quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Raimundo Caruso lança livro na Rádio Campeche



Por Elaine Tavares 
Raimundo Caruso é escritor e já fez brotar de sua “pena” algumas obras importantíssimas sobre a vida e a luta na América Latina. Esteve na Nicarágua nos tempos da revolução sandinista e narrou as transformações ocorridas. Andou pelo Chile, Peru, México, América Central e nas entranhas do Brasil. Esteve na Bolívia de Evo Morales, e escreveu, junto com Mariléia Caruso, um livro fundamental para entender aquele país desde a força de uma intelectualidade indígena. Também é dele o antológico “Aventuras dos jangadeiros do nordeste”, no qual narra as viagens dos jangadeiros em busca de solução para suas demandas. Isso sem contar o instigante romance Sahara Brasiliae, ambientado numa Brasília tomada pela areia.
Enfim, há outros livros, outras histórias – somam 12 – que germinam e nascem, narrando vidas e descortinando problemas latino-americanos. Raimundo Caruso é generoso em letras.
Pois agora, em 2017, ele lança um novo trabalho no gênero poesia. É uma antologia com 55 poemas chamada de “Pré-Theoria da Bahderna”, na qual expressa seu pensar sobre temas diversos, escolhidos desde duas centenas de pequenos escritos. São texto fortes, profundos, cortantes, políticos. São gritos, são ternuras, são provocações.
O livro será lançado nesse sábado, dia 16 de dezembro, às 11h, no Pátio da Rádio Campeche, emissora comunitária na qual ele foi programador por mais de um ano, apresentando o programa Sábado Literário. Um espaço de rara beleza com a presença de escritores, renomados ou não, dessa ilha tão fértil em histórias.
Junto com o livro de poemas, ele também lança o romance Sahara Brasilie e apresenta o trabalho da filha, Isabel Leal Caruso, que tal qual os pais também já se envolve no mundo das letras, narrando uma viagem de bicicleta pelo sul da França. O livro de Isabel, além de apresentar as aventuras dos ciclistas, ela e o companheiro, revela segredos sobre como encontrar pousada sem qualquer custo. A autora também participa do lançamento.
O momento cultural acontece dentro do programa Campo de Peixe, primeiro programa ao vivo da rádio, no ar desde 2006. A Rádio Campeche convida os amigos para prestigiar o lançamento dos livros desse querido companheiro de jornada na dura tarefa de comunicar. Seja pelas ondas do rádio, seja no fechado mercado editorial.
O livro de poemas foi editado de maneira bastante artesanal, pelo próprio Caruso, uma maneira criativa e criadora de desafiar a indústria do livro. Forma e conteúdo em luta.

domingo, 3 de dezembro de 2017

A luta pela água na Bahia

A voz das gentes de Correntina, na Bahia, travando a dura batalha contra a privatização da água e a destruição dos rios. Vídeo de Diogão StronG. Um cidade inteira em luta.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

O jornalismo, a Pobres e o Rubens



Parceiros: na Rádio Campeche, no corpo a corpo com a vida

Nessa quinta, às 9h, no Curso de Jornalismo, o querido Rubens Lopes defende seu trabalho final, depois de cumprir uma longa caminhada para chegar ao jornalismo. Nascido em Santa do Alegre, no interior de Minas Gerais, seu destino poderia ser o de quase toda a gente trabalhadora dali: o campo. Tanto a vó, Rita, como a mãe, Edna já tinham trilhado esse caminho. Mas, ele era curioso demais e seus olhinhos vívidos estavam sempre procurando a vereda das gentes.

Vendendo picolé nas ruelas da cidade ele foi percebendo que Santana era um lugar cindido. Pobres e ricos muito bem demarcados. As camionetas dos latifundiários fazendo sombra às velhas bicicletas da gente rural. Depois, trabalhando numa floricultura, ele adentrou aos casarios da pequena burguesia e pode compará-los às moradias humildes daqueles que eram como ele. Na fábrica de leite, o contato com os demais trabalhadores lhe deu a verdadeira ideia do que é ser explorado até a última gota de sangue e ainda ser agradecido ao patrão. Histórias e histórias que lhe saltavam na cara, e que se remoíam dentro dele, sem saber como sair.

E foi para fazer esse parto que ele decidiu fazer o curso de Letras, que chegou à cidade justo quando ele terminou o segundo grau. Quem sabe, nos livros, ele não encontrava um jeito de fazer brotar aquela angústia que lhe tomava. Os estudos começaram, mas a inquietude não parava.

