terça-feira, 20 de dezembro de 2016

O Rio Grande, os trabalhadores e o capital

 
Foto: Claudio Fachel

 

Por elaine tavares

O que aconteceu ontem no Rio Grande do Sul é uma prévia do que virá em todos os estados da Federação. Deputados votando leis que retiram direitos, trabalhadores agredidos pelas polícias militares, governadores impassíveis e insensíveis às dores das gentes. O argumento para a barbárie contra os trabalhadores é o de que o estado está endividado e há que cortar na carne para equilibrar as contas. Só que esse cortar na carne, não se refere a qualquer carne. É a carne de quem produz a riqueza: o trabalhador. A carne de quem se apropria do lucro gerado por esse trabalho não sofrerá sequer um risquinho. Não bastasse isso, as pessoas que sofrem os ataques sequer sabem como a dívida foi contraída, em que bases e para onde foi o dinheiro.

Isso não é nenhuma novidade para quem estuda o modo de ser do capitalismo. Nesse sistema, que Mészáros considera “incontrolável”, o Estado existe justamente para proteger os meios de produção (que são de propriedade dos capitalistas) e a propriedade privada. Tudo é feito para garantir a expansão do capital e a maior extração do trabalho excedente. Logo, quando há uma crise mais profunda, como agora, cabe ao estado proteger as condições gerais da extração da mais valia do trabalho excedente. O que isso significa? Que novas normas e leis são criadas para garantir que a taxa de lucro dos capitalistas não caia. Logo, a outra face dessa verdade é o chicote no lombo dos trabalhadores. Assim, cortam-se direitos e diminui-se a intervenção do estado na vida das gentes, com cortes nos setores públicos.

O que acontece hoje no Rio Grande do Sul é a expressão do que já começou a acontecer em nível nacional com a aprovação da PEC 55. Nesse sistema, que Mészáros chama de “sistema metabólico do capital”, o tripé Capital x Trabalho x Estado é como uma entidade única de três cabeças, sendo que a cabeça Trabalho é a que vive sob a subordinação. E ela está sob o tacão da força porque, sem ela, as outras duas cabeças deixariam de existir. Ainda assim, mesmo dependendo da força dos trabalhadores para se fazer real, o capital não faz qualquer concessão. Diante e qualquer possibilidade de perder lucro, o sistema se reorganiza sem levar em conta, no mais mínimo, os interesses das pessoas. Todas as decisões são tomadas para manter rodando a roda viva da produção do lucro. É o “sistema” que precisa se manter. Danem-se os trabalhadores. Existem tantos no mundo que o capital pode permitir que muitos deles venham a perecer diante das medidas de austeridade tomadas.

Assim que não há qualquer eficácia em apelar para os “bons sentimentos” dos governantes. Eles não estão subordinados a qualquer compaixão. Sua subordinação é a um sistema que se configura incontrolável, exigindo sempre mais. Uma espécie de deus sanguinário. Quanto mais sangue se lhe é sacrificado, mais ele quer. Mészáros diz que o capital tem um controle sem sujeitos. E o que quer dizer com isso? Que não há no quadro de mando do sistema alguém que possa olhar para o sofrimento dos trabalhadores e se compadecer. Não. O sistema exige mais e mais e os seus supostos controladores – na verdade controlados pelo sistema - só o que podem fazer é aplicar receitas que permitam a insaciável expansão do capital.

Por isso que o governador Ivo Sartori pode ser visto dando risadas no aeroporto enquanto sua polícia desce o cacete nas gentes em frente à Assembleia Legislativa. Aquele que comanda o estado sabe que sua função ali será a de garantir o controle de qualquer rebelião que venha a ameaçar o perfeito rotacionar do sistema. Por isso ele está em paz. Não é comandado pela moral. Na cabeça dele, a função para a qual foi eleito está sendo cumprida à risca. Não enxerga pessoas. Vê pequenos cânceres que com sua ação rebelde querem pôr fim ao sistema metabólico do capital. O mesmo acontece com aqueles que, enquanto os trabalhadores apanhavam em frente ao Congresso nacional, se coqueteavam com champanhe e salgadinhos. O quadro que se desenrolava lá fora era só um borrão, tapado pela fumaça das bombas. A única visão possível era a dos policias, bem armados, protegendo a “bastilha”. E só.

