sexta-feira, 30 de maio de 2008

Heloisa Helena

Marcela Cornelli, da equipe de P&N, com a presidente nacional do PSOL e ex-senadora por Alagoas, Heloisa Helena, que esteve em Florianópolis na sexta, 30 de maio.

Poemacios

"... vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada,
sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha
e filharada.
Vive dentro de mim
a mulher roceira.
- enxerto de terra,
trabalhadeira. Madrugadeira ....
lutadora, sambista, feminista"

(Cora Coralina)

quinta-feira, 29 de maio de 2008

A difícil arte de ser só

Por Elaine Tavares – jornalista

É assim. A gente sente um sentimento oceânico, ou um medo imenso ou qualquer outra coisa grandiosa, que precisa ser repartida. Então a gente busca os amigos. Mas eles estão ocupados demais e não podem te ouvir. É uma festa, um encontro, o ônibus que já vai sair. E tudo se esvai. E a gente fica sozinha na calçada, com aquela sensação abismal de abandono. Nestas horas há dois caminhos a seguir.

O primeiro deles é choramingar que ninguém te ama, ninguém te quer e que os teus amigos são uns egoístas que só pensam em suas próprias demandas. Baseado nisso, ir para casa com a firme certeza de que se está mergulhado na solidão, que a vida é injusta, que as pessoas não são capazes de retribuir todo o amor e o cuidado que se tem com elas cotidianamente.

O segundo caminho é o da deusa. Saber que aqueles que têm como missão serem os cuidadores da vida, seja de gente, bicho ou planta, são definitivamente seres solitários. São os que não precisam de nada em troca, são os que simples e gratuitamente dão... Sem nada esperar. São os que, como Morgana, a maga, fazem sua parte neste mundo material e depois entram na barcaça que conduz às brumas, e nelas se perdem para sempre.

Os seres humanos são seres do turbilhão. Estão, como o coelho de Alice, sempre com pressa. Mas isso não significa que não amam ou não se importam. É que poucos deles têm essa deliciosa certeza de que nas brumas vive o sagrado e que na presença do sagrado é impossível se estar só.

Iniciada nas coisas dos deuses, eu sempre optei pelo caminho de Morgana. Sem vazios na alma, sem autocomiseração. Mas, sozinha, domo minhas próprias ondas e navego, apesar da névoa, por que sei que, nas brumas, me espera a inefável deusa, a mãe. Então, não há motivos para ter medo de solidão ou tristeza. No sagrado, tenho a melhor companhia.

Claro que este é um caminho de fé.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Rotina de gueisha

Fernando Karl

Ao bater do meio-dia, a gueixa Yuki entrava na tina de Ofurô, a nudez dentro da tina, onde os perfumes derramados davam à água um tom cristalino de nada: depois uma carpa a penetrava, gozoza, de escamas macias, a carpa ia e vinha e friccionava as fendas da gueixa com o cerimonial de quem celebra um culto noturno; e embrulhada num céu que não tinha fim, a alma de Yuki --- céu de seda --- e, num dos recantos de seu mistério, a gueixa ondulava suavemente os quadris, dando aqui e além certo olhar ao jardim lá fora, entre árvores silenciosas – o jardim de pedra.
O resto da tarde, se havia luz que salpicasse as profundezas do horto, a gueixa Yuki passava lendo na Sala de Chá, e ali a mobília era de vime e os pequenos vasos de flores de cerejeira calavam cada mágoa, cada ira.
Um jardim de pedra; aí, quando nele estava, Yuki saboreava os escritos de O Livro do Vento, do poeta Syn Li. Enquanto iam sendo lidas as pequenas odes – a música na vitrola refrescava o ar –, e a gueixa agitava o leque e pensava na carpa, no céu, na seda.

terça-feira, 27 de maio de 2008

"Nojentas" na posse

Míriam, Janice e Marcela, da equipe de P&N, na posse da nova direção do Sindicato dos Bancários de Florianópolis e Região. Nojentas!



Via Crucis do correntista

Míriam Santini de Abreu

Estava inativa há dois meses a conta que eu mantinha em um banco privado. Solicitei um extrato e tomei o susto: R$ 30,00 de gasto com tarifas. Paguei a dívida e acordei na segunda-feira disposta a cancelar a conta.
Primeira Estação
Ligo para um 4004. Depois de aguardar alguns minutos para poder discar o dígito para atendimento pessoal, sou informada de que o cancelamento deve ser feito em minha agência, a quase 200 quilômetros de Florianópolis.
Segunda Estação
Ligo para a minha agência. Lá me dizem que cancelamento só por um 0800 exclusivo para encerrar contas. Disco e aguardo a oportunidade de falar com um ser humano, e não com uma gravação. A funcionária é taxativa: o serviço só pode ser feito em minha agência ou em uma agência “parceira”.
Terceira Estação
Digito um ofício requerendo o fim da conta, assino, embarco num ônibus e marcho para uma agência do banco no Centro da Capital.
Quarta Estação
Há apenas um rapazote no balcão de atendimento e dois seguranças na térreo da agência. O rapazote está no telefone. Vou até o segundo andar e pergunto:
- Onde cancelo conta?
- Lá no fundo, no balcão.
A funcionária dos fundos está no telefone. Desliga e informa que o cancelamento é no térreo. Desço, mas espumando de raiva.
Quinta Estação:
Explico o caso ao rapazote. Ele faz a mesma Via Crucis na qual deixei meu lamento. Informam a ele, no 0800, que o cancelamento só pode ser feito na minha agência. Prestativo, o bancário explica que a cliente está “extremamente incomodada”. Pedem que ele ligue para a minha agência. Lá a gerente da conta responde que não pode fazer nada, só pelo 0800.
Sexta Estação:
O funcionário relata à gerente da conta os detalhes do meu calvário, parecendo, a meu ver, tão irritado quanto eu. Compreendeu a minha raiva. Depois de insistir com firmeza, ele finalmente consegue fazer um memorando interno que assino e que é remetido, via malote, para a minha agência.
Conclusão
Depois de fazer picadinho do cartão eletrônico do banco, medito sobre a diferença entre o público e o privado. Não adianta querer discutir políticas públicas de educação e saúde na sede chique dos planos privados ou na escola particular dos filhos. Ali somos clientes. Ou paga e aceita ou procura outro prestador de serviço. A discussão tem que ser na escola pública e no SUS. Ali a gente é cidadão. Mas quem pode fazer essa briga não faz. Prefere ser cliente. E assim todos ficamos cada vez menos cidadãos.



