segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Dia Nacional do Saci-Pererê será comemorado em dia 31 de outubro

A Celebração do Dia Nacional do Saci-Pererê será no dia 31 de outubro, quinta-feira, das 15 às 17 horas, na Esquina Democrática, em frente à igreja São Francisco, na Capital. A promoção é  da Revista Pobres & Nojentas, com apoio do Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal do Estado de Santa Catarina (Sintrajusc) e do Sindicato dos Trabalhadores da Universidade Federal de Santa Catarina (Sintufsc). No dia também será lançado o novo livro da jornalista Elaine Tavares, da equipe da Pobres & Nojentas, intitulado "Olímpia Gayo visita o diabo". O trabalho conta a história da freira franciscana Olímpia Gayo, que iniciou um fecundo trabalho de organização das mulheres prostituídas em Lages. No dia haverá música, contação de histórias, brincadeiras e distribuição de “sacizinhos”.

A lenda é assim! Basta que exista um bambuzal e, de repente, de dentro dos caniços, nascem os sacis. É como eles vêm ao mundo, dispostos a fazer estripulias. Conta a história que esses seres já existiam bem antes do tempo que os portugueses invadiram nossas terras. Ele nasceu índio, moleque das matas, guardião da floresta, a voejar pelos espaços infinitos do mundo Tupi-Guarani. Depois, vieram os brancos, a ocupação, e a memória do ser encantado foi se apagando na medida em que os próprios povos originários foram sendo dizimados.

Quando milhares de negros, caçados na África e trazidos à força como escravos, chegaram no já colonizado Brasil, houve uma redescoberta. Da memória dos índios, os negros escravos recuperaram o moleque libertário, conhecedor dos caminhos, brincalhão e irreverente. Aquele mito originário era como um sopro de alegria na vida sofrida de quem se arrastava com o peso das correntes da escravidão.

Então, o moleque índio ficou preto, perdeu uma perna e ganhou um barrete vermelho, símbolo máximo da liberdade. Ele era tudo o que o escravo queria ser: livre! Desde então, essa figura adorável faz parte do imaginário das gentes nascidas no Brasil.

O Saci-Pererê é a própria rebeldia, a alegria, a liberdade. Com o processo de colonização cultural via Estados Unidos – uma nova escravidão - foi entrando devagar, na vida das crianças brasileiras, um outro mito, alienígena, forasteiro. O mito do Haloween, a hora da bruxa e da abóbora, lanterna de Jack, o homem que fez acordo com o diabo.

A história é bonita, mas não é nossa. Tem raízes irlandesas e virou dia de frenéticas compras nos EUA e também no Brasil. Na verdade, a lógica é essa. Ficar cada vez mais escravo do consumo e da cultura alheia. Jeito antigo de colonizar as mentes e dominar. É por isso que a Pobres & Nojentas quer recuperar o Saci, o brasileiro moleque das matas, guardião da liberdade, amante da natureza que hoje está ameaçada de destruição.

Queremos vida digna, um país soberano na política, na economia, na arte e na cultura. Cada região deste Brasil tem seus próprios mitos. Caipora, Boitatá, Curupira, Bruxa, Negrinho do Pastoreio... São os amigos do Saci que estão presentes na atividade do Dia do Saci Pererê, saudando e buscando a liberdade.


SOBRE O LIVRO DA JORNALISTA ELAINE TAVARES

Prefácio escrito pela teóloga Ivone Gebara.

"Elaine Tavares tem o dom e a arte de contar histórias de mulheres apaixonadas pela vida. Mulheres que são parte da história oculta da bondade e da beleza e que atuaram intensamente para que esses valores continuassem a se manifestar nas vidas sofridas e silenciadas.

"Olímpia Gayo visita o diabo" é mais uma preciosa narrativa que revela o percurso de uma mulher que cresceu vencendo o sofrimento que a vida punha em seu caminho. Desde criança vencia o sofrimento preparando-se e lutando pela dignidade da vida de outras sofredoras e sofredores.

