quinta-feira, 30 de junho de 2011

O STF saiu do armário!

Enfim, o reconhecimento da União Estável Homoafetiva


Sally Rejane Satler, advogada
sally.satler@gmail.com


Uma sociedade decente é uma sociedade que não humilha seus integrantes. O tribunal lhes restitui o respeito que merecem, reconhece seus direitos, restaura sua dignidade, afirma sua identidade e restaura sua liberdade. Ellen Gracie, Ministra do STF, ao pronunciar o seu voto favorável à união estável entre pessoas do mesmo sexo.

Que não se separe por um parágrafo, o que a vida uniu pelo afeto. Ayres Britto, Ministro do STF, na leitura de seu voto, fazendo menção à uma leitura literal e simplista do dispositivo constitucional que trata da união estável (art. 26, parágrafo 3º).



Há muito que os movimentos LGBT e de Direitos Humanos lutam pelo reconhecimento da união civil entre pessoas do mesmo sexo. No Congresso Nacional, entre pautas e engavetamentos, após as eleições de 2010, a possibilidade de por em votação em pauta o projeto novamente reavivou as esperanças na conquista deste direito e legitimação da igualdade entre todos proclamada na Constituição Federal de 1988.
Enquanto se esperava a lenta movimentação do Congresso, o Supremo Tribunal Federal – STF – surpreendeu a todos neste mês de maio, quando, por unanimidade, reconheceu a União Estável entre pessoas do mesmo sexo. Uma conquista importantíssima e uma demonstração de maturidade e compreensão jurídica por parte dos nossos Ministros. Afinal, o último censo revelou a existência de aproximadamente 60 mil famílias constituídas por pessoas do mesmo sexo no Brasil, e independentemente de números, não é possível condená-las à invisibilidade.
A decisão surpreendeu também a FPE – Frente Parlamentar Evangélica – composta por setenta e seis deputados federais e três senadores, que há muito se articula para impedir a união civil de pessoas do mesmo sexo. Aliás, estranho não se questionar a existência de uma Frente Parlamentar em defesa de crenças religiosas em um país constitucionalmente laico, ou seja, deputados e senadores movidos por interesses e crenças pessoais, e não pela garantia da igualdade de direitos a todos os cidadãos. A mais recente articulação desta Frente culminou na suspensão da circulação do kit anti-homofobia nas escolas, em troca de favores políticos para o Governo Dilma. E neste momento, a FPE vem anunciando estratégias com o objetivo desviar o foco das discussões em torno da aprovação da união civil homossexual, ainda que inócuas do ponto de vista jurídico.
Uma das estratégias é apresentar um projeto de lei que garanta a toda igreja o direito de não ser obrigada a realizar casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Obviamente, a Constituição já garante a ampla liberdade de crença, e seria impossível uma imposição estatal às igrejas de celebrar casamentos religiosos homossexuais. Outra tentativa, capitaneada pelo presidente da FPE (deputado João Campos – PSDB-GO), constitui na elaboração e aprovação de um decreto legislativo que pretende reafirmar a competência do Congresso para tratar da matéria, numa tentativa de sustar os efeitos da decisão do STF. Também inócua, porque o STF não criou uma nova lei, apenas interpretou-a conforme a Constituição, que prima pela liberdade, igualdade de direitos e dignidade humana. Assim, resta perguntar se realmente os deputados da FPE não sabem o que fazem ao buscar essas ‘soluções’ legislativas tão simplórias, ou se apenas querem confundir a opinião pública, ou ainda pior, criar um factóide para a mídia, numa luta contra os direitos civis para homossexuais.
Para fazer valer seus direitos, os casais homossexuais ainda terão que buscar os tribunais em muitas situações, mas agora respaldados pela decisão do STF. Ou seja, antes do reconhecimento da união homossexual, direitos como herança e divisão de bens poderiam ser negados no Judiciário, enquanto que agora, da mesma forma que uma família heterossexual, tais direitos podem ser buscados com mais segurança perante à Justiça, amparados na decisão da Corte Suprema.
É importante enfatizar que essa decisão não preenche totalmente a lacuna deixada pelo Legislativo, que deverá regulamentar as relações decorrentes do reconhecimento da união. Em nível local, também é necessário e urgente mobilizar o Poder Executivo e Legislativo locais para regulamentar, por exemplo, o direito de pensão dos servidores homossexuais junto aos planos de previdência municipais (como por exemplo, o ISSBLU - Instituto de Seguridade Social dos Servidores Públicos Municipais de Blumenau), e também em nível estadual (como o IPESC/IPREV).
Por isso, entendo que essa conquista constitui somente uma etapa de um longo processo de luta. Ainda há muito a ser conquistado, e muitos são os interesses e preconceitos a serem combatidos.
Mas afinal, o que efetivamente muda a partir dessa decisão que reconheceu a União Estável entre casais do mesmo sexo? A partir desse momento, os casais homossexuais passaram a ser considerados uma entidade familiar, com direitos de herança, comunhão de bens, pensão alimentícia, pensão por morte, plano de saúde, entre tantos outros. Essa decisão tem efeito vinculante, ou seja, os outros tribunais do país deverão segui-la em julgamentos que tratem do assunto. Assim, as regras serão semelhantes nos casos de União Estável envolvendo tanto casais heterossexuais, como casais homossexuais.
No momento, mais importante que celebrar essa conquista, é fazer valer esse direito. Por isso, conclamo a todos os casais homossexuais que compareçam a um cartório e firmem a Declaração de União Estável, como um ato de legitimação perante o Estado, à sociedade e seus familiares; pois, nesse caso, é um ato de rebeldia ante a fragilidade legal dessa união, uma teimosia, não uma convenção; fortalece a luta e o debate em favor do reconhecimento da união civil homossexual e de seus direitos mais básicos. “É o tempo da travessia, e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”, citando Fernando Pessoa, tal como o Ministro Luiz Fux fez em seu voto no STF.

Como fazer a Declaração de União Estável?

É bem simples: basta levar a qualquer cartório os documentos pessoais do casal (Identidade, CPF, Certidão de Nascimento atualizada e comprovante de residência). O custo fica entre R$ 30,00 e R$ 60,00, dependendo do cartório.
Só lembrando: é possível assinar a declaração com efeitos retroativos à data do início da relação conjugal, o que garante o direito à herança e partilha de bens adquiridos pelo casal antes do dia da assinatura no cartório.

Testemunhas de ação contra coronel Ustra serão ouvidas no final de julho

O Tribunal de Justiça de São Paulo marcou a audiência da ação movida pela família do jornalista Luiz Eduardo Merlino no dia 27 de julho, às 14h30, no Fórum João Mendes, centro da capital paulista.

O Tribunal de Justiça de São Paulo ouvirá, em julho, as testemunhas que presenciaram a tortura e morte do jornalista Luiz Eduardo Merlino, em audiência da ação movida por sua família contra o coronel reformado do Exército Brasileiro, Carlos Alberto Brilhante Ustra – como o ex-ministro da Secretaria Especial de Direitos Humano Paulo de Tarso Vanucchi. Do outro lado, entre as testemunhas arroladas por Ustra está o senador e ex-presidente José Sarney.

Merlino foi torturado e assassinado em São Paulo, em julho de 1971, nas dependências do Doi-Codi, centro de tortura comandado por Ustra entre outubro de 1969 e dezembro de 1973. A audiência acontece no mês em que se completam 40 anos do assassinato do jornalista.

Além de Vanucchi, devem depor sobre o crime o historiador e escritor Joel Rufino dos Santos e ex-militantes do POC (Partido Operário Comunista), organização na qual Merlino militava, como Eleonora Menicucci de Oliveira, Laurindo Junqueira Filho, Leane de Almeida e Otacílio Cecchini.

Entre as testemunhas de defesa arroladas por Ustra, que serão ouvidas por carta precatória, estão ainda o ex-ministro Jarbas Passarinho, um coronel e três generais da reserva do Exército Brasileiro, Gélio Augusto Barbosa Fregapani Paulo Chagas, Raymundo Maximiano Negrão Torres e Valter Bischoff

A ação por danos morais está sendo movida pela irmã do jornalista, Regina Maria Merlino Dias de Almeida, e sua ex-companheira, Angela Mendes de Almeida e é subscrita pelos advogados Fábio Konder Comparato, Claudineu de Melo e Aníbal Castro de Souza.

Em 2008, Ustra foi declarado torturador pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, em ação movida pela família Teles. Esta é a segunda ação movida pela família de Merlino contra o coronel da reserva do Exército.

Merlino era jornalista. Trabalhou nas publicações Jornal da Tarde e Folha da Tarde. Era militante do Partido Operário Comunista (POC).

O quê: Audiência testemunhas ação contra o coronel Ustra

Quando: Dia 27 de julho, às 14h30

Onde: Fórum João Mendes,
Pça. João Mendes, s/n - Centro, São Paulo Informações: (11) 8327-5319 / Tatiana

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Sociedade civil discute futuro de Florianópolis em Congresso nos dias 1º e 2

Será realizado, nos dias 1º e 2 de julho, sexta e sábado, no auditório da OAB, em Florianópolis, o Congresso da Cidade, que tem como tema “A sociedade civil discutindo o futuro de Florianópolis, passados dez anos da aprovação do Estatuto da Cidade”. A P&N é uma das apoiadoras do evento.
Os objetivos são contribuir para o fortalecimento organizacional, em particular das organizações e movimentos sociais, através do debate sobre o futuro da cidade e os grandes lineamentos para seu desenvolvimento sustentável integral (ambiental, social, econômico e político).
O Congresso terá dois momentos, o primeiro em julho e o segundo em agosto. A programação de 1º e 2 de julho tem como foco discutir o Plano Diretor de Florianópolis à luz das diretrizes distritais para o Plano Diretor Participativo surgidas no processo das Audiências Públicas.
O evento é aberto e gratuito.