segunda-feira, 26 de maio de 2008

Uma sombra em rebelião

Elaine Tavares
Aconteceu assim. E só poderia ser no meu Campeche, lugar de magias. Vinha eu mui fagueira cuidando dos vaga-lumes que rodopiavam sob minha cabeça. Eram umas dez horas da noite e eu fazia o percurso que vai do ponto do ônibus até minha casa, o que dá uns 600 metros. Além dos vaga-lumes, as estrelas luziam brilhantes na noite fresca de lua nova. Noite típica de outono, plena de beleza, sagrada. Nessas horas mortas eu gosto de limpar a mente, não pensar em nada, só fruir esse presente da natureza, completamente integrada na pulsação do universo. E assim caminhava, sentindo o vento geladinho. Feliz.
Foi então que, de inopino, minha sombra andou. É sério! Andou... Vinha ela, correta, me acompanhando tranqüila, no lugar onde deveria estar. Mas, num repente, andou. Vejam bem, eu não estava drogada, até porque a única droga que uso é o transporte coletivo da Capital, mas já não estava nele. A menos que tenha sido alguma reação tardia. Mas, em tese, eu estava limpa. De cara.
Durou um segundo e logo voltou à sua posição. Não havia nenhum foco de luz que a deslocasse, não estava passando nenhum avião. Tudo estava naquela santa paz das noites tranqüilas. Mas o fato é que minha sombra andou. Por alguns segundos se libertou de mim e seguiu à frente. Estupefiz! No meio do caminho parei e fiquei a indagar o que poderia ter sido aquele ato de rebeldia.
Estaria minha sombra enfarada de mim? Estaria meu corpo comportando-se como uma prisão para sua negra liberdade? Estaria ela querendo me dizer algo? Estaria prenunciando meu fim?Então, no meio da noite clara, na companhia dos vaga-lumes, nenhum som se fez. Minha sombra calada ficou e seguiu ordeira, do meu lado, pouca coisa atrás. Mas me deixou essa inquietude, esse desassossego. Minha sombra, essa louca, deve ter aprendido nas tantas lutas que fiz que é preciso sair do trilho, revolucionar.
Minha sombra, companheira, quer voar... Rebelde e livre, como eu!

domingo, 25 de maio de 2008

Nos Atacam e Resistimos

Da nossa carne fazemos trincheira.

Po Raul Fitipaldi, da equipe de P&N

Nos atacam e resistimos Manuel
Com bombas, com tanques
E resistimos com abraços, com vozes
Com lágrimas e sorrisos

Nos atacam e resistimos Augusto
Roubando as riquezas, escondendo a comida
E resistimos como sementes, com mãos e braços
Cantando quando nos dói, chorando por alegrias

Nos atacam e resistimos Emiliano
Entram nas casas e nos jogam fora
E resistimos levantando construções,
Construindo levantamentos e abrigos

Nos atacam e resistimos Sendic
Atiram com balas para quebrar-nos as pernas
E resistimos oferecendo a cara
Alçamos taquaras e pedras e anseios

Nos atacam e resistimos Rachel
Quando entram com suas bulldozers em nosso jardim
E resistimos com um lenço na mão
Fazemos redes de lenços para subir às estrelas

Nos atacam e resistimos Ernesto
Contra as doenças que inventam para acabar-nos
E resistimos botando as mãos nos leprosos e nos fuzis
Da nossa carne fazemos trincheira inexpugnável

Nos atacam e resistimos Micaela
Arrebentam nosso corpo e quebram nossos braços
E resistimos criando mais braços e mais corpos
Do ventre da Pacha Mama o leite morno da esperança

Nos atacam e resistimos Patrício
Esfaqueiam a terna pele da negra pátria
E resistimos abrindo nossos diamantes luminosos
Para ensinar o caminho das horas novas

Nos atacam e resistimos Fidel
Quando tu, Pai contemporâneo desta Pátria Grande
Desistas de corpo e vivas eterno entre nós,
Livres e contundentes, plenos e soberanos,
Resistiremos às tentações de derrotas e renúncias
Com o sangue libertário de Manuel, de Augusto, de Emiliano, de Rachel, de Ernesto, de Micaela, de Patrício, de todos os que hoje estão acompanhando uma nova estrela que ilumina o trajeto da inevitável libertação da Pátria Mãe, dia trás dia, até que daqueles que nos atacam não fiquem nem lembranças, nem sinais, nem covardias.
Nos atacam porque venceremos, mais cedo que tarde

Por isso nos atacam
Por isso resistimos, camarada Pedro Marín.


Em homenagem a Manuel Marulanda

Ele também ilustra!

Míriam Santini de Abreu
O jornal Observatório abriu espaço para mais uma crônica minha. O editor, Eduardo Schmitz, escreve, edita, fotografa, diagrama e, deveras "nojento", ainda ilustra. Ilustrações que amo. Vá em

sábado, 24 de maio de 2008

Lua Cheia de Maio

Míriam Santini de Abreu

Surpreendi a lua se libertar do mar de água brava da Praia Mole, em Florianópolis. Mas de longe, a visão meio obscurecida por uns eucaliptos. E quis surpreendê-la sozinha, eu e ela, o mais próximo possível. Escuro ali, cadê o caminho para o mar? Tento por um lado, cerca; por outro, arbustos espinhosos. Até que encontro uma trilha cercada de mata baixa, uns 70 metros. Vacilo. Mas ela me aguarda, e então vou. E no fim da trilha encontro a areia e o mar iluminados. Não há foto ou filmagem que dê conta de representar a beleza daquela Lua Cheia de Maio. Não há, à venda, Lua Cheia engarrafada. Mas vá na conta de P&N no You Tube (à direita) para ter uma pálida amostra.

http://br.youtube.com/watch?v=v9QC4COpfUg

terça-feira, 20 de maio de 2008

P&N na América Latina 6



















Machu Picchu e WaynaPicchu ao fundo e a cidade sagrada vista de cima de WaynaPicchu, a 2.634 metros de altitude.