O texto move o coração e convida a abrir os olhos para as vidas ocultas, aparentemente sem valor, para a escória humana que somos e criamos assim como para a salvação e libertação que também podem nascer de nós. Sim, somos salvadoras umas das outras, somos a mão estendida, o abraço apertado, o sentido da solidariedade, a misericórdia vivida. Somos a voz que denúncia, que grita até que os corações de pedra comecem a palpitar de novo e ver e ouvir o mundo ao seu redor.

Conheci Olímpia num encontro de estudos em Julho de 2013 em Lages. Sua congregação religiosa me convidara para uma semana de reflexão sobre espiritualidade ecofeminista. Desde as primeiras palavras que ouvi de Olímpia, a cumplicidade nas ideias, nas visões e, sobretudo, sua forma de "sentir a dor do mundo" ecoaram em mim. Cada uma do nós, de seu jeito, vivia a paixão pela vida manifestada através de muitas formas e expressa através de muitos nomes. Tínhamos muitas coisas em comum. Enfrentamos demônios parecidos, aqueles que atingem os corpos de mulheres e querem silenciar seus gritos de liberdade.

Nas visitas e encontros de Olímpia com os "diabos" da fome, da droga, da prostituição, seu nome, que faz lembrar o Olimpo, moradia dos deuses gregos, espantava os algozes e trazia algo apaziguador, algo ao mesmo tempo celeste e terrestre.  Os diabos fugiam e se descobria sua face oculta, sua beleza, sua momentânea integridade.  No encontro de coração a coração os diabos não ficam. Abrem o espaço para o amor e a justiça. Por isso tantas pessoas marginalizadas encontraram na presença de Olímpia a força para viver, levantar-se e seguir o caminho do resgate da vida.

Ao final da leitura do livro um sentimento de profunda gratidão e beleza tomou conta de mim. Gratidão à Elaine, à querida Olímpia e a tantas pessoas que no anonimato sustentam a vida e anunciam a grandeza do amor, único capaz de curar os corações partidos e renovar a face da terra".
 
Ivone Gebara


Teóloga

Fites lança Cartilha sobre Assédio Moral no Meio Sindical nesta quarta

 
Segundo a Organização Mundial de Saúde(OMS) o Assédio Moral é definido como o uso deliberado de força e poder contra uma pessoa, grupo ou comunidade, causando danos físicos, mentais e morais. Com o objetivo de denunciar tal prática dentro do meio sindical e também de orientar os sindicatários sobre como proceder em caso de ser vítima dessa situação, a Fites - Federação Nacional dos Trabalhadores em Entidades Sindicais e Órgãos de Classe lança a Cartilha Assédio Moral no Meio Sindical.

O evento, que tem o apoio do Sindes, será realizado no dia 30 de outubro (quarta-feira) às 15 horas no Plenarinho da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, em Florianópolis.

Para debater o tema estarão presentes no lançamento:

Edilson Severino - Presidente da Fites e do Sindes/SC;

Janilde Franco de Araujo - Coordenadora de Elaboração da cartilha e Diretora de Política Social da Fites;

Margarida Barreto – Médica do Trabalho, professora da Universidade de São Paulo e vice coordenadora do NEXIN - Núcleo de Estudos Psicossociais da Dialética Exclusão/Inclusão Social;

Schirlei Azevedo - Representante da Rede de Combate ao Assédio Moral no Trabalho;

Sivandra Krauspenhar - Trabalhadora de sindicato e vítima de Assédio Moral.

Mais informações entre em contato pelo e-mail sindes@sindes.org.br[mailto:sindes@sindes.org.br] ou nos telefones (48) 3028-4537 / 9901-8927.

