sexta-feira, 31 de julho de 2009

Amigos e pizzas

Míriam Santini de Abreu

Há uma cena que amo no final de “O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei”, a terceira parte da trilogia escrita por J.R.R. Tolkien. É quando Frodo, Sam, Merry e Pippin regressam ao Condado, cumprida a missão de dar paz à terra. Sentam-se os quatro na mesa rústica de uma estalagem, enchem as canecas e esboçam um leve sorriso, de si para si. E então se olham, e, com um sorriso ainda mais leve, brindam. E à volta deles a algazarra, o calor tépido, a rusticidade da taberna.
A cena essencializa o que é o amor da amizade. Porque só amigo compreende o nosso sorrir de leve, o sorrir de quem acaricia pensamentos agradáveis, o sorrir de quem atirou às lavas o anel do poder e voltou para contar. E brinda, porque provavelmente também esteve na mesma batalha.
Pois digo isso a propósito da Pizzaria do Cica, lá no Canto da Lagoa, em Florianópolis, canto descoberto pela Marcela e compartilhado com os amigos. Estivemos lá na fria noite de quinta-feira, e não sei se foi o vinho, o calor, que deixou o meu pensamento cheio de névoas. O fato é que me transportei para uma estalagem medieval, com poucas mesas e cadeiras de madeira, um forno a lenha de paredes rosadas, aqui e ali uns filtros de sonhos, e risadas e brindes. Tivesse o tempo congelado, naquele instante, e a eternidade me aprisionaria num estado numinoso, sagrado, perfeito. No fim é só o que interessa, bem lembrou a Elaine: partilhar com.

Cadernos Soberania Comunicacional 2

A revista P&N e o Portal Desacato lançam na próxima semana a segunda edição dos “Cadernos Soberania Comunicacional”, que apresenta propostas para a Conferência Nacional de Comunicação e a manchete “Latifúndios da comunicação só serão implodidos com participação popular”. Os textos são os seguintes:

Ou inventamos, ou estamos perdidos!...
Elaine Tavares

Considerações sobre Tecnologia concernentes à 1ª Conferência Nacional de Comunicação
Marco Arenhart

Ministros do STF não sabem o que é jornalismo
Míriam Santini de Abreu

A materialização dos invisíveis - acumular conhecimentos e lutas a caminho da Soberania Comunicacional
Raul Fitipaldi

Encomendas:
revistapobresenojentas@gmail.com

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Uma janela para o amor


Ah, que o verão nos encontre

repletas de flores e frutos,

namorando sob as janelas!

Estação Sindical

A jornalista Sandra Werle, da Letra Editorial e da equipe de P&N, fez o projeto gráfico e a diagramação da primeira edição da revista Estação Sindical, produzida pelo Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal em Santa Catarina. A publicação, com 24 páginas, é trimestral, sempre no início de uma nova estação, com projeto gráfico único, mas cores e elementos gráficos de acordo com a estação do ano. O banner acima mostra a arte de cada estação, para provar que publicação de Sindicato pode e deve ter charme!
Os quatro tempos da luta
A mudança das estações é celebrada em muitas culturas. Sazão de semear, sazão de colher, sazão de conscientizar...
A revista Estação Sindical marca os quatro tempos do ano, ao circular no auge da primavera, do verão, do outono e do inverno.
Comunicação para estreitar os laços com os trabalhadores, jornalismo para narrar as suas lutas.

O pregador

Míriam Santini de Abreu

Todos os dias eu atravesso a Praça XV, no centro de Florianópolis, para trabalhar. E quase todos os dia ele está lá, o pregador. Às vezes uma meia dúzia de pessoas se junta em volta dele, no coreto, para ouvir as palavras do Evangelho; às vezes, ele só fala para alguém que dorme num banco qualquer; já vi também, parados ali, cães e pombos. Não importa. O pregador deve ser movido por profundo amor. Porque continuar a falar para quem não quer ou não sabe ouvir é um ato de amor.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Memórias da feira

Míriam Santini de Abreu

Sempre detestei levantar cedo. E adoro a madrugada, o silêncio que embala o nascimento de palavras e enriquece as leituras. Estar acordada enquanto metade do mundo dorme. Mas, quando tinha uns 13, 14 anos, era com prazer que eu pulava da cama para acompanhar a mãe à feira. Subíamos, com um carrinho de metal, a rua inclinada da cantina Antunes, em Caxias do Sul, para enchê-lo na movimentada feira do bairro Panazzolo.
Ah, aquilo era êxtase!
A mãe me xingava:
- Míriam, escolhe essas batatas de uma vez! – Míriam, não vê que essa rúcula tá feia!? – Meu Deus, guria, te mexe!!!
E eu, que sou de natureza indolente e contemplativa, jogava as frutas, verduras e legumes de qualquer jeito nos sacos. Queria mesmo era absorver aquela cornucópia de cores, cheiros, texturas. De gente. E olhava em volta para ver se havia conhecidos só para espalhar bons dias e ter cúmplices do meu secreto contentamento.
Que havia naquela feira? Ou era aquela idade?

Encalorar os poros


Nesses dias frios, é bom encontrar os amigos, especialmente os que têm o sol dentro do peito. Melhor ainda se pudéssemos esquentar os poros, sol no peito e no céu, sentados na sacada desta bela casa em Paraty.

Uma análise da situação hoje em Honduras

Veja o artigo de Robson Ceron em:
http://convencao2009.blogspot.com/2009/07/uma-pequena-analise-da-situacao-de-hoje.html

domingo, 26 de julho de 2009

Morreu o Catatau!


Elaine Tavares

Ele era o melhor de nós. Sempre estava ali, em todas as lutas. Nas passeatas, nas greves, nas campanhas eleitorais, nos shows de música, nos atos políticos, nas ocupações. Tinha o andar cadenciado, um jeito despojado, um certo ar de alheamento que era puro fingimento, pois estava sempre ligado nos fatos. Entrava nas formaturas, nas reuniões do Conselho Universitário, reuniões de CAs, do colegiado. Tomava sol em frente ao Básico e acompanhava os estudantes nas filas do RU. Acompanhava a galera do Passe Livre ou qualquer outra muvuca que rolasse dentro da UFSC. Era um revolucionário genuíno. Virou Che Catatau.

Eu o vi na quinta-feira, em frente ao Elefante Branco, deitado, enquanto o Encontro Nacional de Estudantes de Economia fazia pausa para o almoço. Sentei do seu lado, falei com ele e lhe afaguei a cabeça. Não imaginava que jamais o tornaria a fazer. Agora me chega a notícia de que foi encontrado morto num dos córregos que cortam a UFSC. O Catatau se foi. Nunca mais veremos sua presença rebelde, tão mais rebelde que todos nós.

Foi enterrado no lugar que mais lhe faz justiça. Ao pé da “Pira da Resistência”, monumento erguido pelos trabalhadores, numa greve da qual ele também participou. Agora viverá para sempre em frente ao Básico, passo de praticamente todas as almas que freqüentam a universidade. Da terra onde está plantado brotarão flores e no lugar onde repousa seu corpinho marrom tremula a bandeira dos Cães Piratas, em homenagem ao seu líder, o líder de todos os “perros”: Catatau!

