Por Elaine Tavares – editora de Pobres e Nojentas
Tenho lido bastante sobre o chamado movimento “cansei”, e tudo continua sendo incognoscível para mim. Procuro, busco, vasculho e não consigo perceber os motivos que levam a tal da elite brasileira a ter se cansado de Lula. O cara não tem feito outra coisa a não ser governar para ela. Liberou os transgênicos, fomentou o endividamento dos trabalhadores via bancos, aqueceu o comércio, fez uma reforma na previdência para beneficiar os empresários dos fundos de pensão privada, perdoou as dívidas dos latifundiários, mantém em dia os pagamentos da dívida externa, está construindo novos aeroportos, enfim... uma lista interminável de concessões aos graúdos deste país. Além disso, tem apaziguado as lutas trabalhistas através da cooptação de lideranças sindicais e mantido em suspenso o MST.
Então, de repente, a elite paulista decide que cansou. Mas como? Cansou de quê? Quais os verdadeiros motivos que se escondem por trás da manifestação de uma conhecida gente da direita nacional tais como Hebe Camargo (tiete confessa de Maluf), Regina Duarte (eu tenho medo), Alckmin, Serra, e outras de novidadeira presença como a baiana Ivete Sangalo?
Duas coisas me ocorrem. Uma diz respeito aos preparativos para as eleições estaduais e municipais que se aproximam e que já servem de ensaio da presidencial que virá mais na frente. O tabuleiro político está montado e alguns dos nomes candidatáveis já começam a pôr os seus rostos na rua. Como Lula segue blindado por parte da esquerda e ainda tem uma boa inserção nas camadas mais empobrecidas da sociedade, eles devem ter inventado essa do “cansei” para poder aparecer na mídia.
A outra diz respeito à insaciedade da elite brasileira, sempre querendo mais, e mais, e mais. Ao que parece, nunca é suficiente. Não basta criar os seus filhos acreditando que mendigos e prostitutas devem ser queimados e chutados. Não basta divertirem-se nas noites de drogas e álcool, atirando ovos sobre os pobres que passam ou trabalham nas ruas. Não basta sangrar a vida dos trabalhadores na super-exploração. Não basta reinventar a casa grande nos imensos latifúndios do país. Não bastam os milhares de dólares dormindo em bancos estrangeiros. Não basta a expropriação continua das terras indígenas em favor das papeleiras e dos canaviais. Pois não basta! Querem mais!
Conspirando nas banheiras luxuosas da ilha de Caras, Hebe, Ivete, Regina e outros tantos “famosos” devem ter se convencido de que Lula ainda não é suficiente. Além do mais ele é feio, nordestino e fala mal. Não importa que ele tenha perdido sua consciência de classe. Não importa o que ele se tornou. Por fora, ainda expressa a cara insuportável do povo que eles e elas fingem amar, mas que, na verdade, apenas servem como consumidores de seus discos imbecilizantes ou de seus programas inúteis.
Talvez fosse hora de o povo brasileiro dizer “basta!”. Basta desta gente vampira de vida e de esperança. Basta destes seres que compram na Daslu sem ver o mundo real que vive ao redor. Basta de ser visto como burro e manipulável. Basta de esperar que alguém, um salvador, venha lhe dar aquilo que só ele, unido pode conquistar. Talvez fosse hora de a gente mostrar que não está aí para ser “uma gracinha” e, de uma vez por todas, fazer “rolar a festa”. Não aquela, da Ivete, que emburrece e aliena. Mas a festa socialista, do povo na rua, garantindo direitos, alegria, vida plena. Se o Lula não é bom - e não é - tampouco o será Alckmin, Serra, FHC. Nós já vimos esse filme e sabemos: são as gentes, em luta, na caminhada, que vão construir o país justo, soberano, livre e feliz.
E, vamos combinar: que país pode sair da cabeça de quem joga ovo em pobre e vive alienado numa ilha artificial? Falando sério, cansei!
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