Diante dessa constatação não cabe aos trabalhadores clamar por piedade ou misericórdia. O único que lhes cabe é a luta. A luta renhida. Mas não pode ser uma luta pontual, para resolver a questão da previdência ou a da dívida, como se solucionado esses pequenos pontos, a vida pudesse seguir seu curso em direção ao paraíso. Isso não vai acontecer. Ainda que o sistema – em temos de crescimento – possa conceder um ou outro ganho aos trabalhadores, seus hábitos alimentares não mudam. Segue se alimentando da mais valia dos trabalhadores. Não pode viver sem isso. É como o vampiro que diante da moça assustada, dá um suspiro de pena, mas imediatamente finca-lhe os dentes. Não pode existir se sentir compaixão.

Cabe, portanto, desmontar esse “sistema metabólico do capital”. Avançar para uma forma de organizar a sociedade na qual as aspirações legítimas das pessoas por vida plena, digna e de riquezas repartidas conforme as necessidades, sejam levas em consideração em vez dos imperativos fetichistas da ordem. Enquanto existir o modo capitalista de produção, essas aspirações não terão lugar. Logo, é tempo de decidir. Não que as lutas pontuais não devam ser travadas. Isso não só é justo como necessário. Mas, elas precisam avançar para a destruição desse sistema que nos suga todo o sangue e a alegria de viver.

Ninguém entre nós que tenha começado a trabalhar aos quatro, cinco anos, cortando cana, carregando pedra, amassando massa quer trabalhar até os 100 anos. Esses desejos só sentem aqueles que não produzem riquezas, os que se refestelam em salas acarpetadas com ar-condicionado. Aos trabalhadores o que lhes cabe é a rebelião, completa e total, na construção de outra forma de ditadura, que não essa que vivemos, do capital sobre as gentes, mas a dos trabalhadores sobre a burguesia parasita. Para, enfim, chegarmos a tão sonhada estação na qual não haverá mais estado. Só assim desmontaremos o tripé que sustenta a riqueza do 1% da humanidade que hoje comanda a vida dos 99% restantes, sugando-lhe todo o sangue.

Longo caminho, é fato. Mas que precisamos começar a trilhar. Ou isso, ou o eterno retorno da morte.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

O corte é na carne do trabalhador



















Por Marcela Cornelli, jornalista

Os cortes nas contas públicas, segundo informações já divulgadas na mídia, podem chegar a 14 milhões. Além disso, a PEC 55, já aprovada, congela os gastos com os setores públicos por 20 anos.

Para nos ajudar neste debate, Previsão entrevistou os pesquisadores, Elaine Tavares, do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade Federal de Santa Catarina (Iela) e Maurício Mulinari, do Diesse/SC.

Veja como pensam estes dois estudiosos do assunto. As entrevistas completas iremos disponibilizar posterioemente no nosso site, boletim eletrônico e redes sociais.
 
O ajuste fiscal e os serviços públicos

“Os serviços públicos serão afetados. Os investimentos nas áreas públicas ficarão no mesmo patamar deste ano, sem poder crescer por longos 20 anos. Com isso, se aprofundará a crise na saúde, haverá corte de vagas nas universidades e os estudantes que precisam de garantia de permanência perderão os benefícios, ou eles ficarão tão minguados que não será mais possível sustentar. Hospitais ficarão mais precários, não haverá recursos para moradia”, avalia a pesquisadora e jornalista, Elaine Tavares.

