segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Ciganos - lançamento neste dia 28

O Rogério Ferrari é um baiano de fala mansa e olhar doce que tem pautado sua vida justamente na capacidade de ver. Ele decidiu fazer da arte da fotografia, coisa que domina, uma forma também de contar histórias que se escondem nos fundões do mundo. Seu clicar se dirige para os que raramente têm onde expressar sua vida, sua dor, sua beleza. Então ele captura essas vidas, ele as esculpe na luz e entrega ao mundo, para que sejam vistos, escutados, amados. Foi assim com o povo saharauí, com os curdos, os palestinos, os zapatistas, os sem-terra e agora os ciganos.

São os ciganos - esse povo lindo, nômade, alegre, bonito – os que saltam das páginas do novo livro de Ferrari. Esculpidos em preto e branco, ali estão no seu esplendor, no cotidiano, na dança, na beleza. E é esse trabalho que será lançado nesta terça-feira, dia 28, às 19h, no Centro Cultural Badesc, em Florianópolis. Junto com o livro “Ciganos” Rogério inaugura também uma exposição. Assim que toda a grandeza desta milenar cultura estará ao alcance da vista. Vale a pena se deixar ficar por alguns momentos apreciando a vida em movimento.

Ciganos – mais uma formosura do olhar de Rogério Ferrari.

A MAÇÃ NO ESCURO , NÃO , NO CLARO... É SEMPRE TRISTE , MINHA FILHA , CLARISSE*

Li Travassos, de Curitiba

Qualquer pessoa que começa a sentir os problemas causados por DNA (data de nascimento antiga) pode fazer uma extensa lista das desvantagens de envelhecer. Eu mesma por vezes me pego fazendo isso junto com alguma amiga. Um horror. Por isso, resolvi fazer uma lista de 10 vantagens de envelhecer. Todas elas, advindas da sabedoria que vem junto com a idade. Talvez , mesmo que você seja muito jovem, possa ganhar alguma coisa ao ler esta lista. A idade me ensinou que:

01) Aquilo que você veste, os adereços que usa, o modo como você anda, tudo isto manda uma mensagem a seu respeito. Se a mensagem não é aquilo que você quer que pensem de você, então você precisa mudar sua aparência, especialmente se você trabalha para outras pessoas. Por exemplo: se você tem um monte de tatuagens aparentes e usa piercing, e se precisa de emprego, a não ser que o esteja procurando em um lugar cujo maior requisito é a criatividade, dificilmente irá passar a mensagem de que é capaz de se adaptar minimamente às regras da empresa. Claro, cada um tem o direito de se vestir como quer, e o respeito as diferenças, especialmente em locais de trabalho que não fornecem uniforme, deveria ser um princípio básico. Mas convenhamos que há algumas convenções sociais que, queiramos ou não, precisam ser seguidas, sob o risco de comprometer nosso futuro.

02) Porém, preocupar-se com o que os outros pensam de você tem limites. Se você é honesta (o), ética (o) e responsável , se cumpre com todas as suas obrigações, se usa roupas adequadas a seu local de trabalho, se é gentil e educada(o), está fazendo sua parte, não? Preocupar-se demais com o que os outros pensam sobre você é acumular sofrimento desnecessário à sua vida . É pedir para sofrer . Afinal, sempre vai haver alguém que te acha feia (o), gorda (o), chata (o), metida (o), mal informada(o)... Alguém que vai pensar que você dança mal , se veste mal , se alimenta mal ... Se desta pessoa não depende seu emprego, se você não depende da aprovação dela para nada, então o problema é dela, não seu.

03) Você não precisa ver aquele filme famosíssimo, que tooooooooooooooooodo mundo viu, se você acredita que ele é super violento e não vai te fazer bem , ou é um tédio , ou ruim por qualquer motivo . Se alguém perguntar , não tenha vergonha de dizer que não viu e nem vai ver . Simples assim . Outra coisa : você não precisa ver um filme até o fim só porque começou, ou porque pagou o aluguel na locadora ou o bilhete no cinema . Achou uma droga ? Desista, mude de canal , desligue, levante e vá embora ... Na boa.