Ninguém ainda sabe ao certo se morreu de morte morrida ou se foi morto por alguém. Mas saberemos. O Catatau era nossa alegria, nosso companheiro, nosso irmão. Sua presença querida se apagou, mas a lembrança do amado amigo seguirá viva em nós. Também é certo que nos dias de luta, os tantos que ainda estão por vir, se vislumbrará sua doce presença, passeando, curiosa, por entre nós. É duro ficar sem ele nesta universidade tão feia e triste. Mas, como todos os anjos, Catatau vive para sempre! Hasta la vitória, compañero!

O Catatau se foi

Míriam Santini de Abreu
Elaine acaba de me contar que Catatau morreu (ou mataram Catatau?). Era o mais famoso ufscão, sempre presente nas manifestações de trabalhadores e estudantes na Universidade Federal de Santa Catarina. Basta digitar "catatau ufsc" no You Tube para conferir. Enterraram o nosso cão na praça em frente à reitoria.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Honduras: um exemplo do passado para as novas gerações

Por Raúl Fitipaldi

São lembranças do passado. São alertas para o futuro. Honduras é um exemplo de que as democracias devem ser afirmadas, alimentadas com participação popular, com transparência comunicacional, com os povos se manifestando na rua, seu lugar de defesa das conquistas históricas e da transformação presente e futura. Nossas democracias, no mundo todo, e em particular na América Latina, ainda são frágeis. Funcionam ainda baseadas em um conjunto de instituições ultrapassadas, corrompidas, burguesas e antipopulares. A crise estrutural do capitalismo, só faz com que o sistema arrefeça seu ódio de classe para com os pobres e os excluídos.
É importante que as novas gerações que não tiveram que sobreviver as ditaduras dos 60/70/80 olhem para Honduras. Verifiquem através dos meios alternativos de comunicação, de TeleSUR (TeleSURtv.net) , de Rádio Globo de Honduras (http://www.radioglobohonduras.com), entre outras poucas, uma amostra grátis do que é uma ditadura da oligarquia gorila da região, do que é um ensaio inicial das novas táticas e estratégicas do Império (aliás, as mesmas de antes, empobrecidas como um veneno, pela crise). É altamente educativo que as novas gerações saibam aonde vão parar os direitos humanos, as constituições, os processos de transformação, quando as sociedades não reagem em tempo; não associam as estruturas de poder que elas mesmas acreditam escolher, com o omni-poder das multinacionais, dos bancos e de setores apátridas, títeres das velhas classes dominantes de ocidente.
Escrevo na sexta-feira 24 de julho, às 14:56 h de Brasília, quando se inicia a repressão armada contra o povo hondurenho, balas, gases lacrimogêneos, em El Paraíso, perto de Nicarágua. As pessoas gritam, estão sendo atropeladas, feridas, o povo grita, mas, não clama aos repressores não, os insulta: “GORILETTI FILHO DA PUTA”. Outra vez ficarei em vigília atrás do computador. O tempo de descansar sossegado fica para depois. A cada tantos minutos é interrompida uma coletiva de imprensa do Presidente Constitucional Manuel Zelaya, com um comunicado das forças repressivas. Se lembram seus pais? “Comunicado das Forças Armadas da Nação: ao povo d e Honduras, tantatám...” e uma marcha militar, ou um tema folclórico nacionalista. Arrepia esta cena que verei mais tarde em TeleSUR, e que agora, como nos 70 só posso escutar. Os jornalistas que não comem da mão dos oligarcas cumprem sua função. São agredidos, ficam do lado do povo, será agredidos de novo.
Como nos 70, há minutos que me sinto impotente atrás do computador, em outros, apavorado, mas, em todos os momentos, ORGULHOSO DE SER LATINO-AMERICANO! Lá vem uma nova rede dos milicos. É uma a cada meia hora. Intensifica-se o cerco contra os manifestantes que estão perto das fronteiras e nas cidades mais importantes de Honduras. Acredito que o caminho iniciado pelo povo hondurenho vai além do retorno de Zelaya. Honduras despertou a um pesadelo, merece agora sonhar com a transformação. Honduras, mais cedo que tarde, se integrará aos países que escolhem a liberdade e a soberania como horizonte. Fecho aqui, uma pessoa perdeu uma orelha e teve a boca ferida por uma bala.
Novas gerações, não precisam passar pelo que nós passamos. Fiquem alerta, o monstro está vivo. Esse fantasma respira entanto o Império existe. Utilizem o exemplo de Honduras, e comecem a marchar, o caminho nos leva a derrota do capitalismo, embora, nossa vida seja o preço. A INDEPENDENCIA PRECISA SER CONQUISTADA EM FORMA DEFINITIVA.
Sentir Ódio pelo Sistema Capitalista é a cada dia mais, Um Ato de Amor e Justiça!

Quando a palavra sustenta a farsa: o discurso jornalístico do desenvolvimento sustentável

Contatos para compra: misabreu@yahoo.com.br

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Estava demorando...

Elaine Tavares

Quem assiste TV deve se lembrar. Quando o então senador Barack Obama era candidato à presidência dos Estados Unidos havia uma espécie de “esperança” no sujeito. Era, afinal, um negro, coisa inédita naquele país, bonito, simpático, charmoso, um “democrata”. E, por conta disso, a mídia cortesã o pintava como uma novidade, aquele que iria mudar a cara dos EUA , dar uma certa leveza ao império. Bem, substituir George Bush já significava isso. Mas, entre os “arautos da desgraça” - que são os que tem olho crítico e conhecem a história – já se vaticinava. “Não haverá novidades. Os democratas não se diferenciam dos republicanos em quase nada, a não ser talvez numa certa simpatia tal como se pode encontrar em Carter, Clinton e agora em Obama”. Havia a certeza de que as coisas não mudariam.. Bem, aí está o cenário latino-americano se redesenhando na era Obama. E aquilo que Bush, na sua truculência não conseguiu, o jovem charmoso parece lograr.

George Bush saiu de cena com um grande osso na garganta: a Venezuela bolivariana. Durante todo seu mandato não havia conseguido dobrar o país de Bolívar, comandado agora por Hugo Chávez. Este, por sua vez, foi comendo o mingau pelas beiradas. Colocou água no plano da ALCA, desestabilizou alguns Tratados de Livre Comércio bilaterais, criou a PetroCaribe, amealhou aliados como a Nicarágua, a Bolívia, o Equador e conseguiu com que alguns dirigentes auto-denominados à esquerda se aliassem em algumas propostas pontuais dentro da lógica da ALBA, o contraponto da proposta estadunidense. Era um avanço e tanto no território de poder dos Estados Unidos que, por seu lado, andava atolado nas guerras do Afeganistão e do Iraque, que ainda não logrou concluir em face da resistência heróica do povo, que podia até não querer os talibãs ou Sadam, mas também não quer nenhum governo de dominação.

Pois agora com a chegada de Obama, os Estados Unidos tentam recuperar as rédeas da sua reserva estratégica de riquezas, a América Latina. E, para isso, nada melhor do que uma boa e velha receita, tantas vezes já utilizada em momentos de tentativas de rebelião da massa do “quintal”: o golpe militar. Assim, ao contrário do que fizera Bush, que tentara desalojar Chávez em seu próprio país, num golpe de estado articulado pela mídia e pela classe dominante, a jogada do governo Obama é muito mais inteligente. Organiza e leva a cabo um golpe militar numa pequena república da América Central, periférica ao território “rebelde”, mas com algumas ligações políticas capazes de levantar a fúria dos seus aliados. Escolhe Honduras, governada por um latifundiário bem intencionado que já se atrevera a realizar negócios com a Venezuela, buscando melhorar a vida do povo hondurenho.

