terça-feira, 28 de agosto de 2007

Revista discute mobilidade urbana

A próxima edição da revista trata da mobilidade urbana, conceito que foi discutido em um seminário realizado em Florianópolis. Não perca.

Seminário debate homossexualidade, identidades e cidadania

Confira uma das notícias que vai circular na próxima revista:

Por Celso Vicenzi, de Florianópolis

O Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFSC, em Florianópolis, irá sediar nos dias 5 e 6 de setembro o Seminário Homofobia, identidades e cidadania LGBTTT.
OK, se você não se atualizou, vamos ao início: depois daquela história de Adão e Eva comerem a maçã, a sexualidade humana incorporou múltiplas possibilidades. LGBTTT é a sigla para Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros.
O assunto tem ganho destaque em todo o mundo. “Plurais em sua diversidade, os novos arranjos e seus sentidos ampliam as discussões sobre a paternidade e a maternidade, o casal, a família e o amor, tradicionalmente centradas na norma heterocêntrica”, resume o livro que comento mais abaixo.
O seminário terá várias mesas-redondas, com temas como homofobia e segurança pública; parceria civil e conjugalidades homoeróticas; comportamento do consumidor e empregabilidade; mídia e representações sobre sexualidades e identidades de gênero; educação e combate ao sexismo e homofobia; religiões e homossexualidade.
Durante o encontro será lançado o livro “Conjugalidades, parentalidades e identidades lésbicas, gays e travestis”, da editora Garamond, organizado pela professora de Antropologia da UFSC, Miriam Grossi, em conjunto com Anna Paula Uziel (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e Luiz Mello (Universidade Federal de Goiás). A obra contém artigos selecionados de autores do Brasil, da Espanha, do Chile, da Argentina e da França, que fazem abordagens oriundas das mais diversas disciplinas, em particular da Antropologia, do Direito, da Psicologia e da Sociologia.
Um dos estudos é sobre os travestis de Florianópolis e suas famílias, de Fernanda Cardozo, do Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades da UFSC. Outro, de Rosa Maria Rodrigues de Oliveira, pesquisadora do mesmo Núcleo, examina acórdãos judiciais e entrevistas com magistrados sobre conjugalidades homoeróticas em quatro estados brasileiros.
Mais informações em
www.nigs.ufsc.br/seminariolgbttt.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Que venha a Primavera

O Parque da Luz, na cabeceira insular da Ponte Hercílio Luz, nos altos da rua Felipe Schmidt, é uma das últimas áreas verdes do centro de Florianópolis. São 115 espécies vegetais e, desde 1987, já foram plantadas mais de 2.150 árvores e arbustos. Uma das mais vistosas é o mulungo, nativo da mata atlântica, que atrai beija-flores e ajuda a evitar a gripe.O parque também exibe amendoeiras, begônias, guarapuvus e até pau-brasil. Perto da rua Felipe Schmidt há uma velha figueira que foi salva de um incêndio. Outras atrações são a galeria de pedras, os totens e o mirante, de onde se avistam as pontes e o “Gigante Adormecido”, formação rochosa que faz parte do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro. Em dia de sol, a paisagem merece a fama da capital catarinense. Lindo lugar para esperar a Primavera.

Florianópolis para quem?

Um bom livro para compreender a luta entre os interesses públicos e privados pela apropriação do espaço urbano de Florianópolis é “Florianópolis do outro lado do espelho”, da Editora da UFSC, organizado por Margareth de Castro Afeche Pimenta.

