sexta-feira, 30 de novembro de 2012
A saúde em Santa Catarina
Elaine Tavares
As mulheres falavam alto, porque,
afinal, o ônibus é espaço pedagógico. Discutiam a greve dos trabalhadores da
saúde que, em Santa Catarina, já passa dos 30 dias. No dia anterior
trabalhadores do transporte público e os bancários haviam feito uma paralisação
em apoio aos grevistas, provocando horas de filas e ansiedade, tendo o apoio de
estudantes, sindicalistas e militantes sociais. E, no dia seguinte, a imprensa
catarinense tocava o pau em todo mundo, alegando que o "pobre" governador
Raimundo Colombo, não tinha como dar o aumento "absurdo" que os trabalhadores
pediam. Não bastasse isso, ainda vinham os "baderneiros" dos motoristas e
cobradores fazer confusão.
O tema era esse. As mulheres discutiam
a eterna capacidade da imprensa de distorcer os fatos. Ao longo da greve, passa
para a população a ideia de que o "absurdo" é os trabalhadores quererem aumento,
e não o fato de um governo deixar a população sem atendimento de saúde
simplesmente porque não quer se render à luta. Algumas pessoas viravam o rosto
com um olhar fulminante até as mulheres, numa clara atitude de discordância.
Certamente acreditavam na imprensa e nas inverdades que cria.
Mas, no banco da frente, uma outra
mulher espiava com o rabo do olho, até que não se conteve. "As pessoas não sabem
o que a gente passa". Explicou que era trabalhadora da saúde, aposentada há
alguns anos. "O que faz os trabalhadores entrarem em greve agora é que foi
tirada do salário a hora-plantão, E é isso que dá alguma dignidade ao que a
gente ganha. Sem isso, o meu salário, por exemplo, fica 800 reais. Como é que
uma família vai se sustentar assim?".
Então, enquanto partilhavam o trajeto,
as mulheres foram ouvindo aquela cuidadora de gente. Ela contou que a maioria
dos trabalhadores da saúde é obrigada a ter dois e até três empregos para
garantir um salário digno. E que isso se reflete no trabalho. "Imagine a gente
passar duas, três noites sem dormir, nos plantões. Quanto erros não são
cometidos? O perigo que isso é? Não porque a gente seja incompetente, é o
cansaço. Fico pensando porque as pessoas não se indignam com isso. Amanhã ou
depois elas vão parar num hospital e vão ser cuidadas por nós, trabalhadores
esgotados, cansados, aturdidos. Isso sim deveria ser discutido".
A greve na saúde é de fato um
transtorno e uma fonte de dor. Os empobrecidos, que sofrem tanto no dia-a-dia,
sem médico, sem atendimento digno, sem acesso aos equipamentos modernos de
diagnósticos, sem opções de tratamento nas cidades do interior, submetidos a
ambulancioterapia, acabam enfrentando mais um obstáculo. Mas, se formos observar
bem, nada muito diferente do cotidiano, o qual só é vencido por conta desses
mesmos trabalhadores, alguns deles verdadeiros heróis, que conseguem tirar leite
de pedra.
O governador Raimundo Colombo, que não
precisa de atendimento público, prefere ignorar o grito dos trabalhadores. Faz
queda de braço e se mantém inflexível. A imprensa reproduz os argumentos dizendo
que o Estado não tem condições de dar a gratificação que substituiria a
hora-plantão. Observem que a reivindicação dos trabalhadores ainda é modesta:
apenas uma gratificação, que viria para substituir a hora-plantão, diminuída ou
retirada. Ainda assim, o governador manda corta salários, humilha, recebe com
gás de pimenta. Ora, não tem condições de dar a gratificação? Segundo dados do
governo, no Portal da Transparência, só em recursos próprios o estado arrecada
por mês 12 milhões para a saúde, gastando apenas 1,5 com pessoal. Do total do
orçamento anual a saúde representa 15% de gasto. Que tal então cortar os
comissionados que têm salários variando de 5 a 12 mil? Ou a publicidade, que
consome 110 milhões ao ano? Dinheiro o estado tem, o fato que não quer investir
na saúde. É, porque salário é investimento.
A questão é simples. Um trabalhador
como o da saúde, que atua diretamente na sustentação da vida, precisa estar bem
pago e bem descansado. O certo seria ter um único emprego, descansar o
suficiente para poder cuidar bem de si e dos outros. Mas, o que se vê é um
trabalhador desesperado, esgotado pelo excesso de trabalho, tendo de atuar com
uma estrutura sucateada, um sistema desmontado, equilibrando-se no milagre. É
esse o que cuida do doente, que pode ser o teu filho ou tua mãe. Aí está o ponto
que deveria ser discutido pela imprensa.
O ódio da população deveria voltar-se
para isso. Para o descaso com a saúde pública, com os trabalhadores, com a
estrutura dos postos e dos hospitais. Mas, a maioria das gentes prefere odiar o
trabalhador que luta. E mais, quando um trabalhador, esgotado pela exploração,
comete um erro que custa a vida de alguém, todos os holofotes se voltam contra
ele, apontado como o monstro, o assassino, o irresponsável. Lembram da
enfermeira que injetou café na veia de uma pessoa? Pois é. Essa é crucificada!
Não há nenhum dedo apontando para o Estado, para o governador, o prefeito ou
para o diretor do hospital. A culpa é sempre individual, e do mais
fraco.
O fato é que o desmonte da saúde é
responsabilidade de quem governa, de quem gere os recursos, de quem decide para
onde vai cada centavo. A negativa da gratificação aos trabalhadores é só uma
ponta do problema. Há que pagar os trabalhadores, garantir a sua dignidade, há
que garantir atendimento à população nos postos de saúde, nos hospitais, há que
modernizar a estrutura, garantir os melhores equipamentos. E as pessoas também
precisam se mobilizar para que isso aconteça de fato. Não basta choramingar. Há
que lutar. Mas, para isso seria necessária uma articulação estadual e nacional,
para além do sindical, que pudesse avançar para uma mudança radical do Estado
brasileiro. Esse é o desafio da esquerda nacional. Ser capaz de gestar no meio
das gentes o desejo de um mundo outro, que não esse, no qual os direitos
precisam ser diuturnamente lembrados, na esgrima com o poder. Resta saber se
isso é possível num país onde as lideranças sindicais e sociais estão - na
maioria - domesticadas e cooptadas.
E Floripa se levanta!
Por
Marcela Cornelli, jornalista (texto e fotos)
A
um dia da Novembrada – manifestação popular contra o Regime Militar, ocorrida em Florianópolis
no dia 30 de novembro de 1979–,
completar 33 anos, movimentos sociais, sindicatos, trabalhadores e
trabalhadoras, centrais sindicais, movimento estudantil, parlamentares e
partidos políticos de esquerda, realizaram no Centro da Capital catarinense um
emocionante e forte ato na manhã dessa quarta-feira (28/11). Diante da
intransigência do governo do estado, comandado pelo governador Raimundo Colombo
(PSD), que não negocia com os trabalhadores da Saúde em greve há mais de um mês,
entidades dos movimentos sindical e social, realizaram uma assembleia e uma
manifestação exigindo a reabertura de negociação imediata com a categoria.