Manuel Zelaya começou a orbitar o caminho da alternativa bolivariana quando acordou entrar para a PetroCaribe e realizou negócios de compra de petróleo em condições bastante justas e vantajosas para seu país. Foi o que bastou para ficar na mira do império. Assim, quando acenou com a possibilidade de consultar o povo sobre uma mudança constitucional, veio o golpe. Claro, querer ouvir o povo era um pouco demais.

Agora o império se rearticula na América Latina. Dá uma boa lição nos pequenos que tentam fugir de sua órbita, acusa o governo do Equador de ligações “obscuras” com as FARC e acena com a possibilidade de criar várias outras bases militares na Colômbia, uma vez que está para perder a que tem no Equador. Assim, vai cercando os seus potenciais inimigos – Venezuela e Equador – e recuperando o controle na região. É uma grande ofensiva estadunidense o que se vê desde o golpe de Honduras. Nas declarações de seus governantes, o que fica claro é que a única legalidade possível em Honduras é o não retorno de Zelaya. Pode até haver novas eleições, mas sem Zelaya. Ora, isso é apoio explícito ao golpe.

Por conta destes novos movimentos no xadrez político a América Latina está em estado de alerta. Os ataques contra os governos orientados ao socialismo vão recrudescer e isso fica claro nas notícias dos jornais e na histeria dos jornalistas a soldo. Basta ver como tratam a questão do Equador, os conflitos na Bolívia e as posições da Venezuela. A política imperialista dos Estados Unidos segue, portanto, tão dura quanto sempre foi. A diferença é que agora quem a comanda é um jovem negro, charmoso, bonito, sorridente e bom bailarino. Não é à toa que Luiz Inácio, o presidente brasileiro, o tenha convidado para uma pescaria no Pantanal. Tristemente, nosso país está mais para capacho do que para território soberano, e certamente ainda se prestará a sujos papéis neste jogo que recomeça.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

O esporte mata!

Miriam Santini de Abreu

Cada vez que recebia a Caros Amigos, eu buscava, faminta, a coluna de José Róiz. O médico mineiro dizia coisas atrevidas nesse tempo de espetacularização do esporte, de culto aos músculos e às dietas de todo tipo. Mais ainda: ele falava de como bem viver. Morreu em 2003, para lá da curva dos 80, magrinho e sábio. E deixou tudo que ensinou em livro – um dentre outros escritos – republicado pela editora Casa Amarela, com o título Esporte mata! (São Paulo: Editora Casa Amarela, 2004. 178 pp.). Indiferente às críticas que recebia e avesso a sensacionalismos, Róiz afirmava: "O homem não foi feito para correr."
Róiz ensinava que nenhum adulto com mais de 25 anos deve fazer exercício violento, mas também não pode ter vida sedentária. O melhor é simplesmente caminhar, e muito, e dançar, hábito que preserva o vigor do corpo e da mente. Além disso, o médico só recomendava o vôlei, mas nunca o competitivo, aquele do atleta. Jogando vôlei, a pessoa caminha e faz as quatro ginásticas que Róiz considera necessárias – aquelas que contraem os músculos posteriores, situados ao longo da coluna vertebral.

"Grife globalizada"
Muitos escritos do médico mostram sua preocupação com o tipo de alimento consumido na vida moderna. Embora não fosse vegetariano, sugeria que as pessoas evitassem a carne, especialmente por causa de doenças como a da "vaca louca". Para ele, a melhor refeição possível é feijão comum com carne de soja moída, acompanhada de uma fonte de vitamina C, como as frutas cítricas, podendo se substituir metade da mistura por um pouco de arroz e verdura. E o ideal, adotando ou não essa refeição, é ingerir uma pequena quantidade de alimento, evitando o excesso de proteínas, em intervalos de duas horas e meia. Isso estimula a produção de insulina, que "limpa" o sangue, enviando para os tecidos a glicose, a gordura e os aminoácidos das proteínas. Bem nutridas, as células do corpo ficam mais capazes de produzir anticorpos contra as doenças.
Róiz sempre dizia que não teria escrito o livro se não fosse pelo seguinte: a humanidade se divide em dois grupos, os longevos e os não-longevos. Nos longevos, que vivem mais, a insulina predomina sobre o glicocorticóide, um dos hormônios do estresse. Nos não-longevos, acontece o contrário. O problema é que os longevos são feitos de um "barro especial", são minoria. A maioria tem dificuldade para nutrir todas as células do organismo. Assim, praticar esportes, se estressar e produzir mais e mais glicocorticóide vai piorar a situação, especialmente se a pessoa praticar musculação ou corrida e ainda tiver problemas de coluna ou de coração. Gilberto Felisberto Vasconcellos, que faz o prefácio do livro, resume bem o pensamento de Róiz: "Foi contra a grife globalizada do mundo: esporte não é vida. Nem saúde."

Universidade com estudantes

Elaine Tavares

Mês de julho é tempo de férias na UFSC, e tempo de solidão. Os lugares ficam vazios, não há risos de moços, falta alegria e poucos trabalhadores circulam pelo campus. Há os que gostam, acreditando que os estudantes são os que atrapalham a vida por aqui. Eu não. Gosto é do cheiro e do sabor da juventude vibrante, que ri por nada, que grita, que sonha em voz alta, que desaloja, que perturba a ordem. Eu me alimento é disso e é, talvez, o que me faz seguir vivendo neste lugar onde quase tudo mumificou.

Por isso que nesta segunda semana de julho o riso assomou outra vez na minha cara triste de férias escolares. De repente, pelas janelas do Centro Sócio-Econômico, saltaram as toalhas de coloridas formas e desenhos. Pelos corredores pulularam as barracas de camping e pelas escadas se ouviu o riso cristalino dos jovens em marcha. Aquele frescor de quem tudo ainda tem por conquistar. É que aconteceu o encontro nacional dos estudantes de economia e, pasmem, a universidade permitiu que eles ficassem acampados dentro dos prédios.

Disse pasmem porque até pouco tempo os centros de ensino da UFSC negavam sistematicamente que se permitisse a realização de encontros, com gente circulando e dormindo nos prédios. Era aquela visão mumificada, de medo do jovem, de medo da “desordem”, de medo do novo. Foi preciso muita conversa, muita luta para que a universidade fosse outra vez devolvida aos estudantes. Afinal, não são eles as criaturas mais importantes nesta casa de saber?Pois no cotidiano não é o que parece. Posso ver agora, nestes dias de agitação popular pelo CSE. Alguns trabalhadores torcem o nariz. “Eles sujam tudo”. Outros professores nem aparecem. “Está um caos”. Mas quem aqui está e ama esse turbilhão se compraz, sorvendo a vida que floresce entre Marx, Smith, Ricardo, Friedman e outros que tais...