Jornalismo para quem caminha nas margens

Por Míriam Santini de Abreu – jornalista

O mundo está sempre à espera de interpretação; o jornalismo também, e nos dois sentidos. Ao jornalista, tanto cabe interpretar a realidade no cotidiano da profissão quanto buscar conceitos que originem outros olhares sobre a teoria e prática do jornalismo. Em seu livro “Jornalismo nas margens: Uma reflexão sobre comunicação em comunidades empobrecidas” (Companhia dos Loucos, 46p.), Elaine Tavares aponta caminhos nos dois sentidos.
Ao longo de cinco capítulos, ela começa pelo resgate de conceitos que, de alguma forma, refletem sobre esse jornalismo não hegemônico, feito às margens, voltado para a grande parcela da população que está abandonada pelo poder público. Entre os autores citados despontam diferentes formas de nomear: folkcomunicação, comunicação alternativa, comunicação popular. Em todos elas a “comunidade” aparece como elemento que desencadeia essa forma de comunicar e, assim, a autora, ao pensar sobre o significado da palavra comunidade, traz uma reflexão fundamental: a imprensa comunitária não é produzida somente pela e para a comunidade. Ela também se faz com a comunidade.
Esse ponto de vista faz nascer o conceito que conduz os pensares dos outros quatro capítulos: jornalismo libertador. Para isso, Elaine busca raízes na Filosofia da Libertação, especialmente no que para ela contribuiu o filósofo argentino Enrique Dussel. Ela traz, para o jornalismo, uma forma de pensar o mundo a partir dos oprimidos, de narrar a vida a partir da consideração de cada ser como único, diferente, mas real. E nessa perspectiva estão embutidos alguns elementos citados pela autora. Um deles é o papel do próprio sujeito-jornalista que, ao trabalhar junto aos que estão à margem, precisa refletir sobre o comprometimento com certas realidades que são negadas ou distorcidas pelo poder público e pela grande imprensa.
A autora discute esses aspectos no capítulo 3, no qual deixa claro que jornalismo é serviço público e nada tem de “neutro”. Segue pela vereda aberta por Adelmo Genro Filho, demolindo um dos tristes pilares do jornalismo moderno, a crença na “objetividade”. E deixa claro que essa ótica libertadora não vale apenas para iniciativas feitas nas comunidades. Ela pode ser colocada em prática nos meios hegemônicos e chegar a um público maior e difuso, entre o qual possa despertar reflexões.
Outro aspecto levantado por Elaine é a necessidade de o jornalista olhar o mundo a partir do ponto de vista local. Essa reflexão relaciona-se intimamente com o pensamento do geógrafo Milton Santos, que vê no lugar, espaço de vivência, a origem da resistência contra os interesses dos atores hegemônicos globais. E cabe ao jornalista praticar essa comunicação imaginosa e libertadora. No capítulo 4, são desenvolvidos aspectos da notícia popular, que necessariamente precisar ligar os acontecimentos do lugar com o regional, o nacional, o mundial, e vice-versa, contextualizando e discutindo o significado dos fatos para a comunidade no qual eles repercutem, fazem sentir seus efeitos.
No capítulo 5, a autora oferece caminhos para colocar a teoria em prática, discutindo as vantagens e as diferentes opções de veículos que podem ser usados nas comunidades. A busca de uma realidade, diz o jornalista Marcos Faerman, exige uma linguagem capaz de captá-la. E é certo que “Jornalismo nas margens: Uma reflexão sobre comunicação em comunidades empobrecidas”, ao dar corpo ao conceito de jornalismo libertador, avança na construção de uma teoria que possa dar conta de inspirar narrativas e jornalistas comprometidos, dispostos, como aponta Elaine, a “dizer o dizível e o indizível, ser capar de ver o que está além dos olhos, narrar, descrever, contar a história”, ajudar, enfim, a narrar e construir um tempo novo.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Galo de metal

Por Míriam Santini de Abreu – jornalista

Manhãzinha, nove horas, e escuto o canto de um galo. Estava no Hotel Aliança, em Rio do Sul (SC), na ala que mais gosto, a que dá para os fundos do rio Itajaí-Açu. Ouço espantada: o galo está rouco! Imaginei um macho idoso que, por mérito, escapou da panela. Na semana seguinte, descubro o mistério ao atravessar, num táxi, a ponte do Canta Galo, no bairro de mesmo nome: o bicho é de metal retorcido e passa os dias empoleirado no alto da ponte. Canta nas horas cheias graças a uma gravação feita por moradores. Dias desses atravessei a ponte a pé, o rio cheio depois de dois dias de chuva, e aguardei o cócórócó rouquinho. Dois homens me viram e comentaram, entre risos:- Esperando o galo cantar, hein?!E o bicho, mudo. Eram 10h30...