Após o lançamento será servido um coquetel aos presentes.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Pobres e Nojentas no Mercado

Depois de oito anos publicando a revista Pobres e Nojentas, agora o projeto chega à televisão. A cada 15 dias, uma entrevista especial, com gente pobre e nojenta de Florianópolis e do mundo. Sempre lembrando que "pobres e nojentas" são aquelas pessoas que rompem com os conceitos estabelecidos e criam o novo. Na luta, mas com beleza!!!! As gravações serão no tradicional Bar do Alvim, no Mercado Público Municipal. 54 anos de parceria com as gentes...


sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Plano Diretor: teria sido muito fácil fazer melhor

Míriam Santini de Abreu

Não se sabe que “bicho” vai pousar na Câmara de Vereadores de Florianópolis nesta sexta-feira, e que a Prefeitura chama de projeto do Plano Diretor. Ontem a Prefeitura organizou, na Assembleia Legislativa, a chamada primeira Audiência Pública Geral do Plano Diretor. Mas, como não foi uma Audiência deliberativa nem se votarem propostas, não fica claro se o Executivo contemplou, na proposta final, o que os gestores ouviram ontem e também nos divulgados 100 encontros nos quais levaram a proposta às comunidades.

O Auditório Antonieta de Barros estava lotado. A maior parte das falas criticou o calendário apertado, a metodologia usada pela prefeitura e a falta de documentos fundamentais, como os mapas de condicionantes ambientais, para se fazer uma análise de fato da proposta. Mesmo nas poucas falas em defesa da prefeitura, não se ouviu referências positivas em relação ao projeto, e sim ao empenho da equipe. Ficou claro que mesmo o setor empresarial discorda do apressado calendário para definir, em poucas semanas, o futuro da Cidade.

O prefeito Cesar Souza nem deu as caras na Audiência. O super-secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano de Florianópolis, Dalmo Vieira, apresentou as linhas gerais, como tem feito nas reuniões. A vantagem das linhas gerais é não entrar em detalhes que efetivamente farão a diferença quando se bater o martelo, por exemplo, no tipo de ocupação dos nacos mais apetitosos da Capital, como o Sul da Ilha e outras áreas ambicionadas pelo setor imobiliário.

Representantes distritais, da UFSC, da UDESC e moradores mostraram-se preocupados também porque, apesar dos alardeados 100 encontros feitos pela prefeitura, não se sabe o que, de fato, foi anotado e contemplado no projeto que será entregue à Câmara. O secretário Dalmo falou muito na responsabilidade da prefeitura e na democracia para definição do projeto, mas, quando até setores empresariais expuseram dúvidas sobre que texto irá aparecer na Câmara, ficou bem vaga a expressão concreta desse discurso.

Dalmo Vieira praticamente não respondeu, de fato, nenhum pergunta. Como os questionamentos eram feitos em bloco, restrita, cada pergunta, a três minutos, ele respondia aos tópicos menos comprometedores e ignorava aqueles que efetivamente poderiam esclarecer as comunidades.

Membros do Núcleo Gestor Participativo do Plano Diretor, dispensado por e-mail, pelo secretário Dalmo, de suas atribuições, levantaram várias questões que ficaram sem resposta. Desde 2006, essas pessoas, indicadas pelas suas comunidades e entidades, têm feitos reuniões para construir um projeto que contemple a diversidade de representação no próprio Núcleo, no qual a bancada empresarial tem assento. Agora, esse trabalho, expresso em documentos construídos coletivamente, ficou no caminho em troca de outro cujo detalhamento ainda é um mistério.


Se termina de forma lamentável essa etapa de definição dos rumos da Capital, agora começa outra. O projeto irá para a Câmara, próximo local do embate. E para o dia 26, das 9 às 18 horas, na UFSC, está marcada a Conferência Popular do Plano Diretor. Dessa sairão os encaminhamentos que a de ontem sonegou à cidade, quando, pouco depois das 22 horas, foi encerrada a Audiência e desligados os microfones. Como disse o representante distrital da Lagoa da Conceição, teria sido muito fácil fazer melhor. 