04) Da mesma maneira , você não precisa ler um livro só porque os outros acham bom , ou mesmo porque é de um de seus escritores prediletos . Eu amo Clarisse Lispector. Mas nunca consegui ler "A maçã no escuro ". Comprei o livro mais de uma vez. Tentei começar a ler mil vezes e meia . Tentei ler do meio em diante . Nada . Levei a última cópia que tive em um sebo , troquei por outro livro dela e parei de sofrer .

05) Em se tratando de escritores , artistas plásticos , diretores de cinema , ou o famoso que for, você não tem que gostar de quem todo mundo gosta . Você pode até respeitar, mas não gostar . Eu não gosto de Machado de Assis. Eu não gosto da maioria dos escritores clássicos . Não gosto muito de Borges. Já sofri um tanto com tudo isso , agora não sofro mais . Não gosto das obras de Van Gogh, e nunca sequer sofri por isso ...

06) Se você está envelhecendo, seu corpo vai mudar . Aparentemente para pior . Mas , se hoje você não tem mais o corpinho dos vinte anos, sabe bem melhor como ele funciona, não? E você também não precisa ter o peso ideal das tabelinhas peso / altura para ser feliz . Só tem que se sentir bem com seu corpo e ter saúde. Se acha que vai ser mais feliz mais magra (o), vá em busca disso...

07) Tem coisas que a gente queria saber fazer , mas não sabe. Algumas ainda pode tentar aprender . Outras, não tem talento para , e não vale a pena . Eu, por exemplo, não quero aprender a cozinhar. Sei montar uma pizza , cozinhar macarrão , arroz, feijão , mas afora isso ... Se quiser, posso até fazer um pão integral bem bacana, mas esta história de se enfiar na cozinha , passar horas com o umbigo no fogão , curtindo a " alquimia dos alimentos "... sinceramente ! E olha que adoro comer . Mas como eu já tenho o prazer de comer , deixo aos outros o prazer de cozinhar... Depois , posso lavar a louça (curtindo ou não ). Ainda tenho esperanças de aprender a costurar , a falar fluentemente alguma língua que não seja o português ... Vamos ver o que rola primeiro : eu aprender , eu desistir ou eu morrer ... Agora , o que vou tentar aprender a fazer ou não, sou eu que tenho que decidir , em função do que isto vai melhorar minha vida e me fazer mais feliz ...

08) Sapatos de salto alto e bico fino são uma tortura feminina muito parecida com espartilhos e outras coisas absurdas que as mulheres já usaram em algum momento da história . Detonam com a coluna , com os dedos , apertam, machucam, acabam com os pés . Não uso mais . E pronto . Nem em festa de casamento . Fim .

09) Se você não aprender a dizer não vai acabar assumindo tarefas que não conseguirá cumprir , brigando com amigos de quem você gosta , tornando a convivência familiar um inferno, enfim, sendo muito infeliz . Por sua própria culpa . Porque a gente não pode fazer tudo que os outros querem o tempo todo . Mas eles têm o direito de pedir , não têm? Sendo assim , só há uma maneira de resolver a situação : quem precisa pede, quem pode e quer diz sim , quem não pode ou não quer diz não . Simples assim .

10) É preciso aprender a relevar . Até onde você puder e não te fizer mal . Se você ama uma pessoa ( como familiar , amante ou amiga ) e ela cometer um erro, se isso não te afetar demais , releve. Evite " discutir a relação " toda vez . Mas cuide para que não vá virar uma bola de neve , ou um dia você acaba explodindo, e a relação pode acabar de vez.


* Corruptela de frase do belíssimo poema de Drummond, " Não se mate " ("O amor no escuro , não , no claro, é sempre triste meu filho , Carlos"), com nome de livro de Clarisse Lispector ("A maçã no escuro ").