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Longe da casinha de boneca

Trabalho premiado, belíssimo pela qualidade da reportagem multimídia e pela originalidade em “amarrar” várias possibilidades de jornalismo digital. É o JC OnLine - Sistema Jornal do Commercio de Comunicação. Acesse em:
http://www2.uol.com.br/JC/sites/casinhadeboneca/

O padre benzedor de tormentas

Jornalista formado em 2007 pela Universidade para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí (Unidavi), Eduardo Schmitz é um desses jornalistas “nojentos” que acredita na profissão, na capacidade que as palavras têm de viajar, de construir e de mudar mundos. E por acreditar nisso é que fundou em Taió, no Alto Vale do Itajaí, um novo jornal, o Observatório Local. Na edição mais recente há uma história encantadora da aposentada Severiana Rossi Correa (na foto, extraída do site do jornal), “O padre benzedor de tormentas”. Está na seção “Uma história, depois outra”, uma das colunas do jornal que conta causos que ainda estão na memória do povo. Delicioso! Leia em
http://www.observatoriolocal.com.br/pag_/pag_16.htm

Arquivo Público em má situação

Triste a situação do Arquivo Público de Santa Catarina, em Florianópolis. Enquanto o Poder Público fala em incentivar a construção de marinas, campos de golfe e chiques condomínios fechados, o Arquivo não tem ao menos sede própria. Divide um prédio no bairro Saco dos Limões com as máquinas impressora e equipamentos em geral que publicam as informações oficiais do Estado, como o Diário Oficial. O abafamento de ruídos é insuficiente, e no ar pairam partículas que se depositam no acervo. Ali há documentação textual, mapas, plantas, coleção de leis, documentação de cartórios... parte da história do estado. O atendimento é bom, os trabalhadores são motivados, mostram o acervo com prazer, detalham o que está guardado... Mas tudo ali está longe de ter aquela “aura” de arquivo no qual se percebe investimento, como a possibilidade de consulta em microfilme, que não existe. Triste. Memória não é atributo muito valorizado nesses tempos. Nem em Santa Catarina.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Poder sentir

Asas do Desejo (Alemanha/França, 1987, 130 minutos), um dos filmes da Coleção Wim Wenders disponível nas locadoras, está na lista dos melhores para pobres e nojentas. Finda a guerra, a cidade de Berlim exposta em escombros, dois anjos vestidos de negro amparam os humanos nas horas de dor miserável e de dúvida. Há o pai angustiado com as escolhas do filho, o homem amargurado depois da separação, que se lembra dos bons conselhos da mãe depois de ser “tocado” pela mão do anjo. Mas Damiel (Bruno Ganz) é um anjo que deseja... o que é humano. E por se apaixonar por uma trapezista ele abandona o poder de estar além do tempo e do espaço. Quer saber como é sentir. Só a abertura do filme já vale a locação.

Histórias que o sertão esconde

Dizia o jornalista Marcos Faerman que se descobrem no interior do Brasil muitas histórias sem historiador, “histórias do sertão que o sertão esconde”. Quem souber de alguma que a escreva e envie para o blog da P&N. Marcos Faerman escreveu o que de mais belo há sobre o jornalismo e o jornalista. Leia em
http://www.andredeak.com.br/emcrise/nao-pereciveis/npfaerman.htm

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Correntes profundas do fascismo