Espionagem, soberania e o leilão do petróleo

elaine tavares 

Sempre digo por aí, não sem certa tristeza: somos os arautos da desgraça. Aqueles que sobem no mais alto monte e ficam a gritar sobre os males que virão. Não que sejamos videntes, pitonisas, magos. Não. Apenas analisamos a realidade, observamos as relações de causa e efeito e pronto: aí está o que pode acontecer. No geral, as coisas acontecem mesmo. É ciência.

Desde há muito anos denunciamos os programas de espionagem do governo dos EUA. E antes de nós outros já denunciavam. Mas, nossas palavras ficam no vento: teoria da conspiração, coisa de esquerdinhas, maluquices dos que são anti-progresso e tantas outras etiquetas pejorativas que se usam para desqualificar nossas análises e opiniões. Para a maioria da população, que conhece a realidade através da mídia comercial, as relações com os Estados Unidos sempre foram muito boas e assim tem de ser, afinal, esse é um país grandioso que tem muita coisa a ensinar e oferecer. Pessoas há que, inclusive, acreditam ser muito bom ser dependente dos EUA, já que esse é um país importante.

Em todos os meios de comunicação de massa raras são as notícias ruins sobre os EUA. No mais das vezes, as que aparecem são as  impossíveis de esconder, como é o caso das chacinas que jovens adolescentes praticam sistematicamente. Mostra-se o fato, a dor, a tragédia, mas quase nunca aparece uma boa análise dos motivos que levam a isso. O jornalismo não se presta a desvelar a realidade. É mera propaganda. Então, fatos como esses aparecem como patologias, falhas na matrix, e não há ligação com o fenômeno da violência de uma sociedade militar.  Assim, logo em seguida, novas notícias sobre a Disneylândia ou o lançamento do "Homem de Ferro 3" colocam as coisas todas no lugar outra vez.

Pois agora, nos últimos tempos, a espionagem dos EUA sobre o mundo veio à tona na denúncia de um jovem estadunidense que trabalhou para uma dessas empresas que roubam dados e fuxicam a vida de pessoas e estados para que o governo possa atuar na defesa dos interesses da elite dominante daquele país. A notícia se espalhou. Não havia como negar. Até então, as provas repassadas pelo WikiLeaks eram vistas com ceticismo e seu criador, Julian Assange, era igualmente desqualificado como pessoa, para que suas informações se perdessem no vazio. E, afinal, Assange é um inglês, logo, poderia ser um inimigo dos EUA, ou, quem sabe, um esquerdinha a mais.  

Foi apenas quando a denúncia veio de dentro mesmo do "monstro" que os meios de massa tiveram de dar algum destaque. Ainda assim, tudo segue meio nebuloso. E Edward Snowden ainda está revestido de mistério. Afinal, como um "americano" normal iria denunciar seu próprio país. Seria ele um tolo? Assim como foi tolo o jovem Brad Manning ao denunciar as atrocidades dos EUA no Iraque, tentando mudar essa realidade, tentando "ajudar" seu país? Perguntas que a mídia comercial deixa no ar, para que as pessoas passem elas mesmas a formular essas teses, aceitando-as como verdadeiras: os caras são traidores da pátria deles.

Só isso pode explicar o fato de o Brasil ter sido espionado naquilo que tem de mais estratégico que são suas riquezas naturais, e tudo ficar por isso mesmo. Comprovado ficou que os Estados Unidos espionaram a Petrobras, espionaram a presidente do país, espionaram ministros. O máximo que se teve de repercussão foi um discurso na ONU e um pedido de explicações ao governo dos EUA. O governo explicou? O Brasil se satisfez com as explicações? O que está em jogo no tabuleiro da espionagem das riquezas do país?

Alguém já pensou no que aconteceria se fosse o contrário. Se o governo brasileiro tivesse espionado alguma empresa estratégica dos EUA, que respostas receberia do país governado por Barak Obama? Certamente a Quarta Frota ocuparia nosso litoral. Os mariners viriam aos montes, os Seals, a CIA, e toda a sorte de mercenários ou patriotas. Haveria uma guerra? Ocupariam Brasília? Viriam o Rambo, o Duro de Matar, o Homem de Ferro, o Capitão América, os Vingadores? Sim, viriam!