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Veja entrevista com Maria Lucia Fattorelli no Seminário Economia Política e Dívida Pública Brasileira

Veja em http://youtu.be/3lYuuQK2CMI entrevista com Maria Lucia Fattorelli no Seminário Economia Política e Dívida Pública Brasileira - 4 de novembro de 2011.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Jornalista é condenado por denunciar grileiro de terras públicas na Amazônia

Começou essa semana na internet um movimento em solidariedade ao jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto, condenado por “ofender moralmente” o falecido empresário Cecílio do Rego Almeida, dono da Construtora C. R. Almeida e responsável por grave tentativa de apropriação ilegal de terras públicas na Amazônia.
O jornalista, que é editor do jornal independente Pessoal, teria ofendido o empresário por “pirata fundiário” ao denunciar a tentativa de posse de quase cinco milhões de hectares na região paraense do vale do rio Xingu a partir de registros imobiliários falsos, posteriormente anulados pela justiça federal por se tratar de patrimônio público. Outras duas pessoas também foram denunciadas por Cecílio do Rego Almeida, mas absolvidas pela justiça paulistana que reconheceu a ilegitimidade da acusação, considerando a importância da denúncia para a revelação desse esquema de “grilagem de terras”.
Expedida em 2006 pelo Tribunal de Justiça do Estado do Pará, a sentença que condena Lúcio Flávio Pinto a pagar indenização à família do grileiro poderia ter sido reavaliada caso o recurso especial submetido junto ao Supremo Tribunal de Justiça não tivesse sido negado pela ausência de documentos exigidos pela burocracia do órgão - “cópia do inteiro teor do acórdão recorrido, do inteiro teor do acórdão proferido nos embargos de declaração e do comprovante de pagamento das custas do recurso especial e do porte de remessa e retorno dos autos”.
O valor a ser pago pelo jornalista à família do grileiro será bastante superior aos R$ 8 mil estipulados pela justiça paraense à época da condenação, em virtude da correção monetária necessário para os últimos seis anos.
Além da indenização, Lúcio Flávio Pinto também perde a condição de réu primário, o que o expõe à execução de outras ações, entre as 33 que lhe foram impostas nos últimos 20 anos por grupos políticos e econômicos locais, incomodados com as informações e denúncias veiculadas em seu Jornal Pessoal.
“Não pretendo o papel de herói (pobre do país que precisa dele, disse Bertolt Brecht pela boca de Galileu Galilei). Sou apenas um jornalista. Por isso, preciso, mais do que nunca, do apoio das pessoas de bem. Primeiro para divulgar essas iniqüidades, que cerceiam o livre direito de informar e ser informado, facilitando o trabalho dos que manipulam a opinião pública conforme seus interesses escusos. Em segundo lugar, para arcar com o custo da indenização. Infelizmente, no Pará, chamar o grileiro de grileiro é crime, passível de punição”, afirmou o jornalista em nota divulgada em busca de apoio dos leitores.
Apoio financeiro – Para ajudar o jornalista a indenizar o grileiro, foi criado um fundo para a arrecadação de doações. Os dados Banco do Brasil, agência 3024-4, conta-poupança 22.108-2, em nome de Pedro Carlos de Faria Pinto, irmão do jornalista e administrador dos recursos.
Mais detalhes do caso estão disponíveis em:

http://www.direitoacomunicacao.org.br/content.php?option=com_content&task=view&id=8860
http://noticias.r7.com/blogs/ricardo-kotscho/2012/02/14/jornalista-ameacado-somos-todos-lucio-flavio/

Para conhecer o jornal Pessoal:

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

SOBRE FILMES, SACOLAS PLÁSTICAS, NOVELA... QUE MAIS?