Foi então que ele se deparou com o exemplar do primeiro número da Pobres e Nojentas, uma revista de reportagem produzida em Florianópolis, pela tia do amigo Renato. Os textos que saltaram das páginas encontraram lugar no seu coração e ele soube que era aquilo que queria fazer. Narrar a vida das gentes que, como ele, andavam pelos caminhos fora do centro de poder.

Por essas coisas da vida o amigo Renato saiu de Santana, indo para Florianópolis seguir o seu sonho que era o de estudar música. Esse passo levou Rubens a também buscar o seu desejo maior. E ele embarcou de mala e pão-de-queijo para a capital catarina. O propósito era passar na Federal, no Curso de Jornalismo. E foi um duro processo. Mas, ele enfrentou cada pedra com fibra e decisão. Cabeça nos livros, pré-vestibular popular no Campeche, professora particular conseguida em permuta e lá foi ele. Tentou e não conseguiu. Tentou de novo e de novo. Então, passou.

Não foi um aluno comum. Bem antes de entrar no curso já tinha se engajado no Instituto de Estudos Latino-Americanos, onde foi realizando um lindo trabalho. Filmagens, fotografias, assistência técnica, carregador de mesas e livros. Cada pequena oportunidade de aprender ele agarrou, apaixonando-se cada dia pela América Latina. Também embarcou na viagem da Rádio Campeche, atuando como produtor e repórter do programa Campo de Peixe.

Como não podia deixar de ser, seu primeiro texto jornalístico foi publicado na revista Pobres e Nojentas. Falava de um trabalhador de Santana, sua gente nunca esquecida, então imortalizada pelas suas palavras. Ele encontrara seu lugar. Demorou para terminar o curso, não por mandrião. Mas, por excesso de vontades. Viajou pela Pátria Grande, fotografando as gentes, andou o Brasil todo no projeto Indígena Digital, fotografando e ensinando, querendo para os meninos e meninas que encontrava pelo caminho o mesmo destino que tivera: força para buscar o sonho. O jornalismo vibrava dentro dele e tudo aquilo que queria dizer e não sabia como, agora encontrava o caminho de se fazer.

Nesse dia 23 de novembro o Rubens encerra essa pequena jornada apresentando seu trabalho final de Jornalismo. É uma monografia sobre a revista Pobres e Nojentas, a publicação que orientou seu mundo. Na convivência com as jornalistas que conformam a revista ele solidificou seu projeto de ser e com elas tem caminhado em projetos diversos, sempre à margem, no jornalismo libertador. É um companheiro, um pobre e nojento como nós.

O menino de Santana agora tem o título com o qual sonhou por noites a fio. Mas sabe que o homem que ele  se tornou é mais do que o título que está chegando. Forjado nos caminhos vicinais ele prepara os alforjes para novas aventuras,  sempre posicionado do lado certo da história, com os trabalhadores, com os seus.

Eu, que por caminhos tortos acabei tendo participação nisso tudo, só posso me alegrar e compartilhar amorosamente desse momento estelar. Vai ser uma grande festa.

O ciclo termina, mas outro vem. E eu sei que lá irá o gafanhoto construir belezas.

Parceiros da vida, estaremos juntos.

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Sobre o Dia do Saci ou Os Vigilantes da Utilidade



Míriam Santini de Abreu

Aconteceu ano passado, quando mais uma vez celebrávamos o Dia do Saci e Seus Amigos na Esquina Democrática, em Florianópolis. Aproxima-se do grupo uma mulher cega de braço dado com o companheiro. Ela pergunta:

- Mas por que eles gritam?
- Estão fazendo uma festa. Tem um saci aqui! – responde o rapaz.
- Um saci? Me leva lá!

E então ela se aproxima de mim, que seguro o nosso sacizão, e começar a deslizar as mãos pelo boneco.
- Sim, sim, não tem uma perna, é mesmo o Saci!

Fico de uma ternura infinita pelo mundo toda vez que lembro daquela cena. Porque sem ver ela tocou e deu testemunho: Era Um Saci!

Esse será o 14º ano de nossa festa, organizada pela revista Pobres & Nojentas, que tem contado com a parceria de sindicatos como o Sintufsc, o Sindprevs-SC, o Sintrajusc e o Sinergia. Nelas, recolhemos centenas de assinaturas para oficializar em Florianópolis o 31 de outubro como Dia do Saci e Seus Amigos. Para nós, a data  simboliza a defesa e valorização da cultura popular nacional, porque no dia 31, já há alguns anos, as crianças celebram o Halloween, festa bonita, mas que só tem concretude cultural nos Estados Unidos.