Destino: Machu Picchu no Peru
Saída de Florianópolis dia 10 de janeiro. Chegada a Machu Picchu dia 21 de janeiro

A cidade Sagrada dos Incas

Por Marcela Cornelli
Jornalista da P&N

Nas asas do Condor. Foi assim que me senti. Me imaginei voando nas asas de um Condor, quando Machu Picchu abriu-se inteira abaixo de nós. O Condor era considerado pelos Incas um animal sagrado. Eles acreditavam que, por ser a ave que voa mais alto, o Condor faria a ponte entre os homens e o Deus Sol (Inti). Cheguei a Machu Picchu num misto de alegria, tristeza e culpa. Foram 11 dias de grande aventura e eu estava ali. Mas meu coração estava inquieto, pois, um dia antes de subir a Machu Picchu, recebi a triste notícia que meu pai havia falecido no Brasil. Quis voltar, porém ele já havia sido enterrado. Então resolvi subir a montanha por ele, por mim, e para tentar entender melhor alguns mistérios da vida.
A cidade outrora habitada pelos Incas, agora vazia, ainda transborda de energia e vida. A primeira parte de Machu Picchu que visitamos foi a Tumba Real e ali o guia explicou que os mortos eram enterrados em posição fetal e voltados para o amanhecer do sol, onde recebiam os primeiros raios solares, porque os incas acreditavam que os mortos renasciam. Eles não acreditavam em reencarnação. Para os Incas, os mortos renasciam num outro plano religioso. Tomei forças tocando nas ruínas sagradas e toda a magia do lugar ajudou a aliviar um pouco minha dor. Como disse a minha grande amiga Elaine, “se acreditarmos que a morte é só um momento da grande caminhada, fica mais fácil entender...”.

A forte neblina foi dispersando-se aos poucos, a chuva parou, o vento frio cortava o alto da montanha e a nossa frente ali estava ela, a cidade sagrada dos Incas. Hoje muralhas de pedra, ruínas cercadas de uma paisagem exuberante à beira de um grande penhasco. Alguns quéchuas que viviam na região já sabiam da sua existência e por ali passavam e usavam o local para a pastagem de seus animais. O que se sabe é que os espanhóis, quando chegaram a Machu Picchu, encontram a cidade já vazia. O que fez os Incas partirem deixando a cidade inacabada ninguém sabe. Acredita-se que os Incas, ao saberem da chegada dos espanhóis na região, fugiram para a floresta.
Machu Picchu foi um centro religioso e de estudos astronômicos e experimentos agrícolas – em seus terraços eram plantadas inúmeras variedades de papas. Havia em Machu Picchu também um jardim botânico onde se cultivavam várias plantas, entre elas a coca. A cidade ficou conhecida para o mundo com a chegada do historiador e professor da Universidade inglesa de Yale, Hiram Bingham, em 1911. O historiador foi levado para lá pelos índios quéchuas que já viviam na região e conheciam as ruínas.
Machu Picchu estava coberta pela vegetação. Com a chegada de Hiram Bingham os tesouros e segredos de Machu Picchu, até então guardados pela floresta, foram descobertos. Os objetos encontrados pelo historiador nas escavações feitas no santuário peruano foram levados para Yale, nos Estados Unidos, e nunca mais voltaram. Nos últimos anos o governo peruano tenta repatriar os tesouros, entre eles estátuas de ouro e peças de cerâmica (sobre a luta do governo Peruano para trazer os objetos de volta recomendo uma matéria da revista Carta Capital, nº 497, de 7 de maio/2008).

Pela manhã passeamos por Machu Picchu visitando vários pontos da cidade como os Templos do Condor e do Sol, o Templo das três janelas, o posto de vigilância, o relógio e o calendário solar, os salões de reuniões e onde aconteciam rituais religiosos, entre outros misteriosos e encantadores lugares. Fizemos a trilha que leva à ponte Inca e à tarde subimos o deslumbrante monte WaynaPicchu – a montanha que vemos atrás de Machu Picchu na famosa foto do sítio arqueológico. Do alto do WaynaPicchu, a 2.634 metros de altitude, Machu Picchu parece ter sido construída aos seus pés, protegida pela floresta, num lugar estratégico, perto do céu, do Deus Inti, e rodeada pelas fortes correntezas do Rio Urubamba. Faltam-me palavras para retratar tamanha beleza e grandiosidade. No alto do WaynaPicchu mais ruínas Incas. Impossível, pensei. Impossível eles terem construído algo aqui. Mas estavam ali, mais vestígios de uma civilização enigmática, que construiu uma cidade de pedra num lugar inacessível, que vivia em comunhão com a natureza, que nas ruas da cidade construiu canais onde a água que ali passava era compartilhada por todos, que carregava pedras pelas montanhas acima, demonstrando força e coragem, que estudava as estrelas e vivia sobre a guarda dos espíritos da velha montanha.

O tempo máximo de permanência em WaynaPicchu era até as 16 horas. Descemos. Admiramos um pouco mais Macchu Picchu. Recarregamos as energias. Despedimos-nos da cidade e seguimos montanha abaixo pela trilha Inca. A cada 100 metros da descida olhávamos para traz. Queria voltar. Queria chegar ao Brasil rápido pelo fato acontecido. Queira voltar a Machu Picchu. Talvez ficar ali por muito, muito mais tempo. As pernas já não agüentavam mais, descemos a montanha quase em silêncio total, acompanhados por um cão, que apelidamos de Inca Cão e que nos guiou pela trilha Inca. Machu Picchu ficava para trás, mas seguia conosco toda a magia do lugar.
Uma viagem inesquecível para todo amante da América Latina. Voltamos a Cuzco no dia seguinte. Depois, aceleramos a volta de avião, pois eu precisava chegar ao Brasil com urgência. Fomos a Lima e de Lima tomamos outro avião para São Paulo e depois Florianópolis. Como perdemos a conecção Lima/São Paulo, acabamos ficando um dia na capital peruana - uma cidade linda e agradável, muito interessante também para se conhecer. Depois posto algumas fotos de Lima também. Com as matérias da P&N na América Latina espero ter inspirado alguém a aventurar-se pelos lindos caminhos da nuestra américa ou por outras paragens ...

