sábado, 29 de setembro de 2007

Livro discute jornalismo e meio ambiente

Quando a palavra sustenta a farsa: o discurso jornalístico do desenvolvimento sustentável é o título do livro de Míriam Santini de Abreu, uma das editoras de Pobres & Nojentas.

Árvores furiosas

Por Míriam Santini de Abreu, jornalista

Há o chavão “fúria da natureza” em muitas notícias sobre tempestades, tornados, tormentas, tufões, terremotos, tsunamis... O t parece carregar o peso semântico do regurgitar da Terra. E o que dizer da fúria das árvores? Bonito ver árvores furiosas. Em “O Senhor dos Anéis - As Duas Torres”, elas lutam ao lado dos humanos, lideradas por um pastor de árvores bem zangado. Parece o Humbaba da floresta de cedros de Gilgamesh: “Ó Gilgamesh, o vigia da floresta nunca dorme!”.
Assustadoras também são certas florestas de pinus, como em Correia Pinto, perto de Lages. Ali uma estrada vicinal corta uma floresta dessas, e aquelas extensões verdes perfeitamente enfileiradas e silenciosas dão tremura nos nervos. Não é culpa das árvores. Nós também as estressamos.Basta ver o curta Parálisis, de Gabriel Acevedo Velarde (Peru/México 2005). Ao longo de dois minutos e meio, arbustos de calçada tremelicam e resmungam à passagem dos humanos.
Quase ao final, um arbusto parece estar à beira de um enfarte, quase vomitando folhas. Corre uma semana antes que o espectador do curta consiga passar ao lado de um arbusto na rua sem temer pela própria segurança. Dá receio até de pendurar rede em toco de árvore.Lá em casa, aliás, cortaram o pessegueiro que sustentava uma das alças da rede, mas foi por imposição do Poder Público. Parece que os pessegueiros de Caxias estavam doentes e, pior, contaminando os da Argentina. Não entendi nada, e ninguém soube me explicar direito a história. As árvores e arbustos têm razão na sua fúria.

Jornalismo e educação

Vale a pena conhecer a dissertação de mestrado de Marcilene Forechi, Jornalismo e educação: da invenção da realidade à formação de jovens, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Espírito Santo. Confira o resumo do trabalho e o enlace para acesso:

RESUMO


O discurso jornalístico sobre a realidade dos jovens das classes populares envolvidos com fatos violentos legitima certas maneiras de pensar e orienta, por produzir sentidos sobre a violência e sobre os jovens, as ações para combater a violência. Essa dissertação de mestrado apresenta uma reflexão sobre o jornalismo como conhecimento e sobre a educação numa perspectiva ampla que inclui os processos sociais, culturais e políticos presentes na sociedade. A pesquisa de campo foi realizada de julho a novembro de 2005, com um grupo de jovens moradores do bairro Jacaraípe, na Serra, considerado um dos 10 com maior índice de homicídios do município. Também foi realizada uma pesquisa envolvendo reportagens de um jornal diário e entrevistas com jornalistas. A perspectiva teórica desse trabalho rejeita a idéia do jornalismo como espelho da realidade e propõe pensá-lo como construção. Dessa forma, é possível situá-lo como um processo educativo não formal, que interpenetra os demais campos sociais modificando o estatuto da percepção. A partir das análises, foi possível estabelecer um paralelo entre as concepções de juventude presentes na imprensa e a percepção que os jovens têm da sua própria realidade e da realidade construída nas páginas do jornal.
Foi possível perceber que o jovem das classes populares retratado nas matérias sobre violência é visto pela imprensa como um sujeito autônomo, descontextualizado de sua realidade imediata e que tem sua juventude ligada unicamente à sua idade. Uma das pistas encontradas ao final do trabalho foi a possibilidade de considerar a produção jornalística como um dos elementos mediadores da realidade e, assim, inseri-lo nas propostas curriculares da educação formal.


http://www.ppge.ufes.br/dissertacoes/2006/Marcilene%20Forechi.pdf

Favela dos ricos

Leia o artigo de Marc Dourojeanni sobre Jurerê Internacional, o bairro “chique” de Florianópolis, SC, que ele chama de “favela de ricos”.

http://www.oeco.com.br/oeco/servlet/newstorm.ns.presentation.NavigationServlet?publicationCode=6&pageCode=80&textCode=24148&date=1190278800000

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Banqueiros não dividem lucro

Por Míriam Santini de Abreu, jornalista

Os bancários Diego – leitor de Pobres & Nojentas - Héverton e Julio, de Florianópolis, Santa Catarina, estão na luta por melhores salários e condições de trabalho para a categoria, que sofre cada vez mais de problemas como Lesões por Esforço Repetitivo e depressão, provocadas por aumentos sucessivos de produtividade e pressão violenta para venda de produtos aos clientes, entre outros. Na sexta, 28, direção e bancários ligados ao Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários de Florianópolis e Região paralisaram as atividades de várias agências da Capital catarinense, manifestação que se repetiu país afora como parte da Campanha Nacional. Na primeira semana de outubro, dependendo do resultado das próximas assembléias, os bancários podem entrar em greve por tempo indeterminado, porque os donos dos bancos, apesar dos recordes nos lucros, se recusam a dar reajuste maior do que 5,2% e a negociar a sério as demais cláusulas da pauta de reivindicações.

Iluminadores do cotidiano




Por Míriam Santini de Abreu, jornalista

Imagem da cidade. Profissão de risco. Lembro-de Marcos Lomba, que entrevistei há um ano. Perdeu as duas pernas e um braço quando se preparava para consertar uma linha viva danificada na Grande Florianópolis. Era para a rede estar desenergizada, mas não estava. Foram semanas no hospital, e a luta, hoje, pela indenização. Marcos, como o homem na foto, literalmente ilumina o nosso cotidiano.