Para o pesquisador do Dieese, Maurício Mulinari, “o ajuste fiscal permanente, iniciado ainda durante o governo Dilma sob a batuta do ministro da fazenda Joaquim Levy e aprofundado pelo governo golpista de Michel Temer, consolidado pela aprovação da PEC 241, cortou no período de menos de dois anos em torno de 40% de todo o investimento público nacional. Isso significou uma retração violenta do emprego e da renda. Com menos investimentos, áreas estratégicas da economia nacional, como a construção civil e o setor de petróleo e gás, por exemplo, foram duramente atingidas.
Os efeitos se espalharam por toda a economia, levando a um desemprego de mais de 12% e uma queda da renda dos trabalhadores de mais de 6%”, diz Maurício.

“Até agora, as negociações salariais ficaram muito mais rígidas, com os servidores encontrando forte resistência até mesmo para a reposição da inflação do período, e, por outro lado, os concursos públicos rarearam. Também diminuiu o orçamento para áreas como as da saúde e da educação, o que impulsionou piora no atendimento público de saúde e as famosas reestruturações do ensino público. Estas últimas, não são mais que uma resposta ao arrocho nos gastos com educação, levando governadores a realizar reformas destrutivas do ensino, fortemente combatidas pelos movimentos de estudantes secundaristas de todo o Brasil”, diz o pesquisador.

Dívida Pública

Para Maurício, “a dívida é um mecanismo fundamental para a concentração da riqueza na mão de poucos capitalistas nacionais e internacionais. Tira do gasto primário (aquele com saúde, educação, saneamento básico, segurança, etc.) e joga para o pagamento dos custos financeiros do Estado. Tira do trabalhador, principalmente do mais pobre, e transfere para os ricos, detentores da dívida pública e beneficiários do sistema financeiro, os chamados rentistas”.

Elaine Tavares também lembra que esse ajuste financeiro já vinha acontecendo no governo de Dilma. Porém, ela destacada que, no governo petista “havia uma certa sensibilidade social, pequena, é verdade, mas havia. Agora, não há qualquer compromisso com os mais pobres. Esses, serão os que pagarão a conta, uma vez que o compromisso maior do governo é seguir pagando os juros da dívida, que consomem mais de 45% do orçamento”. A pesquisadora lembra que “o Equador realizou um estudo de cada um dos contratos e, ao final da auditoria, verificou-se que apenas 30% da dívida tinha base legal. O Equador se recusou a pagar os 70% restantes e nada aconteceu. A vida seguiu, os bancos tiveram de aceitar e receber apenas os 30% considerados legítimos. No Brasil, o governo se recusa sistematicamente, inclusive o do PT, a auditar a dívida”, reforça Elaine.

Dilma X Temer

Sobre as diferenças dos governos Dilma e Temer, Elaine Tavares defende que “no campo da economia, o PT não fugiu da lógica neoliberal. É fato que ao longo dos anos em que houve crescimento econômico, o governo petista investiu em políticas sociais, mas eram valores muito pequenos. Na macro política, o PT seguiu pagando os juros da dívida, priorizado o superávit primário, justamente para bancar a dívida e se propôs a fazer, no final do governo Dilma, o ajuste fiscal. Possivelmente, haveria cortes nos programas sociais, mas creio que não haveria o fim dessas políticas como estamos vendo com Temer”.

Maurício Mulinari analisa que “a diferença entre os dois governos existe, mas não é de essência. Ambos, Dilma e Temer, apostaram no ajuste sobre os trabalhadores. As primeiras medidas do novo governo Dilma, ainda em 2014, foram as MPs 664 e 665, que mexiam em direitos trabalhistas (seguro desemprego e abono salarial) para fazer caixa para pagamento do gasto financeiro do Estado. Logo depois vieram os cortes bruscos no investimento público e na área social, que conduziram uma economia já debilitada pelo rentismo para a recessão brusca.” Para ele, “Dilma pecava, na ótica da classe dominante, pela parcimônia das reformas antipopulares. Ela fazia as reformas, mas era necessário convencer os setores de apoio ao governo (movimento sindical e social organizados), processo lento e cheio de percalços, ainda mais em um momento de aumento do desemprego. A crise se acelerou e os lucros, sejam operacionais ou financeiros, passaram a cair. Neste contexto, a burguesia nacional, articulada em torno da FIESP, das demais entidades empresariais e da grande mídia, topou a aposta por um novo governo, mais orgânico aos seus interesses. Aqui entra a escalada do golpe, que se iniciou ainda em 2015 e se completa em 2016. Dilma é derrubada e Temer assume. O ajuste sobre a classe trabalhadora permanece. O que muda é o ritmo e a violência do ajuste”.