Os
manifestantes, entre eles trabalhadores da Saúde, bancários, servidores públicos
federais e do transporte urbano, se reuniram na Praça Tancredo Neves, em frente
à Assembleia Legislativa do Estado, com apoio das entidades sindicais e diversos
movimentos entre eles o MST e as Brigadas Populares. Logo após a Assembleia e o
ato, saíram em passeata até o Ticen (Terminal de ônibus do Centro). Os
motoristas e cobradores paralisaram os ônibus por mais de uma hora para apoiar a
greve da Saúde. Paralelamente a isso, os trabalhadores bancários, que estavam
mobilizados devido a um ato nacional da categoria, também paralisaram as
atividades e as escolas da grande Florianópolis também pararam por 40 minutos.
Todos movidos pela solidariedade à greve da Saúde. Exemplo magnífico de que é
possível uma unidade da classe trabalhadora e que é urgente que isso aconteça.
Foi como se um gigante adormecido acordasse Floripa, que tanto tem sofrido com
os ataques do capital. Foi um levante, um Já Basta! pelas ruas da cidade. A
massa fechou o Ticen, os bancos pararam e a rede estadual de ensino apoiou a
luta. Não há palavras para descrever esse ato histórico que aconteceu em
Florianópolis na manhã de hoje. Talvez um dos maiores fatos políticos encabeçado
pelos trabalhadores e sindicatos dos últimos tempos, desde a Revolta da Catraca
com o Movimento Passe Livre à frente em 2005 e a forte greve dos motoristas e
cobradores atingindo 100% de paralisação em maio desse ano.
Uma
demonstração de que a unidade e as grandes lutas estão voltando pra Floripa.
Ninguém aguenta mais a opressão do governo Colombo (PSD), que, desde que
assumiu, tem realizado um desgoverno no Estado, uma incapacidade de resolver os
problemas de segurança, saúde (que segundo ele seria sua prioridade número 1, 2
e 3) e educação e dialogar com os trabalhadores.
O
soldado Marcos Prisco, perseguido
politicamente na greve dos policiais na Bahia em fevereiro desse ano, estava
presente no ato. “Não recuamos, conseguimos nosso reajuste e a retirada dos
processos criminais contra os trabalhadores. Os companheiros que haviam sido
presos foram soltos e mostramos ao governo do PT da Bahia a força dos
trabalhadores”, disse emocionado e incentivando os trabalhadores da Saúde a
permanecerem na luta.
“Vocês estão fazendo o que todos os
trabalhadores deveriam fazer. Estão na luta. Não estão se curvando para os
carrapatos que estão agarrados no poder”, disse o Assessor
do Sintraturb, Ricardo Freitas.
A
deputada Estadual Ana Paula Lima (PT) disse que “o único culpado pela Greve é
governo do estado, que não negocia com os trabalhadores”. Ela participou
juntamente com demais parlamentares em visitas no dia anterior aos hospitais do
estado para ver as condições em que as unidades se encontram.
O
deputado Volnei Morastoni, também do PT, disse que solicitará mais uma audiência
pública para tratar da Saúde no Estado. “O Estado tem recursos sim para atender
as reinvindicações da categoria”, afirmou.
O
deputado Amauri Soares do PDT falou que os patrões temem a solidariedade da
classe trabalhadora. E que a unificação das lutas se faz
necessária.
Bruno
Mandelli, do DCE da UFSC, lembrou da participação importante de Santa Catarina
na Novembrada e que este movimento contribuiu para a derrubada da Ditadura.
Disse ainda que o movimento estudantil é solidário à greve na
Saúde.
Daniel
Silveira Ramos, da CSP-Conlutas, ressaltou as lutas internacionais dos
trabalhadores que estão se levantando em vários países e defendeu a unidade da
classe trabalhadora do Brasil e do mundo. “Os governos temem a classe
trabalhadora unida”.
Anna
Julia Rodrigues da Central Única dos Trabalhadores (CUT) disse que está na hora
de todos os servidores públicos estaduais se unirem em uma campanha pedindo o
“Fora Colombo”, sendo que este já demonstrou total incapacidade de governar o
Estado.
Durante
a manifestação, o Comando de Greve do SindSaúde recebeu uma ligação dizendo que
agora o governo quer conversar, mostrando que somente a luta pode mudar a
realidade da classe trabalhadora oprimida. Após a manifestação e um almoço
coletivo no acampamento em frente à Alesc, os trabalhadores seguiram de ônibus
até o Centro Administrativo na SC 401, que foi palco de ataques aos
sindicalistas na última segunda-feira, para realizar mais um ato e aguardar a
abertura das negociações.
E
como diria Mauro Iasi, “há quando os trabalhadores perderem a paciência...”.
Quando os trabalhadores perderem a paciência, um mundo lindo nos
espera!
Fonte:
SindSaúde
terça-feira, 27 de novembro de 2012
Governo recebe sindicalistas e movimentos sociais com gás de pimenta
Por Marcela Cornelli,
jornalista/Sindsaúde
Na tarde desta segunda-feira, dia
26 de novembro, cerca de 20 pessoas, representando entidades e centrais
sindicais e movimentos sociais de Florianópolis que apoiam a Greve dos
trabalhadores da saúde estadual, foram até o Centro Administrativo do Governo do
Estado, na SC 401, tentar marcar uma audiência com o governo para tratar do
impasse da greve que já dura mais de um mês. Os sindicalistas e representantes
dos movimentos sociais foram recebidos com truculência e gás de pimenta, sendo
que três sindicalistas conseguiram entrar no prédio e os demais foram
empurrados para fora e as portas do Centro Administrativo foram trancadas a
chaves.
No dia 1º de novembro já havia
sido protocolado um documento assinado pelas entidades solicitando uma
audiência com o governo. Até o dia de ontem não havia resposta ao pedido e por
isso as entidades foram pessoalmente cobrar do governador que receba os
sindicatos, bem como o SindSaúde, para dialogar e apresentar proposta para as
demandas do movimento.
Os sindicalistas que não puderam
entrar ficaram do lado de fora em vigília esperando os três companheiros que
entraram a serem recebidos. Depois de algumas horas esperando um dos
sindicalistas que estava lá dentro veio dar um informe e foi impedido de
voltar. Só entrou novamente devido a insistência dos manifestantes. Um dos
guardas se exaltou e empurrou uma das mulheres, a dirigente sindical e
presidente do Sindpd, Jeanine Santos da Silva. Os demais dirigente sindicais
saíram na sua defesa e foram atingidos com gás de pimenta, muitos ficando com
olhos inchados e dificuldade de respirar.
Após a atitude arbitrária e vendo
que os dirigentes sindicais não se dispersaram e insistiam em uma audiência,
veio então a notícia de que o Coordenador Executivo de Negociação e Relações
Funcionais do governo, Décio Vargas, iria receber as entidades apoiadoras do
movimento no auditório da Secretaria de Estado da Administração, nesta
sexta-feira, dia 30/11, às 10h30min. No entanto, o governo não aceitou a
presença dos diretores do SindSaúde nessa reunião, mostrando intransigência e
falta de disposição para o diálogo.