Mas, e o Brasil, que poderia fazer? Uma guerra? Possivelmente não. Temos de ser realistas. Mas, uma coisa poderia ser feita sim. Ou melhor, deveria. Cancelar os leilões da Petrobras. É fato notório e comprovado que espionaram a empresa brasileira de petróleo. É fato que o Brasil tem reservas imensas no pré-sal. É fato que as empresas estadunidenses estão de olho no petróleo, não só aqui, mas em todo o mundo. Logo, se espionaram a Petrobras estão de posse de informações estratégicas sobre os campos de petróleo. E, sendo assim, serão as vencedoras nos leilões que mais lhe interessarem. Não é esquerdismo, nem teoria da conspiração. É matemática. Junta dois mais dois e tem o quatro. Não há erro.

Pois apesar de todo esse cenários de filme roliudiano, a presidente Dilma (que foi espionada também) decidiu manter o leilão do Campo de Libra para o dia 21. Está ajoelhada diante do império. Nenhuma reação prática além das palavras na ONU. E mais, chamou o exército para cercar as ruas impedindo que a população se manifeste. Submete-se vergonhosamente aos interesses externos e enfrenta o povo de seu país como inimigo. Porque, afinal, exército é uma instituição que existe para defender o país de agressões externas, de inimigos.

As perguntas que as pessoas devem se fazer é: quem são os inimigos do país? Quais são os que devem ser enfrentados? As pessoas que aqui vivem e que querem proteger as riquezas naturais? Ou os estrangeiros que vêm explorar o petróleo, levando as riquezas para fora do país? Seriam os trabalhadores da Petrobras, os sindicalistas, os militantes do Movimento Sociais os verdadeiros inimigos do Brasil? Pensem nisso... Com calma!

E aqui vão outras indagações para ligar os fios da realidade social: que relação tem tudo isso com os protestos que tem sido realizados nos últimos tempos? Por que foi votada uma lei que transforma em "bandido" e "perigo nacional" aqueles que estão nas ruas se expressando da única forma com a qual conseguem  ser ouvidos? Por que se manda para os presídios estudantes e populares que enfrentam a polícia na luta por direitos e por soberania? Seria realmente "vandalismo"  a reação desesperada de quem não consegue ser escutado como cidadão que pensa e decide as políticas de governo? Afinal, os governantes não deveriam governar baseado nas demandas do seu povo? Ou devem governar baseados nos desejos de empresas transnacionais ou governos estrangeiros?

Pois essa é a trama do tecido social que temos estendido sobre nossos olhos. Segunda-feira acontece o primeiro leilão do pré-sal. Nossas riquezas sendo entregues possivelmente aos mesmos que nos espionaram. Nas ruas, as pessoas que insistem em ver o Brasil soberano, dono de suas própria riquezas, enfrentarão mais que a polícia. Enfrentarão o exército, colocado nas ruas para "defender" a nação. Defender o Brasil dos brasileiros. Jovens, sindicalistas, populares, reagirão organizadamente, pacificamente. Outros reagirão desesperadamente. A luta é desigual. De um lado, homens armados, treinados para exterminar o inimigo. Do outro, gente indignada, apaixonada, desesperada diante da força bruta.

E na televisão os repórteres bem-mandandos ouvirão pessoas que chamarão de "vândalos" aos que lutam. E aparecerão pessoas do povo dizendo que o lugar de quem está mascarado e reage violentamente num protesto deve ser mesmo o presídio. E toda essa gente que luta pelo Brasil soberano será colocada na condição de bandido, terrorista, baderneiro. E os âncoras dos telejornais farão aquelas caras constritas para falar da "violência" perpetrada por pessoas que não querem o progresso do Brasil. O progresso deles, dos âncoras, que são os ventríloquos daqueles que dominam, é o da entrega das riquezas, o da submissão, da dependência. E as pessoas "de bem" dormirão tranquilas, sabendo que os "bandidos" estarão nas cadeias.