Li Travassos, de Curitiba

Faz tempo que, por diversos motivos, ando com vontade de escrever novamente um texto para talvez ser publicado na Pobres, coisa que nunca mais fiz depois que vim embora de Floripa, mas acaba que sempre falta tempo, e nada... Mas de hoje não passa. Vamos começar pelo fim. Ou quase. Neste sábado, dia 4 de fevereiro, ouvi no programa "Espaço Aberto com Miriam Leitão", da Globo News, uma entrevista com o embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon, sobre o aumento de vistos para brasileiros entrarem nos Estados Unidos. Claro, estamos ganhando e gastando mais, então porque não ir gastar por lá? O fato é que este Sr. afirma, no referido programa, que a imagem do brasileiro lá fora mudou para melhor. Que o brasileiro está sendo visto com melhores olhos. Será? Ainda neste sábado, no canal Telecine, passou o desenho americano "Rio" (da 20th Century Fox e Blue Sky Studios). Adoro desenho, quase fui ver este no cinema quando passou, as cenas de divulgação são pássaros dançando e cantando, super lindinho, então fiquei bem animada para ver. Além disso, o filme é dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha, o mesmo da trilogia "Era do gelo", que eu adoro... Então tá.

Começa o filme com a tal cena do trailer: pássaros no Rio de Janeiro cantando e dançando, super fofo. Até que são engaiolados por traficantes de animais, e mandados para os EUA. Lá, a gaiola de uma ararinha azul macho, ainda filhote, acaba caindo na rua, no meio da neve, e o bicho é socorrido por uma menina super bacana, que resolve cria-lo como animal de estimação. Quinze anos depois (sabe lá se este bicho costuma viver tudo isso na vida real, mas...) a moça, então dona de uma livraria, recebe como cliente um cientista brasileiro (pra lá de nerd, assim como ela) que ao ver a arara informa que é um animal em vias de extinção de fato, pois há apenas uma fêmea no Brasil, e aquela que ali se encontra seria o último macho. E ele convence a "dona" da arara a levá-la para o Rio de Janeiro, para procriar. Lá chegando (época de carnaval), o macho é colocado junto com a fêmea, que não quer saber de namoro, mas sim de fugir, pois foi criada livremente. Os dois acabam sendo capturados por um garoto pequeno que, com a ajuda de uma cacatua, os rouba para um grupo de contrabandistas de animais. Todos moram em uma grande favela, e os mil barraquinhos da favela são mostrados até a náusea...

Os pássaros conseguem fugir dali, e libertar todos os outros, justo em um dia que tem jogo de futebol na TV, e já tem carnaval rolando na rua, e eles passam por uma praia, onde há vários macaquinhos que roubam as joias dos turistas... As araras estão presas por uma corrente, então são ajudadas a se soltar por um cachorro que tem um desmanche de carros. O cachorro se fantasia de Carmem Miranda no Carnaval. O menino que ajudou a roubar os pássaros também ajuda a salvá-los, já que ele só está no crime por ser órfão e pobre... No fim, claro, tudo acaba bem, as duas araras são salvas pelos cientistas, se reproduzem, os cientistas acabam juntos, e sabe lá se adotam o menor envolvido no crime, ou se apenas o colocam para trabalhar, com beeeeeeeeeeeeem menos de 16 anos, no centro de preservação de ararinha azul que fundaram... Tudo isso, claro, ao som de Tom Jobim, Jorge Bem, Sérgio Mendes...

Vejamos, então, a imagem do Brasil lá fora: tráfico de animais em extinção, favela, carnaval (mulher quase sem roupa), futebol, praia (mais mulher quase sem roupa), menores trabalhando para criminosos, desmanche de carros, macaquinhos ladrões (?!), trabalho infantil... e música de alto nível. Mas mudou muuuuuuuuuuuuito, não foi? Para mim, a serem juntadas a imagem de um típico pássaro brasileiro, malandragem e Rio de Janeiro, ficávamos com o Zé Carioca, da Disney, que ao menos tinha a desculpa de ter produzido a ideia em mil novecentos e antigamente. Se alguma coisa está mudando na imagem do Brasil lá fora, não é graças a esta animação, que nem tem tantas cenas fofinhas assim, acredite! Ainda bem que não fui ver no cinema.