É triste e revoltante ver que uma
trabalhadora e sindicalista precisou ser agredida para tal reunião ter sido
marcada. Foi uma covardia, mas esperamos que nesta reunião o governo se
sensibilize com a situação da greve e mostre vontade política de resolver o
impasse, causado por ele mesmo, pois os trabalhadores só reivindicam o que lhes
é justo, condições de trabalho e melhorias salariais. Nos hospitais faltam
servidores e medicamentos o ano todo, mas o governo e a imprensa burguesa
insistem em dizer que a culpa é da greve.
Todos os movimentos sociais e
sindicais devem ficar atentos, afinal, se para solicitar uma audiência com o
governo somos recepcionado com gás de pimenta, imaginem o que vem por ai nesse
governo truculento e quem não cumpre suas promessas de campanha, como dizia que
ia ter a saúde e as pessoas em primeiro lugar.
sexta-feira, 23 de novembro de 2012
NOTA SOBRE REPORTAGEM DA REVISTA VEJA
Fonte: Brasil de Fato
O direito à terra é um
direito conquistado pelo povo brasileiro que precisa ser cumprido. E é possível
fazer essa luta com solidariedade, com amor, com carinho, que é a competência
do ser humano. Não é com maldade, como fez essa reportagem.
Comissão de
professores Guarani e Kaiowá
Ao contrário do que
escreveram os jornalistas da Revista VEJA, Leonardo Coutinho e Kalleo Coura,
quem luta pelos territórios tradicionais é sim o povo Kaiowá e Guarani. Somos
nós que estamos retomando nossos territórios antigos.
A matéria publicada foi
racista, preconceituosa, discriminatória, estimulou o ódio contra os povos
indígenas. Tenta desmotivar o nosso povo, ignora que nós temos língua própria,
sentimento próprio, natureza própria. Não fala que a gente sabe o que a gente
quer. Acaba colocando as pessoas contra nós, não a favor.
A revista VEJA não está a
serviço dos indígenas, nem dos mais pobres. Está a serviço de quem manda. Age
com coronelismo. Parece estar a serviço de quem paga.
Os jornalistas precisam
estudar mais um pouco. Conhecer o que é índio, o que é cultura, o que é
tradição, o que é história, o que é lingua, o que é Bem Viver. A terra, para
nós, é o nosso maior bem viver, coisa que ainda a imprensa não entendeu muito
bem. Não entendeu que é possível escrever coisa boa sem prejudicar.
O povo pobre não tem acesso à
imprensa, quem tem são os latifundiarios e os emrpesarios. São eles que
comandam. Nós somos brasileiros, somos filhos da terra. É preciso valorizar
todas as culturas, o que a imprensa não faz. Mas precisava fazer.
O direito à terra é um
direito conquistado pelo povo brasileiro que precisa ser cumprido. E é possível
fazer essa luta com solidariedade, com amor, com carinho, que é a competência
do ser humano. Não é com maldade, como fez essa reportagem.
A matéria quer colocar um
povo contra outro povo. Quer colocar os não-índios contra os indíos. Essa
matéria não educa e desmotiva. Ao invés de dar vida, ela traz a morte. Porque a
escrita, quando você escreve errado, também mata um povo.
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
Atividades marcam Dia da Consciência Negra em Florianópolis
Marcela Cornelli
Desconstruir
o imaginário, que impõe ao povo negro o ideário de submissão histórica é dever
de todos nós. Para isso, se faz necessário transformarmos nossas ideias em
ações. Que nos apropriamos do legado de Zumbi, que entendamos que a luta é
árdua, que tenhamos a compreensão que podemos transformar a sociedade, em uma
sociedade igual para todos. Gestos e atitudes mostrarão o caminho de uma
sociedade digna e humanitária. Pois o conceito de humanidade perpassa pela
valoração das pessoas, do respeito às diferenças, pela a convivência pacifica
entre os seres.
Para marcar o Dia da Consciência Negra e assassinato de Zumbi de
Palmares foram realizadas uma série de atividades nestes dias 19 e 20 de
novembro, no Centro de Florianópolis. No dia 19 houve concentração
às 16h, em frente à Catedral para caminhada e panfletagem nas ruas da cidade,
com participação do Grupo Maracatu Arrasta Ilha. Neste dia 20 foi realizado um
Ato Cultural em frente à Catedral, das 10h às 16h. As atividades
foram promovidas pelo: Sindprevs/SC – Sinergia - Seeb-Fpolis – Sintrafesc –
Sintrasem
Gerente-Geral de Toxicologia da ANVISA é exonerado por denunciar corrupção
O gerente-geral de toxicologia da ANVISA, Luís Cláudio Meirelles, foi exonerado
do cargo nesta quarta-feira (14). Segundo carta divulgada hoje, o pesquisador
que trabalhava há 12 anos na ANVISA, denunciou irregularidades graves na
liberação de agrotóxicos. “As graves irregularidades envolveram o deferimento de
produtos sem a necessária avaliação toxicológica, falsificação de minha
assinatura e desaparecimento de processos em situação irregular.”
Ao constatar as irregularidades, Meirelles tomou as atitudes esperados de um
funcionário público: “Em seguida, solicitei ao Diretor-presidente o afastamento
do Gerente da GAVRI, pois os problemas estavam relacionados às atividades de sua
Gerência, assinalando que houve rompimento da relação de confiança exigida para
o cargo.”. Entretanto, a medida contrariou interesses maiores dentro da
instituição, e na relação com o Ibama e MAPA.
“As razões para a exoneração me foram transmitidas pelo Diretor-Presidente da
ANVISA. Após elogiar o trabalho, a lisura e o reconhecimento externo que conferi
à GGTOX, ele me informou que, na sua visão, o encaminhamento das irregularidades
foi confuso e inadequado, e que faltou diálogo prévio (..). Afirmou, ainda, que
o processo de afastamento do gerente da GAVRI não fora apropriado, e que a
indagação do Ministério Público sobre esse fato, que antecedeu às investigações
internas, não deveria ter ocorrido.”
Segundo informações, os agrotóxicos liberados com assinatura falsa de
Meirelles seriam utilizados para ferrugem da soja, ou seja, estão ligados aos
grandes interesses do agronegócio brasileiro. Ele ainda detalha na carta as
pressões que a ANVISA tem sofrido para liberar cada vez mais agrotóxicos, sem a
devida preocupação com a saúde da população. Confira a integra da carta de Luís
Cláudio:
“Comunico que, no dia 14 de novembro de 2012, deixei o cargo de Gerente Geral
de Toxicologia da ANVISA, após ter trabalhado por 12 anos e 9 meses na agência,
cedido pela Fundação Oswaldo Cruz-FIOCRUZ, para onde retorno.
Durante estes anos, tive a oportunidade de interagir com muitos colegas e
amigos, que muito me ensinaram. Levo da ANVISA riquíssima bagagem sobre a
importância da prevenção e controle que a Vigilância Sanitária desenvolve para
produzir saúde e bem-estar para a população.
