Durante os anos que se seguiram à independência, ocorrida em 1821, a Costa Rica passou por eleições livres, ditaduras e revoluções. E foi em 1948 que, uma guerra civil liderada pela esquerda, aboliu exército, até hoje sem existência na vida do país. Mais tarde, sob o governo de José Figueres Ferrer, no seu segundo mandato, em 1953, foram nacionalizados os bancos, impostas restrições às companhias estadunidenses e realizadas muitas reformas sociais que aprofundaram o caminho de mudanças.
Hoje, apesar de manter o sistema de governo baseado no poder civil, sem exército, o país tem enfrentado os mesmos problemas que os demais com relação à dívida externa, cada dia maior, trazendo com isso a dependência econômica, principalmente em relação ao seu vizinho mais perigoso: os Estados Unidos. Assim, apesar de os governos e os meios de comunicação costarriquenses alardearem a imagem de um país tranqüilo e ordeiro, os problemas da dependência se expressam nas periferias das cidades e no meio rural.
Não foi à toa que, num movimento gigantesco, começaram a surgir comitês patrióticos nos bairros, nas aldeias e nos distritos da Costa Rica, todos com o firme propósito de lutar contra a proposta governamental de implementação do Tratado de Livre Comércio com os “gringos”, assinado ainda em 2004. A luta popular que vem sendo travada isolou o governo na defesa do TLC e não houve outra saída a não ser submeter o assunto a um plebiscito. Na última semana, milhares de pessoas saíram às ruas de San José para dizer seu não sonoro a ratificação do acordo, que já vem fazendo estragos em outros países onde foi assinado. Apenas a Costa Rica não implantou ainda o tratado na América Central. A consulta popular acontece neste final de semana, domingo, e há grandes possibilidades de os costarriquenses vencerem esta peleia, o que vai ser muito importante para toda a América Latina.
A lógica do TLC é a tática estadunidense para formalizar acordos bilaterais que visam ocupar todo o continente, formando a seguir a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). Esse projeto vem tendo contundente rechaço por parte da maioria das populações e encontrou um oponente à altura, que é a Alternativa Bolivarianas para as Américas, comandada pelo presidente venezuelano Hugo Chávez. Ainda assim, os Estados Unidos segue pressionando, principalmente os países mais endividados que, acossados, assinam o acordo transformando-se em mercado consumidor para produtos estadunidense, sem a devida contrapartida.
O resultado do referendo na Costa Rica, a se consolidar o NÃO, pode ajudar ainda mais os diferentes povos que atualmente lutam contra o projeto de nova colonização. Pois, mesmo nos países em que o TLC já foi assinado, sempre é possível revogá-lo, afinal, é o povo em luta quem define a lei. Se há gente na rua, as coisas mudam. E, se nos demais países as gentes seguem a férrea vontade dos costarriquenses, a vida pode mudar. Caso ganhe o “Não” a pequena Costa Rica será o primeiro país a recusar o acordo. Esse domingo será histórico!

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Não sou desse tempo


Por Míriam Santini de Abreu, jornalista

Espanta-me o tempo. Cada vez mais, tenho menos, e cada vez mais agrego máquinas-apêndices que, prometem, vão nos fazer ganhá-lo. Computador, e-mail, celular, máquina digital... até dez anos atrás - mais para uns, menos para outros – nada disso fazia parte da vida da casa, da vida urbana. E para tantos, mesmo hoje não faz. E mesmo assim a luta se fazia, o amor se fazia, as pessoas se encontravam, bebiam e comiam, havia risos e choro. Hoje tudo isso há, mas com pressa, entre um e-mail e outro, uma ligação telefônica e outra, a foto imperdível, a imagem por filmar.
E a palavra permeia esses gestos eletrônicos, sempre feiticeira, e produz seus estragos. Já armei briga, mal-entendido por e-mail. São reticências colocadas num lugar da frase que depois se revela perigoso, um substantivo carregado de impensáveis equívocos, um verbo que desencadeia respostas dúbias. Cara a cara, tudo se explica. Há gestos do corpo, piscar de olhos, sobrancelhas que traem sentimentos, um toque, um abraço. Visão, audição, tato. Mas, escrita, a confissão que deixou de ser feita pessoa-a-pessoa faz estragos impensáveis.
A geração que tem 20, 25 anos, parece pensar que a vida se resolve na internet. Ouvi isso de uma amiga, e concordei. Basta notar o vício que páginas de notícias, por exemplo, provocam em muitos internautas. Se o fato não está na WEB, não está no mundo real. E assim empresas, organizações não-governamentais, sindicatos, governo, partidos não passam um dia sem atualizar os seus “sítios”. Cabranotícias, boinotícias, porconotícias, gansonotícias – uma vez, no Parque do Córrego Grande, um ganso me atacou! - marreconotícias vão saltando para o mundo virtual, pastando no Corta e Cola, bebendo num jorro infindável de coisas por dizer. E deus o livre se o pastar demorar mais do que cinco segundos. Uma eternidade. Um absurdo.
Parafraseando o Evangelho, estou nesse tempo, mas, sinto, não sou dele.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Notícia "surreal"

Reproduzimos trecho de notícia da Agência EFE , de Pequim, divulgada pela Folha de S.Paulo. Coisa, como se diz, surreal...

Bombeiros apagam incêndio que durou 180 anos em mina chinesa


Um incêndio, que começou há 180 anos em uma mina do noroeste da China, foi apagado neste mês por uma equipe especial de bombeiros, que trabalhava na extinção das chamas desde 1997, informou hoje a imprensa estatal chinesa.
O fogo foi provocado aparentemente por mineradores que tinham discutido com seu capataz, na mina Rujigou --região autônoma de Ningxia-- no século 19. O incêndio consumiu 30 milhões de toneladas de carvão, cerca de 10% da reserva total da jazida, em quase dois séculos.
A população da região vivia em perigo, com fendas fumegantes se abrindo no solo freqüentemente e um alto risco de deslizamentos de terra. Os habitantes tentaram apagar o incêndio por diversas vezes, mas a ação do corpo de bombeiros só começou há 10 anos.
"Uma vez vi uma cabra cair numa dessas fendas e ser completamente consumida pelo fogo em minutos", disse Wang Jihai, capitão do esquadrão de 120 bombeiros que durante uma década combateu o fogo, à agência estatal Xinhua.
Devido à alta toxicidade da fumaça, cada bombeiro só podia trabalhar no máximo 10 minutos seguidos, o que retardou as tarefas.
Os incêndios de longa duração em minas, muito difíceis de apagar devido às dificuldades de acesso, são freqüentes em países como China e Índia. A falta de controle de muitos poços pequenos, que são abandonados com grandes quantidades de pó de carvão, material altamente combustível, é a principal razão.
O incêndio de Rujigou era considerado um dos mais antigos da China, junto com o de outra mina próxima, Baijigou. Os dois começaram quando o país ainda era um império sob o comando da dinastia Qing.
As autoridades dedicaram esforços especiais para apagar o incêndio de Rujigou porque o seu carvão é de uma variedade de altíssima qualidade, chamada de heibao (gema negra).