Por Míriam Santini de Abreu – editora de Pobres e Nojentas

O filme Arquitetura da Destruição, de Peter Cohen (Suécia, 1992), está nas locadoras e vale cada um dos 121 minutos. Ele faz um estudo detalhado da forma como Adolf Hitler cristalizou nas grandes construções, na pintura e na escultura o seu desejo de “embelezar o mundo”; de como esse embelezamento se constituía a partir da “pureza” do “corpo do povo” alemão; de como tal pureza – diante da inelutável derrota na guerra, cristalizou-se na “solução” da questão dos judeus, o holocausto. Há muito sobre o filme na internet. O que destaco é a forma como certos adjetivos atribuídos aos judeus são também ligados à natureza, ou melhor, ao que de errado se associa a ela: o daninho, a peste, o parasita...
Essa relação é explicada pelo pesquisador português João Bernardo em seus estudos sobre o fascismo.
O fascismo é geralmente associado ao período entre e após as duas grandes guerras, com o franquismo na Espanha, o salazarismo em Portugal, o fascismo na Itália e o nazismo na Alemanha. O professor português, porém, aborda também o que chama de “correntes profundas” do fascismo que correm nos subterrâneos do nosso tempo. Tais correntes não são fascistas, mas expressam ressonâncias do período histórico em que o fascismo encontrou gentes e lugares para marcar época. E um desses campos onde o fascismo ressoa hoje é a ecologia.
Para ler a entrevista com o professor, acesse
http://www.sintufsc.ufsc.br/jornal_circulacao/circulacao_57/m_09.htm

A elite é insaciável! Cansei!

Por Elaine Tavares – editora de Pobres e Nojentas

Tenho lido bastante sobre o chamado movimento “cansei”, e tudo continua sendo incognoscível para mim. Procuro, busco, vasculho e não consigo perceber os motivos que levam a tal da elite brasileira a ter se cansado de Lula. O cara não tem feito outra coisa a não ser governar para ela. Liberou os transgênicos, fomentou o endividamento dos trabalhadores via bancos, aqueceu o comércio, fez uma reforma na previdência para beneficiar os empresários dos fundos de pensão privada, perdoou as dívidas dos latifundiários, mantém em dia os pagamentos da dívida externa, está construindo novos aeroportos, enfim... uma lista interminável de concessões aos graúdos deste país. Além disso, tem apaziguado as lutas trabalhistas através da cooptação de lideranças sindicais e mantido em suspenso o MST.
Então, de repente, a elite paulista decide que cansou. Mas como? Cansou de quê? Quais os verdadeiros motivos que se escondem por trás da manifestação de uma conhecida gente da direita nacional tais como Hebe Camargo (tiete confessa de Maluf), Regina Duarte (eu tenho medo), Alckmin, Serra, e outras de novidadeira presença como a baiana Ivete Sangalo?
Duas coisas me ocorrem. Uma diz respeito aos preparativos para as eleições estaduais e municipais que se aproximam e que já servem de ensaio da presidencial que virá mais na frente. O tabuleiro político está montado e alguns dos nomes candidatáveis já começam a pôr os seus rostos na rua. Como Lula segue blindado por parte da esquerda e ainda tem uma boa inserção nas camadas mais empobrecidas da sociedade, eles devem ter inventado essa do “cansei” para poder aparecer na mídia.
A outra diz respeito à insaciedade da elite brasileira, sempre querendo mais, e mais, e mais. Ao que parece, nunca é suficiente. Não basta criar os seus filhos acreditando que mendigos e prostitutas devem ser queimados e chutados. Não basta divertirem-se nas noites de drogas e álcool, atirando ovos sobre os pobres que passam ou trabalham nas ruas. Não basta sangrar a vida dos trabalhadores na super-exploração. Não basta reinventar a casa grande nos imensos latifúndios do país. Não bastam os milhares de dólares dormindo em bancos estrangeiros. Não basta a expropriação continua das terras indígenas em favor das papeleiras e dos canaviais. Pois não basta! Querem mais!
Conspirando nas banheiras luxuosas da ilha de Caras, Hebe, Ivete, Regina e outros tantos “famosos” devem ter se convencido de que Lula ainda não é suficiente. Além do mais ele é feio, nordestino e fala mal. Não importa que ele tenha perdido sua consciência de classe. Não importa o que ele se tornou. Por fora, ainda expressa a cara insuportável do povo que eles e elas fingem amar, mas que, na verdade, apenas servem como consumidores de seus discos imbecilizantes ou de seus programas inúteis.
Talvez fosse hora de o povo brasileiro dizer “basta!”. Basta desta gente vampira de vida e de esperança. Basta destes seres que compram na Daslu sem ver o mundo real que vive ao redor. Basta de ser visto como burro e manipulável. Basta de esperar que alguém, um salvador, venha lhe dar aquilo que só ele, unido pode conquistar. Talvez fosse hora de a gente mostrar que não está aí para ser “uma gracinha” e, de uma vez por todas, fazer “rolar a festa”. Não aquela, da Ivete, que emburrece e aliena. Mas a festa socialista, do povo na rua, garantindo direitos, alegria, vida plena. Se o Lula não é bom - e não é - tampouco o será Alckmin, Serra, FHC. Nós já vimos esse filme e sabemos: são as gentes, em luta, na caminhada, que vão construir o país justo, soberano, livre e feliz.
E, vamos combinar: que país pode sair da cabeça de quem joga ovo em pobre e vive alienado numa ilha artificial? Falando sério, cansei!