Agradeço sinceramente a todos que colaboraram com a minha gestão e, ao final
deste texto, segue meu novo endereço profissional na FIOCRUZ, Rio de Janeiro,
onde estarei à disposição para o desenvolvimento de trabalhos de interesse
público na área da saúde.
Em seguida apresento informações sobre a minha saída da ANVISA e destaco
algumas questões preocupantes sobre o contexto atual, que poderão afetar a
atuação do setor Saúde no controle de agrotóxicos do Brasil.
Sobre os fatos
No início do mês de agosto, identificamos irregularidades na concessão dos
Informes de Avaliação Toxicológica de produtos formulados, que autorizam o
Ministério da Agricultura a registrar os agrotóxicos no país. Frente aos
primeiros fatos, solicitei aos gerentes que levantassem as informações para a
imediata adoção de providências. Os levantamentos foram realizados e contaram
com a colaboração dos responsáveis pela Gerência de Análise Toxicológica – GEATO
e da Gerência de Normatização e Avaliação – GENAV. A Gerência de Avaliação do
Risco – GAVRI não colaborou com qualquer informação.
As graves irregularidades envolveram o deferimento de produtos sem a
necessária avaliação toxicológica, falsificação de minha assinatura e
desaparecimento de processos em situação irregular.
Primeiramente identificamos irregularidade em um produto, posteriormente em
mais cinco, e recentemente em mais um, com problemas de mesma natureza. Para
cada um deles foi instruído um dossiê com a identificação da irregularidade e a
anexação de todas as provas que mostram que o Informe de Avaliação Toxicológica
foi submetido para liberação sem a devida análise toxicológica.
Por ocasião da primeira irregularidade observada, comuniquei de imediato os
fatos ao Chefe da Coordenação de Segurança Institucional – CSEGI, que também é
Diretor-adjunto do Diretor-Presidente, e ao Diretor da Diretoria de
Monitoramento – DIMON. Informei a ambos que estava enviando os processos à CSEGI
para adoção de providências e cancelando os documentos de deferimento. Não
recebi qualquer orientação adicional ao que propus.
Em seguida, solicitei ao Diretor-presidente o afastamento do Gerente da
GAVRI, pois os problemas estavam relacionados às atividades de sua Gerência,
assinalando que houve rompimento da relação de confiança exigida para o
cargo.
Todos os procedimentos e medidas foram previamente apresentados às instâncias
superiores da ANVISA, na busca de auxílio e orientação. As medidas que me
cabiam, enquanto gestor da área, foram adotadas para garantir a segurança dos
servidores, dos documentos e dos sistemas acessados pelos técnicos da GGTOX, bem
como a imprescindível visibilidade institucional.
Sobre as medidas adotadas
Para todos os produtos que apresentaram suspeita de irregularidade na
avaliação toxicológica, emiti ofícios às empresas, suspendendo o Informe de
Avaliação Toxicológica concedido pela GGTOX/ANVISA, bem como determinando, em
alguns casos, que se abstivessem de comercializar o produto até que as
irregularidades fossem apuradas e sanadas. Também encaminhei os ofícios ao
Ministério da Agricultura, com cópia para o IBAMA, notificando as decisões e
solicitando as medidas adequadas.
Solicitei à Gerência Geral de Tecnologia da Informação-GGTIN, cópia do backup de todos os documentos da pasta da GGTOX que ficam no servidor da ANVISA. A cópia está disponível na GGTIN e para o Gerente Geral de Toxicologia, no modo leitura.
Solicitei à Gerência Geral de Tecnologia da Informação-GGTIN, cópia do backup de todos os documentos da pasta da GGTOX que ficam no servidor da ANVISA. A cópia está disponível na GGTIN e para o Gerente Geral de Toxicologia, no modo leitura.
Encaminhei à CSEGI o relato de todas as medidas adotadas, a descrição
detalhada dos fatos e os documentos juntados, para a adoção das providências
cabíveis. Informei ainda, em todos os memorandos, que seguíamos na busca de
outras possíveis irregularidades, o que poderia resultar no envio de novos
processos àquela Coordenação.
Por último, comuniquei os fatos e providências ao conjunto dos servidores, e
discutimos a natureza grave do problema. Enfatizei, ainda, a importância de
garantir o prestígio da GGTOX-ANVISA e de quem nela trabalha, afastando as
estratégias destrutivas que buscam desqualificar a ação reguladora das
instituições públicas em episódios com este.
Sobre a exoneração
As razões para a exoneração me foram transmitidas pelo Diretor-Presidente da
ANVISA. Após elogiar o trabalho, a lisura e o reconhecimento externo que conferi
à GGTOX, ele me informou que, na sua visão, o encaminhamento das irregularidades
foi confuso e inadequado, e que faltou diálogo prévio, o que gerou dificuldades
na relação de confiança entre minha pessoa e a Diretoria. Afirmou, ainda, que o
processo de afastamento do gerente da GAVRI não fora apropriado, e que a
indagação do Ministério Público sobre esse fato, que antecedeu às investigações
internas, não deveria ter ocorrido.
Em resposta, discordei dos argumentos apresentados, pois, como dito por ele,
não havia críticas à minha gestão, e a solicitação de investigação das
irregularidades era de minha obrigação enquanto gestor e servidor público.
Também destaquei que respeitei a hierarquia e os encaminhamentos
formais.
Disse ainda que sempre estive à disposição da Diretoria para informá-la dos fatos, e busquei diálogo e orientação junto à CSEGI e à DIMON. Lembrei que, durante o episódio, as gerentes da GEATO e da GENAV não foram chamadas sequer uma vez para informar ou confrontar alguma afirmação que por ventura não tivesse sido clara o suficiente para suscitar uma rápida tomada de providências.
Disse ainda que sempre estive à disposição da Diretoria para informá-la dos fatos, e busquei diálogo e orientação junto à CSEGI e à DIMON. Lembrei que, durante o episódio, as gerentes da GEATO e da GENAV não foram chamadas sequer uma vez para informar ou confrontar alguma afirmação que por ventura não tivesse sido clara o suficiente para suscitar uma rápida tomada de providências.
Também esclareci ao Diretor-Presidente que as manifestações externas sobre a
minha exoneração não deveriam ser interpretadas como pressão para me manter
nesse cargo, pois eu tampouco desejava continuar a trabalhar sob sua direção. No
entanto, zelaria para que a apuração das irregularidades fosse levada até a
última instância.
Sobre o futuro
Frente ao exposto, considero importante compreender que o episódio das
irregularidades deve ser tratado com a firmeza necessária, sem que isto venha
denegrir a qualidade do trabalho realizado pela Gerência de Toxicologia ou
ocultar a tentativa de desregulamentação do controle dos agrotóxicos no
Brasil.