Acabou a noite de sábado? Nããããããooooo. Depois deste filme, veio um de Sylvester Stallone (va bene que deste a gente não espera mesmo nada de bom) chamado "Os Mercenários", em que ele junta vários porrudos de Hollywood numa gang de mercenários, e eles vão invadir "uma ilha latino-americana dominada por um ditador militar" para derrubá-lo do poder. Te lembra o que os EUA gostariam de fazer com algum país?

Bueno, vamos voltar alguns dias atrás e mudar de assunto. Vamos falar das benditas sacolinhas plásticas, que eu, em outros textos, já defendi como um direito do consumidor a ser levado para casa junto com as compras, já que costumam ser usadas para colocar o lixo por uns 80% da população brasileira ou mais, porém vêm sendo tratadas há tempos como o inimigo público número um. Se for para serem substituídas por algo, deveria ser por sacolinhas também de plástico, pero biodegradável, cujo preço já deveria estar embutido nas compras, assim como os destas sacolinhas atuais estão. Pois bem, São Paulo está dando a largada no que creio que vai ser uma das maiores sacanagens contra o povo brasileiro, especialmente contra os pobres, só para variar: as sacolinhas biodegradáveis são cobradas a parte. Beleza. Tem uns e outros que aparecem na TV dizendo: ah, eu não ligo de ter sacolinha, coloco tudo em uma caixa, que coloco no carro, e tudo bem. Que-ri-dos: isto poderia ser feito por vocês desde sempre. Sacolinhas são feitas especialmente para pessoas que NÃO TÊM CARRO (acredite, elas existem!) e precisam carregar as compras na mão, por vezes por muitas quadras.

Outros, completamente fora da casinha, não cansam de sugerir que alguém (a mulher da casa, por suposto, que não tem mesmo nada que fazer) monte vários pacotinhos de jornal (quem, sem ser jornalista, lê jornal de papel hoje em dia, a ponto de ter sempre um exemplar a disposição???) e coloque o lixo nestes pacotinhos. Se furar, alguém terá que limpar toda a sujeira (a mulher, de novo, por suposto)! Se você der sorte de não rasgar, eles deverão por fim ser colocados em sacos de lixo grandes, daqueles pretos, que são, estes sim, muitíssimo prejudiciais para a natureza, mas você tem o direito de fazê-lo, afinal pagou pelo saco de lixo, não? E pela sacolinha, decerto não pagou. Decerto o preço dela não está incluído nas compras. Por isso, a nova sacolinha, biodegradável, será cobrada. E os pobres, que mal têm dinheiro para as compras, vão ter que desembolsar por elas o dinheiro de alguns pães por mês. Isto se não preferirem levar para casa, por um valor maior, as sacolas retornáveis. Tanto umas quanto outras com o nome do estabelecimento, do qual o consumidor sairá fazendo propaganda e pagando por isso.

Tirante toda a sacanagem dos que têm muito sobre os que têm muito pouco, que já não é nenhuma novidade, há que se dar algum destaque ao que há de novo neste suposto comportamento ecologicamente correto. Ele está visivelmente conectado ao que muitos, erroneamente, chamam de feminismo ecológico. Esta linha de ação e pensamento não é ecológica, muito menos feminista. Senão, vejamos: propõe que sejam usadas fraldas de pano; que a comida seja toda preparada em casa; que se evitem as sacolinhas de plástico... Assim, vamos gastar litros e litros de água limpa preciosa lavando fezes e urina; vamos gastar quantidades imensas de combustível preparando separadamente, em cada residência, cada naco de comida que formos levar a boca; vamos deixar de usar sacolinhas plásticas (na sua maioria brancas) para colocar o lixo, e ao invés disso vamos usar os super poluidores sacos de lixo pretos. Bela ecologia!

