Por Míriam Santini de Abreu - jornalista
Cada vez que recebia a Caros Amigos, eu buscava, faminta, a coluna de José Róiz. O médico mineiro dizia coisas atrevidas nesse tempo de culto aos músculos e às dietas de todo tipo. Mais ainda: ele falava de como bem viver. Morreu em 2003, para lá da curva dos 80, magrinho e sábio. E deixou tudo que ensinou em livro – um dentre outros escritos - republicado pela Editora Casa Amarela. O título, Esporte Mata!. Indiferente às críticas que recebia e avesso a sensacionalismos, Róiz afirmava: “O homem não foi feito para correr”.
Róiz ensina que nenhum adulto com mais de 25 anos deve fazer exercício violento, mas também não pode ter vida sedentária. O melhor é simplesmente caminhar, e muito, e dançar, hábito que preserva o vigor do corpo e da mente. Além disso, o médico só recomenda o vôlei, mas nunca o competitivo, aquele do atleta. Jogando vôlei, a pessoa caminha e faz as quatro ginásticas que Róiz considera necessárias, aquelas que contraem os músculos posteriores, situados ao longo da coluna vertebral (veja no quadro). Muitos escritos do médico mostram sua preocupação com o tipo de alimento consumido na vida moderna.
Embora não fosse vegetariano, sugeria que as pessoas evitassem a carne, especialmente por causa de doenças como a da “vaca louca”. Para ele, a melhor refeição possível é feijão comum com carne de soja moída, acompanhada de uma fonte de vitamina C, como as frutas cítricas, podendo se substituir metade da mistura por um pouco de arroz e verdura. E o ideal, adotando ou não essa refeição, é ingerir uma pequena quantidade de alimento, evitando o excesso de proteínas, em intervalos de duas horas e meia. Isso estimula a produção de insulina, que “limpa” o sangue, enviando para os tecidos a glicose, a gordura e os aminoácidos das proteínas. Bem nutridas, as células do corpo ficam mais capazes de produzir anticorpos contra as doenças.
Róiz sempre dizia que não teria escrito o livro se não fosse pelo seguinte: a humanidade se divide em dois grupos, os longevos e os não-longevos. Nos longevos, que vivem mais, a insulina predomina sobre o glicocorticóide, um dos hormônios do estresse. Nos não-longevos, acontece o contrário. O problema é que os longevos são feitos de um “barro especial”, são minoria. A maioria tem dificuldade para nutrir todas as células do organismo. Assim, praticar esportes, se estressar e produzir mais e mais glicocorticóide vai piorar a situação, especialmente se a pessoa praticar musculação ou corrida e ainda tiver problemas de coluna ou de coração. Gilberto Felisberto Vasconcellos, que faz o prefácio do livro, resume bem o pensamento de Róiz: “Foi contra a grife globalizada do mundo: esporte não é vida. Nem saúde”.
RÓIZ, José. Esporte Mata! São Paulo: Editora Casa Amarela, 2004. 178 p.
Ginásticas necessárias
O exercício de flexionar vinte vezes diariamente a cabeça para trás corrige o excesso de flexões anteriores que a maioria das pessoas quase faz permanentemente. Para fortalecer os músculos da parte ínfero-posterior do tronco, deite de costas e eleve as nádegas, aproximando-as uma da outra cinqüenta vezes ao dia. Julgo também conveniente realizar flexões laterais do tronco e o exercício de elevar os dois braços estendidos acima da cabeça, vinte vezes por dia. Parta da posição reta e, alternadamente, incline o tronco para os dois lados, de modo que a mão correspondente à inclinação do corpo toque a perna com a ponta dos dedos e a outra se eleve no sentido contrário.As flexões laterais do tronco têm a vantagem de evitar o enrijecimento da coluna que aparece com a idade e comumente se observa nas pessoas muito idosas. Muitos velhos caminham sem nenhuma flexibilidade do corpo, movimentando somente as pernas. A elevação dos braços estendidos até a altura das orelhas traz a vantagem de movimentar a articulação do ombro, geralmente pouco exercitada. Suponho que a falta deste exercício contribua de algum modo para o aparecimento da bursite.As quatro ginásticas são recomendadas para as pessoas que já passaram dos 30 anos de idade e devem ser praticadas ininterruptamente. (Trecho extraído do livro Esporte Mata!)
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