Nesse contexto, destaco alguns fatos que vêm ocorrendo e cujo objetivo é o de
retirar competências da Saúde ou “flexibilizar” sua atuação. Eles têm sido
debatidos e repudiados pela Gerência, pelo retrocesso que representam para a
sociedade:
- O Projeto de Lei – PL n˚ 6299/2002, ao qual foram apensados outros PLs (PL
3125/2000, PL 5852/2001, PL 5884/2005, PL 6189/2005, PL 2495/2000, PL 1567/2011;
PL 4166/2012; PL 1779/2011, PL 3063/2011 e PL 1567/2011), que estão tramitando
na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal, e que retiram
competências da ANVISA e do IBAMA nas avaliações de agrotóxicos.
- A criação de uma “Agência nacional de Agroquímicos”, veiculada pela mídia, e cujo conteúdo informa que um dos fatores impeditivos da implementação da nova Agência seria a “resistência dos técnicos da ANVISA”(sic).
- As tentativas de desqualificação da Consulta Pública 02, de 2011, oriunda da revisão da Portaria 03, de 1992, e que estabelece critérios cientificamente atualizados para a avaliação e classificação toxicológica de agrotóxicos. Durante o período da consulta pública, o setor regulado chegou a propor que esta revisão fosse suspensa.
- As tentativas permanentes de impedimento da reavaliação de agrotóxicos ou de reversão das decisões já adotadas, através das constantes pressões políticas e demandas judiciais. Tais procedimentos tem sufocado o trabalho da Gerência. Oito produtos ainda estão pendentes de conclusão; a proibição do metamidofós foi emblemática, pelo tanto que onerou as atividades da equipe.
- As tentativas de flexibilização da legislação, com o intuito de permitir a criação de normas que autorizem as alterações de composição e o reprocessamento de produtos, sem critérios técnicos fundamentados.
- A criação de uma “Agência nacional de Agroquímicos”, veiculada pela mídia, e cujo conteúdo informa que um dos fatores impeditivos da implementação da nova Agência seria a “resistência dos técnicos da ANVISA”(sic).
- As tentativas de desqualificação da Consulta Pública 02, de 2011, oriunda da revisão da Portaria 03, de 1992, e que estabelece critérios cientificamente atualizados para a avaliação e classificação toxicológica de agrotóxicos. Durante o período da consulta pública, o setor regulado chegou a propor que esta revisão fosse suspensa.
- As tentativas permanentes de impedimento da reavaliação de agrotóxicos ou de reversão das decisões já adotadas, através das constantes pressões políticas e demandas judiciais. Tais procedimentos tem sufocado o trabalho da Gerência. Oito produtos ainda estão pendentes de conclusão; a proibição do metamidofós foi emblemática, pelo tanto que onerou as atividades da equipe.
- As tentativas de flexibilização da legislação, com o intuito de permitir a criação de normas que autorizem as alterações de composição e o reprocessamento de produtos, sem critérios técnicos fundamentados.
Abraços.
Luiz Cláudio Meirelles
Pesquisador em Saúde Pública
meirelles@ensp.fiocruz.br
(21) 2598-2681/2682
Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana – CESTEH
Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca – ENSP
Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ
Rua Leopoldo Bulhões, 1480, Manguinhos.
CEP 21041-210 Rio de Janeiro, RJ.
Pesquisador em Saúde Pública
meirelles@ensp.fiocruz.br
(21) 2598-2681/2682
Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana – CESTEH
Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca – ENSP
Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ
Rua Leopoldo Bulhões, 1480, Manguinhos.
CEP 21041-210 Rio de Janeiro, RJ.
(*) Matéria reproduzida da página da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela
Vida.
terça-feira, 20 de novembro de 2012
Os fatos em Florianópolis
Elaine Tavares
Dizia Maquiavel ao seu soberano no
célebre livro O Príncipe, ensinando como administrar um estado. “Conhecendo-se
de longe os males que virão (o que só é dado ao homem prudente), pode-se
curá-los facilmente. Mas, quando esses males se avolumam de modo que todos já
podem reconhecê-los, não há mais remédio que possa estancá-los”. Pois é essa
baratontice (de não saber entender a realidade) que se pode observar nas
declarações do governador Raimundo Colombo, nos secretários municipais, no alto
comando da polícia e tantas outras autoridades, nesses dias em que, ao que
parece, baixou um zepelim dourado na cidade de Florianópolis. A tal da
“segurança” do estado de direito parece ter se esvaído e ninguém sabe onde
encontrá-la, com as autoridades preferindo atuar na aparência a mergulhar na
essência dos problemas, para definitivamente resolvê-los. Talvez, como na música
do Chico, estejam esperando uma Geni, que afaste o mal, por hora, para que os
turistas possam voltar e a cidade se sentir segura.
Na verdade, poucos conseguem perceber
que a raiz dessa violência desenfreada está na própria existência de um sistema
de organização da vida que divide as pessoas em classes, sendo que uma é
possuidora dos meios de produção e das riquezas produzidas, e a outra, nada tem
além do corpo, a força de trabalho. Ao mesmo tempo, a classe que domina impõe
uma pedagogia do desejo que faz com que os que nada têm almejem possuir o que
nunca terão. Assim, quando essa expectativa se frustra, as respostas são as mais
diferentes: uns, se resignam, outros, lutam, outros tomam à força o que o
próprio sistema lhes ensina querer. Esses, os últimos, por fazerem o que fazem,
são perseguidos e punidos. E daí nasce o paradoxo do sistema prisional. Grande
parte dos que ali estão nada mais é do que vítima de um sistema que lhes ensina
a querer o que nunca terão, mas que, por rebeldia ou necessidade, acabam por
tomar na força. O estado, criador do sistema punitivo, não tem qualquer
compromisso com essas gentes. Não quer cuidar delas, não quer recuperá-las, não
se importa. Trata como um tumor, uma doença que foi crescendo no corpo sarado
que tenta dar ao sistema social, e cujo destino final só pode ser o
extermínio.
Ao que se sabe as prisões sempre
existiram como espaço de confinamento daqueles que burlassem a paz dos senhores.
Os que não pagassem os tributos, os que se rebelassem contra o poder, os
chamados hereges. Nos tempos mais antigos o confinamento não tinha o caráter de
pena, o que se buscava era manter a pessoa sob o domínio físico, visando
garantir que os castigos fossem impostos. Conforme conta Elizabeth Misciasci, no
trabalho “Como nasceram os cárceres”, até a chamada modernidade ninguém se
importava muito com os locais onde as pessoas eram aprisionadas exatamente por
não estares ligados a uma pena. Eram só os espaços nos quais a pessoa esperava
pela tortura ou pela execução. As penas, conta ela, eram imputadas conforme o
arbítrio dos governantes, que as definiam conforme o "status" social do réu:
“amputação dos braços, degolar, a forca, incendiar, a roda e a guilhotina,
proporcionando o espetáculo e a dor, como por exemplo, a que o condenado era
arrastado, seu ventre aberto, as entranhas arrancadas às pressas para que
tivesse tempo de vê-las sendo lançadas ao fogo. Eram essas penas que constituíam
o espetáculo favorito das multidões deste período histórico”.