E onde está o feminismo em responsabilizar as mulheres pela salvação do mundo e da espécie, sugerindo que assumam mais um zilhão de tarefas, ao invés de exigir que os responsáveis produzam fraldas descartáveis biodegradáveis, assim como as sacolas plásticas, e que se elimine dos alimentos industrializados todos os componentes nocivos à saúde? Dai a César o que é de César, a Deus o que é de Deus, e a nós mulheres dai soluções e paciência, que a nossa já foi para o saco (de lixo, plástico).

Por fim, quero falar um pouquinho da novela Fina Estampa, de Aguinaldo silva, que passa às 21 e tantos na Globo, e das incongruências de alguns personagens bacanas. Os personagens seriam René, chefe de cozinha, descendente de uma família rica e falida, que troca a perua Tereza Cristina pela trabalhadora Griselda, e a própria Griselda, que trabalhou a vida toda como "faz tudo" para sustentar os filhos sozinha, até ganhar na loteria e abrir uma loja de materiais de construção com uma turma de "faz tudo" do sexo feminino.

A cena que me deixou "bem feliz" com René ocorreu justamente no dia em que ele saiu da casa de Tereza Cristina, e se dirigiu ao filho, menor de idade, na puberdade, a quem ele sempre deixa claro considerar uma criança, e disse: "Não esqueça que agora é você quem manda aqui". Ora, *# e ***! Já seria péssimo se ele dissesse a estúpida frase, extremamente comum em filmes, novelas, e decerto na vida real, que os homens costumam dizer aos filhos machos quando vão embora de casa por algum motivo: "Agora você é o homem da casa", ou a outra, pior, mas ainda não tão horrível: "Agora você precisa cuidar de sua mãe no meu lugar"! Não! Foi: "Agora é você quem manda aqui"! Ou seja, para um homem que não tem problema em usar bolsa, ganhar a vida fazendo comida, namorar uma mulher a quem os inimigos chamam de "bigoduda" e "machorra", externar o estúpido estereótipo de gênero de que o filho que nem entrou na adolescência deve assumir o comando da casa com sua saída, apenas por ter nascido com algo balançando entre as pernas, é de amargar! Tá legal: a mãe do guri é doida de pedra. Mas ou bem ele leva o filho para viver com ele, ou bem ela, que é a adulta em questão, além de ser dona da casa e de tudo o mais, é quem vai assumir as rédeas, que aliás, nunca estiveram nas mãos do marido de fato. Enfim, é uma frase totalmente impossível de imaginar na boca deste personagem. Furo do deus-pai-todo-poderoso-escritor-da-novela.

Outro, de matar igualmente, foi a aceitação, por parte de Griselda, de que uma das mulheres que ela treinou para trabalhar como "faz tudo" em sua loja, tenha cortado a calça do uniforme quase na altura das virilhas, e que use de todas as armas possíveis para seduzir os clientes, quando ela mesma sempre exigiu respeito, e nunca permitiu que abusassem dela por ser mulher. Se Griselda existisse de fato, Deborah não teria a menor chance de trabalhar com ela.

Para terminar meu texto de vez, não posso deixar de chamar a atenção para uma cena entre Griselda e a ex nora Teodora, na qual esta última havia começado a trabalhar em um hotel, como camareira, para conseguir a guarda do filho, criado pelo pai e a avó (Griselda). A ex sogra faz um discurso de que ela poderia limpar quantas privadas quisesse, e jamais conseguiria a guarda do filho, que ela abandonou com o pai, etc., etc. Ora, já deu para a bolinha de todo mundo esta história de que "limpar privada" é castigo, como costuma aparecer nas cenas de presídio (e outras mais) das novelas, e como não deixou de rondar nestas cenas iniciais de Teodora trabalhando pela primeira vez na vida.