A programação é a seguinte:

1º - sexta feira
19:00 Inscrições
19:30 Abertura
20:30 Palestra: “Avanços e limites da participação no planejamento das cidades”, com o doutor Elson Manoel Pereira, professor de Planejamento Urbano do curso de Geografia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
21:30 Debates

2 – sábado
08:30 - Oficina 01
Apresentação das Diretrizes Distritais pelos representantes dos Núcleos Distritais com foco na vocação e no uso e ocupação do solo
14:00 - Oficina 02
Contraposição das Diretrizes Distritais com a proposta da CEPA/IPUF/PMF (após exposição, oficina por região)
18:30 - Plenária
Síntese das Diretrizes da Gestão Democrática deliberadas no processo do PDP; esboço de grandes lineamentos para o desenvolvimento da Cidade.

As revoltas na Grécia

Por Elaine Tavares – jornalista

Todos os dias eu vejo, estupefata, as manifestações em Atenas. Estive lá, em julho do ano passado, e pude acompanhar de perto estas caminhadas, as vigílias em frente ao parlamento, os confrontos com a polícia. Conversei com dirigentes partidários, sindicalistas, estudantes. Em cada um deles pude perceber a clareza de tudo o que acontece no país. Submetido a um governo de vende-pátrias, o povo grego tem visto, desde 2004, a consolidação de um estado de inanição do próprio estado, mergulhado em dívidas, contraídas a revelia do povo mesmo.

Baseados em megalomaníacos projetos de recuperação da pomposidade das olimpíadas, o governo pegou empréstimos de vários bancos europeus para construir estádios, fazer reformas em outros, e sempre com a mesma velha cantilena de que tudo isso se reverteria em benefícios para o povo. Nada disso aconteceu. Alguns embolsaram grana, obras faraônicas foram feitas e o povo agora tem de pagar por isso.

Naquele 2010, quando lá estive visitando o magnífico estádio olímpico, tudo o que pude ver foi vazio e silêncio. Nada acontece por lá. Tudo está entregue às moscas. Já o povo sobrevive no mesmo velho diapasão dos povos dos países periféricos e dependentes. Poucos empregos formais, muito emprego temporário no turismo, muita informalidade. A Grécia é um país incrível, cheio de belezas, berço da história ocidental. Seu potencial turístico é grandioso, mas ao que parece, poucos podem usufruir de toda essa riqueza.

Nas ruas, pode-se perceber um movimento organizado muito forte. O partido comunista é bastante agregador e tem sido uma ponta na lança dos protestos. As passeatas organizadas pelos sindicatos também mostram a força dos trabalhadores visceralmente articulados nessas organizações trabalhistas. Há ainda um movimento da juventude, não ligada a qualquer partido ou organização, que também se expressa nas ruas de forma muito radical e há igualmente um outro movimento de populares que se integra numa ou noutra coluna, simplesmente porque sente-se indignado com tudo que acontece. Nas análises que consegui colher naqueles dias de peregrinação pelas entidades o que aparece muito claro é que estes movimentos que se juntam nas ruas ainda não eram capazes de se unir num único projeto de nação. Cada grupo disputa seu ponto de vista e muitas vezes as manifestações acontecem de forma separada, só se juntando ao final, na Sintagma, a praça central em frente ao parlamento.

Lá dentro, é o que se vê na televisão. Completamente indiferentes ao clamor das ruas os deputados seguem decidindo por mais empréstimos para saldar as dívidas do país, feitas sem que o povo pudesse opinar. Mais empréstimos que significam a completa submissão do país às receitas impostas pelos organismos financeiros. Cortar despesas, apertar os cintos. E tudo isso só vale para os trabalhadores. Ao observar os ternos bem cortados dos deputados que se sucedem no plenário, pode-se perceber que no bolso deles nada está doendo. Mesmo na Rede Globo, onde as notícias são pasteurizadas, é impossível deixar de perceber as contradições que saltam, gritantes.

Ontem (28/06), depois de mostrar as imagens violentas dos choques entre os manifestantes e a polícia, e informar que o parlamento havia aprovado as novas medidas recessivas, Fátima Bernardes leu mais uma notícia, com um sorriso: “A aprovação do novo pacote animou os investidores estrangeiros e a bolsa de Nova Iorque teve uma subida de 6%”. Bom, para qualquer observador de nível médio, essa informação vale mais do que mil análises. Enquanto as gentes gregas se debatem entre suas diferenças e toda a desgraça que se abate sobre elas, os investidores, banqueiros, empresários, os tubarões, lambem os beiços e se preparam para mais um banquete com comida alheia.

Nos meus ouvidos ainda ecoa a voz de trovão de um velho militante comunista, daqueles que ainda enche os olhos d água ao lembrar dos velhos tempos de revolução popular, da grande a figura de Alexandros Panagulis, o inesquecível lutador grego que, em 1968, tentou matar o ditador Georgios Papadopoulos. “Eu não queria matar um homem, e sim um tirano”, dizia. Naqueles dias havia um projeto, um sonho, que, hoje, se perdeu, até porque os que comandam se dizem socialistas. Há desesperanças, há tristezas, mas há luta, muita luta.

Nas ruas de Atenas, os jovens e os trabalhadores saem de casa, todos os dias, com o seu kit básico de revolta: lenços, máscara contra gás (muitas feitas de modo bem artesanal), pedras. Mas o que se vê é que as ruas se enchem, os conflitos se fazem, e nada muda. A elite que domina o país, a classe política que faz as leis, todos seguem fazendo o que bem entendem sem que a revolta se transmude em mudanças reais. A esquerda democrática pede novas eleições, acredita que pela via institucional as coisas podem mudar. Mas, há uma grande parcela que já sabe que mudam as moscas, mas a meleca segue igual. Há que refundar a Grécia. O desafio é unir esses lutadores num projeto de nação. E isso, ao que parece, longe está... longe está...

Enquanto isso, vamos assistindo a toda essa tristeza.

domingo, 26 de junho de 2011

Amor

Li e gostei, trecho do do Sérgio Vaz:

"Quem ama erra. Quem segue o Amor sabe que o milagre não está na vida, mas na coragem de viver. Quem acredita no amor reencarna todos os dias no paraíso".

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Ensina-me a viver

O filme Harold & Maude (Ensina-me a viver), do diretor Hal Ashby, é um clássico da década de 1970. A cena final, linda, é embalada por uma música que faz gotejar o cântaro de quem prova ou já provou vinhos amargos...

http://www.youtube.com/watch?v=3bHv9bi7C60

Problema

Problema, oh, me dê liberdade
Eu vi o seu rosto e isso foi demais para mim.

Problema, oh, problema, você não vê?
Você está corroendo meu coração
E já não resta muita coisa de mim
Eu bebi o seu vinho.
Você fez do seu mundo o meu
Então seja justo
Então seja justo
Não quero mais nada de você
Então seja bom comigo
Então me deixe ir
Eu quero ir para lá.

Problema
Oh, problema
Afaste-se
Eu vi seu rosto
E isso foi demais para mim por hoje

Problema
Você não vê?
Você fez de mim um náufrago
Agora não me deixe na minha miséria
Eu olhei nos seus olhos
E pude ver o disfarce da morte
Esperando por mim, esperando por mim
Estou abatido e dividido
Despedaçado e abalado e cansado
Em estado ruim demais para se ver
Em estado chocante demais para se ver

Problema, oh, problema
Afaste-se de mim
Eu paguei minha dívida
Agora não me deixe na minha miséria.

Problema, oh, problema
Por favor, seja gentil.
Eu não quero brigar
E eu não tenho muito tempo.

Atrás da chave

"Em um minuto eu segurava a chave
No outro as paredes estavam fechadas contra mim
E eu descobri que meus castelos se apoiavam
Sobre pilares de sal e pilares de areia"

http://www.youtube.com/watch?v=KTSG5PGCceM

Neste início de inverno, um tango!

Alguns dilemas do Jornalismo

Por Elaine Tavares - jornalista

No debate promovido pelo Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina para discutir liberdade de expressão, o jornalista Celso Martins trouxe um aspecto da realidade que não aparece muito na discussão sobre a exigência do diploma para o exercício da profissão. A Fenaj insiste no argumento redutor de que o diploma do jornalista melhora o jornalismo que a sociedade vai receber. Isso soa de certa forma até pueril e mostra o quanto alguns dirigentes da categoria estão mesmo completamente alienados da vida real. Celso Martins - que defende o diploma porque acredita que é uma forma de garantir certos direitos aos trabalhadores – problematizou a questão da liberdade de expressão lembrando que desde a consolidação das técnicas jornalísticas inventadas pelos estadunidenses e copiadas de forma acrítica pelos brasileiros os jornalistas perderam a capacidade de dizer sua palavra. Na prática, diz Celso, os jornalistas, que antes eram intelectuais e publicavam longos artigos de opinião e análise, tornaram-se porta-vozes de vozes alheias e não têm mais espaço para um texto de profundidade e de opinião. No geral, quem opina nos jornais são os famosos “articulistas” que necessariamente não precisam ser jornalistas formados, e o texto de profundidade há muito sumiu das redações.