Mãos de madeira

Por Míriam Santini de Abreu, jornalista

Quando as vi, agarrei-as sem o menor pudor. São as mãos do tecelão Cícero Moreira do Nascimento, pra lá da curva dos 50, que vende tapetes no Centro de Florianópolis, cidade onde vive há 25 anos. Mãos de madeira, duras, calosas de tanto trabalhar no tear. Mora no bairro Barreiros e tem sete filhos. Na semana que terminou havia vendido apenas um tapete. É de Caruaru, Pernambuco. “Lá tem muito Cícero, Cícera, Francisco e Francisca. E se numa família não há ninguém com esse nome, pode contar: não é católica!”. Rosto de pura bondade, esse Cícero. Mas não quis ser fotografado.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Rádio comunitária no Monte Cristo

O discurso da democratização dos meios de comunicação é fácil de fazer. Difícil é colocar idéias e projetos em prática ou apoiar quem decide caminhar ao longo das veredas do jornalismo dito alternativo. Por isso é bonita de se ver a iniciativa de um grupo de aguerridos jovens do Monte Cristo, em Florianópolis, que estão lutando para manter no ar uma rádio comunitária. A próxima transmissão é no sábado, 29 de setembro, a partir das 14h.
O pessoal está fazendo uma série de atividades abordando e sensibilizando os jovens para a importância de um espaço público onde a comunidade possa se expressar livremente. Para saber mais acesse
http://radiomontecristo.blogspot.com/
http://www.bairromontecristo.blogspot.com/

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

O povo se levanta

Servidores públicos e o Movimento dos Sem Terra na terça-feira, 25; na quarta-feira, 26, trabalhadores demitidos depois da suspensão da loteria catarinense Tri-Mania. Os primeiros em caminhada rumo à Casa do Governador, os segundos, vestidos com uniforme amarelo, gritando palavras de luta e segurando cartazes no Largo da Alfândega, em Florianópolis. A Capital catarinense, geralmente quieta, ferve nesta semana. Suspendo a caminhada apressada para conversar com um rapaz, em pé sobre um branco, faixa segura numa das mãos.
- Olha, esses todos, trabalhadores, na rua. Fica aqui e apóia a nossa manifestação.

O horror econômico – escreveu a jornalista francesa Viviane Forrester. O horror do desemprego.
Mas o povo se levanta.

Bem lembrado

Um comentário na página da revista, na postagem sobre a eleição na UFSC, nos faz lembrar: a UFSC é a única Universidade Pública FEDERAL de Santa Catarina. Há uma Estadual, a UDESC, e universidades municipais.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Estradas e olhos-de-boneca


Por Míriam Santini de Abreu, jornalista

Bem sabem os que viajam como passageiros: é intenso, às vezes, o desejo de frear a chegada, de se deter, de interromper o fluxo de espaço e tempo para agarrar um pensamento fugaz, esmiuçar uma paisagem, sentir-se inacessível. É assim que fico, um pouco imóvel, quando das janelas cerradas espio a vida que passa na SC-302 entre Rio do Sul e Alfredo Wagner, em Santa Catarina. Imóvel e comovida.
O longo trecho de estrada é asfalto sobre terra arada. Todos os meus sentidos se dobram diante de florestas preservadas, como ainda há na Serra do Mar Catarinense - na reserva florestal de Caçador vi uma araucária que deve ter meio século. Mas são igualmente belas essas culturas agrícolas que se espraiam nas pequenas propriedades catarinenses.
E tão belas quanto elas são as mulheres, os homens e as crianças que vislumbro de passagem, entre um quilômetro e outro. Ora os vejo ajoelhados, de bermuda, chinelos e boné, consertando um instrumento qualquer, ora estão na boléia de um trator que cruza o campo; em seguida espio uma mulher que varre a varanda ou bate com força o tapete para espantar o pó, e mais adiante, na beira da estrada, uma mocinha de chapéu de palha levando pela mão um piá.
Constrange-me um tanto a minha mirada invasiva, desavergonhada, que captura esses instantes íntimos de vida de outro. Comove-se saber que a vida deles e a minha depende do caldo da terra, do vingar das sementes, repousada aí a possibilidade de pagar o crédito agrícola, o empréstimo para o trator, os hectares de lavoura comprados com muita economia. E há as casas, umas de alvenaria, outras de madeira bem velha, como as da minha falecida vó Antônia, tão velhas que parecem ser a sombra cinzenta de uma matéria espessa que ali apenas deixou vestígios. Gris.
Mas se me constranjo, é só um tanto, porque sei que estamos, eu e eles, à espera, à procura, e olhos, ouvidos, mãos, o corpo todo, denunciam esse eterno tatear pelo vir-a-ser, pelo vir-a-estar. E assim, faminta, espicho o pescoço para lançar minhas redezinhas de íris, pupila, cristalino, poéticos nomes para designar o que me permite depois, por horas a fio, trazer à lembrança essas paisagens amadas. E sempre evocar uma frase que li em algum lugar, algo assim: "E sempre ouço às minhas costas a marcha do tempo que passa adiante". E ficamos – eu e eles – em meio aos bramidos desta marcha, deste tempo.
E se tudo isso não bastasse, em setembro florescem nas terras catarinenses, nos canteiros das casas, como em todos os lugares onde se permite à natureza despertar, os olhos-de-boneca. Dendrobium nobile. Floradas quase ofensivas, de tão cativantes, gotejando das árvores e arbustos, deixando-me completamente enevoada. Orquídea feiticeira, esta, que me provoca tal turbação a ponto de me deixar à distância, temerosa de seus efeitos, temerosa dos delicados labelos lilases e roxos, condão vegetal que me arrebata. Os olhos-de-boneca parecem se agarrar aos troncos nos quais se sustentam. Mera aparência. Os troncos é que se agarram aos cachos delicados, para pulsarem ainda mais belos nessa extraordinária e fugaz florada de Primavera.

E que aqui se diga: só Florbela Espanca poderia, nos seus versos que fazem o coração arder, palavrear o que a chegada de setembro, no Sul do mundo, inspira em todos os seres. Rendamo-nos à portuguesa.

http://www.laurapoesias.com/poetas/florbela_espanca_primavera.htm


Nildo e Maurício na UFSC

O professor Nildo Ouriques, cujo perfil foi publicado na edição 8 de Pobres & Nojentas, e o professor Maurício Pereima lançam nesta quarta-feira, 26, a candidatura à eleição para reitor e vice da Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC. Haverá poemas, festa, frutas, vinho e compromissos sendo assumidos com uma nova forma de gerir a única Universidade Pública Federal de Santa Catarina.