Universidade devia ser isso. Muita gente, grandes debates, música, risos, festas e grupos de discussão. E as pessoas deveriam amar isso tudo, aprender, conhecer, partilhar, sem pressão nem opressão.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Capa de P&N em defesa do jornalismo

Terra no céu


Pedra Furada, em Urubici (SC). Terra no céu, céu na terra... Foto de Rosangela Bion de Assis, da equipe de P&N

domingo, 19 de julho de 2009

Encontro dos rios, beleza de Manaus

Encontro do rio Negro com o rio Solimões, em Manaus, Amazonas. Belezas deste Brasil.

sábado, 18 de julho de 2009

Transporte coletivo: uma história encoberta

Elaine Tavares

Há quem diga que os meios de comunicação de massa não são tão poderosos assim e que as pessoas podem muito bem ver e ouvir criticamente aquilo que eles transmitem. Está bem, também penso assim. Mas, existe uma coisa sobre os meios de comunicação que é extremamente nociva à sociedade, e é aí que mora o perigo. É o fato de omitirem informações. É o silêncio da fala, o que não é dito, que faz falta ao leitor/espectador crítico. Assim foi durante a última greve dos trabalhadores do transporte coletivo em Florianópolis. Quando tudo acabou e a cidade voltou ao normal, a impressão que ficou foi de que os trabalhadores, mais uma vez, tinham sido os culpados pelo aumento das tarifas.
Durante todo o conflito envolvendo trabalhadores, prefeitura e donos de empresas, os jornais, as rádios e as televisões não informaram as pessoas sobre algumas coisas que são importantes para se analisar os fatos. Assim, uma conversa com Ricardo Freitas, assessor do Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Urbano abriu um pouco a caixa-preta. Vejamos:
Quando chegou o mês de dezembro de 2008, a tarifa era de R$ 1,98. Em Janeiro o Conselho Municipal de Transporte se reuniu e decidiu que a tarifa deveria aumentar em 11,11%, totalizando R$ 0,22, passando a R$ 2,20. O prefeito, muito “preocupado” com a população, decidiu aumentar apenas R$ 0,12 centavos, guardando os outros R$ 0,10 centavos na manga para usar em outra hora. E assim, quando o ano de 2009 rompeu, a tarifa de ônibus passava para R$ 2,10 em vez dos R$ 2,20 deliberados pelo CMT. Mas, naqueles dias os empresários não foram às TV dizer que estavam no prejuízo e seguiram felizes, além do aumento de R$ 0,12 na tarifa, também recebendo do poder público outros R$ 0,12 centavos referentes ao subsídio por cada rodada de catraca, o que totaliza 550 mil reais por mês, em média. Tudo parecia bem, a não ser para o povo que tomou mais um aumento.
Agora é que vem o desvelamento da grande mentira protagonizada pelos empresários durante a greve. Pois quando os trabalhadores decidiram entrar em greve por conta da reivindicação de um aumento de 7%, os patrões resolveram dizer que não, que teriam dificuldade em pagar e tornaram o poder público refém de sua negativa. Mas, ao analisar os números reais vai-se perceber que na composição do custo tarifário o gasto com os trabalhadores é de apenas 41% do total, o que significaria que um reajuste de 7% no salários aumentaria apenas 2,8 % no custo total do transporte. Assim, se fosse o caso de considerar uma relação entre tarifa e salário, o aumento deveria ser de apenas R$ 0,7 centavos.
Ora, mas o que acontece é que no mês de janeiro, quando a tarifa passou de R$ 1,98 para R$ 2,10, os empresários do transporte já tinham alcançado um reajuste de R$ 0,12 centavos portanto R$ 0,05 centavos a mais do que deveriam desembolsar para majorar o salário dos trabalhadores. Assim, ao ganharem mais R$ 0,10 centavos agora em julho no total da tarifa, eles apenas aumentaram os lucros, visto que além destes R$ 0,10 centavos eles tem os R$ 0,05 do aumento passado e ainda levam, agora, mais 0,3 centavos por rodada de catraca, já que também aumentou o valor do subsídio por virada de catraca, passando a ser de R$ 0,15 centavos. Jogada de mestre. Ou seja, além de mais R$ 0,10 na tarifa, os patrões levaram mais R$ 0,03 no subsídio, totalizando no ano um aumento de R$ 0,25, por tarifa que recebem. O acordo com os trabalhadores custou, no total, R$ 0,07 centavos.
Então, tudo o que se viu nestes dias de greve não foi o conluio dos trabalhadores com o Setuf, como alguns disseram, mas sim o mesmo velho jogo daqueles que permanentemente lucram com a vida e o trabalho das gentes. Não bastasse os empresários terem feito uma espécie de chantagem com o poder público, ao exigirem mais subsídio e outro aumento de tarifas, eles ainda lucram em outra ponta do sistema que é a da Cotisa, a empresa que administra os terminais. No custo total do serviço de transporte estão reservado 8% do total para o pagamento do uso do terminal. Só que os donos dos terminais são os mesmos das empresas de ônibus. Assim, eles pagam para eles mesmos. É uma loucura. Logo, não é gasto.
Então, esses R$ 2,20 de passagem que pagamos agora já estavam definidos lá em dezembro, quando o CMT deliberou. Mas, a jogada era essa, deixar tudo estourar nos meses de negociação salarial para que as pessoas ficassem com a impressão de que a culpa pelo aumento era dos trabalhadores. E o pior é que, sem informação, as pessoas pensam as coisas mais doidas.
Bom, desfeito o engano, o que fica de concreto é a necessidade cada dia mais urgente da municipalização do transporte. Não dá mais para a cidade e o poder público ficarem reféns dos empresários do transporte. Se a prefeitura já subsidia o transporte com mais de 500 mil ao mês, tem todas as condições de assumir o controle do sistema e baratear a passagem até que se chegue à tarifa zero. As pessoas precisam entender que o transporte coletivo é um serviço público que, no mais das vezes, serve quase que exclusivamente para levar os trabalhadores para seus lugares de trabalho. Ou seja, serve muito mais aos patrões embora quem pague sejam os trabalhadores. Isso tem que acabar. Assim como pagamos impostos para termos a iluminação pública nos caminhos da nossa cidade, também os impostos das gentes, e principalmente dos empresários, deveriam custear a tarifa zero no transporte público. Assim, as pessoas poderiam, finalmente, ter garantido o seu direito de ir e vir nas cidades, conforme pregam os liberais.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

O lixo que os países ricos produzem, a gente importa

O negócio da reciclagem e dos tais créditos de carbono, uma baita pataquada, mostra seu lado sombrio. A P&N indica a notícia publicada em:
Vale digitar em saites de busca o nome da empresa citada, Worldwide Recyclables, para ver o que aparece...

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Apoio urgente a Lúcio Flávio Pinto

O repórter e editor do Jornal Pessoal, de Belém do Pará, Lúcio Flávio Pinto, sofre ataques freqüentes por causa de seu trabalho crítico. Foi organizado um blog/abaixo-assinado em apoio a ele. Para assinar, basta digitar nome e RG no campo do post:
http://solidariedad elucioflaviopint o.blogspot. com/2009/ 07/solidaiedade- ao-jornalista- lucio-flavio. html#comment- form

Saiba mais em:

http://abraji.org.br/?id=90&id_noticia=938

ABAIXO-ASSINADO EM APOIO AO JORNALISTA PARAENSE LÚCIO FLÁVIO PINTO

O repórter e editor do Jornal Pessoal, de Belém do Pará, Lúcio Flávio Pinto, foi condenado pelo juiz Raimundo das Chagas Filho, da 4ª Vara Cível da capital, a pagar uma indenização de R$ 30 mil aos irmãos Romulo Maiorana Júnior e Ronaldo Maiorana, proprietários das Organizações Romulo Maiorana, uma das empresas de comunicação mais influentes da Região Norte, cuja emisssora de TV é afiliada à Rede Globo. A sentença, expedida no último dia 6 de junho de 2009, refere-se a uma das quatro ações indenizatórias movidas pelos irmãos contra o jornalista que, em 2005, publicou artigo em um livro organizado pelo jornalista italiano Maurizio Chierici, depois reproduzido no Jornal Pessoal, no qual abordava as atividades de contrabandista do fundador das ORM, Romulo Maiorana, nos anos de 1950, o que teria motivado a ação, pois os irmãos consideraram ofensivo o tratamento dispensado à memória do pai. Além da indenização por supostos danos morais, o juiz ainda obriga o jornalista a não mais referir-se aos irmãos em seus próximos artigos.