domingo, 18 de maio de 2008

Plano Diretor tem muita reunião, mas pouca participação

Míriam Santini de Abreu

Está quieta a discussão do Plano Diretor Participativo de Florianópolis, que tem como eixo principal a participação efetiva da população, prevista no Estatuto da Cidade. O PDP irá definir o futuro da Capital no que se refere aos aspectos ambientais, culturais, econômicos, sociais, institucionais e espaciais. Até agora houve muita reunião, mas o assunto não “colou” no dia-a-dia da maioria dos moradores. São sete etapas previstas, e agora está se avançando para a terceira, que terá fóruns temáticos sobre área como meio ambiente, mobilidade urbana e saneamento. Modesto Azevedo, que representa a União Florianopolitana de Entidades Comunitárias (Ufeco) no Núcleo Gestor do PDP, fala sobre o assunto na entrevista abaixo:

O ritual da nudez, após o banho de sais

Por Fernando Karl

Para iniciar o ritual da nudez, a Senhora retorna ao quarto, após o banho de sais, envolta numa toalha branca. Para entenderes bem o que é o céu na alma, observe primeiro o modo como ela se desnuda. Eu obedeço, dando ao rosto o maior interesse possível, enquanto a Senhora deita na cama e acaricia as pernas com óleo de amêndoas.
Confesso que foi no verão a primeira vez que vi a Senhora, no Café Graben, que era então o único lugar onde se podia observar, pela imensa janela transparente, as pessoas que andavam na rua. E elas todas iam ao açougue, à Botica da Erva Santa ou ficavam nos bancos no Largo do Paço.
No Café Graben eu tinha fome, muita fome, porque não havia comido nem uma folha de alface nem bebido um copo d’água sequer. A Senhora entrou de longo chapéu azul, como se usava naquela época, e sua nuca muito branca foi o que de imediato me chamou atenção. Ela se sentou próxima de gordas senhoras, nas suas ricas vestimentas que, ao fundo do Café Graben, faziam barulho com o garfo e a faca e davam com a língua nos dentes sobre um assunto ou outro, sempre banal.
No momento em que a Senhora se levantou para ir ao banheiro, eu fui atrás, um pouco encharcado de vodca, confesso, e aconteceu dela se espantar quando o animal que há em mim arrancou cada peça de sua roupa e ali a Senhora ficou, no meio do banheiro, com a nudez branca e um tufo de pêlos negros entre as coxas. Confusão? Tumulto? Nada disso. Ela colou seu corpo no meu e fiquei durante minutos passando a língua nos ombros, nos quadris, no púbis, com a intenção de secar a chuva que nestes lugares havia se acumulado.
Depois que saímos do banheiro do Café Graben, a Senhora foi levada em braços para a Botica da Erva Santa, veio o farmacêutico, era noite; a Senhora tinha a cabeça rachada, e da fenda da cabeça tentava sair, com dificuldade, um pássaro azul com garras afiadas que bateu asas e singrou ao telhado de um casarão próximo.
Dali do interior da Botica pude fazer sinal a um tílburi que por ali passava; e retornamos, eu e a Senhora, ao sobrado onde ela residia.
O tílburi no meio do caminho atropelou uma menina de 12 anos. Eu escutava a respiração da menina, com a alma nos olhos, incapaz de desvendar o motivo porque ela havia acabado de morrer. O dono do tílburi fugiu e nunca mais foi visto.
Por muito tarde que chegássemos ao sobrado da Senhora, não estávamos com sede, ela adormeceu e a coloquei na cama.

A arte de fazer sopa de agnolini













Míriam Santini de Abreu

Às vezes, o inverno na Serra Gaúcha é envolto em neblina. Só é possível ver o que está a cinco, dez metros. Depois, só brumas. E aí a grande alegria é poder estar em casa, a chapa do fogão repleta de pinhões, a boa leitura feita sob cobertas quentes. E, à noite, molhar o pão no caldo de uma sopa de agnolini. A sopa de agnolini é um pitéu da culinária da Serra. A minha mãe sabe fazer tudo, desde o recheio até a massa passada na máquina.
Uma das tradições de família, quando éramos crianças, era a seguinte: o César, meu irmão do meio, ficava com o encargo de fazer as bolinhas de recheio. Eu, que sempre fiz questão de ter encargos bem vagos, adorava verificar, de soslaio, se o Cé estava distraído e, então, juntar quatro ou cinco bolinhas e comer tudo de uma vez só. O Cé berrava:
- Mãe, olha essa guria, ela não pára de comer!
Eh, eh, eh, como era divertido!
E fazer sopa de agnolini é assim:

Recheio:
Cozinhar 1 peito de galinha na água, que também será o caldo da sopa
Moer o peito e misturar a carne a uma clara de ovo, noz moscada, um pouco de canela, sal e queijo ralado. Amassar bem

Massa:
3 ovos, 3 xícaras de farinha de trigo, 1 colher de óleo e 2 colheres de água. Amassar até que fique bem lisinha e, depois, passar na máquina para espichar

Caldo:
Usar a água na qual foi cozinhado a galinha. Colocar uma cebola, alho, tempero verde e 1 caldo de carne

Como fazer o agnolini:
É preciso cortar a massa já espichada em pequenos quadrados. Colocar o recheio e fechar, unindo as duas pontas. Deixar o agnolini secar por algumas horas e, depois, cozinhar no caldo. Servir com queijo ralado e pão. Fica ainda melhor com um pouco de cren, uma raiz forte de origem européia. Os imigrantes ralavam a raiz e deixavam curtir três ou quatro colheradas num copo com vinagre de vinho tinto. Hoje, o bom cren é triturado no liqüidificador. Num copo de raiz forte, vão duas ou três colheres de vinagre de vinho branco e uma colher de açúcar. A mistura deve ter a consistência de uma pasta, quase como uma mostarda.
Veja parte do processo na conta de P&N no You Tube:

sexta-feira, 16 de maio de 2008

A gente adora uma muvuca!

