Por Míriam Santini de Abreu, jornalista
Há o chavão “fúria da natureza” em muitas notícias sobre tempestades, tornados, tormentas, tufões, terremotos, tsunamis... O t parece carregar o peso semântico do regurgitar da Terra. E o que dizer da fúria das árvores? Bonito ver árvores furiosas. Em “O Senhor dos Anéis - As Duas Torres”, elas lutam ao lado dos humanos, lideradas por um pastor de árvores bem zangado. Parece o Humbaba da floresta de cedros de Gilgamesh: “Ó Gilgamesh, o vigia da floresta nunca dorme!”.
Assustadoras também são certas florestas de pinus, como em Correia Pinto, perto de Lages. Ali uma estrada vicinal corta uma floresta dessas, e aquelas extensões verdes perfeitamente enfileiradas e silenciosas dão tremura nos nervos. Não é culpa das árvores. Nós também as estressamos.Basta ver o curta Parálisis, de Gabriel Acevedo Velarde (Peru/México 2005). Ao longo de dois minutos e meio, arbustos de calçada tremelicam e resmungam à passagem dos humanos.
Quase ao final, um arbusto parece estar à beira de um enfarte, quase vomitando folhas. Corre uma semana antes que o espectador do curta consiga passar ao lado de um arbusto na rua sem temer pela própria segurança. Dá receio até de pendurar rede em toco de árvore.Lá em casa, aliás, cortaram o pessegueiro que sustentava uma das alças da rede, mas foi por imposição do Poder Público. Parece que os pessegueiros de Caxias estavam doentes e, pior, contaminando os da Argentina. Não entendi nada, e ninguém soube me explicar direito a história. As árvores e arbustos têm razão na sua fúria.
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