Como reagir à barbárie

“O movimento sindical, na sua maioria, esteve apático e domesticado nos anos de governo petista. Fazendo a crítica ritual, sem organização dos trabalhadores. Agora, será necessário muito tempo para que o movimento sindical recupere a radicalidade. Penso que os sindicatos pagarão um alto preço pela domesticação e não será fácil se levantar. Mas, os trabalhadores sabem que não há saída fora da luta. E haverão de construir alternativas”, finaliza Elaine.

Maurício também sinaliza que a única saída é a reorganização da classe trabalhadora. Para o pesquisador do Dieese, “o movimento sindical e social organizado não se preparou para o momento atual. Os anos de governo Lula, embalados pela melhor conjuntura econômica internacional da história recente brasileira, deseducaram a classe trabalhadora. Os trabalhadores passaram a acreditar na mentira de que ocupavam o papel deplorável e despolitizado de classe média, produto da ideologia vendida pelos magos bilionários do marketing eleitoreiro. Não só a base da classe trabalhadora, mas também os dirigentes sindicais e dos movimentos sociais caíram na armadilha da despolitização. Abandonaram as brigas no chão de fábrica, nas portas das lojas, nas associações de moradores, etc., pelos acordos de gabinete. Abdicaram da verdadeira educação da classe trabalhadora, ocorrida unicamente nos conflitos de classe”.

O pesquisador finaliza dizendo que “se os movimentos social e sindical organizados souberem aproveitar as novas experiências radicais que surgem da juventude, refundar as suas práticas, perder o medo das derrotas burocráticas e ousar lutar radicalmente pelo que há de mais essencial – que são as condições reais de vida da classe trabalhadora, que sofre nos locais de trabalho, nas favelas, no transporte, etc., teremos possibilidade de enfrentar a atual ofensiva capitalista global. Se não houver esta possibilidade, a classe trabalhadora brasileira precisará vivenciar toda a destruição do governo golpista para que, da crise social profunda, possa brotar uma nova esperança”.

Publicado originalmente na Revista Previsão nº 13 - nov/dez 2016

Crise para quem? A comunicação sindical no cenário econômico brasileiro













Por Marcela Cornelli

Crise para quem? A comunicação sindical no cenário econômico brasileiro. Este foi o tema central do 4º Seminário Unificado de Imprensa Sindical realizado de 13 a 15 de outubro de 2016, em Curitiba (PR).

O primeiro Seminário Unificado de Imprensa Sindical realizado fora de Santa Catarina reuniu 150 participantes no auditório da APP Sindical, sindicato dos professores estaduais do Paraná. Os participantes vieram de oito estados do País: Paraná, Santa Catarina, Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio Grande do Norte. Um debate que unificou as várias forças políticas ali presentes. Um acúmulo de discussões sobre o movimento sindical e a luta contra a hegemonia da mídia burguesa.

Um breve histórico

Em 9 de dezembro de 2002 o Sindprevs/SC realizou o primeiro seminário de imprensa sindical, em 18 de abril de 2008 o segundo e em 28 de abril de 2011 o terceiro. Como deliberação do terceiro seminário foi realizado em 4 e 5 de julho de 2013 o primeiro seminário unificado, com demais sindicatos. O segundo seminário unificado foi de 6 a 8 de agosto de 2014 e o terceiro unificado de 23 a 25 de setembro de 2015.

