terça-feira, 20 de maio de 2008

P&N na América Latina 6



















Machu Picchu e WaynaPicchu ao fundo e a cidade sagrada vista de cima de WaynaPicchu, a 2.634 metros de altitude.

Destino: Machu Picchu no Peru
Saída de Florianópolis dia 10 de janeiro. Chegada a Machu Picchu dia 21 de janeiro

A cidade Sagrada dos Incas

Por Marcela Cornelli
Jornalista da P&N

Nas asas do Condor. Foi assim que me senti. Me imaginei voando nas asas de um Condor, quando Machu Picchu abriu-se inteira abaixo de nós. O Condor era considerado pelos Incas um animal sagrado. Eles acreditavam que, por ser a ave que voa mais alto, o Condor faria a ponte entre os homens e o Deus Sol (Inti). Cheguei a Machu Picchu num misto de alegria, tristeza e culpa. Foram 11 dias de grande aventura e eu estava ali. Mas meu coração estava inquieto, pois, um dia antes de subir a Machu Picchu, recebi a triste notícia que meu pai havia falecido no Brasil. Quis voltar, porém ele já havia sido enterrado. Então resolvi subir a montanha por ele, por mim, e para tentar entender melhor alguns mistérios da vida.
A cidade outrora habitada pelos Incas, agora vazia, ainda transborda de energia e vida. A primeira parte de Machu Picchu que visitamos foi a Tumba Real e ali o guia explicou que os mortos eram enterrados em posição fetal e voltados para o amanhecer do sol, onde recebiam os primeiros raios solares, porque os incas acreditavam que os mortos renasciam. Eles não acreditavam em reencarnação. Para os Incas, os mortos renasciam num outro plano religioso. Tomei forças tocando nas ruínas sagradas e toda a magia do lugar ajudou a aliviar um pouco minha dor. Como disse a minha grande amiga Elaine, “se acreditarmos que a morte é só um momento da grande caminhada, fica mais fácil entender...”.

A forte neblina foi dispersando-se aos poucos, a chuva parou, o vento frio cortava o alto da montanha e a nossa frente ali estava ela, a cidade sagrada dos Incas. Hoje muralhas de pedra, ruínas cercadas de uma paisagem exuberante à beira de um grande penhasco. Alguns quéchuas que viviam na região já sabiam da sua existência e por ali passavam e usavam o local para a pastagem de seus animais. O que se sabe é que os espanhóis, quando chegaram a Machu Picchu, encontram a cidade já vazia. O que fez os Incas partirem deixando a cidade inacabada ninguém sabe. Acredita-se que os Incas, ao saberem da chegada dos espanhóis na região, fugiram para a floresta.
Machu Picchu foi um centro religioso e de estudos astronômicos e experimentos agrícolas – em seus terraços eram plantadas inúmeras variedades de papas. Havia em Machu Picchu também um jardim botânico onde se cultivavam várias plantas, entre elas a coca. A cidade ficou conhecida para o mundo com a chegada do historiador e professor da Universidade inglesa de Yale, Hiram Bingham, em 1911. O historiador foi levado para lá pelos índios quéchuas que já viviam na região e conheciam as ruínas.
Machu Picchu estava coberta pela vegetação. Com a chegada de Hiram Bingham os tesouros e segredos de Machu Picchu, até então guardados pela floresta, foram descobertos. Os objetos encontrados pelo historiador nas escavações feitas no santuário peruano foram levados para Yale, nos Estados Unidos, e nunca mais voltaram. Nos últimos anos o governo peruano tenta repatriar os tesouros, entre eles estátuas de ouro e peças de cerâmica (sobre a luta do governo Peruano para trazer os objetos de volta recomendo uma matéria da revista Carta Capital, nº 497, de 7 de maio/2008).

Pela manhã passeamos por Machu Picchu visitando vários pontos da cidade como os Templos do Condor e do Sol, o Templo das três janelas, o posto de vigilância, o relógio e o calendário solar, os salões de reuniões e onde aconteciam rituais religiosos, entre outros misteriosos e encantadores lugares. Fizemos a trilha que leva à ponte Inca e à tarde subimos o deslumbrante monte WaynaPicchu – a montanha que vemos atrás de Machu Picchu na famosa foto do sítio arqueológico. Do alto do WaynaPicchu, a 2.634 metros de altitude, Machu Picchu parece ter sido construída aos seus pés, protegida pela floresta, num lugar estratégico, perto do céu, do Deus Inti, e rodeada pelas fortes correntezas do Rio Urubamba. Faltam-me palavras para retratar tamanha beleza e grandiosidade. No alto do WaynaPicchu mais ruínas Incas. Impossível, pensei. Impossível eles terem construído algo aqui. Mas estavam ali, mais vestígios de uma civilização enigmática, que construiu uma cidade de pedra num lugar inacessível, que vivia em comunhão com a natureza, que nas ruas da cidade construiu canais onde a água que ali passava era compartilhada por todos, que carregava pedras pelas montanhas acima, demonstrando força e coragem, que estudava as estrelas e vivia sobre a guarda dos espíritos da velha montanha.

O tempo máximo de permanência em WaynaPicchu era até as 16 horas. Descemos. Admiramos um pouco mais Macchu Picchu. Recarregamos as energias. Despedimos-nos da cidade e seguimos montanha abaixo pela trilha Inca. A cada 100 metros da descida olhávamos para traz. Queria voltar. Queria chegar ao Brasil rápido pelo fato acontecido. Queira voltar a Machu Picchu. Talvez ficar ali por muito, muito mais tempo. As pernas já não agüentavam mais, descemos a montanha quase em silêncio total, acompanhados por um cão, que apelidamos de Inca Cão e que nos guiou pela trilha Inca. Machu Picchu ficava para trás, mas seguia conosco toda a magia do lugar.
Uma viagem inesquecível para todo amante da América Latina. Voltamos a Cuzco no dia seguinte. Depois, aceleramos a volta de avião, pois eu precisava chegar ao Brasil com urgência. Fomos a Lima e de Lima tomamos outro avião para São Paulo e depois Florianópolis. Como perdemos a conecção Lima/São Paulo, acabamos ficando um dia na capital peruana - uma cidade linda e agradável, muito interessante também para se conhecer. Depois posto algumas fotos de Lima também. Com as matérias da P&N na América Latina espero ter inspirado alguém a aventurar-se pelos lindos caminhos da nuestra américa ou por outras paragens ...

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