Chega de desqualificar o trabalho braçal, de desqualificar o trabalho doméstico, de desqualificar o trabalho braçal feminino, que em muitíssimos casos é de limpeza. Felizmente, desconheço pessoas que nunca tenham limpado uma privada ao menos uma vez na vida. A não ser que não o tenham feito por alguma deficiência física, devem ser pessoas realmente intragáveis, do tipo que não fazem muita falta no mundo. E eu aposto que a maioria esmagadora das pessoas que assistem as novelas da Globo, já limpou e vai limpara ainda, muita privada. Porque defecar é humano, chafurdar na sujeira é coisa de porcos, e dinheiro para pagar alguém para lavar a privada, e fazer todo o resto do serviço doméstico, são poucos que têm. Claro que é um serviço feito na maior parte das vezes pelas mulheres. E que são elas a maioria dos que assistem este tipo de programa. É hora dos autores de novela lembrarem disso de uma vez por todas.

Ufa, ficou enorme, né? É o que dá "ir guardando assunto"... Obrigada a você, que leu até o fim!

Bloco desfila em Florianópolis em defesa das florestas

O Comitê Brasil/SC em Defesa das Florestas formou bloco que irá desfilar no Domingo de Carnaval, dia 19, às 17 horas, na rua da Capela, esquina com a avenida Campeche, no Campeche, em Florianópolis. O bloco chamará a atenção para a defesa das florestas, ameaçadas pelas propostas de mudança no Código Florestal, cujo projeto está no Senado Federal para votação.

Na terça-feira de Carnaval também haverá uma ação na Barra da Lagoa, em conjunto com o Comitê Brasil/SC, em parceria com a ONG Apreender e Tamar, para a campanha “Mangue faz a diferença”.

Leia mais em:

http://www.florestafazadiferenca.com.br

http://comitebrasilsc.blogspot.com

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A democracia e sua expressão

Elaine Tavares

O teórico do jornalismo, Adelmo Genro Filho, já havia revelado no seu livro “O Segredo da Pirâmide” que, apesar de ser filho dileto do capitalismo, existem momentos nos quais o jornalismo não pode esconder as contradições da vida real. Daí a possibilidade do seu caráter revolucionário. Penso que é o que temos visto, nos últimos dias, na televisão. Apesar da posição sempre servil das emissoras com relação ao poder, e das informações aparentemente desconexas, se procurarmos juntar os fios das informações, podemos ter um quadro sem retoques da tão defendida democracia liberal. Nela, ao contrário do que dizem os porta-vozes dos governos, o que não existe é a liberdade. Mas é preciso aclarar: a liberdade dos pobres. A eles é vedado o direito a qualquer reivindicação. Se ficarem quietos, agüentando tudo, está certo. Mas se resolverem gritar contra qualquer filigrana do poder, a força da “democracia” aparece com um estrondo sem lugar.

Todos os dias, a pedagogia da sedução do sistema capitalista joga para dentro das cabeças a idéia de que a democracia do mundo ocidental é a melhor coisa que pode acontecer aos povos. Foi assim quando os Estados Unidos quis invadir o Afeganistão. Pintaram os talibãs como diabos e diziam que a alegria só voltaria ao país se ali entrasse a democracia. Invadiram, depuseram o talibã, implantaram a democracia e tudo seguiu como antes: violência, terror, mortes. Depois foi a vez do Iraque. Sadam era o demônio antidemocrático. E lá foram os soldados estadunidenses a levar a democracia. Resultado: violência, terror e milhões de mortos. Cenas que seguem se repetindo até hoje. Ora, se a democracia iria resolver tudo, como não resolveu? Ano passado foi a Líbia que mereceu a visita da democracia. Que se passa por lá agora? Por que os meios não nos contam? Reina a paz? A mesma que eles querem impor à Síria, agora a bola da vez para receber a democracia.