Além das novas técnicas e das novas tecnologias que acabam obstaculizando o bom jornalismo, as condições de trabalho também calam a voz do jornalista. Muitos são obrigados a segurar dois empregos, ganham salários aviltantes, vivem a lógica da superexploração. Isso os torna também piores pessoas, fazendo com que avance o egoísmo e a falta de solidariedade de classe. “O jornalista mesmo já não tem espaço nos jornais e na TV. Não tem como dizer sua palavra”. Assim, se a liberdade de expressão é, como explicou o procurador João dos Passos, a possibilidade de – tendo o espaço – a pessoa não ter sua palavra censurada, então, esse é um artigo muito em falta no jornalismo. O procurador catarinense, analisando os argumentos do STF sobre liberdade de expressão, interpreta a Constituição de forma diferente. Segundo ele, a liberdade de expressão não significa que a pessoa possa falar onde queria e o que queira. “O que a lei diz é que o conteúdo da fala de alguém que tenha um espaço onde se expressar, não pode ser tolhido. Isso não significa que a pessoa possa reivindicar falar em qualquer espaço. Há regras e elas precisam ser respeitadas”. No caso do jornalismo, não haveria obstáculo à lei a obrigatoriedade do diploma. Mas, o STF entendeu diferente.

Outro aspecto que raramente é lembrado nessa cruzada pela retomada do diploma é o papel das universidades. Na convenção de solidariedade a Cuba, no início do mês de junho, em Porto Alegre, conheci uma jornalista gaúcha, Tania Faillace, da velha guarda, que tem uma posição bastante crítica da lógica de mercantilização que tomou conta da educação depois dos anos 40. Segundo ela, cursos esdrúxulos e inúteis, criados apenas para a reserva do mercado, provocaram trágicas brigas entre radialistas e jornalistas, relações públicas e publicitários, acabando, ao final, prejudicando em grande parte os gráficos e todo o pessoal da "cozinha" do jornal impresso. “Eles foram substituídos pela informatização generalizada, que faz um jornalista (com diploma) fazer (muito mal) o trabalho de: repórter, redator, revisor, diagramador, pré-impressor e outros”.

Tania defende que os jornalistas de hoje em dia não deveriam fazer a tarefa dos gráficos, mas o que vê são garotos e garotas recheadas de egoísmo, achando maravilhoso poder fazer tudo e dispensar os demais. “E, assim, eles são operadores informáticos razoáveis, péssimos redatores, com a maioria sequer conhecendo bem o português, e piores analistas de fatos, que é uma exigência básica para se fazer um jornalismo razoável. O jornalismo é uma atividade política e não técnica”.

Por conta dessa idéia ela questiona de forma radical o papel da universidade nos dias de hoje e sua incapacidade de atuar no sentido de transformar a sociedade. Para Tania, o sistema universitário brasileiro tem como objetivo principal manter as classes sociais nos seus “devidos lugares”, sem garantir aos filhos dos trabalhadores o conhecimento que realmente interessa. Ela não acredita que o diploma, saído de uma universidade como a que existe atualmente possa garantir qualidade. Nesse sentido, discutir a universidade e os cursos de jornalismo também é papel de quem se preocupa com a formação do ser que vai exercer a profissão de jornalista. Não bastasse isso, necessário seria também discutir o acesso aos cursos, como bem lembra Tania. Quem consegue hoje fazer uma universidade pública, de qualidade? E qual a qualidade das dezenas de cursos de jornalismo que as universidades privadas oferecem a peso de ouro? As perguntas são muitas e as respostas ganham mais luz dependendo do interesse de cada um.

Se o jornalismo é uma atividade política, como diz Tania, por que foram tiradas dos currículos cadeiras teóricas importantes que envolvem a compreensão da economia, da política, da arte e da cultura do país? Por que os chamados “melhores cursos” são os que direcionaram seus currículos para as áreas técnicas, como se saber fazer uma página na internet fosse o supra-sumo do jornalismo? Por que os debates críticos sumiram das universidades sobrando apenas a mente cativa e colonizada? Na minha modesta compreensão, o jornalismo é atividade política e técnica, e ambas devem andar juntas, siamesas.

Já para os empresários da comunicação, pensar é coisa perigosa. Jornalista precisa saber o mínimo da técnica e ter o máximo de domesticação. Sem maiores compreensões sobre as forças que regem o mundo capitalista de produção, os estudantes dos cursos de jornalismo saem das salas de aula direto para os “matadouros” empresariais levando na bagagem o aprendizado da técnica e da ideologia dominante. E, essa, exige competição, egoísmo, individualismo exacerbado. A vida lá fora é vista como um campo de guerra em que o mais esperto e mais bonito sairá vitorioso. Não é sem razão que hoje, enquanto entram pela porta da frente os jovens e competitivos recém formados, dispostos à multifunção e a superexploração, pela porta de trás saem os jornalistas mais velhos, muitos deles já bem próximos da aposentadoria, porque são muito “antiquados” no trato do jornalismo. Eles insistem em fazer reportagens, enquanto os patrões exigem que dirijam, fotografem, editem, diagramem, revisem, montem blogs, filmem, criem páginas. E tudo isso, uma pessoa só.

Estas são algumas das faces do problema que é fazer jornalismo hoje no Brasil. O diploma é uma delas. No fundo da questão está o tipo de sistema que rege a nação. Enquanto persistir o modo capitalista de produção, a luta dos trabalhadores será sempre reativa, será quase sempre um processo de redução de danos, de “menos pior”. No debate que envolve a decisão do STF precisa ser considerado esse ponto. A volta do diploma, por si só, não garante nada. Como lembra o Celso Martins, os jornalistas seguiriam calados, sem direito a voz real. E também no cotidiano da empresa os trabalhadores seguiriam sendo explorados da mesma forma. A luta então poderia se pautar por um horizonte mais ousado, de mudanças radicais, de transformação real do sistema de organização da vida.

Mas, ainda uma boa parte dos jornalistas acredita que é uma raça superior, afeita e propícia aos salões do poder. Esses parecem não ter recebido a “triste notícia”, como dizia Brecht: não são superiores, são apenas trabalhadores num mundo de superexploração. Mudar esse estado de coisas parece ser a única saída possível. Lembro aqui o caso de Cuba. Para um jornalista de lá é quase incompreensível esse debate que levamos aqui no Brasil. “Como assim, diploma?” É que na ilha caribenha, onde o povo cubano fez uma revolução e destruiu o modo capitalista de produção, qualquer um tem acesso à universidade, seja ele taxista, cozinheiro ou jornalista. Por isso, em Cuba, este tipo de questão não tem sentido.

Já para os jornalistas locais, enquanto não se muda a vida, estes são alguns nós. Cabe desatá-los. Mas nunca sem perder de vista de que há outras formas possíveis de caminhar no mundo. E pavimentar esses caminhos pode ser uma boa coisa para se fazer. Na universidade e fora dela.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Mulheres que príncipes não amam ou Quem é a ave de rapina?



Míriam Santini de Abreu

Moro sozinha em uma kitinete, quase não tenho eletrodomésticos, mas gasto uns 50,00 de luz por mês. Tudo por causa do chuveiro. Por causa da água. Porque encostar-me nos azulejos e deixar a água correr tépida ao longo do corpo é um alívio, uma sensação que me recupera do que me devasta. Vi neste final de semana "Cisne Negro", devastador. Que seja no balé, uma arte clássica, restrita aos bem-nascidos, o modo de representar o que a realidade do mundo faz com os seres, é algo inquietante. Se o compositor russo Tchaikovsky faz de Odile e Odette dois seres/cisnes distintos, no filme eles são seres/cisnes num corpo só, num espírito só, dividido, atormentado. O príncipe Siegfried ama Odette, e com seu amor pode quebrar o feitiço que a faz ser mulher/cisne. Mas Odile o engana, e é com ela que o príncipe dança para quebrar o encanto. Odette, a princesa dos cisnes, o perdoa, mas o mago, a ave de rapina que controla o lago e os cisnes, inunda o lago e o príncipe some nas profundezas onde navegam as aves. Odette prefere a morte a suportar essa dor.
No filme, a protagonista Nina, interpretada por Natalie Portman, deve interpretar os dois cisnes. Meiga menina, como a chama sua mãe - mulher a amargar uma vida de frustração, - a jovem bailarina, fragmentada, vê na morte, como Odette, o fim da dor. Diz, em em sua última frase, que sentiu a perfeição, tão cobrada por seu mentor, que montava o espetáculo. A meiga menina, o cisne/mulher Odette, experimenta plenamente, no corpo e no espírito, a malícia sedutora de Odile, que tão desesperadamente busca experimentar, não pela técnica, mas pelo espírito.
Faz-me lembrar de uma reportagem que li sobre o genial bailarino russo Vaslav Nijinsky, que pouco antes dos 30 anos foi diagnosticado como esquizofrênico e passou o resto da vida em clínicas: "Sou espírito num corpo cujo nome é Nijinsky".
A doce Nina experimentou em si o cisne branco e o cisne negro. Se, no balé clássico, é o cisne branco que prefere a morte à dor, no filme, dividida entre os dois, Nina mata ambos, porque é no papel de ambos que experimenta a dor.
Li sobre as naus dos loucos na idade média - http://www.rolim.com.br/ensaio2.htm - e vi a pintura "Nau dos Insensatos", de Bosch, acima - http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Jheronimus_Bosch_011.jpg - onde, no alto da ávore, parece estar a figura da ave da rapina que controla o lago dos cisnes. A ave, na peça, sabia: os príncipes amam Odettes ou desejam Odiles, com quem dançam, talvez, mas só talvez, enganados. Mas princípes não amam cisnes que carregam, em si, Odette e Odile. Esses cisnes não são frágeis como Odette, nem feiticeiras como Odile. São ambas. Nina, a Odette/Odile, nunca encontrou um príncipe na sua vida, totalmente entregue ao balé, e não se permitia nem o prazer físico. Foi ao fundir os cisnes, num delírio triste, que encontrou a perfeição que procurava. E a morte.
Mas e se Odette e Odile forem mesmo um único cisne, que toma formas diferentes enquanto desliza nas águas, então não há o que as divida: são o Algo Único, multifacetado, do que é o Humano. O que as faz divididas é a ave de rapina, que controla e dispõe sobre a vida no lago. Mas quem é a ave de rapina?

terça-feira, 21 de junho de 2011

150 pessoas prestigiam mais uma formatura de informática básica e avançada da APAFEC

Aconteceu no sábado 18/06, no pavilhão da igreja católica do bairro São Miguel, mais uma formatura do curso de informática básica e avançada da APAFEC. Estes cursos são oferecidos através do Projeto de Inclusão Digital Florestan Fernandes. Nesta formatura mais 48 crianças, adolescentes, jovens e adultos se formaram.