domingo, 19 de agosto de 2007

A revista na rede

Leia a entrevista de Elaine Tavares, uma das editoras da revista, para o Centro de Mídia Independente:
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2006/07/358756.shtml

Veja depoimentos sobre Pobres & Nojentas no You Tube:
http://br.youtube.com/watch?v=TJjhSsuP4YQ

sábado, 18 de agosto de 2007

Número 8 de Pobres e Nojentas já está no forno!

No final de agosto vai estar nas bancas o oitavo número da revista Pobres & Nojentas! A edição fala da luta do movimento estudantil na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), da mobilidade urbana e narra histórias de mulheres e homens como Khader Mahmou Ahmad Othman (foto), da comunidade palestina de Florianópolis, escrita por Vera Maria Flesch. A revista está à venda por R$ 4,00 na banca do Centro de Convivência da UFSC e na banca instalada na frente da Catedral, no centro de Florianópolis. O lançamento ocorre no dia 31 de agosto. Em breve vamos divulgar o local! Para assinar a revista, ler o texto "Quem sou eu", na coluna da direita.

Livros da Companhia dos Loucos

A Companhia dos Loucos já editou os seguintes livros:
(resenhas de Eduardo Mustafa Vianna)

Jornalismo nas Margens – uma reflexão sobre comunicação em comunidades empobrecidas, da jornalista Elaine Tavares.
É tempo de megafone, cartaz de poste, rádio comunitária, construção popular da notícia e muita vida inteligente, rapaziada, é tempo de intervenção inteligente, concentrada. Articulada. É tempo de comunicação espontânea, concentrada e articulada. Segundo o jornalista José Arbex Júnior, vive-se hoje o auge do periodismo pautado pelo modo pilantra de ser. Vejam o que diz a contracapa de um de seus mais comentados livros, O Jornalismo Canalha (da editora Casa Amarela, de São Paulo): “Não raro, os próprios jornalistas aceitam fazer o papel de escribas do poder, reproduzindo o comportamento dos correspondentes enviados a Canudos, que não mencionaram – ou apenas registraram, muito de passagem – a degola de homens, mulheres e crianças. Muito poderia ser escrito sobre as razões que determinaram tal comportamento – do triunfo momentâneo do pensamento neoliberal, para o qual o mercado é o princípio inexorável da existência, ao puro e simples oportunismo de carreiristas que sabem o que devem escrever e falar para “se darem bem” na profissão. A título de exemplo, reproduzimos, em seguida, um trecho de artigo publicado na revista Caros Amigos, um dos raros veículos de expressão nacional que denunciam a conivência entre a mídia, a repressão oficial e os jagunços:“Episódio 1: O jornalista Luis Costa Pinto, da revista Época, afirma, em Porto Alegre, em novembro [de 2002], que o MST é dirigido por um “núcleo duro” que, na verdade, não quer a reforma agrária, mas sim instrumentaliza o movimento para atingir seus próprios fins (...).”E nos tempos da má loucura universal, no contexto das tormentas imperialistas “contra o terror”, “contra as drogas”, “contra o totalitarismo”, do pobre Afeganistão ao Iraque e ao Irã dos crentes de Alá, das sagradas montanhas da Colômbia e do Peru ao horror que se abate sobre os batalhões das gentes pobres de São Paulo e Rio (sejam moradores de comunidades sem renda, sejam policiais usados como bestas homicidas), esse jornalismo canalha apontado pelo querido José Arbex se serve do mais fundo prato cheio, a garantir a produção de ignorância pela chamada grande mídia. O subcomandante Marcos disse, certa vez: “A guerra do novo milênio é uma guerra semiótica.” Muita gente de pensamento e ação respondeu: “É uma verdade, a começar pelo termo Globalização”. E contra o jornalismo canalha dos bonitões e fanfarristas do palavrório de alta extração, ao fim das contas tão miserável e tão lastimavelmente acabado, a companheira Elaine Tavares ergue, pela vida diária dos movimentos do povo, o jornalismo libertador. O Jornalismo nas Margens – uma reflexão sobre comunicação em comunidades empobrecidas, discute diversos aspectos do trabalho dos comunicadores do povo trabalhador, ali onde vivem, ali onde riem ou choram a ampla luta humana. E é também algo que se pode considerar como um manual, um guia para a luta, por criar referências ao pensamento mais crítico e mais sofisticado a partir da experiência pura, inclusive a partir das relações de classe pura, e dos suportes à disposição de quem necessite promover o jornalismo popular. Quanto à escrita, este breve livro será também um alento e um apoio aos que almejam a alma ou os delírios postos em linhas, por uma questão de beleza do discurso sim, mas especialmente por encontrarmos aqui uma vasta reivindicação do que deve ser uma ética da escrita. Como sempre, alinham-se a irmã Ética e a camarada Estética. É o que se verifica, por exemplo, lá pelas tantas do capítulo 3, O Jornalista como ser poético e amoroso:“O jornalista de que precisa o mundo dito pós-moderno – vazio de sentido e individualista – é um ser poético, que vá para além do humano, que consiga enxergar o que há de singular nos fatos, que ultrapasse a barreira da normose (a normalidade dos fatos), do igual. O ser poético é aquele que tem como pressuposto uma posição ética sempre a serviço da vida, da beleza, da festa, não apenas para alguns, mas para todos. Se isso é utópico ou até mesmo irreal, não importa.”Para os comunicadores do povo e seus colaboradores, uma leitura saborosa e uma ferramenta.Tamanho: 21x15 cm.Número de páginas: 50.Preço: R$ 5,00, mais as despesas postais.