Só que as pessoas que lutam pela soberania nacional não são bandidas. Elas são o povo. E isso não se acaba assim, na prisão de alguns. A luta recomeça e, de novo, nas ruas, estarão milhões.   Porque a realidade mesma é clara. Esses espaço geográfico é dos brasileiros e dos que aqui escolheram viver. Não pode servir de lugar de exploração, como sempre tem sido desde a invasão em 1500.


A segunda-feira que virá escreverá os destinos do país.  

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Comunidades querem o Plano Diretor que construiram

Comunidades de Florianópolis realizaram nesse dia 15 de outubro de 2013 um ato público diante da Prefeitura Municipal, que destituiu o Núcleo Gestor do Plano Diretor e está apresentando para a Câmara um plano que pode não ter a visão das comunidades. Importante lembrar que as comunidades vem discutindo esse plano desde 2006.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Oscar Olivera – um lutador



Por elaine tavares

O campus onde fica o Centro de Humanas da UFRGS é um lugar bucólico, bem distante de Porto Alegre. Diz a lenda que tiraram essa parte da universidade do centro porque os alunos das “sociais” incomodam demais, e ali, bem longe, ficariam mais isolados e com menos chance de causar problemas. Pois foi ali que se realizou a I Jornada Latino-Americana, promovida por professores do Colégio de Aplicação. Uma primeira tentativa de colocar as questões mais candentes que afetam o nosso continente de uma forma mais totalizante. Assim,  durante uma semana, a universidade conheceu os movimentos políticos, a cultura, a economia, a mídia, enfim, vários aspectos da luta popular que hoje assoma em toda Abya Yala.

No final da tarde calorosa, Oscar Olivera descansa, encostado ao muro que dá acesso ao prédio das Humanas. É um homem pequeno, parece um menino. Tem gestos comedidos e fala baixinha. Quem o vê não percebe, em primeira hora, o gigante que vive ali. Oscar Olivera é um dos mais importantes nomes da “Guerra da Água”, rebelião que aconteceu na cidade de Cochabamba, no ano 2000, quando a população conseguiu barrar a privatização da água.

Tudo começou ainda em 1993, quando o então presidente Hugo Banzer acordou com uma multinacional a privatização do abastecimento de água da cidade, uma das mais populosas da Bolívia. As pessoas protestaram, mas o acordo foi mantido e logo, em 1999, a empresa Águas deTunari – misto de empresários bolivianos, estadunidenses e espanhóis – mostrava suas garras. 

A água, que é um direito humano universal, começou a faltar em vários espaços da cidade e as contas das famílias cresceram mais de 50%. Nas entranhas da cidade a população começou a se organizar para encerrar o contrato com a multinacional. Naqueles dias Oscar trabalhava numa fábrica de calçados e era, já de longa data, dirigente sindical. Sua batalha pela vida começou muito cedo, ainda menino, quando precisava vender massinhas na porta da escola para ajudar nas despesas da família que formava um grupo de 12 pessoas. Não bastasse a pobreza, ainda teve diagnosticada uma doença grave no coração, a qual, diziam os médicos, não lhe permitiria viver mais que vinte anos. Pois Oscar viveu, e não poupou emoções ao músculo que pulsava como uma bomba relógio. Desde mocinho percebeu que o único caminho para os trabalhadores é a organização e tão logo começou a trabalhar na fábrica já era delegado sindical.

Enfrentou, nos anos 80, a ditadura de Luiz Garcia Meza atuando no Comitê Clandestino de Bases do Sindicato de Manaco e nos anos 90 dirigiu a Confederação dos Trabalhadores Fabris da Bolívia. Toda sua trajetória se fez no espaço sindical, e não foi fácil fazer a transição para o movimento popular que desembocou na chamada Guerra da Água. “Os companheiros sindicalistas não compreendiam a extensão daquele movimento que crescia no meio da população. Alguns chegaram a me pressionar, dizendo: o que tu tens a ver com isso da água? Então eu explicava para eles que eu trabalhava numa fábrica de sapatos, logo, tinha tudo a ver com a água. Sabe quanto litros de água são gastos para fazer um par de sapatos? Oito mil litros. Imaginem que a fábrica onde eu trabalhava fabricava 25 mil pares por mês. Quanto de água ia pelo ralo? Ora, a questão da água era uma questão para mim, sim, e eu fui atuar naquele movimento. Porque a água é um direito humano, não pode ser vendida”.  