Além da entrega dos certificados de conclusão dos cursos, a formatura foi um momento cultural. Os mais de 150 presentes puderam assistir duas ótimas apresentações culturais/esportivas. Uma realizada pela Associação Vital Fraiburgo de Karatê-dô, que apresentou os fundamentos e katas da mais nobre das artes marciais e outra apresentada pela dupla fraiburguense Robson e Edimar, que formam o Dual Rock. Eles apresentaram muito rock nacional acústico.

“Sem dúvida alguma as duas apresentações abrilhantaram ainda mais essa formatura, nós, da APAFEC, nos sentimos satisfeitos com a presença da Associação Vital e do Dual Rock”, comentou Fabiane Guedes da coordenação da APAFEC.

Há tempos conhecemos o trabalho da APAFEC, e nos sentimos privilegiados pelo convite, estávamos ansiosos para tocar em uma atividade dessa entidade, essa formatura, sem dúvida, não vamos esquecer, esperamos ter a oportunidade de outras vezes participar junto aos trabalhos realizados por essa instituição. Aqui na nossa região temos muito pouco espaço para a divulgação do nosso trabalho, as autoridades inventam alguns festivais forjados, onde os beneficiados são sempre os mesmos, e quem realmente está batalhando não recebe devido apoio. Ficamos contentes quando recebemos uma oportunidade dessas, precisamos apenas mostrar o que sabemos fazer, assim como muitas pessoas no nosso município, região, estado e país. As coisas não são fáceis para ninguém e tal evento fortificou o nosso ânimo para seguir em frente. Sobre o trabalho realizado na Sala de Inclusão digital da APAFEC, gostaríamos de cumprimentar os idealizadores, pois centenas de estudantes já se formaram ali, isso é um quesito a mais no currículo de qualquer pessoa, e bem sabemos que a informática está cada dia mais presente no nosso dia a dia, é um trabalho de extrema importância para Fraiburgo e região sem dúvida alguma, dizem Robson e Edimar do Dual Rock.

Fonte: APAFEC

Contatos:

apafec@apafec.org.br

Visite

www.apafec.org.br

Estas são as palavras que nunca falei

Música para o inverno.

http://www.youtube.com/watch?v=1vP-bONWw38

Feliz solstício de inverno

Elaine Tavares

Hoje começa nova estação. Tempo de recolher, de limpar quintais, de podar árvores, de chá com mel, de sopa quente, chocolate. Hoje é dia sagrado, momento de celebrar. Desde os tempos imemoriais que os homens marcam o tempo na virada das estações. Tempo de plantar, de colher, de aquietar.
O inverno é tempo gris, de vento sul, de mar grosso, de virada para dentro. É estação do recolhimento, de repensar a vida, as escolhas, os caminhos.
Hoje, 21, na espinha dorsal da nossa América baixa começam as comemorações do Inti Raymi, festa mágica do povo andino. Na nossa terra Guarani é hora de aparecer no céu a grande Ema, o ñhandu, bicho mítico que enche a terra e o céu, apontando um tempo de claridade.
É chegada a hora de retomar nossas memórias antigas, de oferecer um pago a terra, de render graças por estar vivo na entrada da nova estação. Porque, enfim, viver é um presente...
Feliz Solstício... Celebraremos com uma boa sopa de raízes, para lembrar da Pachamama, da Terra mãe, que dá vida e prato cheio.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Professores estaduais seguem em greve

Elaine Tavares

Poucas coisas nos emocionam no dia-a-dia, tudo é tão corrido e há uma vida para vencer a cada 24h. Mas, às vezes, uma criança sorrindo, um pôr-do-sol, um velhinho arrastando os chinelos me trazem lágrimas aos olhos. Ontem me emocionei com os professores em greve. Fui à assembléia que decidiria se a greve seguia ou não, depois da ameaça de corte de ponto do governador Raimundo Colombo. Ali estavam, centenas destes seres que resistem na educação. Que conseguem tirar leite de pedra, que têm amor pela profissão e que enfrentam a loucura de uma vida com salários indignos.

Falei com dezenas de professores substitutos, os famosos ACTs, que precisam se virar nos trinta, nos quarenta, nos cinqüenta. Que correm de um lado para outro, dando aula em dois colégios, geralmente um em cada extremo da cidade, precisando comer dentro do ônibus que, por sua vez, demorar horas para fazer os trajetos que seriam feitos em minutos. Uma vida dura demais.

E o governador de Santa Catarina obriga os professores a irem para a greve para que se cumpra a lei. Que porcaria de estado de direito é esse que a burguesia tanto preza? Por que a justiça não obriga o governador a cumprir a lei e pagar o piso? Pois o espertinho quer incorporar velhos ganhos no piso, fazendo com que os professores sigam sem aumento real no salário. Já é bem ruim ganhar apenas 1.800 reais para viver a cotidianidade de um sistema educacional que não liberta, que oprime e forma pessoas conformadas.

Os professores querem ganhar bem para ter um emprego só, para preparar melhor suas aulas, para comprar livros, ir no cinema, no teatro, vivenciar realidades que possam ser incorporadas à educação. Os professores querem o direito de viver com dignidade para poder pensar e criar.

Mas, da forma como a educação é conduzida nesse estado e nesse país, professor só serve mesmo para reproduzir o estado das coisas. Mal remunerado precisa cuidar da sobrevivência, não tendo condições de promover práticas libertadoras.

Ontem, em Florianópolis, os professores decidiram dizer não à proposta de Colombo. Querem vida digna ou nada. As pessoas deveriam assistir a uma assembléia de professores, conhecer suas realidades, olhar nos olhos. Saberiam que não é fácil, mas que tem muita gente boa querendo um mundo melhor! Para todos e não só para alguns...

O bloqueio midiático a Cuba é qualificado

Por Elaine Tavares – jornalista

Conferência proferida na VI Convenção de Solidariedade a Cuba, em Porto Alegre, partilhando mesa com os jornalistas Marcos Weissheimer (Carta Capital) e Norelys Morales Aguilera (Cuba).

A gente já ouviu na fala do Marcos Weissheimer de que é feita nossa mídia. Então, não há nada de errado com o fato de todos fazerem o bloqueio qualificado com relação a Cuba. Digo qualificado porque na verdade, só há bloqueio para um determinado tipo de notícias. Nós podemos ver, por exemplo, a exaustão, um desses barcos cheios de gente fugindo de Cuba em direção a Miami nas redes nacionais. E matérias emocionadas de repórteres baseados em Miami. E comentários dos âncoras dos jornais nacionais. Estas notícias não são bloqueadas. Pelo contrário. São disseminadas. É mesma velha lógica já muito bem elaborada por Noam Chomsky no seu livro “Os guardiões da liberdade”. Nesse livro ele explica como os meios de comunicação nos Estados Unidos lidam com as notícias ruins das nações amigas e com as notícias ruins das nações inimigas. Os jornais e TVs falam de tudo que acontece. A questão é: como falam? Chomsky mostra que as notícias ruins nos países inimigos são trabalhadas de forma exagerada, desvirtuada, exaustivamente. Já quando é numa nação amiga, as notícias ruins também são dadas, não há censura, mas não passam de notas ou matérias evasivas. E como no Brasil seguimos o mesmo padrão estadunidense, é tudo muito igual.

Então isso é bem importante a gente frisar. Não há um bloqueio midiático a Cuba. Há um bloqueio das notícias boas, do que há de bom em Cuba. Dito isso, precisamos de novo partir desde a realidade para compreendermos porque isso acontece. Porque se bloqueia as coisas boas que acontecem em Cuba.

Essa é uma pergunta de fácil resposta. Cuba é hoje, talvez, o único país socialista do mundo inteiro. E isso não aconteceu assim, do nada. O que houve e o que há em Cuba é uma revolução. Isso também é muito importante lembrar. De novo, e sempre. É o único país desta parte do continente, que desde as guerras de independência iniciadas em 1810, fez uma revolução, venceu e permaneceu em processo revolucionário, destruiu toda a engrenagem de capitalismo dependente que havia na ilha e caminhou para o socialismo. Isso não é bolinho.

Então o problema não é Cuba, não é Fidel, Raul ou Che. É o socialismo. Essa coisa contaminante, avassaladora que se anunciada pode provocar muitos estragos, aqui e em qualquer parte. Quando o povo cubano lá pela metade dos anos 50 do século passado começou a se mobilizar contra a ditadura de Batista, o império ficou olhando meio desconfiado. Poderia ser uma boa mudança, desde que o poder seguisse nas mãos dos mesmos. Então, as vozes que vinham da cadeia depois do assalto ao quartel Moncada, anunciando uma revolução democrática, não pareciam tão assustadoras. E isso é verdade, o começo da luta juntou proletários, camponeses, estudantes e burguesia. Todos queriam o fim da ditadura. A luta em Cuba se fez em todas as frentes. Na cidade, no campo, na universidade, na fábrica, nos pequenos comércios, nas pequenas fazendas. Havia concretamente uma aliança de classe e para o império, conquanto a burguesia dirigisse o processo estava muito bem. Por que o império sabe que se pode mudar a cara de um governo, torná-lo mais democrático, com respeito aos direitos humanos e coisa e tal, sem mudar em nada as estruturas do sistema. É a velha lição do dar os anéis para não perder os dedos.