Uma Cidade na Memória, de James Dadam.
A casa publicadora Cia. dos Loucos tem a satisfação de convidá-los ao passeio agridoce ou mareado por Uma cidade na memória, com James Dadam, esse homem do Camboriú, Balneário das terras catarinenses, de olhos voltados à Estrela Polar, ao ano de 1930, à passagem dos integralistas e seu palavreado estranho, ao telhado caído de uma igrejinha, à velha de amores locais e acento alemão, à revolução sem mortos, aos filhos que partem ou voltam, à mulher de capa preta e aos barcos em direção à praia, ao pão assado em forno de barro e às meninas a vendê-lo, ao dia de domingo, ao Hotel Miramar. Sim, por supuesto, são memórias de um homem, são testemunhos e relatos de intimidade, é só isso, é tudo isso.E a propósito das memórias-quadros-canções escreveu a jornalista Raquel Moysés:“Ler James Dadam deixa o ser pleno de uma doçura um pouco amarga, a mente cheia de indagações sobre para onde o caminhar dos homens está levando a humanidade. O jovem jornalista se debruça sobre a história de sua gente com um olhar feito de nostalgia determinada. Não é um olhar saudosista, patético, que chora sobre o passado que se fecha de modo implacável e inexorável. O olhar que ele lança para esse passado é de desafio, denúncia e apelo para a vida (...)“As histórias contam o que acontece com gente que se deixa “enterrar” pelas máquinas de guerra do progresso, que jogam sob os escombros os sonhos, as raízes, as memórias que fazem um povo se saber povo, se sentir filho de uma terra, parte de uma nação, cidadão de um mundo interligado pelo mesmo destino comum... James Dadam é absolutamente feliz no seu texto sobre a morte da igrejinha, que soterrou, com a sua queda, a parte talvez mais fecunda da identidade de uma cidade, de uma comunidade. James é feliz quando fala da história enterrada, pois só o que vive pode morrer. E a história é a vida, é a vida acumulada, preservada, transmitida, transformada, refeita com aquilo que se aprendeu, se reaprendeu e se reconstruiu... Finas essências de existências passadas que subsistem nas gerações.”E nós, os de então, que podemos até nos considerar, quem sabe, herdeiros de alma ou irmãos menores de Monteiro Lobato, desde seu balanço de pés calçados e compassos de denúncia por entre as cidades mortas, vívidas pelo tempo sem-tempo da rua desaparecida ou de novíssimo arranha-céu, com que boca deglutimos as partes moles desse calendário (quiçá) de meridianos e nomes familiares? Jorge Luis Borges disse haver uma palavra original, a primeira – muito outros o disseram, de maneira que o evento poético chamado Religião se servisse do verbo a fazer-se carne, e mesmo dos sonhos propriamente ditos e seu pormenor obrador de significados, como um primeiro gênero de toda a Literatura.Quanto a ti, James Dadam, acomoda-te e fala, lança aqui teu