Na região de Cochabamba as famílias tinham tradição do uso de sistemas comunitários de água, criados bem antes do império inca e a empresa multinacional, além de gerenciar o abastecimento oficial foi se apossando de todas as fontes de água do município. Por isso, já em 1999 as comunidades começaram a fazer os bloqueios de estrada, em protesto contra a usurpação da riqueza de todos, que era a água. “Nós começamos um trabalho de comunicação que era muito baseado no simbólico. Então a gente ia pelas comunidades, nas casas, explicava o que estava acontecendo e dizia: se vocês estão com a gente na luta, então coloquem na frente da casa uma wiphala (a bandeira do povo indígena). E de repente, as bandeiras foram aparecendo, tomando todas as casas, toda a cidade. Era uma outra forma de comunicar. Quem via a bandeira tremulando na frente da casa, sabia que ali morava um companheiro”, conta Oscar. E aquilo foi formando um grande espírito de luta.

No mês de janeiro de 2000, quando a empresa anuncia um aumento nas tarifas, o movimento explode. Outro momento de forte conotação simbólica é criado pela Coordenadora da Água e da Vida, na qual já atuava Oscar: as famílias são convidadas a trazerem as contas de luz para serem queimadas numa grande fogueira. “Aquilo também foi uma coisa muito forte, porque nos remeteu a nossa cultura mais arraigada, mais antiga. E queimamos as contas, e cantamos e dançamos”. Era o estopim de um processo de participação, de democracia direta, que iria desembocar na vitória das gentes.  Os protestos são avassaladores, o governo responde com muita repressão e até com a lei marcial. Muita gente é presa, ferida, morta. Os protestos se estendem até o mês de abril, sem trégua e tomam conta não só de Cochabamba, mas de outros departamentos do país. A disposição de luta da população organizada é vitoriosa e a empresa Bechtel, que criara a Águas de Tunari, é obrigada a se retirar do país. A água de Cochabamba volta para o controle público.

A vitória das gentes na Guerra da Água vai servir de exemplo para a nova rebelião que explodirá em 2003, a chamada “Guerra do Gás”, quando, de novo, organizado e na luta renhida, o povo boliviano bota para correr mais um presidente. Os dois movimentos abrem o caminho para que, mais tarde, um sindicalista do ramo cocaleiro, possa ser eleito presidente da nação.

Oscar fala com emoção sobre aqueles dias e avalia que Evo Morales não tem sido digno da esperança que se criou com a sua ascensão. Crítico do governo, ele vai mais longe e diz que, tanto Evo, como Correa, no Equador, e Lula, no Brasil, acabaram cooptando muitos lutadores, enfraquecendo a luta social. “Estamos sempre recomeçando. Não é fácil. Mas, ainda há luta e estamos vigilantes”. Basta ver a luta dos povos do Parque Nacional que abriga terras indígenas para impedir a construção de uma estrada por dentro da reserva natural.

Hoje, Oscar não trabalha mais em fábrica. Atua em uma escola rural onde ensina as crianças a conviver de maneira harmônica com a terra. E, mesmo ali, enfrenta o olhar de estupefação e a incompreensão dos colegas. “Os professores dizem: mas de que adianta ficar com as crianças na horta. Há que ensinar matemática, biologia, física. E eu explico: para fazer uma horta temos de medir a superfície, o volume, a profundidade. Isso é matemática. Para plantar uma beterraba a gente vai conhecendo sua conformação, seus nutrientes, isso é biologia, é química. E assim, numa simples horta, podemos ensinar geopolítica, economia, qualquer coisa. Nós temos de recuperar essa coisa fabulosa dos nossos ancestrais que era a relação com a terra, com a água, com a natureza. Atuar em harmonia, respeitar, compreender a nossa cosmovisão. Sem isso, não há como fazer política”.