Desacato na rede

Página de formação, informação e desenho charmoso, Desacato está inundando o mundo virtual com artigos, notícias e entrevistas feitas por gente de vários lugares do país. Elaine Tavares, editora da Pobres e Nojentas, e Raul Fitipaldi, que escreve textos lindos para a revista, também estão no time. Delicie-se em
http://www.desacato.info

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Mídia e poder


A democratização da comunicação é um tema que está na pauta de lutas de boa parte dos movimentos sociais e será alvo de debate na Assembléia Legislativa de Santa Catarina.

domingo, 23 de setembro de 2007

O museu do lixo



Por Míriam Santini de Abreu - jornalista

O Museu do Lixo da Companhia Melhoramentos da Capital (Comcap) - empresa de economia mista controlada pela Prefeitura Municipal de Florianópolis - completa quatro anos no dia 25 de setembro. O Museu fica no Centro de Transferência de Resíduos Sólidos (CTReS), no bairro Itacorubi, e tem área de 200 metros quadrados. O local é visitado por cerca de 3,6 mil pessoas todos os anos, com destaque para estudantes da rede pública.
Quando visitei o Museu, em companhia de estudantes de Jornalismo da UFSC, fiquei impressionada com o trabalho de Valdinei Marques, que se auto-denomina Neiciclagem, o embaixador do lixo.Ele leva os visitantes para conhecer o processo de coleta seletiva, as “colinas” de lixo antigamente depositado no local e agora coberto por terra e grama e, principalmente, o Museu. Impossível enumerar a quantidade de objetos reunidos ali, e cuja harmoniosa composição delicia adultos e crianças. Num canto, sofás e um aparelho de som que toca discos de vinil. Noutro, estantes cheias de livros, bibelôs, aparelhos domésticos. Uma deliciosa vertigem para os olhos, tudo aquilo. Nei faz cerimônia de iniciação em volta de uma mandala pintada no chão, e depois todos saem de lá com certificado de agente ambiental.
No CTReS também acompanhei a transferência de resíduos de um caminhão de coleta residencial para outro, maior, no qual o material é colocado para ser levado ao aterro sanitário. Quem vê o lixo despencar de um veículo para outro, restos de comida, papel, plástico e o que houver – tudo num gotejar escuro e viscoso – fica a duvidar da possibilidade de um futuro para a espécie que produz tal tipo de sociedade. As fotos são de Vera Flesch.

Humor na rede

Visite o blog do cartunista Solda em http://www.cartunistasolda.blogspot.com/

sábado, 22 de setembro de 2007

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

É tempo de celebrar! Feliz Primavera!

Por Elaine Tavares - Jornalista

Os povos pagãos, nas suas culturas, sempre me pareceram mais sábios. Eles tinham como costume celebrar a vida nos equinócios e solstícios, rendendo homenagens às estações. E isso não era coisa à toa. É porque cada estação traz com ela suas bênçãos. No girar desta bola azul, as comunidades vão experimentando a beleza do outono, a introspecção do inverno, a volúpia do verão e a alegria da primavera. É ainda nesse lento rodopiar que a terra e as gentes vão encontrando seu momento de plantar, colher, descansar e dançar.
Pois hoje, nesta nossa parte do mundo, é o equinócio da primavera. No ritmo das estações, tudo começa a vicejar. A voz dos passarinhos fica mais forte, as flores embestam a aparecer e, a despeito de todas as dores e lutas, também as pessoas parecem florescer em festa.
Aqui estamos nós no imenso jardim vendo cada coisa que plantamos no inverno, apontar pela terra afora. Então é hora de dançar a dança dos deuses, fazer “pago à Pacha Mama”, reverenciar Inti (o sol), saudar Ñanderu, o grande pai Guarani, que com Jacy e Kuaray tornam esse mundo tão belo. É tempo de dizer o nome da beleza para que ela nos tome inteira como crêem os Navajos.
Um dia, bem longe, os povos do leste invadiram nossa Tekoá (terra-casa) e soterraram a cultura autóctone, trazendo novo deus e desconhecidos santos. Mas, sempre é tempo de recuperar nossa condição primeira, de povo de Abya Yala, e retomar velhos rituais. A caminhada dos tempos já tratou de mostrar que na profusão de deuses e deusas que co-existem nas mais variadas culturas, o que fica como certeza final é de que esta terra é sagrada e cabe a nós cuidar para que ela siga firme, com saúde e um lugar bom de viver. A Eko Porã do povo Guarani(terra boa e bonita para todos).
Esse tempo ainda não vingou, proliferam as guerras, as gentes precisam migrar de um lado para outro buscando sobreviver em meio à destruição do capital. Mas, em cada ser que vive, brilha a indefectível esperança. Dia virá em que todos poderão dançar para Inti, Pacha Mama, Viracocha, Quetzalcoalt, Istsá Natlehi, Wakan Tanka, Krisna, Jesus, braços dados, irmãos. E a terra será bela, e o banquete repartido. Paraíso. Socialismo. Eko Porã.
Enquanto isso, celebremos, pois. Os passarinhos nos chamam, as flores perfumam a vida e nós temos a obrigação de render graças. Porque nada no mundo pode ser melhor que caminhar na direção da beleza, da vida plena, da alegria, da Eko Porã. Em meio à tormenta, cantamos, dançamos e plantamos jardins porque confiamos, como Jeremias, diante da sua terra arrasada, que ainda vingarão flores neste lugar...
Feliz primavera! Viva Abya Yala.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

A saúde dos bancários

A vida do trabalhador bancário não está nada fácil. A edição 5 de Pobres & Nojentas mostrou a história de Márcia Platt, que adquiriu Lesão por Esforço Repetitivo e hoje luta para conscientizar outros colegas sobre o problema. A saúde é um dos temas que estão na pauta da campanha salarial dos bancários, que na quinta-feira, 20, fecharam por duas horas as agências do Besc, do Santander e do Bradesco localizadas no centro de Florianópolis. A paralisação faz parte do calendário de mobilização da Campanha Nacional na base do sindicato de Florianópolis e Região. Foto: SEEB Floripa