peão:“É madrugada e o festival de bicicletas toma todas as ruas. Rápido e rápido, pedalam e pedalam. Roda a roda e roda o peão. São os trabalhadores da construção civil. Na mochila tem o peão, o café e a marmita. Chegam na obra e sobem degraus, sobem andaimes, descem degraus. Então alguém grita: “Manda a massa.” Põe o tijolo, pinta a parede, dobra o ferro, a cidade cresce. Tocam o sino, batem as marretas, funcionam as máquinas. Hora de ir embora. Lá vão as bicicletas tomando conta da rua de novo. Lá vão as mochilas sem peão, sem café e com a marmita vazia.” (Roda Peão, texto de Uma cidade na memória). Tamanho: 21x16 cm.Número de páginas: 92.Preço: R$ 7,00, mais as despesas postais.

Seres do Bem – retratos de viandantes, de Ricardo Casarini.
Livro de fotos do paulista Ricardo Casarini Muzy, que retrata homens, mulheres e niños da caminhada vicinal, das estradas e acampamentos, com muito de Leon Tosltói e sua andança geral entre bosques, com muito dos Dylans Bob e Thomas, com fragmentos e risos da juventude do mundo. Com a Indo-América, Saturno e as estrelas. Com a simples boa onda, etc. São eles, os viandantes.“Vistos como loucos, hippies, marginais, através das lentes do fotógrafo Ricardo Casarini Muzy, adquirem uma outra forma. Aparecem aqui imortalizados em instantes de perpétua beleza: o da partilha amorosa com todos os seres viventes, em cenas do cotidiano dos encontros que realizam para trocar experiências e saberes. O trabalho de Ricardo, que projeta em preto e branco a vida dos viandantes já é, em si, uma escolha de caminho do próprio fotógrafo. Ele poderia ter preferido retratar a vida que se faz nas salas acarpetadas, nas estradas asfaltadas, nas paisagens turísticas. Mas não, ele mesmo um homem de caminhos vicinais, decidiu percorrer a vida que viceja às margens, que anda pelas estradas de terra, que se mostra nas veias internas do grande Brasil.” Palavras de Elaine Tavares, um trecho do texto de apresentação do volume.E se é que o permitem a leitora e o leitor, este fazedor de resenhas, assanhado com as fotos de Ricardo Casarini, doravante trabalhará em versos.Ao Sol silencioso, longe da cidade, nenhum pequeno contentamento se assemelharia ao certeirosorriso aberto da primeira palavra, pintada na camiseta;a palavra entre nós é agora a flauta fátua.Ou nada se assemelha ao sorriso, e terás contigo, irmão de Montanhas Mágicas, a pequena face humanacomo a possível face do Universo. Ou não do Universo, mas do festim antigo, um movimento reverso,um trovador andino que tenha traduzidoa língua do condor e uma cor mineral de meninosnos conduz também à estrada. E deixai que cresçam as barbas, e olhai os lírios do campo.Tamanho: 24x21 cm.Papel: Couchê fosco (miolo, 120g); couchê brilhante (250g, capa).Número de páginas: 104.Preço: R$ 25,00, mais as despesas postais.