Lúcio Flávio Pinto, de 59 anos, em quatro décadas de jornalismo é um dos profissionais mais respeitados no Brasil e no exterior. Seu Jornal Pessoal resiste, de forma alternativa, há 22 anos, sem aceitar patrocínio ou anúncios, garantindo a independência de seu editor frente aos temas públicos do Pará, sobretudo na seara política. Por sua atuação intransigente frente aos desmandos políticos, às injustiças sociais e ao desrespeito aos direitos humanos, recebeu prêmios internacionais importantes: em 1997, em Roma, o prêmio Colombe d’oro per La Pace; e em 2005, em Nova Iorque, o prêmio anual do CPJ (Comittee for Jornalists Protection). Além disso, é premiado com vários Esso. É também autor de 14 livros, tendo como tema central a Amazônia, sendo os mais recentes “Contra o Poder”, “Memória do Cotidiano” e “Amazônia Sangrada (de FHC a Lula)”.

Esse fato demonstra o que significa fazer jornalismo de verdade na capital do Pará: uma condenação.

Por isso, nós, abaixo-assinados, solidarizamo- nos com Lúcio Flávio Pinto, pedindo a revisão de sua condenação em nome da democracia e da liberdade de pensamento.

terça-feira, 14 de julho de 2009

segunda-feira, 13 de julho de 2009

domingo, 12 de julho de 2009

Saudades de Paraty

Domingo de sol, finalmente, na Ilha, com frio cortante vindo do bem Sul. E em Paraty, como andará o humor da maré?

sábado, 11 de julho de 2009

Moldando o fogo da palavra


Míriam Santini de Abreu
O jornalista Eduardo Schmitz, de Taió, fez mais essa ilustração para a P&N, ilustração que acompanha um texto do poeta e jornalista Fernando Karl. Não canso de vê-la, porque ela veio como imaginei, perfeita para o texto do Karl. Esse egípico delgado à frente do disco solar, manipulando a letra, matéria da palavra, palavra que - como define Karl em seu texto - é sopro do fogo. Trabalhamos com o fogo, os jornalistas.

Tudo pelo desenvolvimento...

Assuntos gravíssimos:

1 - Colegas jornalistas denunciam os efeitos da implantação de um porto para o petróleo e gás na cidade turística de Arraial do Cabo. Veja em:
http://www.youtube.com/watch?v=HyPalLg87AU
Diz o vídeo:
O povo de Arraial do Cabo merece respeito. A implantação de um porto off shore exige obrigatoriamente a divulgação das consequências de tal empreendimento para a população! Mil e quinhentos empregos e ações mitigatórias não compensarão todos os danos que a fauna, a flora e a população irão sofrer.

2 - CONTAMINAÇÃO: a seriedade do programa nuclear brasileiro. Veja as denúncias em:
http://www.youtube.com/watch?v=7LSJBtJzZto
http://www.youtube.com/watch?v=aBXM5yd_92E
As Indústrias Nucleares do Brasil atuam na cadeia produtiva do urânio, da mineração à fabricação do combustível que gera energia elétrica nas usinas nucleares. Vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, a INB tem sua sede na cidade do Rio de Janeiro e está presente nos estados da Bahia, Ceará, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Confira o site da empresa, que desrespeita o que afirma respeitar:
http://www.inb.gov.br/inb/WebForms/default.aspx

Você sabe o que anda comendo?