Só que depois, a chegada do Granma, os barbudos nas montanhas, a Rádio rebelde, as greves, as mobilizações nas cidades, a organização crescente dos revolucionários de todas as cores, a grande greve de outubro de 58, foi mostrando que ali havia um povo inteiro em revolução – e não apenas um pequeno grupo incrustado na Sierra Maestra - e isso perturbou o império. Ainda assim, quando as tropas rebeldes entraram em Havana em janeiro de 1959, ninguém tinha muita certeza sobre o que aconteceria. O gabinete de governo provisório – que incluía os burgueses - falava em manter os negócios com os estados Unidos. A festa era pelo fim da ditadura.

Foi o povo alçado em rebelião, armado, que afastou os burgueses do comando, as forças populares avançaram por dentro da revolução, queriam mudanças radicais. Não aceitariam menos que um câmbio total. Assim, a esquerda foi se tornando hegemônica no processo. Havia o compromisso de solucionar os problemas econômicos que eram estruturais, os problemas sociais, mas sempre com a participação direta do povo. Assim, o caráter democrático/burguês da revolução cubana vai até a metade do ano de 1960, conforme estudos de Vania Bambirra, expressos no seu livro A revolução cubana – uma reinterpretação. A partir daí vem o novo, e Cuba deixa de ser uma incógnita. Era um país que caminhava para o socialismo. “O que Cuba será agora depende só de nós” dizia Fidel. E os cubanos, de forma participativa decidiram que não havia mais espaço para o capitalismo dependente. Criaram o novo. Compreender essa história é crucial para entender o bloqueio qualificado da mídia burguesa.

E por quê? Bueno. A América Latina é um continente oral. E isso não é dito como coisa boa. A colonização nos deixou essa herança. O analfabetismo é gigantesco. As pessoas se informam pelo ouvido. Não é a toa que mais de 80 dos brasileiros se informem pela televisão. Há os que não sabem ler, os que não aprenderam que ler é bom e os que não têm tempo para ler por conta do processo de superexploração do trabalho. O homem e a mulher comuns chegam a casa e ligam a televisão. Ali vão saber das notícias.

Agora imaginem esse homem e essa mulher, superexplorados pelo sistema capitalista dependente que domina o nosso país – assim como a maioria dos países latino-americanos - sabendo da verdade sobre Cuba? Imaginem eles saberem que um povo se armou, se organizou no campo e na cidade, lutou e venceu. E que esse povo mudou totalmente a estrutura organizativa do estado. Que socializou a economia, que mudou as relações de produção, que destruiu toda a estrutura política e jurídica do velho estado, que inventou novas formas de poder, de organização social e de cultura.

Imagine eles saberem que esse povo comanda a nação, que eliminou materialmente a estrutura do capitalismo dependente que fazia de Cuba um prostíbulo e uma imensa fazenda estadunidense. Que nacionalizou todos os bancos, que desapropriou todas as terras das companhias estrangeiras, que assumiu o controle do comércio, que existem comitês populares de defesa da revolução, que a saúde , a educação e a moradia são garantidas. Imaginem?

E se a rede Globo contasse sobre como funciona a democracia cubana, que é participativa, que envolve cada família desde a rua onde mora, que as gentes conhecem seus problemas e propõem soluções e que são ouvidas, de verdade. Que inveja doida isso não ia dar?

É por isso que o tal bloqueio qualificado não fala disso. Prefere falar dos que fogem para Miami, da “ditadura” de Fidel, da falta de democracia. A ideia que as pessoas têm de Cuba é a de que um único homem dita as regras. É incognoscível para a mentalidade burguesa dos jornalistas ignorantes ou vendidos que fazem as coberturas, compreender que as eleições cubana, por exemplo, não tem absolutamente nada a ver com as do mundo capitalista burguês. As criaturas querem comparar o incomparável. Como comparar a eleição no Brasil, na qual as gentes votam sob o domínio da ditadura financeira, com a cubana? Cadê a reportagem falando das intermináveis assembléias e da participação cubana em todas as decisões? Não tem! Porque não interessa.

Bom, quero agora entrar agora no que fazer para mudar isso. Porque de Cuba os que estamos aqui sabemos um pouco. O que importa é pensar alternativas para furar o tal do bloqueio qualificado. As propostas práticas. Olha, eu tenho algumas tristes notícias para dar.

A primeira é de que não existe possibilidade de solidariedade concreta a Cuba se não estivermos dispostos a mudar radicalmente a organização da vida nos nossos próprios países. Como bem diz o grande Ruy Mauro Marini, no prefácio do livro da Vânia Bambirra sobre Cuba, o imperialismo não é um fenômeno externo ao capitalismo latino-americano, mas é elemento constitutivo deste. E não se esgota na face visível de capital estrangeiro, transferência de mais valia, do monopólio etc... O imperialismo se manifesta na forma que o capitalismo dependente assume aqui, a partir da própria dependência – financeira, política, cultural e midiática – na superexploração do trabalho, na concentração do capital. Assim, fazer solidariedade a Cuba é fazer a luta contra isso, aqui no nosso país, porque eliminar essa dependência é eliminar o capitalismo. Não há anti-imperialismo possível fora da luta pela liquidação do capitalismo, fora da luta por outra forma de organizar a vida, que podemos chamar de socialismo, ou sumac kausay, ou sumac camaña , ou Yvy Rupa.
A segunda notícia triste é de que não há possibilidade nenhuma de furar o bloqueio midiático contra Cuba sem a eliminação do capitalismo. Pelas mesmas razões. A mídia burguesa, capitalista, imperialista, cortesã, não vai garantir espaços para nós. Para a Cuba socialista. Não vai. É ingenuidade essa luta redutora por democracia na comunicação dentro do sistema capitalista tal como ele se expressa no nosso país. Nós não podemos aceitar a migalha de mais democracia, mais justiça, mais liberdade, mais movimentos populares na TV, mais negros, mais homossexuais. Porque isso significa que alguém fica de fora. E o comandante, el Che, já dizia “ enquanto houver um companheiro injustiçado, a luta tem de seguir. É democracia , é justiça, é liberdade. É presença, é controle dos grandes meios. E ponto.

A terceira má noticia é de que nós nunca chegaremos lá se seguirmos como vamos. Movimentos sociais apáticos, vendidos, cooptados. Sindicatos silentes, dirigentes atuando apenas em horário comercial, lutas terceirizadas, fragmentadas. Incapacidade de atuação em bloco, de articulações nacionais. Olha aí o código florestal, a vergonha que foi, o massacre, a certeza de que o legislativo é uma farsa. Olha aí Belo monte, tudo passa sem que os movimentos se juntem num bloco único de força e luta. Estamos vivendo como amebas esperando as benesses de um governo que já mostrou a que veio e a quem serve desde a reforma da previdência em 2003. Amebas não mudam o mundo.

Mas, também há boas notícias. E eu quero dá-las. Existem muitas propostas de comunicação alternativa, popular, comunitária. Muitas mesmo. E todas dispostas à solidariedade, a furar o cerco midiático contra Cuba, a disseminar as idéias de socialismo e de vida boa. E agora, com o advento da internet, gente que nunca poderia falar está falando. Existem os blogs, as páginas dos movimentos e tudo mais. Agora eu pergunto. Quem nos lê? Quem navega por nossas páginas? A quem atingimos com nossas palavras? Qual é a eficácia do nosso discurso?

Não sei aqui, mas às vezes lá em santa Catarina, eu apareço na televisão. Essas coisas rituais de jornalismo televisivo. Menos de 15 segundo numa matéria bem idiota sobre o Campeche, por exemplo, ou sobre a greve na UFSC. No dia seguinte, aqueles 15 segundo nos quais eu apareci na RBS são de domínio de todo mundo. Meus vizinhos passam por mim e dizem: Te vi na TV, heim? Na universidade as pessoas me gritam: Te vi na Tv. Enfim, mesmo meus compas mais radicais da esquerda emburrada dizem: Te vi na TV. Eles vêem a RBS também... Ou seja, a gente faz uma luta de anos, mobilizamos uma comunidade inteira para um ato na câmara, e os 15 segundos na RBS são mais eficazes do que todo o trabalho feito antes... percebem o que quero dizer, onde quero chegar? Temos de tomar essas emissoras de televisão, de comunicação de massa. Como bem dizia o velho Brizola. Ele era um gênio político. Sabia que a primeira coisa era tomar a Globo. Porque o nosso povo engravida pelo que vê na TV. Comunicação de massa.

Ah, mas e enquanto isso? Enquanto não tomamos a Globo. Temos de criar redes. Temos de potencializar nossas falas. Elas têm de estar em todos os veículos alternativos, populares e comunitários ao mesmo tempo. E ainda assim seremos pouco eficazes. Mas temos de fazer esse esforço. Superar o sectarismo, fazer uma aliança mínima em torno das grandes questões. Em Santa Catarina criamos a Rede Popular de Comunicação Catarinense, juntamos forças.

A solidariedade a Cuba passa por aí. Temos de formar redes, estabelecer nexos, atuar em uníssono. Mas, para além disso, temos de mudar o país. Temos de destruir o capitalismo e varrer a burguesia, a classe dominante. Essa é nossa principal forma de ser solidário com Cuba, de furar o bloqueio.