Manifesto dos loucos e poetas da Companhia dos Loucos


Esta é uma idéia que vem se colocar na outra mão da história. Enquanto milhares de pessoas gastam energias competindo com seus colegas, sonhando com fama, ouro, ferraris e apartamentos de cobertura, nós decidimos que não pode haver nada mais belo do que viver em comunhão. Com-viver, co-sonhar, co-realizar, co-desejar... juntos, comungando o sagrado direito da vida feliz. Nosso espaço é o mundo das letras, das palavras. Somos construtores de jardins, não esses, comuns, unicamente de flores. Nossos jardins são, justamente, pedaços de um maior, o grande, o mundo em que queremos viver. De riquezas repartidas, livre, justo, pleno.A preciosidade que temos é nossa capacidade de evocar o poder das palavras, fazê-las andar, iluminar caminhos, transformar realidades. A matéria-prima da nossa riqueza é a força da palavra criadora, dabar. Mas, muitas vezes, no mundo competitivo, nossa palavra é castrada, quebrada, mutilada, calada, censurada, em nome de coisas tantas como lucro, mercado, capital. A palavra que escapa dos nossos jardins não é palavra mansa. É selvagem, indomável, perigosa, porque não se propõe adoçar nem dourar o que dói. Ao contrário. Mesmo quando doce, terna, ela queima porque diz da dor, do segredo, do amor, do ainda-não, do não e de um outro sim. É palavra incômoda que narra o mágico e o real sem retoques. Por isso não cabe em editoras e casas de livros. A palavra livre não tem por onde se espraiar no mundo daqueles que se acham no direito de só deixar escapar as que são aceitas pelo grande deus mercado. Não sabem eles que a palavra livre é livre. E que as coisas e seres livres ninguém aprisiona, porque a liberdade não mora no corpo, mora no desejo de ser.A Cooperativa da Palavra nasce desse desejo de ser livre e se deixar voar. Ela se propõe a fazer andar a palavra que constrói e destrói, a palavra invencível, caminhante, viandante. Não é empresa, não é editora registrada, não quer lucro, nem fama. Só quer deixar que as selvagens palavras saiam galopando num livro para que a eternidade se aposse delas. É cooperativa da palavra e de palavra. Nela, só o que se pede é a palavra. Cada membro dá sua palavra de que vai ajudar em algo. Na edição, no desenho, na diagramação, nas letras, no dinheiro para pagar a gráfica, no que for. Toda contribuição é bem-vinda. Depois, cada um dá a palavra de que vai fazer circular e pronto. Está feito! A cooperativa da palavra vai oferecer ao mundo a Companhia dos Loucos. Seres alados, mágicos, visionários, malucos, fazedores de jardins. Eles vão espalhar seus temores e dores e amores e segredos e sonhos e utopias e terrores e esperanças e esperanças e esperanças. Porque só os loucos e os poetas se propõem a, num mundo de fugitivos, caminhar de volta para casa. Juntos, em comunhão, dando unicamente a sua palavra.


Loucos e poetas - Desterro