Li Travassos, de Florianópolis

Você sabe exatamente o que come? Não tem certeza ? Então , tenha paciência , que vou lhe contar um pouco de minha própria caminhada pelo mundo alimentar . Nunca suportei ostras , mariscos e congêneres . Deixei de comer carne de porco com uns dez , onze anos de idade , depois de estudar a tal da tênia nas aulas de biologia no ginásio ( ou como você queira chamar este período escolar ). Parei de comer carne vermelha aos dezesseis anos , em 1980. Assim que pude " mandar no meu nariz ". O que não me impediu de ouvir meu pai dizendo que eu iria morrer de inanição , de anemia , e de sabe o que mais ( até sua própria morte , em 2006, de câncer no intestino , provocado, como muita gente sabe, pela ingestão excessiva de carne vermelha ). Mas deixemos que meu pai descanse em paz e vamos continuar com a minha história . Em 1981 deixei de comer carne de aves . Anos depois , parei de comer qualquer tipo de carne ( ou seja, excluí também os frutos do mar ). Assim , me tornei vegetariana . Eta palavrinha besta ! Pois veja você : vegetarianos somos todos os seres humanos , sem exceção , pois todos comemos algum tipo de vegetal , não é mesmo ? Nem o mais encarniçado carniceiro deixa de comer arroz , ou batata , ou macarrão , ou qualquer coisa que veio , mesmo que longemente , de uma planta , não ? Portanto , quem não come carne deveria se chamar não-carnívoro, certo ?
Como substituir a carne ? Com soja , ervilha , feijão ... Durante todo este tempo sem comer carne , tive curtos períodos de naturalismo ( um deles logo depois de ter lido " Sugar Blues ", você leu este estraga prazeres ?), mas quase sempre comi muita besteira , muito açúcar , sempre fui viciada em aquilo-cola ( não tomo café , e preciso de cafeína ...), fumava feito uma condenada à morte no último dia de vida (tá bom , cigarro não é comida , mas é um dos males que entram pela boca ), etc. E já ouvi todas as piadas e ironias possíveis por ser vegetariana e fumante . Como se ser vegetariano fosse sinônimo de ser naturalista. Deixei de comer carne por vários motivos . Espirituais , solidários ( com o animal , claro ), e até mesmo por uma pura tendência natural . Nunca fui fã de carne vermelha . Quando comia carne , gostava mais era de carne industrializada ( que , é claro , é muito pior , em todos os sentidos ). Tipo presunto e salchicha. Salsicha . Ah, vina, tá bom ?
Em 1997, deixei Curitiba e vim morar em Florianópolis. E não comer peixe em Florianópolis mostrou-se um grande problema , que tornava difícil não apenas a minha vida , mas a de quem andava comigo . Como já sou um tanto difícil de conviver por diversos outros motivos , achei por bem excluir este da lista , e voltei a comer carne de peixe e siri . O que não resolve totalmente o problema , mas diminui... Mas como não gosto de comer nenhum tipo de carne , prefiro os peixes que vêm disfarçados (à milanesa, bolinhos, etc.). Por isso voltei a comer siri ( ou caranguejo ) que é preparado de uma maneira super horrível , pois o bicho é cozido vivo . Mas , de qualquer maneira , quase sempre vem em forma de bolinhos ou outra coisa que não me faça pensar muito no caso . Se me botarem um peixe inteiro , com cabeça e tudo na frente , eu quase saio correndo. Por isso também não voltei a comer camarão .
Depois de anos sem comer carne vermelha , comecei a descobrir algumas coisas sobre ela (e também um tanto sobre as aves ), que me deixaram estarrecida. Como , por exemplo , que o que mais detona com a camada de ozônio não é o tal do CFC ( clorofluorcarboneto) presente nos produtos em spray , e na nossa velha e nem sempre boa geladeira . Não . É pum de vaca . Isso mesmo : um boi lança 2 toneladas de carbono por ano no ar – por aquele lugar . E tem a questão da água . Você sabia que , para se produzir um quilo de carne , são gastos quinze mil litros de água ? Isso mesmo : um quilo de carne = quinze mil litros de água . E de quanta terra precisa um boi para pastar livremente ? Quantas árvores da Floresta Amazônica já foram cortadas para arranjar espaço para estes bichos comerem mato , para depois serem comidos por nós ? E de quanta água e quanto espaço precisam as pobres galinhas criadas no cativeiro para serem tratadas apenas como uma coisa que vai ser comida , e não um ser vivo ? Entupidas de hormônios para obrigá-las a crescer mais rápido e para botar mais ... Além de acabar com o meio ambiente , além do horror que são as maneiras de se matar o bicho , animal criado em terra para servir de alimento para alguns tira espaço para plantar alimento para acabar com a fome de quantos ? Ou a fome dos outros não lhe interessa?
E, a não ser que você tenha acesso a frango orgânico , você já pensou nos hormônios que você ingere quando come uma ave destas, criada para crescer e botar ? Já se postula que a menarca em meninas de apenas nove , dez anos de idade , pode estar sendo estimulada pelos hormônios encontrados nas aves . E a adrenalina que uma vaca libera no sangue quando pressente que vai morrer , você sabe onde vai parar , não ? No seu próprio sangue , ao comer um " inocente " bifinho. E você sabe de que parte da vaca é feita aquela gelatina tão cheirosinha que você dá para seu filhinho comer ? E sabia que muitas sobremesas prontas (do tipo da Senhorita ) e boa parte dos iogurtes contêm gelatina ?
Bem , mas eu nunca fui de ficar tentando convencer ninguém a parar de comer carne , até porque ainda não consegui parar de consumir produtos com ovos , e produtos derivados do leite , especialmente iogurte e queijo . Porque uma coisa é tomar um produto feito com leite de soja , que já pode ter um gosto bem agradável . Outra é comer tofu , chamar aquilo de queijo , e ainda fazer uma cara sorridente de ratinho do Disney depois de ganhar um cafuné da Cinderela... E ainda sou viciada em aquilo-cola, que também gasta trocentos litros de água para gerar um litro de refrigerante , além de ser um produto símbolo do capitalismo selvagem . Agora estão fazendo comerciais sobre reciclagem , eu posso com isso ? Mas , pelo menos , parei de fumar há seis anos .
Claro , tem a tal da gordura trans, que todo mundo ( hoje ) já sabe que mata , e que temos que evitar o máximo possível . Há muito que me nego a comprar produtos que não precisam dela para nos fazer felizes , mas que a têm. Um tempo atrás , a maioria dos pães integrais tinha gordura trans. Pode? Agora , quando resolvo comprar uma besteira de verdade , como sorvete de chocolate , por exemplo , nem leio os ingredientes , porque senão não compro, não como , e assim não dá para ser feliz , né? E as frituras ? Salgadinhos fritos , do tipo bolinho, risoles, etc., são feitos com óleo usado mil vezes . Você sabia que quando uma fritura chega na sua frente com aquelas sujeirinhas pretas do óleo é porque ele foi usado mais de vinte vezes ? Significa que reutilizar o óleo até umas vinte vezes nos restaurantes e lanchonetes é normal . Ugh!
Minha glicemia andou disparando estes tempos , e tive que cortar um tanto o açúcar , gastando uma fortuna em doces sem o dito cujo , pois não consigo ficar sem nenhum . Neste momento , estou fazendo regime , e aí dá-lhe comprar mais destes produtinhos ditos diet , light , etceteraite. Só tem um problema : parece que todo produto light tem uma bendita substância chamada espessante. Sempre lembrando de ver o que é isso quando dentro do supermercado , com a lista de compras na mão , e sempre esquecendo assim que punha o pé na rua , eu passei muito tempo da minha vida acreditando que espessante era algum tipo de derivado da gelatina , e simplesmente deixava de comprar produtos com esta substância . Finalmente procurei na internet , e descobri que quase todos os espessantes são de origem vegetal . Inclusive a goma arábica , comumente usada nas balas de goma , e que a gente usava como cola quando éramos crianças , lembra? Não ? Então não enche que não é do seu tempo ... O único espessante de origem animal é o tipo xantano, ou goma xantana, que é feito de um microorganismo da família do fermento que vai no pão nosso de cada dia ...
Mas com relação aos corantes , que são usados em praticamente todos os produtos industrializados o problema é muito mais sério . Não apenas os vegetais e animais são colocados na categoria genérica de " naturais ", para tristeza dos não-carnívoros, como há vários corantes artificiais , alguns descritos na internet como cancerígenos , e que continuam sendo usados por aí a rodo . Você que não come carne , adivinhe de que é feito o corante Hemoglobina ? Isso mesmo , amigo vampiro . E você sabia que o tal do salmão costuma receber corante para ficar vermelhinho? Dá para adivinhar qual ? Deve ser por isso que eu nunca fui com a cara deste peixinho metido a besta . Pior é que eu , depois de anos sem comer um cachorro quente , tendo descoberto uma vina de soja que tapeava direitinho, deixei de atentar para o fato de que , nos ingredientes , está escrito apenas corante natural . Sem dizer o tipo . Mas você pode adivinhar , né? Agora que me toquei, nunca mais , nunca mais ... buiiiiiiiii.
Abaixo , para quem é não carnívoro , e para quem tem medo de produtos artificiais , repasso uma lista dos corantes que consegui garimpar na internet . Imprimi uma para mim , e fico duas horas congelando na frente dos iogurtes do supermercado , com a lista em punho , tentando ler as letras mais miúdas do mundo , que são as dos ingredientes dos produtos que nós comemos. Uma tristeza . Mas como não vivemos num paraíso apenas com alimentos orgânicos e agroecológicos, e não conseguimos resistir a todos os tipos de besteira alimentar ao mesmo tempo , então temos que ver o que vai pela boca a dentro , né? Se não consigo mesmo ler , então não compro. A lista :

1. Corante orgânico ou natural
1.1 vegetais :
Açafrão
Antocianinas: Cianidina ( vermelho ), Delfinidina ( azul ), Malvidina ( púrpura ), Pelargonidina ( marrom avermelhado), Peonidina e Petunidina ( vermelho escuro )
Betacaroteno
Bixina e Norbixina
Cacau
Capsantina (capsorubina)
Caramelo
Clorofila
Curcumã, Curcumina
Indigo, Indigo carmin
Licopeno
Paprika
Urucum
Vermelho beterraba / betanina
1.2 vegetais ou animais :
Alfacaroteno, Betacaroteno e Gamacaroteno: ( plantas / ovos , lagostas e pescados )
1.3 animais :
Acido Carmínico – feito a partir de insetos (blargh!)
Carmim – idem
Cochonilha – idem
Hemoglobina – feito de sangue (argh!)
Riboflavina – parece que é feito de fígado ( eca !)
Xantofilas - (Cantaxantina, Criptoxantina, Flavoxantina, Luteina, Rodoxantina, Rubixantina, Violoxantina)

2. Corante mineral ou artificial :
Alumínio
Amarelo crepusculo
Azul brilhante
Beta-apo-8’-carotenal
Beta-caroteno
Bordeaux S ou amaranto
Carbonato de cálcio
Carvão
Dióxido de titânio
Eritrosina
Éster etílico ou metílico do acido beta -apo-8
Indigotina
Óxidos e Hidróxidos de Ferro , Ouro e Prata
Ponceau 4R
Riboflavina
Tartrazina
Vermelho 40

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Com a Pobres, pelos caminhos...


