sábado, 18 de agosto de 2007

Livros da Companhia dos Loucos

A Companhia dos Loucos já editou os seguintes livros:
(resenhas de Eduardo Mustafa Vianna)

Jornalismo nas Margens – uma reflexão sobre comunicação em comunidades empobrecidas, da jornalista Elaine Tavares.
É tempo de megafone, cartaz de poste, rádio comunitária, construção popular da notícia e muita vida inteligente, rapaziada, é tempo de intervenção inteligente, concentrada. Articulada. É tempo de comunicação espontânea, concentrada e articulada. Segundo o jornalista José Arbex Júnior, vive-se hoje o auge do periodismo pautado pelo modo pilantra de ser. Vejam o que diz a contracapa de um de seus mais comentados livros, O Jornalismo Canalha (da editora Casa Amarela, de São Paulo): “Não raro, os próprios jornalistas aceitam fazer o papel de escribas do poder, reproduzindo o comportamento dos correspondentes enviados a Canudos, que não mencionaram – ou apenas registraram, muito de passagem – a degola de homens, mulheres e crianças. Muito poderia ser escrito sobre as razões que determinaram tal comportamento – do triunfo momentâneo do pensamento neoliberal, para o qual o mercado é o princípio inexorável da existência, ao puro e simples oportunismo de carreiristas que sabem o que devem escrever e falar para “se darem bem” na profissão. A título de exemplo, reproduzimos, em seguida, um trecho de artigo publicado na revista Caros Amigos, um dos raros veículos de expressão nacional que denunciam a conivência entre a mídia, a repressão oficial e os jagunços:“Episódio 1: O jornalista Luis Costa Pinto, da revista Época, afirma, em Porto Alegre, em novembro [de 2002], que o MST é dirigido por um “núcleo duro” que, na verdade, não quer a reforma agrária, mas sim instrumentaliza o movimento para atingir seus próprios fins (...).”E nos tempos da má loucura universal, no contexto das tormentas imperialistas “contra o terror”, “contra as drogas”, “contra o totalitarismo”, do pobre Afeganistão ao Iraque e ao Irã dos crentes de Alá, das sagradas montanhas da Colômbia e do Peru ao horror que se abate sobre os batalhões das gentes pobres de São Paulo e Rio (sejam moradores de comunidades sem renda, sejam policiais usados como bestas homicidas), esse jornalismo canalha apontado pelo querido José Arbex se serve do mais fundo prato cheio, a garantir a produção de ignorância pela chamada grande mídia. O subcomandante Marcos disse, certa vez: “A guerra do novo milênio é uma guerra semiótica.” Muita gente de pensamento e ação respondeu: “É uma verdade, a começar pelo termo Globalização”. E contra o jornalismo canalha dos bonitões e fanfarristas do palavrório de alta extração, ao fim das contas tão miserável e tão lastimavelmente acabado, a companheira Elaine Tavares ergue, pela vida diária dos movimentos do povo, o jornalismo libertador. O Jornalismo nas Margens – uma reflexão sobre comunicação em comunidades empobrecidas, discute diversos aspectos do trabalho dos comunicadores do povo trabalhador, ali onde vivem, ali onde riem ou choram a ampla luta humana. E é também algo que se pode considerar como um manual, um guia para a luta, por criar referências ao pensamento mais crítico e mais sofisticado a partir da experiência pura, inclusive a partir das relações de classe pura, e dos suportes à disposição de quem necessite promover o jornalismo popular. Quanto à escrita, este breve livro será também um alento e um apoio aos que almejam a alma ou os delírios postos em linhas, por uma questão de beleza do discurso sim, mas especialmente por encontrarmos aqui uma vasta reivindicação do que deve ser uma ética da escrita. Como sempre, alinham-se a irmã Ética e a camarada Estética. É o que se verifica, por exemplo, lá pelas tantas do capítulo 3, O Jornalista como ser poético e amoroso:“O jornalista de que precisa o mundo dito pós-moderno – vazio de sentido e individualista – é um ser poético, que vá para além do humano, que consiga enxergar o que há de singular nos fatos, que ultrapasse a barreira da normose (a normalidade dos fatos), do igual. O ser poético é aquele que tem como pressuposto uma posição ética sempre a serviço da vida, da beleza, da festa, não apenas para alguns, mas para todos. Se isso é utópico ou até mesmo irreal, não importa.”Para os comunicadores do povo e seus colaboradores, uma leitura saborosa e uma ferramenta.Tamanho: 21x15 cm.Número de páginas: 50.Preço: R$ 5,00, mais as despesas postais.