A data já é oficial em outras cidades do Brasil, como São Luiz do Paraitinga (SP), São Paulo (SP), Vitória (ES), São José do Rio Preto (SP), Uberaba (MG), Fortaleza (CE), Guaratinguetá (SP), Embu das Artes (SP), Poços de Caldas (MG) e Independência (CE). O estado de São Paulo também já instituiu o dia. Finalmente, em dezembro de 2015, a data foi oficializada em Florianópolis, depois de aprovada pela Câmara de Vereadores.

Em uma capital que pouco valoriza as bruxas que de fato a simbolizam, as de Franklin Cascaes, ninguém esperava que a prefeitura estimulasse essa reflexão nas escolas. Mas sabemos que sempre há um professor, uma professora, que contará aquela história, do menino que nasceu índio, moleque das matas, guardião da floresta, interrompido em seu voejar travesso pela chegada dos brancos, que dizimaram as populações que aqui viviam. E quando milhares de negros, caçados na África e trazidos à força como escravos, chegaram no já colonizado Brasil, houve uma redescoberta. 

Da memória dos índios, os negros escravos recuperaram o moleque libertário, conhecedor dos caminhos, brincalhão e irreverente. Aquele mito originário era como um sopro de alegria na vida sofrida de quem se arrastava com o peso das correntes da escravidão. Então, o moleque índio ficou preto, perdeu uma perna e ganhou um barrete vermelho, símbolo máximo da liberdade. Ele era tudo o que o escravo queria ser: livre! Desde então, essa figura adorável faz parte do imaginário das gentes nascidas no Brasil. O Saci-Pererê é a própria rebeldia, a alegria, a liberdade. Essa era e é a essência que celebramos, e que a prefeitura acolheu via Câmara.

Pois agora um certo vereador Bruno Souza, do PSB, protocolou na Câmara um certo “Código de Revogação de Leis”. Quer acabar com várias. E, para ele, talvez a do Saci seja a primeira em “inutilidade”. Sim, agora, nesta legislatura, temos um vereador que se auto-atribuiu o papel de Vigilante da Utilidade. Ele se define como um liberal e parte da “renovação” da Câmara.

Eu tenho para mim que é dessa geração de renovados que não compreendeu nada. E quando falo dos que compreendem, lembro sempre da cena final do filme “Zorba, o Grego”, baseado no livro de Nikos Kazantzákis. Nos minutos finais do filme, o grego e o escritor, sob a vista de todos os moradores da vila, vêem seu projeto de engenharia - planejado ao longo de meses - ir ao chão.

“Você já viu um acidente mais magnífico do que aquele?” – pergunta Zorba, às gargalhadas.

“Não restou nada!”, responde o escritor.

E saem os dois a dançar na praia, cena de um prazer arrebatador. O Prazer da Inutilidade.

Vivemos o tempo dos Vigilantes da Utilidade. Não aprenderam a loucura. E estão por aí afora entre os que vigiam a arte, o corpo alheio, o desejo sexual, as festas, o uso do espaço público.

Lembro de um comentário quando se deu a oficialização do dia do Saci. Algo como: “Quanta bobagem... é preciso um dia pra se comemorar o que não existe de fato”. Sim. De fato há 2016 anos celebramos uma vida que foi concebida pelo Espírito Santo!

Quanto a nós, os sacizeiros e sacizeiras, sim, sim! Vamos comemorar o que não existe de fato. Porque existe. E vai existir, pelas mãos dos que são loucos para acreditar que este mau tempo passará. E vigiamos também, atentos à sua chegada. Como a mulher que, mesmo sem ver, testemunhou: - É um Saci!

Abaixo, três vídeos de três diferentes edições do Dia do Saci e Seus Amigos em Florianópolis


E a cena de Zorba, o Grego:

https://www.youtube.com/watch?v=5IbhgocxCVk



O SACI É O MITO DO ENCANTO!

Foi por causa do documentário abaixo que, em janeiro de 2009, estive em São Luiz do Paraitinga (SP). Ele foi exibido no Sintufsc quando, em 2004, começamos a organizar o Dia do Saci e Seus Amigos. O vídeo foi trazido pelo pessoal da Sosaci, que nasceu em São Luiz do Paraitinga. E eu não sosseguei até ir para lá. Dias lindos demais...
Vale ver o vídeo do início ao fim. Coisa de uma beleza, de uma vertigem, puro encanto!