Mas, não precisamos ir muito longe, no Oriente Médio, para ver como a democracia se comporta. Basta uma olhadinha para nós mesmos. A desocupação da comunidade do Pinheirinho no final de janeiro, com todos os requintes de brutalidade, é um exemplo bem claro. Os empobrecidos, sem casa, sem esperança, sem nada, ocuparam uma terra abandonada. Lá ergueram suas casas e lá viveram por oito anos. Uma vida. Agora, a justiça (assim, com minúscula) decide que ali não é lugar de pobre morar e começa todo um processo de demonização das pessoas. São bandidos, marginais, gentes sem estofo. Não merecem a pena de ninguém, daí que as cenas brutais das casas sendo destruídas, das famílias sendo despejadas, dos animais sendo mortos e outras tantas gentes sendo presa ou desaparecida já não comove boa parte das pessoas. O recado da democracia já havia sido dado: aquelas criaturas não eram gente, logo, a violência é bem vinda. É limpeza.

Hoje, assisti as cenas na Bahia, divulgadas pelos jornais nacionais. Os repórteres falam dos vândalos que saqueiam lojas, dos bandidos que circulam pela madrugada baiana, das “badernas” dos familiares dos policiais em greve e, é claro, os grevistas são pintados como os grandes responsáveis pelo caos que se instalou na bela capital baiana. Então mostram a atitude acertada do governo central que mandou jovens do exército nacional para garantir a lei e a ordem. E mostram alguns moradores saudando a vinda do exército para salvá-los. Os confrontos em frente a Assembléia onde estão os trabalhadores em greve são mostrados como distúrbios irracionais. Nenhuma das reportagens toca no nome do governador baiano, Jaques Wagner, como se o governo não tivesse absolutamente nada a ver com isso. Quando seu nome aparece é como o cara que vai garantir o carnaval, nem que tenha de trazer todo o exército para as ruas. Claro, a folia dos endinheirados é mais importante do que liberar uns poucos caraminguás aos policiais.

Pois essa é tão amada democracia burguesa. A lei e a ordem dos poderosos, dos que tem o dinheiro, dos que tem o poder. Qualquer rugosidade nessa paz do poder, e os remédios são imediatamente utilizados sem qualquer piedade. Há que impedir que a “doença” se alastre e há que agir com rapidez. E as doenças são, comumente, os empobrecidos, os sem-teto, sem terra, sem trabalho, os explorados, gente que vive assim, não porque quer, mas porque é levada à margem pela ganância e a sede de lucros de quem manda. Mas esses precisam ficar quietos, acatar todas as leis que são criadas contra eles, precisam aceitar de cabeça baixa todas as decisões que os graúdos lhes impõe, ainda que sejam injustas e imorais.

E a coisa é tão bem arrumadinha que, por vezes, as próprias “vítimas” – que é a maioria da população – aceitam a idéia de que é preciso viver na paz, sem perturbar a ordem dos que mandam. Aceitar o cabresto e viver das migalhas.

Ocorre que gente há que diz não. Não aceita. Não quer. Gente há que quer morar, viver, comer sorvete, levar o filho ao parquinho, ver um bom filme no cinema. Gente há que não se deixa enganar pelo canto vazio da ideologia que se expressa na escola, na família, na TV. Gente há que luta, que se rebela, organizadamente ou não.

O quadro da democracia burguesa é mais ou menos assim. Os que são jogados na miséria e na exploração, ou se revoltam individualmente e roubam, matam, perdem sua humanidade, ou se organizam em sindicatos, movimentos, e lutam coletivamente por mudanças. Uma coisa ou outra sempre vai acontecer, ou as duas juntas ao mesmo tempo. Não dá para fugir disso. É da condição humana caminhar para a beleza. Ninguém pode aceitar viver sem isso.

Assim, sejamos espertos, observemos as notícias com o grosso lápis da história e vamos ligando os fios. O desenho final é o quadro da opressão massacrando aqueles que querem participar do banquete, enquanto na televisão os lobos aparecem como cordeiros, e os cordeiros como lobos. Um espelho invertido que precisa ser quebrado. Já vimos essa história aqui mesmo na pele, com a revolta da catraca, ou a luta dos professores pelo simples cumprimento de uma lei.