A ideia de prisão como espaço de
cumprimento de pena só vai começar com o advento do capitalismo, pois como
explica Misciaci, só num sistema em que o trabalho humano é medido pelo tempo
poderia vingar a proposta de se fazer expiar o delito com um “quantum de
liberdade”. Da mesma forma, na Europa, durante o período da chamada revolução
industrial, a pobreza das gentes atingiu índices estratosféricos e desde aí, a
criminalidade também aumentou. Foi essa situação específica que gerou a
construção de lugares específico onde as pessoas pudessem ficar confinadas para
corrigir sua forma de agir no mundo. Naqueles dias era crime mendigar,
vagabundear, e não aceitar trabalho. As prostitutas eram consideradas
“criminosas natas”. O preso era um sujeito sem direitos, não importando qual
fosse seu delito. E foi apenas no século 18 que surgiu o Direito Penitenciário
como uma tentativa de garantir ao prisioneiro uma proteção. A base era a
exigência ética de que um ser humano deve ser tratado com dignidade seja qual
for o seu delito, e que a um ato violento não se deveria pagar com outro.
Todo esse movimento da sociedade em
direção a garantia de direitos dos apenados nunca foi sem razão. Ao observar a
história das prisões fica bastante claro que boa parte das pessoas que eram
encarceradas estava mais para vítima do que vilã. E isso quase sempre foi assim.
É fato que existem criminosos violentos e cruéis, mas no mais das vezes a
maioria dos que estão nas prisões cumprem pena por delitos leves.
No Brasil, o chamado regime
penitenciário, de caráter correcional, com fins de ressocializar e reeducar o
detento, só apareceu em 1890, depois reforçado e resignificado com diversas
outras leis. E, como é comum nos países que ficam na periferia do capital, por
aqui a pobreza sempre foi gigante, criando as condições para que a criminalidade
se fizesse em igual dimensão. Num mundo onde a riqueza fica nas mãos de poucos,
muitos são os que se rebelam contra essa concentração, daí a necessidade que os
detentores da propriedade têm de contínua vigilância de seus bens. Para isso
criam forças de repressão e sistemas de reclusão para quem burla as leis, as
quais, majoritariamente, foram feitas pela classe dominante. Logo, para
servi-la.
O fato é que a tal da ressocialização
dos presos nunca foi real. As prisões serviram e continuam servindo apenas como
depósito de gente “malvada”, vista como câncer da sociedade. Assim o que
acontece com eles dentro dos portões das penitenciárias não importa a ninguém.
Para a maioria que vive mansamente sob as regras ditadas pela minoria, existe
até uma sensação de segurança. Se os “malvados” estão presos, tudo correrá bem.
É por isso que as denúncias de superlotação, espancamentos, violências, violação
de direitos humanos, são vistas como coisas absurdas. Ou seja, não é permitido à
“escória” do “mundo livre” reclamar ou exigir qualquer piedade. Se algum dia
eles ousaram burlar as leis, que paguem por isso. Não importa que esse pagamento
seja o mais cruel, tanto quanto os da idade média, aqueles que levam as boas
pessoas às lágrimas quando vistos em algum filme de “roliudi”.
O sistema, para se proteger de quem o
quer transformar, cria uma pedagogia do medo, mostrando à exaustão o quanto de
maldade e terror os “bandidos” espalham pela terra. Não faz distinção entre os
criminosos reais e os pobres diabos que buscam sobreviver num mundo de exclusão.
Isso tampouco acontece dentro das prisões, nas quais um preso de primeira vez,
por roubar um pão, acaba na mesma cela que a de um assassino serial. As prisões,
então, em vez de promoverem a tal da reeducação, acabam se transformando em
escolas de crime. Muitas vezes, uma pessoa que cometeu um delito simples, sai da
penitenciária tão destruída psicologicamente que tudo o que quer é vingança. Daí
para outro crime é um passo só.
Hoje, em Florianópolis, as pessoas mais
pobres estão de novo pagando pela falta de visão do Estado. Fazendo ouvidos
moucos aos reclames dos presos no sistema penitenciário, em vez de dar soluções
simples como a garantia dos direitos humanos, o estado faz o contrário. Assim,
aviltados, violentados e humilhados, os detentos com vinculação a grupos
organizados no mundo do crime, resolvem atuar da mesma forma, impondo ao Estado
a mesma violência e humilhação, ainda que a corda venha a queimar na mão dos
trabalhadores.
Com as autoridades estatais em estado
de baratatontice, não são poucas as vozes que se levantam exigindo um banho de
sangue para os criminosos. “Bandido bom é bandido morto”, arengam, enquanto não
tiveram um dos seus enredados na teia da rebeldia ou da marginalidade.
Acreditam-se completamente livres de coisas assim, por isso babam por vingança.
Muitas vezes são até piedosos cristãos, frequentadores de missas e obras de
caridade. Criaturas para quem o “direito humano” só deve estar reservado aos
“bons”, seus iguais.
Mas, ocorre que “direito humano” é
coisa que vale para todos, sejam eles os privilegiados, os ricos, os
dominadores, ou os pobres, os excluídos, os marginais, os bons ou os maus. Por
isso se diz direito humano e não direito dos ricos, dos bonitinhos ou dos
branquinhos. O avanço da sociedade fez com que as pessoas percebessem que
punições como as que eram imputadas na idade média, de castigos corporais,
torturas e outras barbaridades não eram condizentes com a natureza humana. Daí a
necessidade de garantir os direitos, mesmo daqueles que do ponto de vista da
lei, cometeram delitos. Para isso existe o direito, para superar a lei do
talião, do dente por dente. Só que em momentos de crise é fácil perceber o
quanto a humanidade ainda se mantém no passado brutal.
A segurança não é coisa fácil de ser
garantida num estado divido por classes com uma abissal diferença econômica
entre elas. Tampouco um banho de sangue nas prisões da grande Florianópolis vai
trazer a paz. Se a sociedade insistir no dente por dente, olho por olho, isso
não vai ter fim. Santa Catarina vive sim uma queda de braço entre o estado e o
crime organizado. Mas essa é só a aparência imediata de um problema estrutural.
Pode-se vencer com o uso da força ou pode-se atuar no rumo de uma mudança
radical no sistema prisional do estado catarinense. E, mesmo isso ainda será um
pequeno passo diante da extrema violência que é o sistema capitalista em si.
E aos que clamam por sangue é bom que
saibam que o “outro”, ainda que desigual, tem os mesmos direitos de serem
tratados com dignidade. Negar isso a eles é deixar-se envolver pelo mesmo véu de
alienação e desumanidade, com o qual estão enredados os que cometem os crimes
mais vis. É se equipar em vileza e maldade. As pessoas que dioturnamente estão
em luta pelos direitos humanos não costumam escolher alvos específicos para o
exercício de direitos. Defendem a vida e a dignidade dos policiais, dos
trabalhadores, dos motoristas, das autoridades e dos que, premidos pela
brutalidade de um sistema que esmaga o humano, assumem o papel de criminosos.
Florianópolis vive dias de caos, com
ônibus queimados e gentes assustadas, no mesmo momento em que os trabalhadores
da saúde estão parados por melhores salários e condições de trabalho. Assim, da
mesma forma como os empresários tem seus bens depredados, os mais pobres, que
dependem do serviço público, amargam nos hospitais e nos postos de saúde, sem
atendimento. O tratamento dado pelo governador é desigual. Aos empresários,
manda escolta policial, aos trabalhadores, corta o ponto e ameaça, deixando os
espaços de saúde sem guarnição. Mas, isso, ao que parece, gera indignação em
muito poucos...