Por Míriam Santini de Abreu

A gente adora uma muvuca! Basta caminhar no centro das cidades para perceber: o povo pára quando percebe uma agitação incomum, um alarido, um bafafá. Formam-se aquelas rodas cerradinhas, quem está fora nada vê, tem que chegar perto, forçar passagem, esticar o pescoço. Mesmo os apressados estreitam as sobrancelhas para tentar ver algo que dê uma pista do motivo para a curiosidade.
Há nas ruas das cidades esses seres incomuns: o velho, tocador de viola, chapéu preto com algumas pratas juntadas ao longo do dia; os guarani, meninos e meninas ainda, com sua canção pungente, que sempre deixa a alma um pouco dolorida, ligada a um passado que, às vezes, ameaça não ter futuro; o vendedor de homens-aranha, que lança os pegajosos bonequinhos paredes acima enquanto grita: - Lá vem eles, lá vem eles!; o homem da cobra, estranhas ervas à venda, ameaçando os transeuntes com uma suposta cobra dentro de um saco. E como fala, esse o homem da cobra!
São acontecimentos da vida urbana bons de perceber. Revelam pequenas afrontas ao tempo do relógio, das mercadorias, da produção. Trinta segundos, um minuto, cinco, pouco mais, pouco menos, tirados para perceber a vida que pulsa na cidade, antes da entrega ao “expediente”. Tempo mágico, de desafio, impetuoso ao quebrar a rotina, arriscar um percurso diferente, um movimento mais sinuoso do corpo, um pensamento hostil ao estado de coisas dito normal.
Milton Santos dizia que, se há um futuro possível, ele está sendo gestado nas cidades, onde revela-se de maneira crua o desamparo a que boa parte da população está relegada mas, que, também, abre novas possibilidades de ampliação da consciência. Em seu livro “Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal”, ele diz que é nas cidades que se observarão a renascença e o peso da cultura popular.
Pena que esse espaço público apareça sempre tão negativamente na mídia. A rua é confundida com pista de veículos, com espaço de comércio – “comércio de rua” em contraposição ao “comércio de shopping”. Há poucas notícias e reportagens que abram outros sentidos, permitindo que essa vida que pulsa nas cidades apareça, mostre-se em suas belezas e feiúras. Mas Milton Santos também acreditava que, sob a pressão das situações locais, das pessoas vivendo nos lugares, se gestaria uma “comunicação imaginosa e emocionada”. Esse tempo virá, e para dar notícias desse espaço.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Amar a humanidade

Míriam Santini de Abreu
Lançamento do livro do Dinovaldo Gilioli, da direção do Sindicato dos Eletricitários, Sinergia, no dia 14 de maio. Estavam lá tantas caras que conheço, caras da minha grande família de Florianópolis, que, devagar, aprendi a amar. Com essa gente estou em casa, aqueles sorrisos acolhedores, os abraços afetuosos, a lembrar de miudezas deliciosas, pequenas delicadezas. Saímos de lá perto das 21 horas, o ar brando e fresco da noite volteando o corpo, a lua num crescente. Que vontade de me pendurar nela! Paramos no Mercado Público para agarrar com todos os dentes um pastel de camarão fervente, moléculas de gordura plenamente recheadas. Então estou como Florbela Espanca:
Tenho sede d’amar a humanidade…Eu ando embriagada… entontecida…

segunda-feira, 12 de maio de 2008

P&N na América Latina 5












As ruínas Incas em Pisaq e as ruas de Ollantaytambo, no Vale Sagrado. Criança acena para o trem na viagem até a Vila de Macchu Picchu.

Destino: Macchu Picchu no Peru
Cuzco - Vale Sagrado – Vila de Macchu Picchu
Por Marcela Cornelli
Jornalista da P&N