Como fruto destas discussões em 2013 foi criado o Fórum de Comunicação da Classe Trabalhadora. Assinaram no dia 26 de novembro do mesmo ano o manifesto de criação do Fórum as seguintes entidades:  Sindprevs/SC, Sinasefe, Sindaspi, Sintrajusc, Seeb Floripa, Sintespe, Sintufsc, Sindicato dos Farmacêuticos, Sindes, SindSaúde, Sinergia, Sintaema, CUT/SC, CTB, MST, Consulta Popular, Cooperativa de Produção em Comunicação e Cultura (CpCC), Portal Desacato e Revista Pobres & Nojentas. E em 4 de agosto de 2016 foi criado o Coletivo Vito Giannoti em Florianópolis.

Promovido pelo Fórum de Comunicação da Classe Trabalhadora, o Seminário Unificado de Imprensa Sindical se consolida como referência no debate da comunicação alternativa, como opção concreta de combate ao monopólio midiático que enfrentamos no Brasil. Já o Encontro Nacional de Jornalistas Sindicais, o primeiro realizado em Florianópolis em 2015 e o segundo neste ano em Curitiba, com pautas específicas para jornalistas, é um espaço importante para avançarmos nas questões do jornalismo sindical.

O fortalecimento da “nossa imprensa” é pauta cotidiana dos sindicatos, dirigentes e jornalistas. Essa troca de experiências é determinante para aprimorar as práticas diárias de tratamento da informação, além de contribuir na evolução da assessoria ao jornalismo sindical.

Carta do 2º Encontro Nacional de Jornalistas Sindicais

A classe trabalhadora brasileira vive um momento de grande ofensiva a direitos conquistados ao longo de anos de luta e resistência. Ataques a direitos trabalhistas, a PEC 55 e a já anunciada reforma da Previdência ampliam as tensões no interior das organizações classistas e nos apontam para um futuro de longas jornadas de luta em defesa do pouco já conquistado. É neste contexto que realizamos o 2º Encontro Nacional de Jornalistas Sindicais, fruto de uma organização independente e de base, e que tem como objetivo discutir o contexto geral a que estamos submetidos, assim como as especificidades de nossa vida laboral nas milhares de entidades sindicais brasileiras.

É consenso entre os jornalistas presentes a necessidade de mudanças nas condições de trabalho e da construção coletiva de entendimentos junto aos/às dirigentes sindicais sobre as contradições nas relações de trabalho.

Neste sentido, o 2º Encontro de Jornalista Sindicais, realizado em Curitiba no dia 15 de outubro de 2016, propõe alguns eixos que podem orientar o exercício da função de jornalista nas entidades sindicais, na intenção de superar a precarização do trabalho.

Orientações 

- Combate às contratações irregulares e informais;
- Combate ao assédio moral;
- Cumprimento da jornada regulamentar de 5 horas;
- Aprofundar o debate acerca da pré-contratação de hora-extra;
- Cumprimento ao intervalo intra e entre jornadas (pelo menos 15 min de intervalo de intra jornada e de 10 horas entre jornadas);
- Direito à desconexão (limitar as demandas enviadas fora da jornada de trabalho);
- Atentar para a sobrecarga gerada pela multifunção e o seu impacto na saúde do trabalhador;
- Garantir a estrutura necessária ao cumprimento das tarefas jornalísticas (equipamentos e contratação de serviços acessórios).

Encaminhamentos 

- Criação do Coletivo Nacional de Jornalistas Sindicais;
- Criação do grupo virtual Agência de Notícias Sindicais;
- Desenvolvimento de cartilhas sobre assédio moral nos sindicatos, orientações para dirigentes e direitos dos jornalistas sindicais;
- Moção de Apoio à luta estudantil e às ocupações nas escolas estatuais;
- Levar os encaminhamentos do encontro para o próximo NPC, nos congressos e instâncias deliberativas das entidades sindicais;
- Trocas de experiências com mídias independentes;
- Mapeamento dos sindicatos que tem jornalistas sindicais em todos os Estados.