Quer saber que lugar é esse? Onde fica? Então compra a edição número 18 da Pobres & Nojentas, na banca em frente à Catedral de Florianópolis, a partir de segunda-feira! Ou faz de uma vez a tua assinatura!

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Luares e tempos



Fotos: Marcela Cornelli


Miriam Santini de Abreu

Vai fazer quase um ano que eu, Marcela, Pepe e George fizemos a Trilha do Saquinho, no sul da Ilha. Me dei conta da passagem do tempo na quarta-feira quando, à noite, estava no ônibus. Eu e a Ju colocávamos a conversa em dia quando me virei e flagrei a lua cheia, dourada como o sol, se desprendendo dos morros lá no Saco dos Limões. Dei um grito e assustei quem estava perto:
- Ai, meu Jesus, que beleza, que beleza! E não posso ter uma foto!
E um homem, solícito:
- Calma, quando o ônibus sair da ponte tu consegue!
E assim lembrei que, em setembro do ano passado, um dia antes do meu aniversário, a Marcela me convidou para ver a lua cheia despertar na praia. Foi um presente único. Já se vão quase doze meses... Onde foi parar o tempo? Tão rápido...
Envelhecemos. Mas me sinto imortal quando, a cada lua cheia, os meus olhos de José, o Belo, espelham o céu e fazem a profana, sagrada adoração em meio aos terebintos do deserto...

quarta-feira, 8 de julho de 2009

São Chico, linda e mansa

São Francisco do Sul, SC, curva do mundo. Ao fundo, as arredondadas montanhas azuis da Serra do Mar.

Olhos-de-boneca

Míriam Santini de Abreu
O inverno mal começou e já me cansa. A umidade, a chuva que molha as roupas no varal, as sombrinhas baratas e temperamentais. Hoje vi um guarda-chuva largado na rua, todo retorcido. Triste quando os objetos perdem a utilidade.
Mas pressinto a primavera nos ossos. E, quando ela chega, são os olhos-de-boneca os mensageiros que mais me enternecem. Em Joinville, quando eu lá morava, as minhas amadas orquídeas abriam da noite para o dia. Eu vigiava os canteiros, e eram dourados os finais de tarde em que as surpreendia agarradas a alguma árvore. Foi lá que as vi pela primeira vez, na Joinville que também amei assim que vi, lugar contido pelas costas duras da Serra do Mar e pelo ventre líquido da Baía da Babitonga. E assim, Joinville e os olhos-de-boneca são sinônimos na minha memória revolta...

terça-feira, 7 de julho de 2009

No ônibus, feito bruxa...

Elaine Tavares
Ali estou eu no ônibus das 17h15, que passa pela escola Brigadeiro Eduardo Gomes. Num átimo tudo se transforma e as crianças entram aos borbotões. Preparo o espírito porque estou de baixo astral, sem disposição para a balbúrdia do ônibus-babel. A gurizada entra e, como sempre, muitos deles ficam me olhando. Porque desde há anos uso um bindi, o terceiro olho da crença oriental. Mas, agora, com a novela da Globo, isso virou um inferno.
As meninas espiam e cochicham, rindo. Uma delas não se agüenta e lança um “are baba” pra mim. Finjo que não escuto, sem disposição para explicar que aquele bindi nada tem a ver com as coisas da alienante e boba novela global. Já tinha pensado em não mais usar, mas, também, porque eu teria de renunciar a um costume que tenho por conta de uma passageira novela? Sigo usando, mas me estresso quando alguém liga o enfeite à trama da Globo.
Então, do meu lado, sentou um anjo. Guri franzino, magricela, de olhos muito vivos. Olhou pra mim curioso e disparou.
- Tu é cigana?
- Não!
- E o que é isso na tua testa?
- Um olho que vê o coração das pessoas.
- Tu vê o meu?
- Sim. Ele está vendo que tu és um guri bem bagunceiro na escola, mas me diz também que isso logo vai passar e que tu vais ser bem estudioso porque, no futuro, vais cuidar das pessoas.
Ele me olhou estupefato, como se eu tivesse lido mesmo sua alma.
- Ééééé´... eu quero ser médico. Será que vou ser?
- Vai sim. É só estudar bastante e enfrentar com valentia todas as barreiras.
Ele se virou e disse bem alto aos colegas. “Vou ser médico. Ela é bruxa e viu”. Então abriu os cadernos e me mostrou os desenhos que fazia. “Esse vou dar pro meu pai”. Eram dois bonecos numa espécie de consultório. “Esse sou eu”, apontou o médico. E foi conversando, feliz, até saltar, carregando a mochila grande demais para seu corpo miúdo. Lá de fora, abanou, com um riso largo. E eu que tinha entrado bem triste naquele ônibus, me fui com a alma cheia de alegria. Porque existem meninos que sonham ser médico nestes caminhos secretos do meu Campeche, e eu posso ver...

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Os assassinos atuam de novo

Por Raul Fitipaldi

Já se foram sete dias que seguimos, a cada momento, com espanto e dor, o Golpe de Estado contra o Povo Hondurenho, dado em 28 de junho. Através de TeleSUR, da Radio Globo de Honduras e de alguns sistemas alternativos esporádicos de informação assistimos a uma representação tenebrosa dos anos 70. “Nestes momentos escrevemos quando Manuel Zelaya Rosales está por tocar o solo do seu país em Tegucigalpa.” Morrerá, será preso, ou se colocará à frente do seu povo, antes de terminarmos estas linhas?
Este ensaio imperialista, oligarca não surgiu da noite para o dia, nem responde especialmente à consulta popular não vinculada que se faria no dia 28 de junho. Embora também seja assim, o grande propósito é nos escarmentar aos latino-americanos para que não continuemos nesta trilha de libertação, lenta, sofrida, oscilante, insegura. O Império, na sua queda moral, ética, produtiva, econômica e militar, quer nos arrastar a todos, porque assim o deseja a oligarquia apátrida que cozinha cada ato fascista desde Miami e com a contribuição dos interesses do Pentágono, executados pela CIA. O que neste momento acontece em Honduras pode acontecer em qualquer uma destas terras da Pátria Grande.
“Agora o avião do Presidente Zelaya sobrevoa o aeroporto de Tocontín Tegucigalpa. Carros militares se distribuem na pista de aterrissagem. Dezenas de milhares de pessoas (três mortos – um jovem, uma menina e um cinegrafista). A jornalista de TeleSUR fala com um dos pilotos do avião que lhe diz que não pode descer. Zelaya fala com a jornalista direto da cabine do avião de bandeira venezuelana e pilotado por aviadores também venezuelanos. Diz que haverá de imediato uma reunião com os representantes internacionais que estão próximos a eles em territórios vizinhos. A multidão quando vê o avião clama, grita, saúda seu líder, as balas repicam. Zelaya anuncia que procura outros mecanismos para entrar no país. Pode demorar um dia, ou dois, ou três... mas voltarei”.
A barbárie acontece. O povo está de pé, o peito da massa está frente às balas. A elite sem-vergonha, oligarca, o imperialismo criminal, estão cumprindo seu papel histórico. Iniciam sua nova caminhada os golpistas, as perseguições, os juízes mafiosos, os lobbies industriais, os políticos corruptos, os homens das cavernas, andam contra o povo. Os racistas, os xenófobos, a parte mais pútrida das igrejas, o lixo moral das instituições voltam atropelar os povos da América Latina. A luta por concluir nossa independência precisa dinamizar-se, organizar-se, crescer, tirar os espaços ou não haverá mais liberdade, mais vida, mais mundo possível.
“Zelaya continua falando desde o ar com Marcela Heredia de TeleSUR. Critica os Estados Unidos e os responsabiliza. O avião procurará outro lugar para aterrissar. ‘Falarei com Lugo, Cristina, Insulza...’ diz Zelaya”. Marcela começa a conversar com Hugo Chávez. Aqui, no Brasil está terminando a nova rodada do campeonato brasileiro. Os olhos estão ali colocados. Alguns velhos, que já passamos pela agrura dos anos setenta escrevemos, dizemos alguma coisa sem sentido, ou com muito sentido. Estamos atentos, as mãos amarradas, os sonhos voando, porque a Democracia Participativa não vai morrer, porque se ela morre, morre a Terra. Ou se levanta a espada de Bolívar, ou todos nossos progressos na Venezuela, no Equador, na Nicarágua, na Bolívia, e outros a caminho, serão varridos pelo pacto genocida das oligarquias apátridas, o sionismo, as transnacionais, as máfias de Miami, a covardia da União Européia, a CIA, o Pentágono e os serviços de inteligência destes países ainda não desmontada. O morrem os assassinos da América Latina, ou morremos todos, juntos, os assassinos e nós.
VIVA HONDURAS
VIVA AMÉRICA LATINA
MORTE AO IMPÉRIO