Marini alertava que o socialismo não é simplesmente uma forma econômica, ele é , uma economia, uma política, uma cultura que exprime os interesses de uma classe: o proletariado, ou os oprimidos, e se opõe aos interesses da classe dominante. E se o socialismo é a revolução que opõe o proletariado contra a burguesia não há lugar para ela no bloco histórico das forças que construirão o socialismo. Daí ser impossível a conciliação de classe ou a união com a burguesia. Por isso é impossível esperar democracia de informação da Globo, do Estadão, da RBS. É impossível isso, companheiros.

Diz Marini: “A luta pelo socialismo é uma luta política para quebrar a resistência da classe dominante e destruir as suas bases materiais de existência, como fez Cuba”. E isso se faz na força, na luta mesma, não é com nhem nhem, nhem. Ou fazemos isso ou não há esperanças nem pra nós, nem para Cuba. Então, o nosso compromisso como jornalistas e comunicadores é ser eficaz. Fora disso é dilentantismo, é demagogia, é musculação de consciência. Nosso papel é, para além de anunciar desgraças, como fazemos toda a hora, é também anunciar a boa nova. Dizer como é bom o socialismo ou o sumac kausay... engravidar as pessoas com a promessa do socialismo.. coisa que o capitalismo faz tão bem, como mostra Ludovico Silva ao explicar como funciona a mais-valia ideológica.

Então compas... Não há receitas... Há algumas intuições, outras certezas, algum juízo moral. E aí, ou embarcamos nessa luta com todas as nossas forças, ou vamos sempre andar por aí a choramingar que a Globo não nos dá espaço. O velho Marx já nos avisou, estamos em luta, luta de classe.

3 e 4 de junho de 2011 - Porto Alegre/RS

terça-feira, 14 de junho de 2011

Bem maior que o sol...

Lua cheia neste 15 de junho...

http://www.youtube.com/watch?v=MOOFP2y9W30

Ninguém me habita

Ninguém me habita

Ninguém me habita. A não ser
o milagre da matéria
que me faz capaz de amor,
e o mistério da memória
que urde o tempo em meus neurônios,
para que eu, vivendo agora,
possa me rever no outrora.
Ninguém me habita. Sozinho
resvalo pelos declives
onde me esperam, me chamam
(meu ser me diz se as atendo)
feiúras que me fascinam,
belezas que me endoidecem.

Thiago de Mello


http://www.youtube.com/watch?v=8mc2wfoPatE

Greve do magistério continua!

A assembleia estadual dos trabalhadores em Educação do Estado de Santa Catarina, realizada no dia 9 de junho, reuniu cerca de 15 mil profissionais da Educação na Passarela de Samba Nêgo Quirido, em Florianópolis.

A assembleia estadual referendou o encaminhamento das assembleias regionais, realizadas na vésperas, de manutenção da greve até que o Governo do Estado aplique a lei do Piso, respeitando a tabela salarial da categoria. Foi unânime a decisão pela continuidade da paralisação -a unanimidade pelo manutenção do movimento também foi verificado nas regionais.

A categoria tem o apoio de toda a comunidade escolar – alunos e pais– e pela população catarinense como um todo.

A lei garante avanços salariais à categoria, com a manutenção do Plano de Cargos e Salários. O Governo Colombo, no entanto, faz uma interpretação equivocada da lei, alegando falta de recursos.

Como já informamos, a lei é de 2008! Por que o Governo de Santa Catarina já não se organizou para garantir recursos para a implantação do Piso? A posição do Governo deixa claro a falta de compromisso dos governantes catarinenses com a educação pública, gratuita e de qualidade. Há total descaso com a valorização salarial do trabalhador em Educação, descaso com a escola pública -sucateada, precarizada e sem infra-estrutura adequada que garanta a segurança e o bom desempenho escolar dos alunos matriculados na rede estadual.

Nós, do magistério, defendemos uma pauta que garanta a valorização do profissional e a escola pública de qualidade.

O SINTE/SC reforça a necessidade da categoria continuar participando massivamente das assembleias regionais e dos comandos de mobilização em todo o estado.

AUDIÊNCIA– A audiência de sexta-feira 10 com o secretário-adjunto da SED, Eduardo Deschamps não teve avanço. Sem apresentar resposta por escrito à proposta oferecida pelo SINTE/SC para que o Governo aplique o Piso sem retirar direitos da categoria, a SED repetiu a falta de fôlego financeiro do Estado para pagar um salário digno aos trabalhadores em Educação.

O SINTE/SC, desde o início, vem apontando fontes que poderiam ser utilizadas pelo Governo para garantir a aplicação da Lei do Piso, sem retirar gratificações históricas conquistadas pelo magistério. No entanto, o encaminhamento apontado pelo SINTE/SC esbarra, como sempre, na falta de vontade política do Governo catarinense.

O SINTE/SC reivindica que o Governo reveja a distribuição dos recursos do FUNDEB; conforme registrado na sessão do Tribunal de Contas que analisou as contas do Governo, houve pontos que revelaram o emprego do dinheiro que deveria ir para a Educação está tendo outros fins. O presidente da ALESC, Gelson Merísio/PSD, já havia feito o alerta. ALESC, Tribunal de Contas, Tribunal de Justiça e Ministério Público que estariam se beneficiando dos recursos do FUNDEB.

Durante a audiência, a SED anunciou o fechamento das negociações com o Comando e decretou que prevaleceria a Medida Provisória 188/2011, que tramita na ALESC.

No entanto, o SINTE/SC conseguiu garantir uma nova audiência a fim de tentar, mais uma vez, conscientizar o Governo de que lei é lei e que o magistério quer a carreira no Piso. Não é admissível, tirar do que ganha um professor para pagar ele mesmo. Ou seja, não vamos aceitar trocar 6 por meia dúzia.

O calendário de atividades para o movimento de paralisação prevê o envolvimento de todos os trabalhadores em Educação na campanha Doação de Sangue em Solidariedade à Saúde marcada para esta 3ª feira, 14. Onde houver centros de captação de sangue fazer a doação; em locais que não contam com estes centros, o magistério deve fazer panfletagem informando sobre a campanha e sobre os motivos da greve.

Na terça-feira, também, o comando estadual de greve vai até à ALESC entregar carta aos deputados estaduais reivindicando apoio à greve do magistério.

Na quarta-feira, é a vez das assembleia regionais para mobilizar a categoria e intensificar ainda mais a nossa luta.

Grande número de trabalhadores está paralisado e mais de 92% das escolas da rede paradas.

É carreira no Piso!

A greve continua!


Fonte: Sinte/SC


segunda-feira, 13 de junho de 2011

Asas do desejo


Míriam Santini de Abreu

Nesta madrugada de terça vou dormir como o anjo que, lançado ao espaço, tornou-se homem. Porque quis. Pelas asas do desejo.

http://www.youtube.com/watch?v=dLAV6Zk1fPk

Luta pela reabertura do HF 100% Público continua

No dia 8 de junho/2011 foi realizada no Plenário da Assembléia Legislativa de Santa Catarina uma audiência pública da Comissão de Saúde sobre a situação do Hospital Florianópolis. A audiência foi solicitada pelo Deputado Estadual Sargento Soares.

Na audiência, foi lembrada a importância do atendimento do Hospital para a população da região e a precariedade com que está funcionando o Hospital Florianópolis desde o início da reforma. Todos os participantes do movimento em defesa do Hospital Florianópolis e os parlamentares presentes na audiência defenderam a reabertura do HF 100% SUS.

O Direito do SindSaúde Pedro Paulo das Chagas disse que a comunidade e os sindicatos exigem a reabertura do HF imediata e 100% Público. “A reforma se fez necessária, mas queremos o empenho e a palavra do governo de que o Hospital será reaberto com urgência e que continuara atendendo 100% SUS”, disse o sindicalista.

A Diretora do Sindprevs/SC Vera Lúcia da Silva Santos falou que o Governo do Estado nunca olhou com bons olhos para o HF, deixando o Hospital ficar totalmente sucateado e que agora querem reformá-lo para entregá-lo a uma Organização Social e na prática privatizar o Hospital. “Todas as negociações que o SindSaúde e o Sindprevs/SC participaram na Secretaria Estadual da Saúde não resultaram em ações concretas do governo para salvar o Hospital. Agora, o Hospital está praticamente fechado e deve reabrir nas mãos de uma Organização Social. Só a luta da população pode mudar esta realidade”, defendeu Vera.

A diretora do Sindsaúde, Simone Hagmann, apresentou decisão judicial emitida pelo Ministério Público do Trabalho, assinada pela procuradora Dulce Maris Galle, e encaminhada ao Conselho Estadual de Saúde de Santa Catarina. Segundo o documento e como resultado da Ação Civil Pública n 5772-2005-035-12-00-2, a SES foi condenada a pena de multa de até R$5 mil por dia caso descumpra as seguintes obrigações: rescindir os contratos de todos os servidores admitidos sem concurso público após 05 de outubro de 1998; abster-se de nomear servidores para cargos em comissão, se as funções por eles exercidas não forem de direção, chefia ou assessoramento superior; abster-se de contratar servidores na modalidade temporária pelo Regime CLT; rescindir os contatos temporários no prazo de cinco mesmos da intimidação da decisão; abster-se de terceirizar atividade-fim e não permitir a utilização de trabalhadores regularmente terceirizados. (ler documento na íntegra no link Biblioteca). “O processo já transitou julgado, ou seja, não cabe mais recurso. Com esta decisão cai por terra a entrega do HF para a OS. Temos que levar essa informação para todos”, afirmou Simone.

Depois de todas as considerações dos movimentos sociais, parlamentares da Alesc e de vereadores da Câmara Municipal presentes foi encaminhada mais uma vista ao HF para registrar os problemas que estão acontecendo durante a reforma. Uma reunião com o Secretário da Saúde que foi convidado para a uma audiência e não apareceu deverá ser agendada para apresentar o dossiê da reforma.