Dia sem Carro

O dia 22 de setembro é o Dia Mundial sem Carro, um manifesto contra os graves problemas causados pelo uso massivo de automóveis. Lúcio Gregori, ex-secretário de Transporte na gestão de Luiza Erundina em São Paulo (1989-92), costuma dizer que nenhum outro sistema de transporte dá tanta liberdade de locomoção quanto o carro, mas é uma solução individual, acessível a poucos, e o preço é alto: poluição e caos no trânsito. “O desafio é fazer o transporte coletivo dar esse mesmo grau de liberdade, com mobilidade plena e acesso universal”, disse ele em reportagem sobre mobilidade urbana na edição 8 de Pobres & Nojentas.
O conceito de mobilidade urbana vai além do ir e vir de veículos e do conjunto de serviços que possibilitam esses deslocamentos. Ele tem a ver com as necessidades das pessoas e o acesso delas às facilidades, serviços e oportunidades que a cidade oferece: escolas, hospitais, locais de emprego, moradia e lazer.
Pensar sobre isso deixa claro que viver e morar em uma cidade são coisas diferentes. Quem vive aproveita as boas coisas. Quem apenas mora vê a cidade passar no intervalo entre a casa e o trabalho, sem conseguir experimentar o que está atrás das portas com placas de anúncios, das cercas, dos eventos pagos. É como viver dentro e fora ao mesmo tempo, num intervalo de espaço que a mídia chama da periferia. São os empurrados para a periferia que mais precisam do transporte coletivo, e os que menos têm acesso a eles. É, portanto, urgente refletir sobre as conseqüências da aposta em investimentos no transporte individual e tomar decisões que ampliem o acesso e a qualidade do transporte coletivo.

“Não deixe cair a profecia”

Por Míriam Santini de Abreu – jornalista

Tenho em mãos mais uma vez, apesar do preço salgado, R$ 8,90, o fino biscoito Le Monde Diplomatique Brasil, publicação mensal agora disponível nas bancas. Há, nesta edição de setembro, um artigo de Leonardo Boff sobre o significado da Teologia da Libertação no mundo de hoje. O texto me fez lembrar de um filme-documentário que vi, infelizmente do meio para o final, intitulado
Dom Hélder Câmara - em busca da profecia, de Erika Bauer, produzido pela COR Produções Artísticas, em co-produção com a STV - Rede SescSenac de Televisão, TV Cultura e Quanta Brasília.
Produção de excelente qualidade que, no encerramento, traz um depoimento de Marcelo Barros, monge beneditino ordenado padre por Dom Hélder em 1969. Em 1999, vinte dias antes da morte de Dom Hélder, Barros o visitou e pediu uma palavra. Com esforço, conta ele, o arcebispo sussurrou: “Não deixe cair a profecia”.
Céus, que quase últimas palavras... Inquietei-me toda, corri para o Google e, faminta, encontrei oito referências sobre a frase. O próprio Marcelo Barros escreve que ainda ressoa, quente e vibrante, a voz de Dom Hélder:
"Deus deu ao ser humano o poder e a responsabilidade de não se conformar com o sofrimento e com a dor do inocente, mas de combater o mal e a injustiça. Esta é a tarefa de todos nós.”
E, por ter descoberto os elementos da profecia do arcebispo a partir de Marcelo Barros, a compartilho. São quatros os elementos, que dão o que pensar entre crentes e não crentes:
1 – Qualquer ser humano só pode ser verdadeiramente feliz no dia em que o mundo for um só e justo para todos.
2. – O apelo a nos constituirmos como “minorias abraâmicas.”
O mundo não mudará pela ação isolada de líderes esclarecidos e sim pelo empenho comunitário de grupos de resistência e de profecia que se consagrem a transformar o mundo a partir de uma profunda convicção de fé no ser humano e na vida. Estes grupos podem ser minorias na sociedade (Dom Hélder os chamava minorias abraâmicas), mas são fecundos fermentos de uma humanidade nova. Só neste caminho de humanização, tem sentido falar em fé cristã para as pessoas que querem crer e viver o Evangelho.
3. – O compromisso com a Paz e a Não violência.
4. – O compromisso com o macro-ecumenismo.
Para saber mais, leia o texto de Marcelo Barros:
http://www.oraetlabora.com.br/artigos/heldersantorebelde.htm
E fique ligado! A Teologia da Libertação vai ser tema da edição 9 de Pobres & Nojentas, que circula em outubro!

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Brasil, corrupção e hipocrisia