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
São Pedro de Alcântara: Repressão não substitui educação
Por Marcela Cornelli e Lívia Monte (texto e foto)
Uma das facetas do capitalismo e da sociedade em que vivemos é a guerra instalada entre policiais e traficantes. Mortes, represálias e violência. Todos vítimas de um sistema falido. Onde há vida não é prioridade para nenhum dos lados. Onde policiais morrem, mas também morrem os pobres/negros do morro, das favelas. Enquanto quem realmente tem poder de mandar nesse verdadeiro circo de horrores, os governantes e os donos do capital, que poderiam pensar um a sociedade mais justa, igualitária e melhor para todos, nada ou pouco fazem. Na maioria das vezes pacotes antiviolência são baixados de emergência trazendo mais repressão, como é o caso das UPPS (Unidades de Polícia Pacificadora) que servem para reprimir e intimidar somente a população empobrecida, visando passar uma imagem “limpa” e bonita do País em tempos de megaeventos. Repressão não substitui educação.
Um dos fatos mais recentes envolvendo questões de segurança pública aqui no Estado de Santa Catarina traz consigo denuncias de famílias dos presos da penitenciária de São Pedro de Alcântara. O Grupo de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade, como é chamado, vem se reunindo quase todos os dias em vigília em frente à Penitenciária para chamar a atenção para abusos cometidos contra os presos. O clima de tensão teria se acirrado depois da morte de uma agente penitenciária no último dia 26 de outubro, mulher do diretor da Penitenciária de São Pedro de Alcântara, Carlos Alves, que se mantém à frente da Instituição. Esposas dos presos denunciam que os detentos vêm sofrendo torturas desde então. Além disso, as visitas foram suspensas e as revistas às mulheres dos presos teriam sido realizadas de forma abusiva. Segundo elas, uma lanterna teria sido introduzida na genitália de uma das mulheres. Além disso, já estão acostumadas, segundo ela, a ficarem sem roupa agachadas e fazendo força várias vezes para ver se sai algo de dentro delas. Elas relatam as histórias como uma naturalidade de quem já se conformou a passar por tudo isso.
Mas foi na quarta-feira, dia 7/11, que a situação teria se tornado mais grave, quando um dos detentos parece ter imobilizado um agente prisional, tomando sua arma e disparado a munição de balas de borracha contra o chão. Em seguida, teria corrido e se agachado no corredor. O agente, então, disparou três vezes contra o detento. Familiares teriam visto o preso coberto de sangue e pedindo por ajuda, dizendo: “eles vão me matar, eles vão me matar”.
As autoridades afirmam que se tratou de um fato isolado, uma tentativa de motim que foi “exemplarmente” controlada pelas forças de segurança internas da penitenciária. Um vídeo divulgado nesse dia 13 de novembro, gravado por um celular de um preso, como dizia na reportagem que foi ao ar ao meio dia no jornal da TV RBS, mostrava o diretor da penitenciária entrado à frente nas celas dos presos com armas de bala de borracha atirando e mais agentes atrás. O diretor, segundo a matéria veiculada, dizia que queria saber quem tinha matado a sua mulher.
O movimento das Brigadas Populares de Santa Catarina, que está acompanhando a situação junto às famílias dos presos, em nota divulgada, questiona “em que circunstâncias um agente encontrou-se sozinho, com uma arma de grosso calibre, em uma cela com um detento. Esse comportamento atípico não poderia evidenciar que algo extraordinário estivesse acontecendo naquele momento? Muitos detentos mostravam sinais de lesões dos dedos das mãos, isso dentro da cadeia é sinal de que o detento recebeu golpes de cima para baixo dirigidos à região da cabeça, a qual eles protegem com as mãos. É possível que esse ato impensado do detento, seja mais uma evidência da possibilidade de espancamentos coletivos e de aplicação de torturas”.
O Grupo de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade também se reúne aos domingos em frente a um bar/restaurante no pé do morro da penitenciária em São Pedro de Alcântara. Na pauta discutem geralmente questões como denuncia de torturas, revista vexatória e maus tratos. Também está sendo discutida a construção do Conselho da Comunidade. O Conselho da Comunidade terá o poder de fiscalização no presídio.
“A luta que se está travando aqui não é uma só, ela envolve muitas questões sociais e de organização da classe trabalhadora. Eles (o governo) sabem que estamos aqui organizados no pé do morro da penitenciária e estamos alerta para qualquer abuso aconteça”, diz Allan Kenji Seki da Frente Anti-Prisional da Brigadas Populares de Santa Catarina.
“Não é porque a pessoa cometeu um erro ou é suspeito é que ele tem que levar pau. É preciso parar de aceitar a verdade deles. Não se pode aceitar que o estado oprima”, diz Elson José Porto, morador local e apoiador do Grupo.
As esposas dos presos contam que dias antes das visitas não serem mais permitidas, na quarta-feira dia 7/11, elas teriam que passar por um “banco” para detectar se estavam carregando algo e que estaria desregulado e “apitava” toda hora. E mesmo solicitando que fosse realizado um exame no IGP (Instituto Geral de Perícias) mais detalhado para garantir a visita, lhes era negado e dito que não havia agentes para levá-las ao IGP e por isso a entrada era “automaticamente” negada.
“O banco é desculpa. Uma maneira de penalizar os presos. Até as crianças estão sendo revistadas. Pedi pra ser levada então para o IGP e fazer os exames, mas não levaram. Disseram que não tinha efetivo”, afirmou Ana Grabriela Dal Paz, 27 anos.
Kamancalli Matos, 26 anos, também mulher de um dos presos contou que “quando entrei para a visita vi um preso machucado lá. Ele pediu socorro”. Kamancalli teve sua carteirinha de identificação apreendida quando parou na frente do preso para ver o que estava acontecendo. Sem a carteirinha ela ficou impedida de entrar na penitenciária.
“Não sabemos até quando vai durar esta falta de informações, sem as visitas”, disse Katrin Graziele Pereira, 22 anos, mulher de um dos presos.
“Falaram em 30 presos lá dentro baleados”, apontou Luciana de Fátima Neckel, 29 anos.
Uma primeira inspeção no presídio, para verificar as denúncias, foi realizada no dia no dia 8/11 pelo Juiz da Vara de Execuções Penais de São José, junto ao advogado do Grupo de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade, e acompanhados pelo diretor Carlos Alves. Porém, tal inspeção foi insatisfatória porque só foi permitido aos inspetores verificar cinco presos.
Após a divulgação de um vídeo, gravado pelos próprios presos, mostrando o envolvimento do diretor e também da pressão dos familiares, que permanecem acampados em São Pedro de Alcântara. No dia 13/11 foi realizada nova inspeção, onde esteve presente novamente o juiz da Vara de Execuções Penais de São José, mais representantes do Ministério Público, da Corregedoria do Tribunal de Justiça, Ordem dos Advogados do Brasil, Instituto Geral de Perícias e Polícia Civil.