Coordenam a campanha pela reabertura do HF 100% Público: Associação Gente da Gente, Associação Moradores da Coloninha, Associação Amigos do Estreito, Associação dos Moradores da Ponta do Leal, SINERGIA, SINDSAÚDE/SC, SINDPREVS/SC, APRASC, Unidos da Coloninha, Associação dos Moradores do Estreito, AAHFLOR, Sindicato dos Trabalhadores Gráficos de Fpolis, SINTRATURB, SINDPD, SINDASPI/SC, CSP-CONLUTAS, SINTRASEM.

Fonte: Sindprevs/SC e SindSaúde

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Círculo da Palavra discute, dia 14, Liberdade de Expressão e Jornalismo

O Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina (SJSC) irá promover mais uma edição do Círculo da Palavra, no dia 14 de junho, terça-feira, das 19h30 às 21 horas, no mini-auditório da FECESC (Av. Mauro Ramos, 1624, na frente do banco redondo), com o tema “Liberdade de Expressão e Jornalismo: a diferença que o STF não compreendeu”. Os debatedores serão o jornalista e historiador Celso Martins e o jornalista e procurador do Estado João dos Passos Martins Neto.

Celso Martins da Silveira Júnior é jornalista e historiador, nascido em 23/11/1955 em Laguna-SC. Reside em Florianópolis desde a infância. Ingressou no jornalismo em 1976, exercendo as funções de repórter, editor e chefe reportagem em diversos veículos até 2007. É bacharel e licenciado em História (Udesc, 2003-2007). Editor do Portal de Notícias Daqui na Rede (diário) e do Daqui Jornal (mensal) no distrito de Santo Antônio de Lisboa (Florianópoilis-SC). Autor de nove livros de reportagens sobre Anita Garibaldi, o PCB em Santa Catarina, Farol de Santa Marta, Santo Amaro da Imperatriz/Caldas e o Combate do Irani (Guerra do Contestado).

João dos Passos Martins Neto é professor dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina. Mestre e Doutor em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina, com Pós-Doutorado pela Universidade de Columbia, Nova York, Estados Unidos. Autor dos livros Introdução à filosofia política de Thomas Hobbes (OAB Editora), Direitos fundamentais: conceito, função e tipos (Editora Revista dos Tribunais) e Fundamentos da liberdade de expressão (Editora Insular). Procurador do Estado. Corregedor-Geral da Procuradoria Geral do Estado de Santa Catarina. Presidente da Fundação José Arthur Boiteux.

Leia sobre o tema em:

http://www.iela.ufsc.br/?page=noticia&id=1154

quinta-feira, 9 de junho de 2011

MST e MAB mobilizam mil pessoas em duas ocupações no planalto catarinense

O frio não assustou os lutadores do povo e na manhã desta segunda-feira, 6 de junho de 2011, o Movimento Sem Terra e o Movimento dos Atingidos por Barragens ocuparam simultaneamente o canteiro de obras da Usina Hidrelétrica Garibaldi, no município de Abdon Batista, e um latifúndio improdutivo em Cerro Negro, cidade vizinha. 700 pessoas dos dois movimentos estão trancando as obras da barragem e outras 300 pessoas fazem a luta pela terra no município vizinho.

Os funcionários da empresa apoiam a mobilização e afirmam que as condições em que trabalham são precárias e que a empresa tem tradição em quebra de contrato e desrespeito às leis trabalhistas. As famílias vizinhas da obra, que ainda não estão organizadas como atingidas, também demonstraram solidariedade para como os manifestantes, servindo-lhes de água e de seus pomares. Os atingidos reafirmaram as injustiças que estão sendo cometidas pela empresa construtora Triunfo.

As lutas devem pressionar a empresa concessionária das obras e Governos de todas as esferas para que as vidas sejam levadas em consideração ao construir o desenvolvimento do país. Até agora a empresa não se manifestou e o Governo Federal já respondeu a pauta da Reforma Agrária, mas ainda não colocou em prática.

As ocupações seguirão até que sejam resolvidos os conflitos e os trabalhadores tenham suas reivindicações atendidas. Águas para vida e não para a morte! Reforma Agrária por Justiça Social e soberania popular!


Por Rui Fernando Neto e Pepe Pereira dos Santos

terça-feira, 7 de junho de 2011

A cavalo na Serra





Na foto a três, minha mãe e meu irmão César, que "não me viu cair do cavalo"!

Míriam Santini de Abreu


Fui a São Francisco de Paula, na Serra Gaúcha, com a decisão tomada: iria cavalgar. Eu, meu irmão César, minha cunhada Valéria, minha mãe e a Alda, amiga dela, ficamos em uma pousada próxima a um perau, como o povo da terra chama os precipícios. Lindo de ver. Frio de deixar cusco no canto da casa. Mas eu só pensava nos cavalos. Descobri que, por causa da Festa do Pinhão (lá também há uma), os passeios estavam ocorrendo em volta da área da festa. Mas eu queria campo aberto. Tanto fiz que consegui marcar com os donos de uma fazenda para um passeio entre 10 e 11 da manhã de domingo, mas o lugar era distante demais de onde estávamos. Desmarquei.
Pois eis que, no final da manhã, estamos todos no centro da cidade e a Alda me cutuca:
- Olha lá...
Era um guri sobre um cavalo, segurando outro ao lado, na frente de uma casa.
Eu nem pisquei:
- Vou lá.
E me irmão:
- Não acredito...
Encostei no guri e pedi:
- Posso montar e andar uma quadra?
Ele ficou me olhando e não disse nada.
- Uma quadra. Eu quero muito.
- Mas é que estou esperando meu primo, a gente vai pra fazenda...
- Só até o final da rua!
O guri concordou. Deve ter chegado à conclusão de que era melhor não contrariar.
Montei e me fui até o final da quadra, mais feliz que cusco em dia de mudança.
O meu irmão filmou a volta, louco de vontade de me ver desmontar bem desajeitada e rir às minhas custas.
Pois apeei com uma elegância de amazona, alisei o belo cavalo crioulo, batizado de Forasteiro, dei um beijo na cara do piá e saí dali nas nuvens.

P.S.: o casaco de pêlo - não sei se artificial ou não - NÃO É MEU! Tomei emprestado, porque há anos não tenho casaco que dê conta do frio na minha terra nesta época.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Vieste

Míriam Santini de Abreu

Ora sou pista, ora cavalo, ora jóquei. Mar, embarcação, timoneiro. Difícil transitar de um caminho para outro, medir o melhor transporte, a face do comando. Luz demais às vezes cega; basta uma vela, porque diante de mim está o sol. Tormentas assustam, prazer quase zombeteiro atravessá-las. Mas, com Secretariat em mim, às vezes, mesmo com medo, grito ao jóquei: - Deixa o cavalo correr!

http://www.youtube.com/watch?v=8mc2wfoPatE

As vozes clamam, mas o dinheiro não tem ouvidos!

Por Elaine Tavares – jornalista

Os fatos registrados na última semana no Pará mostram claramente, com som e imagem, quem manda neste país. A oligarquia agrária, os grandes fazendeiros, as empresas estrangeiras que se apropriam a cada dia das terras brasileiras. Conforme relatórios da Comissão Pastoral da Terra, hoje, menos de 50 mil proprietários rurais possuem áreas superiores a mil hectares. E são estes os responsáveis pela produção do alimento e pela geração de emprego no campo. São as propriedades com menos de 100 hectares as que produzem 47% da comida que nos mantém vivos e empregam cerca de 40% da mão de obra.

Por outro lado, apenas 1% dos proprietários rurais detém em torno de 46% de todas as terras. Não bastasse essa ínfima minoria tomar conta de quase tudo, dos aproximadamente 400 milhões de hectares que aparecem como propriedade privada, apenas 60 milhões de hectares são usados para plantar comida. O restante das terras está ocioso ou subutilizado. O Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra), aponta um dado significativo: existem 100 milhões de hectares de terras ociosas e cerca de 4,8 milhões de famílias sem-terra no Brasil. As grandes propriedades, com mais de 10 mil hectares aparecem nos relatórios como as que participam apenas 4% da produção de alimento e 4,2% de absorção de mão-de-obra.

A pergunta que fica batendo então é: como pode um pequeno grupo que sequer planta comida ou emprega gente ter tanto apoio governamental? Ora, a resposta é simples, eles têm grana e mantém as casas legislativas sob seu comando. No blog “Os donos da terra” (http://donosdaterra.blogspot.com/), dirigido pelo jornalista Alceu Castilhos, pode-se encontrar muitos desses exemplos. Seja na Câmara de Deputados, seja nos legislativos estaduais, a bancada ruralista é puro poder. Quem duvida veja a votação do código florestal. 420 x 68. Goleada! Isso prova por A + B que o processo eleitoral no Brasil não tem qualquer relação com a democracia. O que vale é a força do dinheiro. E ponto final.

Outra coisa importante que a votação do código mostrou é o quanto as vozes das gentes, o tal do povo que os deputados falam tanto quando pedem voto, não são levadas em consideração para nada. Durante anos, as propostas do novo código florestal foram rebatidas, pessoas se mobilizaram, gritaram, fizeram protestos, especialistas ditaram os males que viriam, pitonisas previam desgraças e nada foi capaz de barrar a vitória dos grandes latifundiários.

Belo Monte é o quê?