Por Elaine Tavares - jornalista no OLA

O filósofo Enrique Dussel é, para mim, quem melhor definiu o que seja corrupção. Ele deixa claro, no seu livro “20 teses sobre Política”, que estas denúncias que envolvem roubo, uso da influência, malversação de verbas públicas, ilegalidades diversas no exercício da função pública, abuso etc... nada mais são do que a capa visível de um processo que é muito mais profundo. Por isso, é a este pensador que recorro para falar de toda essa polêmica envolvendo o senador Renan Calheiros.
Fatos como o que aconteceu no Senado levam às pessoas a acaloradas discussões sobre a democracia, a ética e a política e, no mais das vezes, as opiniões recorrentes são as que não tem jeito mesmo, que a política é um espaço de corrupção, que ninguém pode ser sério na política e coisa do tipo. Multiplicam-se as análises morais. “Absurdo”, clama a população nos ônibus, nas esquinas, nas mesas de bar. Mas, a meu juízo, todo esse moralismo no debate nada mais é do que o desconhecimento do que seja efetivamente a política e, principalmente, a incapacidade da nossa gente de agir de forma contundente no exato momento em que se instala a corrupção.
Dussel fala que, tal como o povo, a maioria dos políticos sequer sabe do exato momento em que começa a ser corrompida. E que isso se deve ao fato de que, normalmente, quem faz política, tampouco sabe o que significa esse fazer. Para o filósofo, aquele que exerce um determinado poder precisa saber, de forma clara, o que é o poder. Poder, para Dussel, não é um espaço de dominação, como quer fazer crer a concepção moderna do termo, machista, colonialista, racista e exclusivista. Quando o poder é usado com esta conotação, de domínio sobre o outro, deixa de ser política e vira um fetiche. Alguém que, no exercício do poder, se considera o centro e a sede deste poder, está corrompido. E é essa a corrupção que deve ser combatida. Os atos que se seguem a essa idéia de que quem está num posto de mando tem a sede do poder, nada mais são do que conseqüências da “grande” corrupção.
Partindo desta idéia, o que aconteceu no Senado apenas se configurou num teatro, uma fantasmagoria. Condenar ou absolver Renan Calheiros no campo da moral de nada adianta. É preciso que as pessoas comecem a pensar sobre a corrupção-mãe que se esconde nos estúpidos atos ilícitos que os que estão no poder se acham no direito de cometer, sem qualquer punição.
A política como grande política, segundo Dussel, se expressa numa outra forma de exercer o poder. Não mais como dominação, mas como poder-obediencial. Ou seja, o político, para não ser corrupto, precisa saber que está representando uma gente que o elegeu e que neste estado de representante do povo precisa fazer o que o povo lhe ordena que seja feito. Não está nele o poder de fazer o que lhe dê na telha. Essa é a corrupção. Quando o político pensa que, investido do poder, pode fazer que quiser. Não pode! Há que ouvir e obedecer a sua base.
Nesse sentido, quando um Renan ou outro qualquer usa o poder para enriquecer, comprar gado ou qualquer outro ato que não aqueles para o qual foi eleito, ele está deslegitimado. E é o povo que o elegeu quem precisa fazer essa deslegitimação. Agindo como se fosse ele mesmo, e não o povo, a sede do poder, este político está acabado. Dever ser riscado do mapa. Daí que o absurdo não está no fato de o Senado ter feito votação às portas fechadas, nem que tenha absolvido o senador. Absurdo será se o povo brasileiro não compreender que este tipo de político precisa ser varrido do cenário nacional.
Outro exemplo gritante de como estes políticos rasteiros se comportam no trato com o poder foi a fala do deputado Raul Junggmann, quando se atracou com um segurança armado de revólver de choque. “Ele não pode fazer isso com um representante do povo”. Mas, são estes mesmos deputados os que chamam as tropas para reprimir o povo que os elegeu quando este se arvora no direito de reclamar a sede do poder. Contra o povo, as balas e o choque, mas contra um deputado, não. Isso é corrupção. Essa é a mãe da corrupção. E é isso que as gentes precisam observar se quiserem realmente um dia viver num sistema político em que aquele que manda, obedece. Ainda temos muito que caminhar para sair da seara da moral e entender o verdadeiro significado da política. Mas, creio, um dia chegaremos a esse patamar.
Saiu na revista
Eloah Pereira Rembowski, dona de casa em Florianópolis, lê Pobres & Nojentas

Memória viva

Museu e Arquivo Histórico de Rio do Sul [SC], no prédio da antiga estação de passageiros da Estrada de Ferro Santa Catarina

Patagônia vendida

Por Míriam Santini de Abreu, jornalista

Tempos atrás falava-se, quase com reverência, em “últimas áreas virgens”, “áreas intocadas pelo homem”, “paraísos desabitados”, na linha do “mito moderno da natureza intocada”, título de um livro de Antonio Diegues. Os citadinos em geral não abrem mão dos benefícios da tecnologia, mas também acalentam o sonho imemorial da vida longe das pressões e exigências da civilização.
Sobre isso o geógrafo Milton Santos faz uma reflexão instigante: ele diz que paradoxalmente é o movimento ecológico que completa o processo de desnaturalização da natureza, ao dar a ela um valor. E digo: o valor de preservar. Isso porque o mais inóspito rincão da Amazônia, supostamente intocado, pode ser alvo de um projeto de preservação pensado fora dele, como, por exemplo, nos escritórios de uma empresa de São Paulo. E para tal projeto podem ser canalizados alguns milhões em recursos. A natureza é transformada em objeto a partir de um conjunto de intenções sociais.
Tal reflexão enriquece a leitura do livro “Patagônia Vendida: los nuevos dueños de la tierra”, do jornalista argentino Gonzalo Sánchez (Marea Editorial, 2006, 280 páginas). O jornalista revela como figuras conhecidas no mundo dos negócios, como Ted Turner, Joseph Lewis e os Benetton, compram milhares de hectares na Patagônia para lucrar com empreendimentos agropecuários e turísticos, além de se apropriarem de paisagens – devidamente cercadas – e de reservas estratégicas de água e terra. Tudo respaldado pelo poder público e sob a chancela do discursinho da preservação ambiental e do desenvolvimento sustentável.
Na Patagônia argentina, tal como na Ilha da Magia brasileira, Florianópolis, políticos de diferentes instâncias de poder mudam a legislação conforme o maestro que toca a música. Basta modificar o artigo de um decreto ali, parte do texto de uma resolução aqui, e o valor da terra cai ou sobe de acordo com a conveniência. No caminho, amassados pela burocracia e pela vista grossa de autoridades, ficam os interesses dos indígenas, das populações pobres, de gente que viu bisavô, avô e pai crescerem num determinado lugar, mas que precisa sair dele por força de leis oportunistas.
Sánchez fez um trabalho primoroso de investigação, que se desdobra ao longo de quatro capítulos que contam a história pessoal de cada ricaço e a forma pelo qual fincaram bandeira e milhões “ao sul do Sul, onde termina o mundo e começa o paraíso”. Todos têm discursos prontos para justificar os próprios interesses. É ilustrativo o caso da família Benetton, dona da famosa grife italiana que, para evitar desgastes à própria imagem depois de disputa por terras com uma família de mapuches argentinos, recebeu-os em Roma graças a uma desastrada interferência do Nobel Adolfo Pérez Esquivel. Foi apenas um circo montado que acendeu holofotes para iluminar a benevolência da empresa.
Os novos donos da Patagônia usam estratégias parecidas com aquelas usadas por donos de outros ditos paraísos: compram as terras a bom preço, contratam mão-de-obra local, reformam a escola, doam veículos e outros espelhinhos tecnológicos para a comunidade e logo parecem a solução para todos os problemas não-resolvidos há décadas pelas autoridades. Enredo irritantemente banal, mas que provoca seus efeitos.
E, como em todo o enredo sobre a dita preservação da natureza, neste há Douglas Tompkins, um dos gurus da chamada Ecologia Profunda, milionário convertido em ambientalista, amigo dos Menem e dos Kirchner. Ele faz suas pregações acomodado em uma estância encravada na Patagônia, onde possui 900.000 hectares de terras na parte chilena e argentina. E porque faz o que faz? – questiona o jornalista. E Tompkins responde: no capitalismo, onde a maioria perde, ele ganhou, e precisa devolver ao mundo o que o mundo deu a ele. Para isso elegeu a “conservação da biodiversidade”. E arremata: “Y sinceramente me da más placer donar la plata que ganarla”. E assim caminha a Patagônia, revela o livro: um bairro privado, destino turístico cada vez mais exclusivo, enorme depósito de riquezas e belezas naturais disponível para quem pode pagar.


segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Jornalismo, história e memória


Enriquecer o texto jornalístico com a relação entre história e memória é o objetivo do projeto de extensão “Jornalismo e História do Presente: narrativas de Rio do Sul”, do curso de Jornalismo da Universidade para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí (Unidavi), coordenado por uma das editoras de P&N, Míriam Santini de Abreu. O resultado está na edição especial Mãos que fundem o ouro azul, que circula na semana de 17 de setembro em Rio do Sul, Santa Catarina, e é resultado de aprendizado individual e trabalho de equipe.
Estudante da sexta fase de Jornalismo, servidor na Escola Agrotécnica Federal de Rio do Sul e fã de futebol, Edemir José de Oliveira resolveu escrever sobre a vida de um sapateiro que viu a cidade crescer e mudar. Adilson Schmitz, dono do jornal e da capacidade de concretizar idéias, procurou o sindicato dos metalúrgicos e a patronal no município para falar desse setor, e ainda encontrou um torneiro mecânico que virou empresário e inventa máquinas.
Aos dois bolsistas juntou-se, como voluntário, Tiago Amado, que trabalha na Assessoria de Comunicação da Unidavi e já prepara o Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo. Tiago conversou com um homem que pescava dos rios a madeira que impulsionou o crescimento de Rio do Sul. Já a coordenadora do projeto, Míriam Santini de Abreu, fez uma reportagem sobre o setor de confecções, cujo dinamismo se expressa no título “Rio do Sul Capital do Jeans”.
A pergunta que deu o “sul” do trabalho foi: qual é a relação entre jornalismo e história? Um viés da discussão concentra-se nas particularidades da chamada “história do presente”, “história próxima” ou “história imediata”. Historiadores debatem as diferenças entre uma expressão e outra, mas as três, de modo geral, designam o campo do “muito contemporâneo”, depois do primeiro terço do século 20.
Essa discussão tem uma relação estreita com assuntos presentes tanto na academia quanto no mercado no que se refere ao atual “estado de arte” do jornalismo. Um deles, a qualidade do texto, seja ele uma notícia ou uma reportagem, fica certamente mais enriquecido se forem levadas em conta as contribuições de áreas de conhecimento como história, geografia, sociologia, literatura. Afinal, o fluir do tempo num espaço geográfico, onde homens e mulheres “experenciam” o cotidiano e tecem narrativas, é a matéria-prima do jornalismo.
O trabalho de reportagem mais estreitamente vinculado à história permite vários graus de aprendizagem: leitura crítica de livros e textos em geral, pesquisa em arquivos, debates, formulação de pauta, entrevistas, redação de texto. Um aspecto importante é esse ato de “sair” da universidade e ir à “rua”, encontrar as pessoas, ouvir suas histórias, ficar face-a-face com o outro, como assinala a jornalista Elaine Tavares. Esse é um elemento essencial da prática jornalística que não pode ser suprido por arquivos e banco de dados. O que “o outro” conta ao jornalista é justamente o singular, o irrepetível. E unir esses relatos singulares ao fluxo histórico é o que motivou o projeto.
Inspira o projeto, também, Paulo Freire, que fala da importância de um trabalho de levantamento da história, num determinado lugar, em que “[...] as mais velhas e os mais velhos habitantes da área, como testemunho presente, fossem fixando os momentos fundamentais de sua história comum. Dentro de algum tempo se teria um acervo de estórias que, no fundo, fariam parte viva da História da área”.
Para os jornalistas preocupados com a dimensão de seu trabalho na relação com a história, o medievalista francês Jacques Le Goff tem uma afirmação alentadora. Para ele, o jornalista é “historiador do imediato” quando faz intervir, em seus textos, uma certa “espessura” histórica. E espera quatro atitudes desses “historiadores do imediato”: ler o presente com profundidade histórica; ter espírito crítico; esforçar-se para explicar os fatos e tentar estabelecer, entre esses fatos, uma hierarquia. Diz também Le Goff que “o historiador não pode ser um sedentário, um burocrata da história, deve ser um andarilho fiel a seu dever de exploração e de aventura”. O mesmo se pode dizer do jornalista.
O símbolo do projeto, o galinho-narrador, foi desenhado por Eduardo Schmitz, formado em 2007 pela Unidavi e proprietário do jornal Observatório Local, de Taió, Santa Catarina.