Curitiba, 15 de outubro de 2016

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Comunicação: uma batalha



Por elaine tavares

Os meios de comunicação alternativa, comunitária e popular de Florianópolis estão há algum tempo se reunindo para discutir a possibilidade de tornar menos assimétrica a distribuição de recursos feita pela prefeitura municipal. Todo o ano, a administração municipal determina recursos no seu orçamento, que são distribuídos aos meios comerciais. No geral, o bolo é repartido com o grupo que é oligopólico: a RBS, e a Rede Record. Para a comunicação alternativa, nada. Segundo o Portal da Transparência, nos últimos quatro anos foram 40 milhões de reais. Com isso, o que se vê na cidade é, cada vez mais, aumentar o feudo comunicacional e o pensamento único. Não é sem razão que nas últimas décadas a classe dominante tenha avançado com voracidade sobre o território, descaracterizando a cidade e vencendo a batalha da comunicação, fazendo crer que essa é a cidade “necessária”.

Por outro lado existem na cidade vários veículos de informação que, sistematicamente, fazem a outra comunicação, mostram a cidade real, explicitam os problemas e as contradições. São eles os que definitivamente realizam o chamado “jornalismo”, que é a análise do dia. Já os meios comerciais nada mais são do que mera propaganda do sistema capitalista de produção, braço armado da classe que tem o mando na cidade, o 1% que determina os destinos de toda a gente florianopolitana.

Veículos como a revista Pobres e Nojentas, o portal Desacato, a Radio Campeche estão aí há mais de dez anos garantindo espaço para as vozes dissonantes. A eles se somam agora outros veículos importantes como o Maruim, as Catarinas, o Farol. Todos com um único objetivo que é o de estabelecer um lugar para o pensamento crítico, para o jornalismo, para análise e compreensão da realidade. Assim que é justo que agora eles reivindiquem uma parte desse recurso que, como já foi dito, fica concentrado em duas redes de TV. Se há um milhão de reais para gastar durante o ano com as campanhas de interesse público que a prefeitura faz, que todos os meios sejam envolvidos. Afinal, ainda que não tenham o alcance massivo da televisão, hoje, com as novas tecnologias, podem chegar com eficácia a determinados grupos na cidade.

Foi a partir dessa discussão que esses veículos conseguiram realizar a Primeira Audiência Pública sobre Comunicação, realizada esse ano a partir da parceria com o vereador Lino Peres (PT) . Assim, no dia 17 de novembro, todas essas experiências comunicativas se reuniram na Câmara de Vereadores e conseguiram garantir, a partir do compromisso do vereador Guilherme Botelho (PSDB), que preside a Comissão de Educação, Culta e Desporto, a criação de um Grupo de Trabalho que estudaria e proporia um projeto de lei sobre o tema.

O grupo de trabalho foi oficialmente formalizado na primeira semana de dezembro e nessa quarta-feira (14/12) entregou um documento no qual explicita os pontos fundamentais que regerão o projeto, comprometendo-se a entregar um documento mais elaborado no início do ano que vem, já na próxima legislatura. Isso porque todo o processo deverá ser discutido primeiramente com os representantes dos demais veículos. Fazem parte do grupo de trabalho as jornalistas Rosângela Bion de Assis (Desacato), Sílvia Agostini (Desacato) e Elaine Tavares (Rádio Campeche e Pobres e Nojentas).

Depois da reunião realizada nessa quarta a comissão deverá estudar as propostas semelhantes que já existem em outros municípios e, a partir daí, respeitando a realidade local, construir um projeto de lei que regulamente a distribuição dessas verbas de comunicação. O trabalho tem o apoio dos vereadores que seguirão na nova legislatura, Lino Peres (PT), Afrânio Bopré (Psol), Lela (PDT). Depois de finalizado o texto do projeto ele passará por novas discussões com os representantes de todos os meios envolvidos no processo. E só então, depois de debatido e apreciado, será encaminhado à Comissão da Câmara.