Agora, no Brasil, uma nova queda de braço se faz entre a maioria e a minoria endinheirada. O mesmo velho e odioso massacre do capital contra a maioria das gentes. É a construção da Usina de Belo Monte. Quantos relatórios já foram formulados? Quantas análises? Quantos gritos de clamor e desespero já ecoaram na beira dos rios, nas florestas? Mas, o dinheiro é surdo. Não há como ouvir. O lucro de uns poucos (o 1%) vale mais do que a vida de milhares de pessoas que vivem do rio e da floresta. A usina segue em frente, devastando a floresta, alagando as terras, desalojando as famílias. Que farão? Para onde irão? Ninguém se importa. É o preço do progresso. Alguém tem de fazer algum sacrifício. Mas, esse “alguém”, é claro, nunca são os ricos.

Num tempo em que as tecnologias alternativas de energia já são realidades concretas, o Brasil insiste na mesma matriz das usinas gigantes. Elas geram muita energia, é certo. Mas a que custo? O lago de Belo Monte inundará mais de 500 quilômetros quadrados de terra. Destruirá rios, peixes, gentes e territórios sagrados. O lago mudará para sempre o curso do rio Xingu, que na língua kamaiurá quer dizer água limpa. Esse imenso rio, de mais de dois mil quilômetros, que nasce no Mato Grosso e vai até o Pará é sinônimo de vida para milhões de pessoas que vivem nas suas margens. Pois ao custo de 25 bilhões de reais, que engordarão as empreiteiras, o governo pretende construir uma obra que equivale a oito maracanãs. O impacto que a usina vai causar na floresta é a destruição de nove milhões de hectares, equivalente a duas vezes a cidade do Rio de Janeiro. Um gigante de concreto em meio à floresta. Um totem mítico de destruição. As autoridades falam em desenvolvimento. Mas não dizem para quem.

A fala dos indígenas é desprovida de som

Dentre os mais prejudicados com a obra de Belo Monte estão os povos indígenas. Para eles, a destruição das terras e do Xingu é muito mais do que o fim material do espaço de subsistência. O território é também espaço sagrado, é dos rios e matas que nascem os deuses, as coisas benditas. Com a obra, as máquinas não apenas destroem a natureza, elas invadem o mundo interior. Seria - para dar um exemplo que os católicos entendem - algo assim como uma retro escavadeira derrubar a catedral de Aparecida para ali erguer um shopping. Os arautos do progresso fazem vistas grossas a isso. Que importa meia dúzia de índios diante da grandiosidade da obra? Alguém tem de pagar o preço do desenvolvimento. E que sejam os pobres, como sempre. Ainda que seja preciso burlar a própria lei.

Diz a Constituição brasileira, no artigo 231: “São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.” Ora. Então a palavra dos povos indígenas deveria ser ouvida, levada em consideração. Até porque a lei é bem clara, caso haja interesse público da União em fazer uso das terras originalmente ocupadas pelos indígenas, isso só deve acontecer depois de um diálogo com eles. E diálogo pressupõe que os argumentos do outro sejam levados em conta. Não é o que tem acontecido.

Uma pesquisa rápida nos textos e vídeos onde aparece a voz dos povos indígenas sobre a obra já deixa bem claro que eles são contra a construção da usina aos moldes que está sendo pensada, como uma mega obra.

Diz o Cacique Kotoke, vivente no alto Xingu: “Isso aqui acabou o Xingu, né? Esse problema que está sendo feito tá deixando a gente não trabalhar direito e não dormir direito, pensando nisso, no mundo que vamos viver no futuro, se não tiver peixe. Porque vocês estão fazendo isso sem consultar as lideranças? Antes de ser elaborado qualquer documento, tem de ser consultado todo mundo. Eu vou falar aqui diante de todo mundo, das lideranças mais velhas, que já vinham lutando por nossos direitos. Estamos aqui tentando solucionar problema novo. O branco cada dia mais está querendo colocar as dificuldades para nossa comunidade indígena. Só que ele é outra pessoa. Não fala nossa língua. Ele pode tentar explicar para nós, mas nós não vamos entender. Foi criado um estatuto. Não sei quem criou isso. E enquanto a gente está aqui na aldeia, sem saber de nada que está acontecendo lá fora, fizeram estatuto. A lei do índio. Isso pegou nós também. Eu acho muito errado se o presidente da Funai fez isso. Ele tinha que ter vindo aqui consultar nós, as 14 etnias. Foi assinado pelo presidente da Funai, pelo presidente Lula. Lula nem chegou aqui para conhecer nós, a gente nem chegou a pegar a mão dele. E vem querer se meter na vida da gente?
(http://www.youtube.com/watch?v=lW8E3WuKUqc&feature=fvst).

Até mesmo o programa Fantástico, da Globo, ao ouvir a voz indígena, ainda que de forma ritual, numa frase, se depara com a preocupação: “tem muitas crianças que quando chegar na idade adulta já vão encontrar o rio seco”.
(http://www.youtube.com/watch?v=E4TUY5AJvC4).

Ao passar cada um dos vídeos que estão disponíveis na internet, pode-se perceber a perplexidade de uma gente que a lei brasileira acostumou a tutelar. Eles falam da obra, estupefatos, como se fosse impossível que o governo não os ouvisse, embora seja centenária a falta de cuidado e a mentira praticada pelo estado nacional. Ainda assim, mesmo perplexos, eles se dispõe a lutar. “Estamos preparados para o que der e vier. A gente já fez vários movimentos para chamar atenção do governo e a gente não vai recuar. Vai partir pra cima também pra mostrar como é o dia a dia das comunidades das áreas indígenas”. Em Altamira diz uma mulher das comunidades ribeirinhas, “A barragem vem trazer muita destruição pra nós”. “Aqui tem o milho, o arroz, o feijão, tem o cacau, que é como uma vaca de leite. Todo dia você tira e todo dia tá vindo”. Diz o Cacique Onça: “E se o rio secar, o que vão fazer conosco. Sem água a caça vai embora, não vai ter peixe nem água pra beber.
(http://www.youtube.com/watch?v=aFrQ5CkxZkg).

No contraponto com a voz indígena aparece a do ministro Edson Lobão, afirmando categoricamente que a obra não vai prejudicar nem os índios nem o meio ambiente. “É de interesses nacional e preserva o meio ambiente”. Quanto cinismo. O ministro diz ainda que as reservas indígenas estão longe de Belo Monte, a mais perto ficando a 31 km. “Existem 2.500 índios para cerca de dois milhões e 500 mil hectares”. Insinua assim que é muita terra para pouco índio, mais uma vez desconhecendo o modo de vida e fazendo pouco da forma de organização das comunidades. Belo Monte produzirá 11 mil mega watts, diz o ministro. E isso basta para que milhares de pessoas percam seu mundo. (http://www.youtube.com/watch?v=OkJfV4GqOA4)

Enquanto isso clamam as vozes como a de Sheila Juruna. “Estamos sendo desrespeitados no direito de sermos ouvidos. Nós queremos que todo o povo indígena seja ouvido para colocar nossa opinião contrária, dizer por que não tem viabilidade econômica, e não viabilidade social nenhuma.

No vídeo “Povo do Xingu contra a construção de Belo Monte”, as vozes se sucedem. “É minha terra, não é de Lula”, grita uma mulher magrinha, pintada para a guerra. “O que nós queremos? Que a mata, as florestas, a terras, os animais continuem vivos para servir nossa alimentação”, diz Amiloty Kayapó. “Nós temos filhos, netos, crianças e adultos e vivemos na floresta, nossa terra. Precisamos da floresta. Por isso eu, como mulher, estou lutando junto com os homens para impedir a construção da barragem de belo monte. Aqui no parque tem 15 povos. Diminui o volume da água, e a reporodução dos peixes”, diz Iredjo Kayapó

O Cacique Megaron Kayapó resume a dificuldade que enfrentam: “esse nosso movimento é para mostrar para as pessoas que as vezes não entendem muito nosso costume, como nós vive, de que nós vive. E nós, indio, depende do rio, depende da floresta, depende da terra para poder sobreviver. Na terra nós planta, na floresta nós caça e no rio tem os peixe que nós pesca pra alimentar nossa familia”. Também assim se manifesta o cacique Raoni: “Eu não quero a construção da barragem. Por que? Porque eu quero que o rio continue com vida, igual a nós. Eu quero que peixes, animais e outros seres vivos continuem vivendo em paz”.

Fala o Cacique Sadea Juruna, “se Belo Monte for construido muitas coisas vão ficar diferentes. O peixe vai desaparecer. O alagamento vai fazer o peixe se espalhar e vai ser difícil. Vai matar tudo o que a gente tem”. Diz Watatakalu Yawalapiti, “o índio não aguenta comer arroz e feijão, refrigerante, todo dia. Ele vive do beiju e do peixe. Minha comunidade vive do peixe. Morreu o Xingu a gente também morre junto. O rio é nossa vida, é tudo pra nós. Os brancos criaram uma lei que dizia que antes de fazer qualquer coisa em área indígena eles consultariam os indigenas”. E assim vai! Então, como é possível que essas vozes não sejam levadas em conta? Por que os desejos e o modo de vida destes povos não são respeitados. Por que é tão difícil entender sua lógica? É como diz um destes habitante das matas: “vocês não usam o mercado? Pois o nosso mercado é o mato, a água, a terra. É com isso que a gente sobrevive”.

Mas, apesar de todas as vozes clamarem contra a obra, ela segue seu curso. O gigante de concreto vai crescer em meio à floresta. Destruindo, devastando, apagando a vida. A menos que o povo unido pare Belo Monte. Mas tem de ser com todos juntos, estudantes, sindicalistas, lutadores sociais. Esta não pode ser uma luta só dos índios ou dos ribeirinhos. Ela tem de ser uma luta de todos. Ou a gente se move ou o futuro cobrará a fatura. Logo ali na frente...

O choro de Raoni não deve servir para comiseração, mas para ódio, ódio são, contra os vilões.. como já dizia Cruz e Souza!