O veterano da guerra da água acredita que os militantes sociais precisam estar atentos para as novas formas de mobilização. “No movimento pela água, os sindicalistas ficaram pra trás, no episódio do gás também. Há coisas novas brotando do seio do povo e nós precisamos estar atentos para isso. Os povos indígenas têm muito a ensinar, e não é voltar ao passado. É recuperar as experiências exitosas e atuar no presente”.

Vendo Oscar Olivera e sua doçura no debate sobre coisas tão duras como as rebeliões do povo boliviano, bate aquela esperança de que, um dia, as pessoas possam, de fato, compreender a importância da herança indígena na formação da América Latina, e saibam aproveitar as belezas que essas etnias têm para oferecer ao movimento de luta atual.


terça-feira, 1 de outubro de 2013

Movimento indígena faz manifestação nesta quarta-feira, dia 2, a partir das 8h30, na terra indígena de Morro dos Cavalos

Entre os dias 30 de setembro e 5 de outubro,  o movimento indígena no Brasil está promovendo uma série de MANIFESTAÇÕES acerca da situação grave que está vivendo. Em Florianópolis a manifestação será nesta quarta-feira, dia 2, a partir das 8h30, na terra indígena de Morro dos Cavalos.

As manifestações se dirigem a uma sucessão de projetos de lei (no âmbito do Legislativo) e de medidas governamentais (no Executivo) que afrontam DIRETAMENTE os direitos garantidos pela CONSTITUIÇÃO de 1988, como a  PEC 215, PL 1610, PL 2498, Portaria 303-AGU419). Todos têm como alvo os DIREITOS SOCIAIS dos povos indígenas e, em especial, o DIREITO à TERRA e aos recursos nela existentes, e estão diretamente ligados ao avanço do grande capital no país (agronegócio, empreiteiras, mineradoras, indústria do turismo, capital imobiliário).

Não somente os povos indígenas estão sendo alvejados por este processo: populações tradicionais em geral, povos quilombolas e as unidades de conservação vivem o mesmo processo, já que se situam em terras visadas pelos mega-empreendimentos e pelo projeto de crescimento econômico  empreendido no nosso país.

As convenções internacionais assinadas pelo Brasil não estão sendo cumpridas (em especial a Convenção 169 da OIT) e lideranças indígenas têm sido ameaçadas, removidas de suas terras  e assassinadas,  além de  conviverem com os históricos problemas  que ainda não foram resolvidos, apesar das conquistas legais hoje ameaçadas. Isto sem falar das recentes revelações do relatório Figueiredo, sobre as torturas e violências ocorridas  durante a ditadura militar e que  regem as  ações de muitas instituições e grupos na sociedade brasileira ainda hoje.

Em SC a situação é igualmente grave: além da demora absurda na homologação das suas terras e descumprimentos de medidas compensatórias exigidas por lei nos locais onde foi feito algum acordo, grupos anti-indígenas aumentam seu poder no governo, nas mídias e até mesmo em associações civis de todos os tipos.

Exigimos respeito à Constituição Federal e Demarcação de Terras Já!

A cultura no Campeche

A Comunidade do Campeche não aceita o autoritarismo da prefeitura, que pretende fazer um plano diretor sem ouvir as forças vivas que lutam há anos por preservar a beleza e a cultura do lugar. Aqui segue um vídeo feito pelo Núcleo Distrital da Planície do Campeche e narrado pela querida Telma Anita Piacentini, sobre tudo o que há de cultura e de luta na nossa comunidade. Não vamos ficar de braços cruzados. Nossa gente vai à luta pelo projeto de bairro que construiu ao longo de anos de debate coletivo.