Partimos de Cuzco no dia 20 de janeiro pela manhã rumo a Mapi, ou Águas Calientes, uma vila no meio da montanha, base para a subida a Macchu Picchu. Seria mais um dia de viagem até subirmos a montanha. Deixamos as mochilas aos cuidados da agência de viagem (no chão, ao lado do banheiro) na qual compramos um pacote com o transporte e as entradas para Macchu Picchu. Só levamos uma muda de roupa, água, capa de chuva, alguns casacos, nossos documentos e dinheiro. Para chegarmos à Vila de Macchu Picchu fizemos parte do caminho de ônibus até Ollantaytambo, onde pegamos o trem que corta as montanhas, margeando o Rio Vilcanota (Wilcamayu - Rio Sagrado), também chamado de Rio Urubamba. Para chegar a Vila de Macchu Picchu, ou Águas Calientes (prefiro chamar de Vila de Macchu Picchu – os nativos também), só de trem ou pela famosa trilha Inca – para fazer a trilha Inca leva-se uns quatro dias de caminhada partindo de Cuzco e também é necessário fazer reserva com antecedência nas agências de turismo.
Antes de chegar a Ollantaytambo, que também faz parte do Vale Sagrado dos Incas, passamos por Pisaq, um povoado que guarda muitas tradições e onde também há ruinas Incas. Em Pisaq há um grande mercado de artesanato e comidas típicas que vale a pena ser visitado. As ruínas ficam no alto da montanha, são menores que Macchu Picchu, mas também possuem toda magia do Vale Sagrado. De Pisaq fomos para Ollantaytambo, também uma pequena cidade, uma vila. Andando pelas ruas de Ollantaytambo, rumo à estação para pegar o trem até a Vila de Macchu Picchu, você pensa ter passado por um portal do tempo. A cidade mantém muitas características da cultura incaica e é cercada de montanhas e ruinas Incas.
Na estação de Ollantaytambo pegamos o trem para Àguas Calientes, onde passamos a noite, para logo cedo subirmos a Macchu Picchu. Pegamos o trem na classe turística. Durante a viagem é possível ver as exuberantes paisagens do Vale Sagrado, as montanhas andinas, a mata nativa, tudo isso beirando o rio Urubamba. O trem corta as montanhas por entre túneis. Nas margens crianças acenam. Dentro tomamos um lanche com muito mate de coca, pão com queijo e um delicioso doce que lembra o cheese cake das padarias de Floripa. Chegamos à Vila de Macchu Picchu no final da tarde, porém a Vila é muito lúgrubre, úmida e escura, talvez por ser janeiro, a época das chuvas na região, e já parecia noite.
O barulho da cachoeira que corta a Vila perdura noite adentro. Dormimos num hotel que nem vou recomendar, apesar de ser barato, pois era muito úmido, cheirando a mofo, chovia e fazia frio e a resistência do chuveiro caía o tempo todo, etc, etc ... Por isso, ficamos até tarde da noite caminhando pelas ruelas, cheias de restaurantes, lojas de artesanatos, bares, mercadinhos e toda estrutura para receber os turistas. A praça da cidade é muito aconchegante mesmo à noite e estava cheia de turistas e crianças nativas brincando. Achamos estranho tantas crianças na rua à noite, e, seguindo uma delas até um prédio da administração da Vila, descobrimos que os pais estavam participando de uma importante reunião, que, é claro, nós, turistas, não podíamos ter acesso. Muito curiosa, eu queria entrar, mas eles estavam discutindo problemas da localidade e me senti invadindo um pouco a vida da comunidade, então preferi ficar na praça conversando com as crianças, que nos explicaram que estas reuniões são comuns na “municipalidad”.
Antes de retornar ao hotel fomos jantar. Há muita opções, para todos os bolsos e todos os gostos. Prefirmos seguir o “menu” do dia, como eles falavam: sopa de cogumelos (mas não eram alucinógenos), salada de frutas, na entrada, suco de mamão e truta com batatas e um molho que não me lembro o nome, bem picante e gostoso. Para acompanhar, a famosa cerveja Cuzqueña. Tudo isso por uns 30 soles, 10 reais, dividido em duas pessoas. Já era quase meia noite quando voltamos ao hotel.
Dormimos para poder pegar o ônibus que sobe até Macchu Picchu bem cedo, às 5 da manhã. Choveu a noite toda e foi com muita chuva e neblina que subimos as ruas de barro até Macchu Picchu e cruzamos o portal de entrada do parque arqueológico, às 6h20min. Fomos os primeiros a entrar. O parque fecha às 17 horas, não queríamos perder um minuto sequer. Macchu Picchu é deslumbrante, maravilhosa, mística, exuberante. Vista de tão perto, nos faz questionar como algo tão grandioso foi construído à beira de um gigantesco penhasco, num lugar quase que inacessível. A cidade só abriu-se, mostrou-se para nós, ao meio-dia. Foi um dia de muitas emoções, incluindo a subida do Waynapicchu, na língua quéchua dos incas “Montanha jovem”, a 2.634 metros de altitude, uns 300 metros mais alto do que o sítio arqueológico de Machu Picchu, ou “Montanha Velha”. A visita ao sítio arqueológico de Macchu Picchu, a subida ao Waynapicchu, onde somente alguns turistas se aventuram, e a descida pela trilha Inca ficam para a próxima parte desta série, na próxima segunda, pois tanta beleza e grandiosidade não caberiam em poucas linhas e o texto já está longo, e o domingo acabando ...

domingo, 11 de maio de 2008

Poesia: primeira manhã do mundo

"A ética humana deve ser mais profunda --- cuidar das crianças, escutar música, não deixar que a poesia seque. Em nome de não sei o quê, sempre deixam a poesia de lado, logo a poesia que é dádiva perene dos anjos. Poesia: primeira manhã do mundo."

Frase do jornalista e poeta Fernando Karl

Pandorgas

Míriam Santini de Abreu
Há uma pracinha atrás do nosso condomínio. Ali os guris - 10 a 60 anos - jogam futebol, gritam, xingam. Pais e mães cuidam da tarde, a falar das coisas da vida. Vozerio bom. E os piás soltam pandorga, seja o céu claro ou escuro. A vida na cidade fortalece, às vezes.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Sessão Especial discute questão palestina

No dia 15 de maio, a partir das 19 horas, haverá Sessão Especial a respeito da questão Palestina na Câmara Municipal de São José, SC. Os debatedores são Fawzi El Mashni, ex-embaixador da Autoridade Palestina no México, e Youssef Ahmad Youssef, professor da UNISUL. A Câmara Municipal de São José fica na Praça Arnoldo de Souza, 38, Centro Histórico do município.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Veja fotos do lançamento do livro Transparente Demais






Lançamento do livro Transparente Demais, de Rosangela Bion de Assis, no dia 5 de maio. Na primeira foto, a jornalista Elaine Tavares, editora da Pobres & Nojentas, declama um dos poemas da autora; na terceira foto, Rosangela fala sobre o livro.


terça-feira, 6 de maio de 2008

Contestado tem Agência de Notícias Populares

Com os principais meios de comunicação de Santa Catarina dominados por uma só empresa, é cada vez mais importante o incentivo às mídias como a Agência Contestado de Notícias Populares, AGECON. Depois de seis meses de trabalho, a Agência está no ar, ainda em fase experimental, fruto do trabalho de várias organizações sociais como a CRESOL - Tangará, Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA, Movimento dos Atingidos por Barragem – MAB, Pastoral da Juventude Rural – PJR, Sindicato dos Servidores Municipais de Fraiburgo – SINTSER, Associação Paulo Freire de Educação e Cultura Popular de Fraiburgo – APAFEC e Jornal Vitória.
De 13/04 até dia 28/04 o site da AGECON registrou 1.170 acessos, uma média de 78 acessos diários, e é mais um importante passo que os movimentos sociais da região do Contestado dão no sentido de ocupar o latifúndio da comunicação.
Para saber mais sobre a AGECON basta acessar o site: www.agecon.org.br A missão da Agência é ser um instrumento de luta, divulgando as ações e notícias dos movimentos e outras organizações sociais, anunciando um projeto popular para o Brasil e denunciando a criminalização feita aos movimentos e organizações sociais pelos grandes meios de comunicação.
Fonte: http://www.desacato.info/

Letra Editorial lança Transparente Demais


Lua nova, o jardim do Palácio Cruz e Sousa repleto de sombras arredias, um frescor na noite... Tudo para fazer do lançamento do livro de poemas Transparente Demais, de Rosangela Bion de Assis, um evento concorridíssimo, como dizem os colunistas sociais. Eram 22 horas desta segunda, 5, e a fila da autógrafos não terminava. A Letra Editorial caprichou na organização do lançamento, e a Pobres & Nojentas, diagramada pela Rô, teve espaço para divulgação e vendas. A capa do livro é primorosa, os poemas também. Nesta semana vamos mostrar as fotos!