sábado, 15 de setembro de 2007

Conheci Brigitte

Por Míriam Santini de Abreu - jornalista

Com décadas de atraso – confesso – conheci Brigitte Bierrenbach Montfort, a heroína da série “ZZ7-Brigitte Montfort em ação”. Tudo porque a jornalista Elaine Tavares a citou em dois artigos (leia abaixo) que me aguçaram apetites. Elaine também me apresentou, há dois anos, a Perry Rhodan, e desde então sou fascinada pelas aventuras da Terceira Potência. Só não compro e devoro todos de uma só vez porque cada um custa R$ 5,00 nos sebos que têm a coleção. Mas falemos de Brigitte.
Super-espiã da CIA, a melhor, ela é bela, morena, com pupilas azuis que hipnotizam amigos e inimigos, e anda sempre com uma pequena maletinha vermelha na qual guarda sua pistolinha, o rádio portátil disfarçado no maço de cigarros e outras quinquilharias. A bolsa parece não ter fundo, como uma cornucópia dos espiões. Mas Brigitte é sinistra. Derruba chefes de Estados de países da África, da América Latina e da Ásia, sempre pelo bem da humanidade.
Ao usar disfarces, confunde o inimigo, faz de conta que é o que não é, ou que não é o que é. O condinome é “Baby” e, quando o anuncia, os demais espiões – geralmente russos – estremecem. Sai sempre de mãos limpas, com demonstrações de misericórdia por quem obedece suas ordens ou com um tiro certeiro em que se recusa a atender seus desejos. Explode barcos, escala penhascos, aplica um líquido no corpo das vítimas que as faz dormir por 48 horas.
No número intitulado “Golpe de Estado”, ela tem que evitar – ou não, dependendo das circunstâncias que encontrar – um golpe de estado em “um minúsculo país centro-americano, situado entre o Panamá e a Colômbia”. E diz o chefe do setor da CIA em Nova Iorque, o tio Charles, seu grande amigo: “Em resumo: trata-se de uma dessas guerrinhas que você tanto gosta de evitar... Na minha opinião, você poderá evitar ... esse ato de violência, como fez em outras ocasiões. Refiro-me à violência generalizada. A violência para eliminar algumas pessoas é inevitável, naturalmente”.
Obviamente, o interesse da CIA era eleger um determinado candidato nas eleições para ter outra possibilidade de ligação entre o oceano Atlântico e Pacífico além do Canal do Panamá. E o tal candidato, além de abrir o novo canal, “se entregaria de corpo e alma à tarefa de cuidar da prosperidade de seus compatriotas”. Ao final, a agente “Baby” sempre consegue o que quer, e alivia o estresse de suas missões nos braços do amado, na Vila Tartaruga, ilha de Malta. A série foi escrita pelo espanhol Lou Carrigan, cujo blog é
http://www.loucarrigan.com/
Ah, detalhe: Baby é jornalista

Artigos de Elaine Tavares
http://www.sintufsc.ufsc.br/noticias_2005/0711_londres.htm
http://www.sintufsc.ufsc.br/noticias_2004/0316_brigitte.htm

Sindicatos

O “Estampa”, publicação do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Federal no Estado de Santa Catarina – Sintrafesc – divulgou pesquisa da OIT mostrando que as trabalhadoras têm ainda uma tímida participação nos cargos representativos dos sindicatos, além de participarem pouco do movimento sindical.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Digite "Catatau UFSC" no You Tube e conheça o mais famoso cão da América Latina

Perros Pobres y Nojentos


Catatau, o cão revolucionário

O blog de Pobres & Nojentas apresenta a biografia e as fotos do cão mais pobre e nojento da América Latina, Catatau. Tanto a história quanto o trabalho artístico sobre esse peludo personagem das lutas de Abya Ayala foram engendrados por Leopoldo Nogueira, mineiro de Belo Horizonte cuja história foi contada na edição 3 da revista. Leopoldo tem artes de menino-artista-velho-amoroso, e certamente é uma dessas almas capazes de compreender Catatau. Confira:

A Biografia de Che Catatau

Desde que atravesó para al otro lado del rio (o escueto, porque no lo sabemos al cierto ) en el campus de la Universidad Federal de Santa Catarina, para donde se dan los verdaderos movimientos por la transformación y emancipación de la universidad, los hermanos y compañeros pasaron a llamarlo Che Catatau.
Si, nacido Catatau no se sabe donde ni cuando, el líder de los perros se destacó por percibir que la vida académica era mucho más que se quedar defronte al RUrgh para esperar los restos de comida de los estudiantes, mucho más das veces huesos muy duros do que llaman gallina, e es unos de los pocos a que gusta saborear chinelón au crème.
Catatau estuve en todas las manifestaciones defendiendo la dignidad de los humanos y animales, avanzando fuerte contra todas las tiranías, latiendo para los déspotas y también para los que piensan ser los defensores de la buena sociedad que no muere en los buses.
Catatau todavía nunca andó de busón, pero defiende hasta la muerte lo derecho de la municipalización de los servicios de transporte colectivo.
Cuando la policía militar, o tropa de choque, entró en el campus meses atrás, fue avante de los estudiantes del Colegio de Aplicación latiendo y rozando los pies de todos que tenían cartazos y sus voces a favor de la catraca libre.
En las asambleas de los estudiantes Catatau ora abría la boca soñolienta, se quedaba prejuicioso al calor de los debates, ora se dirigía al cariño de unos para después marcar su territorio mas adelante. Y espera que no sea solo una promesa la construcción de otra ala del RUrgh…
Su mas famosa fotografía es aquella en que miraba todo compenetrado las demostraciones de revuelta cuando no se tenía profesores efectivos al comienzo del semestre, y en uno de los momentos raros de la vida, se capturó este instantáneo y se creó la leyenda.
Catatau no es solo el mejor amigo de los estudiantes, sino uno de los mejores ejemplos de que muchas cosas no están buenas en esta universidad brasilera, ni mismo para los perros. Entonces decidió que tenía de luchar por decencia entre tantos seres - docentes y discentes - que se hicieron indecentes de su propia dignidad humana.
Las buenas lenguas dicen que el es la misteriosa La Mascarada Pantera Roja, defensor de los pobres y oprimidos, que no tiene la cola arrestada, y dice siempre: “Hay que roer los huesos, pero sin perder las muelas jamás”.
Otras veces lo oirán gritar “Rintintim, go home!” cuando tuviemos la mala visitación de George W. Bush al Brasil.
Catatau es un perfecto perro, amigo de la justicia, y para nosotros que lo amamos, un verdadero perro, pobre y nojento.

ORKUT DO CHE CATATAU
http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=12060215316853060113E-mail: lamascaradapanteraroja@gmail.com


terça-feira, 4 de setembro de 2007

É o fim da picada...