Uma Cidade na Memória, de James Dadam.
A casa publicadora Cia. dos Loucos tem a satisfação de convidá-los ao passeio agridoce ou mareado por Uma cidade na memória, com James Dadam, esse homem do Camboriú, Balneário das terras catarinenses, de olhos voltados à Estrela Polar, ao ano de 1930, à passagem dos integralistas e seu palavreado estranho, ao telhado caído de uma igrejinha, à velha de amores locais e acento alemão, à revolução sem mortos, aos filhos que partem ou voltam, à mulher de capa preta e aos barcos em direção à praia, ao pão assado em forno de barro e às meninas a vendê-lo, ao dia de domingo, ao Hotel Miramar. Sim, por supuesto, são memórias de um homem, são testemunhos e relatos de intimidade, é só isso, é tudo isso.E a propósito das memórias-quadros-canções escreveu a jornalista Raquel Moysés:“Ler James Dadam deixa o ser pleno de uma doçura um pouco amarga, a mente cheia de indagações sobre para onde o caminhar dos homens está levando a humanidade. O jovem jornalista se debruça sobre a história de sua gente com um olhar feito de nostalgia determinada. Não é um olhar saudosista, patético, que chora sobre o passado que se fecha de modo implacável e inexorável. O olhar que ele lança para esse passado é de desafio, denúncia e apelo para a vida (...)“As histórias contam o que acontece com gente que se deixa “enterrar” pelas máquinas de guerra do progresso, que jogam sob os escombros os sonhos, as raízes, as memórias que fazem um povo se saber povo, se sentir filho de uma terra, parte de uma nação, cidadão de um mundo interligado pelo mesmo destino comum... James Dadam é absolutamente feliz no seu texto sobre a morte da igrejinha, que soterrou, com a sua queda, a parte talvez mais fecunda da identidade de uma cidade, de uma comunidade. James é feliz quando fala da história enterrada, pois só o que vive pode morrer. E a história é a vida, é a vida acumulada, preservada, transmitida, transformada, refeita com aquilo que se aprendeu, se reaprendeu e se reconstruiu... Finas essências de existências passadas que subsistem nas gerações.”E nós, os de então, que podemos até nos considerar, quem sabe, herdeiros de alma ou irmãos menores de Monteiro Lobato, desde seu balanço de pés calçados e compassos de denúncia por entre as cidades mortas, vívidas pelo tempo sem-tempo da rua desaparecida ou de novíssimo arranha-céu, com que boca deglutimos as partes moles desse calendário (quiçá) de meridianos e nomes familiares? Jorge Luis Borges disse haver uma palavra original, a primeira – muito outros o disseram, de maneira que o evento poético chamado Religião se servisse do verbo a fazer-se carne, e mesmo dos sonhos propriamente ditos e seu pormenor obrador de significados, como um primeiro gênero de toda a Literatura.Quanto a ti, James Dadam, acomoda-te e fala, lança aqui teu peão:“É madrugada e o festival de bicicletas toma todas as ruas. Rápido e rápido, pedalam e pedalam. Roda a roda e roda o peão. São os trabalhadores da construção civil. Na mochila tem o peão, o café e a marmita. Chegam na obra e sobem degraus, sobem andaimes, descem degraus. Então alguém grita: “Manda a massa.” Põe o tijolo, pinta a parede, dobra o ferro, a cidade cresce. Tocam o sino, batem as marretas, funcionam as máquinas. Hora de ir embora. Lá vão as bicicletas tomando conta da rua de novo. Lá vão as mochilas sem peão, sem café e com a marmita vazia.” (Roda Peão, texto de Uma cidade na memória). Tamanho: 21x16 cm.Número de páginas: 92.Preço: R$ 7,00, mais as despesas postais.

Seres do Bem – retratos de viandantes, de Ricardo Casarini.
Livro de fotos do paulista Ricardo Casarini Muzy, que retrata homens, mulheres e niños da caminhada vicinal, das estradas e acampamentos, com muito de Leon Tosltói e sua andança geral entre bosques, com muito dos Dylans Bob e Thomas, com fragmentos e risos da juventude do mundo. Com a Indo-América, Saturno e as estrelas. Com a simples boa onda, etc. São eles, os viandantes.“Vistos como loucos, hippies, marginais, através das lentes do fotógrafo Ricardo Casarini Muzy, adquirem uma outra forma. Aparecem aqui imortalizados em instantes de perpétua beleza: o da partilha amorosa com todos os seres viventes, em cenas do cotidiano dos encontros que realizam para trocar experiências e saberes. O trabalho de Ricardo, que projeta em preto e branco a vida dos viandantes já é, em si, uma escolha de caminho do próprio fotógrafo. Ele poderia ter preferido retratar a vida que se faz nas salas acarpetadas, nas estradas asfaltadas, nas paisagens turísticas. Mas não, ele mesmo um homem de caminhos vicinais, decidiu percorrer a vida que viceja às margens, que anda pelas estradas de terra, que se mostra nas veias internas do grande Brasil.” Palavras de Elaine Tavares, um trecho do texto de apresentação do volume.E se é que o permitem a leitora e o leitor, este fazedor de resenhas, assanhado com as fotos de Ricardo Casarini, doravante trabalhará em versos.Ao Sol silencioso, longe da cidade, nenhum pequeno contentamento se assemelharia ao certeirosorriso aberto da primeira palavra, pintada na camiseta;a palavra entre nós é agora a flauta fátua.Ou nada se assemelha ao sorriso, e terás contigo, irmão de Montanhas Mágicas, a pequena face humanacomo a possível face do Universo. Ou não do Universo, mas do festim antigo, um movimento reverso,um trovador andino que tenha traduzidoa língua do condor e uma cor mineral de meninosnos conduz também à estrada. E deixai que cresçam as barbas, e olhai os lírios do campo.Tamanho: 24x21 cm.Papel: Couchê fosco (miolo, 120g); couchê brilhante (250g, capa).Número de páginas: 104.Preço: R$ 25,00, mais as despesas postais.

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