Diretor do Sinergia lança livro de poemas


Dinovaldo Gilioli, da direção do Sindicato dos Eletricitários, Sinergia, lançará no dia 14 de maio, quarta-feira, às 19h, na Fundação Cultural Badesc, o livro "Cem Poemas". Haverá declamação de poemas e intervenção teatral. A Fundação Cultural Badesc fica na rua Visconde de Ouro Preto, 216 na Capital.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

P&N na América Latina 4




Lago Titicaca e seus encantos e a Praça de Armas em Cuzco

Destino: Macchu Picchu, no Peru La Paz – Copacabana – Puno – Cusco

Marcela Cornelli - Jornalista da P&N

Nos despedimos de La Paz, na Bolívia, no dia 17 de janeiro, num dia frio e chuvoso, e seguimos rumo à cidade sagrada dos Incas. Era uma hora da tarde. Nosso destino: seguir viagem até Cuzco, no Peru. Considerada a cidade imperial dos Incas, Cuzco era o mais importante centro administrativo e cultural do Império Inca até ser invadida e destruída pelos espanhóis. O conquistador Francisco Pizarro invadiu e saqueou a cidade, estabelecendo o domínio espanhol em Cuzco no dia 15 de novembro de 1533.
O nome original da cidade era Qosqo em Quechua, que significa "o umbigo do mundo". As ruas principais de Cuzco contêm restos de paredes Incas. A cidade foi praticamente destruída e os espanhóis construíram suas casas sobre os muros de pedras incas. A Praça das Armas no centro da cidade é ponto de encontro de turistas vindos do mundo todo. Cuzco possui em torno de 300.000 habitantes e está a 3.400 metros acima do nível do mar. Por isso, para chegar até lá, você ainda sentirá os efeitos da altitude.

Em La Paz, pegamos uma van lotada num lugar chamado Cementério. Ao lado da saída dos micro-ônibus e das vans, que eram todos muito velhos, mas até que em bom estado, pode-se comprar alguns mantimentos, água e capas de chuva. Daqui para a frente ter sempre à mão a capa de chuva e ter as roupas da mochila envoltas em sacos de lixo são duas dicas que deixo para quem faz o trajeto até Macchu Picchu por terra. Eu e George, meu companheiro nessa linda viagem, fomos no banco da frente com o motorista. As mochilas foram em cima da van. Eu ainda estava bastante enjoada devido à altitude. As janelas da van não abriam, com exceção da janela do lado do motorista. De turistas somente nós dois, os demais eram bolivianos e eles iam atrás, rindo, contando histórias e comendo, comendo o tempo todo, pollo e papas fritas.
O cheiro de comida dentro da van era muito forte e eu ia passando um pouco mal, mas logo que avistei o Titicaca não havia mal-estar que perdurasse e, como se não bastasse a linda vista, ainda íamos escutando numa rádio boliviana músicas clássicas. Ao som de Bach e Strauss seguíamos na van com os boliavianos pelas margens do Titicaca, o maior Lago da América Latina, com 8.300 kilômetros de extensão e também o lago navegável mais alto do mundo.
Pelo caminho, antes de chegarmos a Copacabana, presenciamos a retirada de corpos de um acidente com um ônibus pequeno que havia caído no penhasco. A viagem margeando o Titicaca se faz numa estrada asfaltada e boa, porém qualquer descuido do motorista pode provocar um acidente e o carro despencar metros de altura. O motorista do ônibus tombado havia dormido no volante, foi o que nos disseram. Paramos para ver o que estava acontecendo. Todo mundo estava parando, mas não só por curiosidade e sim em solidariedade, porque poderia ter sido qualquer um dos demais ônibus e vans que por ali passavam. Em meio a um clima um pouco mais triste pelos 21 bolivianos mortos seguimos nossa viagem. A paisagem é inspiradora. O Titicaca parece um imenso mar, formado pelo degelo das cordilheiras andinas.

Nas margens do Titicaca as plantações ainda realizadas com técnicas incas enchem os olhos e a paisagem com várias tonalidades de verde. Na Bolívia, só de batatas ou papas, como eles falam, são 158 tipos. Pelo caminho muitos carros enfeitados com flores nos chamaram a atenção. O motorista da van explicou que os carros estavam vindo de algum batizado. Precisamos atravessar de barco uma parte do Titicaca. A van foi numa pequena balsa e nos encontrou do outro lado. O barco balançava bastante e as crianças e senhoras ficaram com um pouco de medo. Um dos meninos que estava conosco sentou no meu colo e olhando-me assutado disse: “Yo no sé nadar”. O irmão mais velho riu dizendo que a preocupação era porque não tinha nenhum salva-vidas no barco. Mas a travessia pelo Titicaca não dura mais do que uns 10 minutos e logo chegamos na outra margem.
Ainda com a mesma van fomos até Copacabana. A cidade é pequena e tem no centro uma praça com uma igreja em homenagem à Nossa Senhora de Copacabana, santa que também originou o nome da praia de Copacabana no Rio de Janeiro. Já era final de tarde e apesar de muitos turistas pararem por ali pelo menos um dia, resolvemos seguir rumo a Cuzco. Para isso, pegamos mais uma van até a fronteira. Também para cruzar da Bolívia ao Peru só nos foi solicitado a carteira de identidade. Cruzamos a pé. E tivemos sorte porque quando mal saímos da aduana, estacionou na frente do prédio um ônibus lotado de turistas franceses. Se tívessemos ficando cinco minutos a mais em Copacabana enfrentaríamos uma pequena fila de turistas para cruzar a fronteira. Já do lado peruano pegamos outra van até Yunguyo e dali mais um ônibus rumo a Puno, nossa próxima parada antes de chegar a Cuzco.
O ônibus que nos levou a Puno era pequeno e velho e as bagagens seguiram amarradas em cima do veículo. De turistas como nós, havia um casal de canadenses, que entraram desconfiados no ônibus, não pelo povo, pois a exemplo da Bolívia, todos eram bem hospitaleiros com os viajantes, mas, talvez, por estarem muitos dias na estrada como nós, numa viagem cheia de surpresas, porque nunca se sabia muito o que viria pela frente. Seguimos todos por mais uma etapa da viagem, ainda margeando o Titicaca, agora do lado peruano. Do som no ônibus (um toca-fitas antigo) sonava uma canção típica peruana. O ônibus seguiu até Puno sem maiores problemas. Já era noite quando chegamos no terminal da cidade de Puno. E mais uma vez trocamos de meio de transporte. Agora um taxista (numa bicicleta transformada em táxi e coberta com uma lona) nos levou pelas ruas de Puno até a rodoviária onde, finalmente, após trocarmos seis vezes de meio de transporte desde que saímos de La Paz, ou seja em menos de 24 horas, conseguimos pegar o ônibus para Cuzco.