Por Míriam Santini de Abreu - jornalista

Adoro ditados populares. Tenho meus preferidos:
- Feito nas coxas – tem um tom sacaninha, apesar de se referir ao fato de os escravos moldarem telhas na curva das coxas.
- É o fim da picada – parece o fim de tudo, o sem-chance, o absurdo do absurdo, porque, se a picada já é um caminho meia-sola, imagine o fim dela.
Há tantos...
Uma página para pesquisar ditos de todo o tipo é:
http://www.mulhervirtual.com.br/ditados.htm

Esporte mata!

Por Míriam Santini de Abreu - jornalista

Cada vez que recebia a Caros Amigos, eu buscava, faminta, a coluna de José Róiz. O médico mineiro dizia coisas atrevidas nesse tempo de culto aos músculos e às dietas de todo tipo. Mais ainda: ele falava de como bem viver. Morreu em 2003, para lá da curva dos 80, magrinho e sábio. E deixou tudo que ensinou em livro – um dentre outros escritos - republicado pela Editora Casa Amarela. O título, Esporte Mata!. Indiferente às críticas que recebia e avesso a sensacionalismos, Róiz afirmava: “O homem não foi feito para correr”. 

Róiz ensina que nenhum adulto com mais de 25 anos deve fazer exercício violento, mas também não pode ter vida sedentária. O melhor é simplesmente caminhar, e muito, e dançar, hábito que preserva o vigor do corpo e da mente. Além disso, o médico só recomenda o vôlei, mas nunca o competitivo, aquele do atleta. Jogando vôlei, a pessoa caminha e faz as quatro ginásticas que Róiz considera necessárias, aquelas que contraem os músculos posteriores, situados ao longo da coluna vertebral (veja no quadro). Muitos escritos do médico mostram sua preocupação com o tipo de alimento consumido na vida moderna. 

Embora não fosse vegetariano, sugeria que as pessoas evitassem a carne, especialmente por causa de doenças como a da “vaca louca”. Para ele, a melhor refeição possível é feijão comum com carne de soja moída, acompanhada de uma fonte de vitamina C, como as frutas cítricas, podendo se substituir metade da mistura por um pouco de arroz e verdura. E o ideal, adotando ou não essa refeição, é ingerir uma pequena quantidade de alimento, evitando o excesso de proteínas, em intervalos de duas horas e meia. Isso estimula a produção de insulina, que “limpa” o sangue, enviando para os tecidos a glicose, a gordura e os aminoácidos das proteínas. Bem nutridas, as células do corpo ficam mais capazes de produzir anticorpos contra as doenças.

Róiz sempre dizia que não teria escrito o livro se não fosse pelo seguinte: a humanidade se divide em dois grupos, os longevos e os não-longevos. Nos longevos, que vivem mais, a insulina predomina sobre o glicocorticóide, um dos hormônios do estresse. Nos não-longevos, acontece o contrário. O problema é que os longevos são feitos de um “barro especial”, são minoria. A maioria tem dificuldade para nutrir todas as células do organismo. Assim, praticar esportes, se estressar e produzir mais e mais glicocorticóide vai piorar a situação, especialmente se a pessoa praticar musculação ou corrida e ainda tiver problemas de coluna ou de coração. Gilberto Felisberto Vasconcellos, que faz o prefácio do livro, resume bem o pensamento de Róiz: “Foi contra a grife globalizada do mundo: esporte não é vida. Nem saúde”.

RÓIZ, José. Esporte Mata! São Paulo: Editora Casa Amarela, 2004. 178 p.

Ginásticas necessárias

O exercício de flexionar vinte vezes diariamente a cabeça para trás corrige o excesso de flexões anteriores que a maioria das pessoas quase faz permanentemente. Para fortalecer os músculos da parte ínfero-posterior do tronco, deite de costas e eleve as nádegas, aproximando-as uma da outra cinqüenta vezes ao dia. Julgo também conveniente realizar flexões laterais do tronco e o exercício de elevar os dois braços estendidos acima da cabeça, vinte vezes por dia. Parta da posição reta e, alternadamente, incline o tronco para os dois lados, de modo que a mão correspondente à inclinação do corpo toque a perna com a ponta dos dedos e a outra se eleve no sentido contrário.As flexões laterais do tronco têm a vantagem de evitar o enrijecimento da coluna que aparece com a idade e comumente se observa nas pessoas muito idosas. Muitos velhos caminham sem nenhuma flexibilidade do corpo, movimentando somente as pernas. A elevação dos braços estendidos até a altura das orelhas traz a vantagem de movimentar a articulação do ombro, geralmente pouco exercitada. Suponho que a falta deste exercício contribua de algum modo para o aparecimento da bursite.As quatro ginásticas são recomendadas para as pessoas que já passaram dos 30 anos de idade e devem ser praticadas ininterruptamente. (Trecho extraído do livro Esporte Mata!)

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Pobres & Nojentas chega ao número 8

O número 8 de Pobres & Nojentas será lançado no dia 4 de setembro, terça-feira, às 19h, no Botequim, localizado na Av. Rio Branco, 632, em Florianópolis. Pobres & Nojentas chega ao número 8. A nova revista já está nas bancas da UFSC e nas mãos das editoras para a venda de mão-em-mão, sempre com o propósito de trazer para a luz a história das pessoas que não são ricas nem famosas, mas que fazem a história andar. A edição apresenta uma grande reportagem sobre a questão da luta pela mobilidade urbana digna. Além disso, conta a história de Khader Ottman, um palestino que enfrenta dia-a-dia o desafio de defender sua terra-mãe, fala do movimento dos estudantes da Economia da UFSC, discute a Parada Gay e mostra o perfil de Nildo Ouriques, pré-candidato na eleição para reitor da universidade federal, e muito mais. Vale a pena conferir. Quem já é assinante recebe a “nojentinha” em casa, e quem ainda não assinou, mas quer apoiar este projeto, pode entrar em contato com a gente no eteia@gmx.net. Quanto mais gente comprar a revista, mais vida ela terá. A P&N é uma publicação da Companhia dos Loucos, editora alternativa de libertação da palavra.