Há um longo caminho para ser cumprido. Mas, os primeiros passos já foram dados.  

Veja entrevista com o presidente da Comissão Guilherme Botelho.


quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

“Moradia Digna como Direito” foi tema de Encontro na UFSC



Troca de experiências e definição de estratégias para 2017 foram o resultado do 2º Encontro “Moradia Digna como Direito”, promovido sábado, 10/12, no auditório do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFSC, pela Câmara de Habitação de Interesse Social e Regularização Fundiária do Fórum da Cidade com o apoio do Projeto Escritos em Movimento.

No período da manhã, representantes comunitários falaram sobre a atual situação das localidades onde vivem e os desafios para ter o direito à moradia, com as presenças de Nivaldo Araújo da Silva, da Vila do Arvoredo, João Luiz de Oliveira, o Gão, da Ponta do Leal, Elenyr de Souza, das Areias do Campeche, e Ivonete Borges da Silva, da Vila Santa Rosa, que dividiu a fala com Tania Maria Ramos. 
Veja as entrevistas com os palestrantes:

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

A cidade em movimento a partir dos escritos e da memória




Por elaine tavares  - jornalista

Já vai longe o dia em que cheguei a Florianópolis, com minha velha mochila verde, vinda de Passo Fundo para fazer a faculdade de Jornalismo. De cara, meu primeiro encontro com a cidade foi o Mercado Público, a Conselheiro Mafra, a Lurdinha. Eu olhava para toda essa beleza e pensava: “onde estará a luta popular”? Foi então que me disseram que a vida pulsava em Florianópolis a partir do trabalho do padre Vilson Groh, do Mont Serrat, e da irmã Ivone. Eles dirigiam o Centro de Apoio e Promoção do Migrante. Não demorou muito para eu estar com eles, disposta a partilhar daquele trabalho bonito de acolhida e organização das gentes que chegavam a levas do interior do estado. 

A cidade, repleta de espaços vazios, ansiava por pessoas de outras cores, outras etnias, outros quereres. A velha província do funcionalismo público estava prestes a mudar. 

Na caminhada fui encontrando outros lutadores. O Loureci, a Elisa, O Lázaro, a Melita, a Chica, o Roberto, tanta gente, tanta gente e, com eles fui vivenciando a dolorosa luta por moradia, por direito à cidade. Foram muitas noites de organização de ocupação, muitas madrugadas de terras repartidas, muitas ocupações da prefeitura, da Câmara de Vereadores, muitos despejos, muitos vídeos feitos nas piores condições, muitos textos. 

Com o passar dos anos fomos vendo a cidade mudar, com o nascimento de bairros inteiros como o Monte Cristo, Chico Mendes, Vila Aparecida e tantos outros. Vivíamos a cidade pulsante, popular, comunitária. Uma experiência única. 

Agora, no início desse ano, a jornalista Miriam Santini de Abreu, da Pobres e Nojentas, decidiu recuperar aquela linda história das lutas de ocupação da cidade. E, aos poucos foi juntando as gentes, em longas entrevistas de memórias. Pela linha do tempo estão passando esses rostos e vozes que um dia ousaram enfrentar os chamados “donos da cidade”. Ocuparam os vazios urbanos e fincaram ali suas casas e seus corações. 

Nas entrevistas explodem as lembranças e vão se descortinando as batalhas cumpridas coletivamente. Muitos dos personagens já foram escutados, outros ainda o serão. Também está prevista uma discussão com todos os envolvidos nessa luta histórica, para organizar as memórias. E, por fim, haverá um documentário o qual servirá como uma linha condutora de todas essas vidas que se encontraram na década de 80 para fazer história. 

Vale a pena navegar pela página do projeto que Miriam coordena com a parceria do professor Jorge Ijuim, e outros tantos companheiros da UFSC e do movimento popular.

Ali, viceja a vida real, a vida da cidade, essa Florianópolis guerreira, migrante, negra, mestiça e rebelde.