Estávamos tão cansados que pedimos ao taxista uma dica de empresa para que o ônibus fosse um pouquinho bom, que, pelo menos, não quebrasse. A rodoviária em Puno estava tomada por turistas, nativos só nos balcões das empresas de ônibus e nas lanchonetes. Parada para um lanche, banheiro, não dava quase para andar no meio de tanto turista. Eram mais ou menos umas 22 horas. E todos estavam eufóricos naquela rodoviária. Acredito que porque Macchu Picchu estava cada vez mais próximo.
Na viagem até Cuzco um susto na aduana. Bolivianas que viajavam no ônibus nos pediram para “guardar” atrás da gente e embaixo dos encostos dos nossos bancos roupas de crianças e muitas roupinhas de bebês. Enquanto elas socavam malas nos nossos pés e roupas nos nossos bancos fiquei segurando um dos bebês, que também estava socado de roupa, nem se mexia. Achamos que era para elas não pagarem excesso de bagagem e resolvemos ajudar. Porém na aduana para entrar no estado cuzquenho, levamos um susto. Entraram no ônibus muitos policiais. O ônibus não tinha luz interna.
Os policiais entraram segurando nas mãos lanterninhas (iguais àquelas usadas pelos agentes Mulder e Scully no seriado Arquivo X) e colocavam a luz na cara de todos. Pensei nas roupas, se não eram contrabando. Ficamos nervosos, mas não nos movemos. Estávamos embaixo de uma manta que as bolivianas tinham nos emprestado para nos cobrirmos e, é claro, para esconder as roupas. Passado o susto, o resultado: as mulheres tiveram suas várias malas apreendidas, só restando basicamente as roupas que carregamos para elas. Recebemos muitos sorrisos e palavras de agradecimento, mas ficamos com a certeza de que nos metemos em algo que poderia não ter acabado muito bem.

Chegamos em Cuzco no dia 19 de janeiro, às seis da manhã - uma das últimas paradas da viagem antes de subirmos a Macchu Picchu. Pegamos um táxi até o centro da cidade e nos hospedamos num hotel bem baratinho, sem luxo algum, mas atrás da Praça das Armas, um dos pontos turísticos mais famosos de Cuzco, pertinho de tudo e ainda tinha um delicioso café da manhã, com leite, café, pão, suco de mamão e geléia, mas nunca imagine o pão brasileiro, o de lá é mais duro, escuro e em forma de uma grande hóstia redonda. Há muitos passeios para fazer ao redor de Cuzco e na própria cidade, que tem como a Praça das Armas o ponto de encontro, com muitas construções espanholas, restaurantes, cafés, bancos, agências de turismo. Aproveite em Cuzco também para tomar a cerveja Cuzquenha e a Inka Cola, além de, para quem não é vegetariano, experimentar os pratos com carne de Lhama e Alpaca.
Em Cuzco é bom ficar de olho nos preços dos pacotes de passeios. Lembram da professora do Rio de Janeiro que encontramos em Puerto Quijarro na Bolívia - início de nossa viagem. Ela estava pelas ruas de Cuzco buscando "la policia” para reclamar que tinha sido “assaltada” no preço dos pacotes para visitar o Vale Sagrado dos Incas. Por isso, pesquise tudo com calma, há muitas possibilidades e decida o que é melhor para você. É possível continuar a viagem por conta própria, porém resolvemos, para agilizar o tempo e garantir os ingressos para Macchu Picchu, fazer um pacote de viagem para o Vale Sagrado e para subir Macchu Picchu. Aproveitamos o dia para passear pelo centro de Cuzco. À noite choveu muito, andamos pelas ruas de Cuzco embaixo de chuva mesmo, a emoção de estarmos tão perto do nosso destino aumentava.

No dia 20 de janeiro partimos bem cedo com um micro ônibus para o Vale Sagrado e rumo a Mapi (ou Aguas Calientes - nome turístico, mas que os nativos não gostam muito). Mapi é base para a subida a Macchu Picchu. É uma vila que fica no meio da montanha e só se chega lá por trem. Na próxima segunda-feira conto mais sobre o Vale Sagrado dos Incas, a vila de Mapi e como é chegar a Macchu Picchu, a cidade perdida do Império Inca.

domingo, 4 de maio de 2008

Entrevista na CBN

Nesta segunda, 5, às 15 horas, a jornalista Rosangela Bion de Assis dará entrevista à CBN sobre o lançamento do livro Transparente Demais.

Blog do Samuel

O professor caxiense Samuel Frison, que é colaborador de Pobres & Nojentas, fez a estréia de seu blog. É
E já puxamos para cá um de seus posts:
A Editora Record lança o livro de ensaios de Nélida Pinõn, Aprendiz de Homero. Na publicação a autora fala dos livros que influenciaram sua carreira de escritora e leitora. Autora de República dos Sonhos e a A Doce Canção de Caetana, fluente narradora e contadora de histórias, Nelida é hoje uma das autoras brasileiras mais respeitadas e traduzidas línguas afora. Em Aprendiz de Homero, fala de Quixote a Shakespeare como narrativas fundadoras, não esquecendo de Machado e Dante. A última obra da autora, Vozes do Deserto, recebeu inúmeros prêmios e reeditou o mito de Scherazade, um alter-ego confesso de Nélida. Atualmente trabalha com a edição de um livro de contos, sendo professora convidada para palestras na França e nos Estados Unidos, onde divulga a literatura brasileira. Por Zeus Nélida, continue...