Durante os procedimentos os familiares fizeram protestos pacíficos, e vibravam cada vez que carros escoltados saíam em direção ao Hospital Santa Tereza onde estavam sendo realizados os exames de corpo de delito. Os gritos e cantos de justiça eram entoados com fervor.
-“Família unida, jamais será vencida”.
-“Ô diretor, você está aonde, você tortura e a DEAP esconde”.
-“Chega de opressão, queremos solução”.
Um inquérito foi aberto na penitenciaria para apurar as agressões contra os em privação de liberdade. Ao final do dia o presidente da Comissão de Assuntos Prisionais da OAB, João Moacir Andrade, informou que a inspeção irá continuar hoje, e que mesma esta sendo feita cela por cela com o objetivo de ouvir todos os presos, até o momento já foram identificados 50 feridos.
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
Agora nós estamos livres...
Míriam Santini de Abreu
Agora nós estamos livres... Essa canção eu ouvi quando atravessava o Atlas para alcançar o deserto que desejava ver desde criança. Até hoje não escrevi nada sobre esse desejo, aquele encontro, do qual não tenho sequer uma foto, e de cuja materialidade sei pelo mistério da memória. Chegara em casa. Esperavam-me a areia, o sol ardente, os árabes e berberes que, na noite deserta, cantaram e tocaram, e no alto das dunas falaram sobre a possibilidade de atravessar uma fronteira sem se machucar por conhecer o vigia...
Foi em um livro de J. H. Van Den Berg, lido depois da viagem, lido para percorrer o caminho da liberdade, que li o que não consegui descrever:
"Ninguém viaja para outro país, se já não estiver naquele país, mesmo quando ainda não o conhece. O futuro sempre tem o sentido ligeiramente paradoxal de ali nos encontrarmos a nós mesmos. O viajante já está ali; agora que o seu trem está atravessando aquele país, o viajante está se encontrando a si mesmo; está encontrando o "eu" que mandou para aquele país antes de embarcar em seu trem".
Sim... O escritor marroquino Tahar Ben Jelloun, em seu livro O Menino de Areia, cita a frase dita por um poeta egípcio sobre a necessidade de se manter um diário: "De mais longe que se regresse, nunca se regressa de outro lugar que de si mesmo. Às vezes, um diário é necessário para dizer-se que já não se é mais".
Não mantive um diário da viagem nem conversei como quem entrevista. Mas é preciso palavra para contá-la, porque nela passado, presente e futuro me dizem que já sou outra.
sábado, 10 de novembro de 2012
Salvar a palavra
Míriam Santini de Abreu
Passa da uma da madrugada. Vão-se meses, quase dois anos, mais, talvez, que não escrevo de madrugada. Vão-se meses que não escrevo. Li há pouco o texto "Na casa de Olímpia", da Elaine, e fiquei a matutar. Não sei há quanto tempo as palavras partiram de mim. Não as encontro para dizer nada que valha a pena ser dito. Mas hoje, finalmente, coloquei em ordem meus livros nas estantes, tenho novamente uma longa escrivaninha branca, ao lado do computador um alienígena que encontrei em uma loja da Vidal Ramos, três prateleiras cheias de canetas coloridas e trecos em geral, na parede três fotos que amo, a casa de meu bisavô, a que mostra Elaine e eu Susques, no alto dos Andes, e outra minha e dela voando em vassouras sob a lua, montagem que o Rogério fez para mim.
Gosto de ver os livros alinhados nas estantes, adormecidos, mas prontos para despertarem. Depois de um longo tempo ser ler nada a sério, sem conseguir me deter em nada, já passei da metade de "A casa da sabedoria: como a valorização do conhecimento pelos árabes transformou a civilização ocidental".
O livro está ao meu lado. O alienígena me espia. Lembro de um outro livro que li há tempos, “Um Teto Todo Seu”, ensaio de Virginia Woolf no qual ela diz: “A mulher precisa ter dinheiro e um teto todo dela se pretende mesmo escrever ficção”.
Virginia Woolf ... Dela o que mais amo é "Passeio ao farol", no qual flui, violenta, toda a sua melancolia. Não, melancolia não. Tristeza. A sua tristeza. Os tristes sabem do que falo. Sentem. Buscar a alegria é um projeto. Um projeto que também entristece. Virginia Woolf entristeceu-se demais. Não pôde se salvar. Mas salvou o que deixou antes de se levar. Salvou sua palavra. Salvar a palavra também é um projeto, assim como procurar a alegria.
quinta-feira, 8 de novembro de 2012
Veja como foi o Dia do Saci em Florianópolis
A falta de uma política cultural na
cidade de Florianópolis ficou evidente na quarta-feira, 31 de outubro. Uma
caminhada pelo centro com um grande Saci Pererê já teve o efeito de enfeitiçar e
parar um grande número de pessoas, interessadas em simplesmente fruir alguma
coisa boa que só a arte e a cultura viva podem dar.
Numa promoção da Revista Pobres e
Nojentas e do Sintrajusc (trabalhadores da justiça federal), com o apoio do
Sindicato dos Bancários e do Sintraturb (motoristas e cobradores do transporte
público), um pequeno grupo celebrou, na Esquina Democrática, o Dia do Saci
Pererê, moleque protetor das matas desse imenso Brasil.
Num dia de vento sul, típico de sacis,
o centro da cidade, por algum motivo mágico, estava cheio de crianças.
Arrastadas pelas mães que tinham pressa, elas batiam pé e insistiam em parar
para ver e brincar com o Saci. Profundo encantamento com as histórias do
molequinho, deliciosa alegria com o chapeuzinho vermelho na cabeça. Um menino
em particular, encheu de emoção todo mundo. Abraçou-se ao Saci num abraço
apertado, como se tivesse encontrado um velho amigo e, encantado, recusava-se a
soltar o Saci, enchendo-o de carinho. Seu rostinho enfeitiçado era puro deleite.
E essas são as coisas que tornam todos os percalços para um ato dessa natureza
totalmente insignificantes.
Durante três horas, os manifestantes
contaram histórias, distribuíram panfletos, cantaram, dançaram e fizeram
estripulias, bem ao estilo do Saci, tornando a tarde uma alegria só. Como a
Felipe Schmidt é uma rua de passagem, de compras, o povo por ali anda apressado,
mas nesse 31 de outubro foram as crianças que deram o tom. Seguraram o passo e
se deliciaram com o Saci. A brincadeira também contagiou a gente grande que, num
primeiro momento, passava desconfiada, olhando de revés, mas, sem poder
conter-se diante da alegria, voltava, pegava o panfleto e posava para uma foto
com o Saci. "Vocês estão de parabéns. Isso é o que deveria ser feito nas
escolas. Levar nossa cultura para as crianças conhecerem", disse uma professora
aposentada que se deixou ficar no ato, cantando e brincando com o
Saci.
E assim, na tarde emburradinha de vento
sul, as gentes de Floripa que corriam apresadas e sérias, não tiveram outro
jeito que escancarar o sorriso. Coisas de Saci.
Veja o vídeo em:
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