domingo, 5 de julho de 2009

Um povo herói cobrado

Li Travassos, de Florianópolis

Há quem tenha ataques de saudosismo e fique lembrando os "bons" tempos em que não havia luz elétrica, água encanada, banheiro dentro de casa, e outras coisas absolutamente fundamentais para que tenhamos um mínimo de conforto em nossas vidas. Eu, que passei minha infância podendo assistir TV, que em certo momento da minha adolescência passei a ter telefone em casa, que só fiquei sem luz na minha própria casa por conta de quedas temporárias de energia, que depois que fui apresentada a um computador não sei mais viver sem internet, não sonho em abrir mão de nenhum dos confortos que estas coisas nos proporcionam.
Até porque, já estive em casas com "casinha" ao invés de banheiro. Já passei vários dias em uma cidade no meio da Floresta Amazônica, onde não havia caixa d'água e a luz elétrica só dava o ar da graça das 18 às 22 horas, não havendo portanto geladeira, possibilidade de você tomar banho na hora que queria (apenas nas horas em que vinha água, duas vezes por dia, fora isso, só se fosse de "canequinho"), chuveiro elétrico (este não fazia falta mesmo, devido ao calor), nem nenhum conforto habitual. Já acampei na velha praia de Quatro Ilhas, quando não havia nada de nada lá, no meio da areia, indo "filar" banho de chuveiro no Retiro dos Padres. Do mesmo jeito, já acampei na velha Ilha do Mel, tomando banho de bica e fazendo xixi no mato. E, quer saber? Sempre odiei tudo isso.
Agora, também acho complicado viver tendo toda comodidade à disposição, mas sendo isso tudo caríssimo e, às vezes, o serviço muito ruim. Não sei você, mas fico tentando fazer minhas contas caberem dentro do meu orçamento, não entrar no cheque especial, e todos os meses é um fracasso. Por vezes penso que deveria tentar viver dentro do meu padrão, penso que gasto demais. E gasto mesmo, mas será que poderia gastar menos e não sei?
Então vejamos: moro num apartamento que é um ovo, no Centro da cidade. Num lugar que ainda é seguro, porque residencial. Pago uma fortuna de aluguel e condomínio, justamente por morar nesta região. Então, eu poderia muito bem ir morar na p-q-p, dirá você. Mas daí, como precisaria vir para o Centro quase todos os dias, iria gastar um tanto a mais de transporte, que normalmente seria o coletivo (o Ônibus acabou de subir em Florianópolis, de novo, como você já deve saber), mas correria sempre o risco de ter que sair tarde da noite de algum lugar, e ter que pegar um táxi. Além disso, sou uma defensora radical de que as pessoas procurem morar perto de seu trabalho e de suas outras atividades diárias, posto que assim não precisam ter carro, nem precisam ajudar a lotar os ônibus, nem a transformar, de nenhuma forma, o trânsito de sua cidade num inferno. Caronas são sempre bem vindas, especialmente de noite ou com chuva, posto que assim não se gasta nada ("o casi nada, que no es lo mismo, pero es igual" [1]) a mais do que se gastaria com o mesmo carro levando menos gente dentro.
Voltando para a questão de quanto custa morar no Centro, levando em conta ainda que, quando houvesse greve de ônibus eu não poderia trabalhar, sendo eu autônoma, deixaria de ganhar mais um tanto. Assim, me parece que morar no Centro, além de custar quase o mesmo em termos financeiros do que morar na p-q-p, custa muito menos em termos de saúde mental.
Falando em ser autônoma, você sabia que quem não tem emprego e trabalha por conta tem que pagar 20% do que ganha para a previdência? Se ganhar salário mínimo, pode pagar "só" 11%, mas, acima disto, é 20%. Ou seja: quem ganha 600 reais tem que pagar 120 para a previdência, quem ganha 1000 tem que pagar 200, quem ganha 1500 tem que pagar 300, quem ganha 2000 tem que pagar 400, e assim por diante! E isso tudo para fazer parte de um Sistema Único de Saúde que de único não tem nada, e para garantir(?) uma aposentadoria meia boca.
Justamente em função disso eu pago uma fortuna de plano de saúde. Com garantia de internação e tudo o mais. Quanto mais velha fico, mais caro fica o plano. Então, por que você não deixa de pagar, pergunta você? Porque, como já sugeri acima, o SUS é um terror. Porque se eu precisar de um exame com urgência vou acabar tendo que pagar, o que pode sair mais caro que pagar o plano de saúde por vários meses. Porque faço check-up semestral em função de algumas mazelas já existentes. Porque espero não precisar de nenhum tratamento caríssimo, mas se precisar, não tenho de onde tirar dinheiro. Porque "não transmiti a ninguém o legado de nossa miséria" (2) e portanto não terei filhos para cuidarem de mim na velhice. Porque, enfim, não tenho colhões para ficar sem plano de saúde.
Ainda, para não enlouquecer de vez com a programação da TV aberta, tenho o básico dos básicos de um pacote de TV a cabo, incluindo internet a cabo também. Esta última é uma droga, às vezes fica super lenta, mas fiquei sem ela estes tempos, devido a um problema do provedor, e levei duas horas para baixar um e-mail, o que me fez lembrar de meus tempos de internet discada, e da fortuna que eu acabava pagando a mais na conta do telefone... Por falar nisso, tenho um telefone fixo (família em outra cidade...) e um celular pós pago – no qual pago o menor pacote possível, mas se gastar mais minutos do que tenho direito acabo pagando mais caro...
Como só sai o básico do meu fogão, às vezes acho que gasto demais no supermercado. Mas estou fazendo regime, comprando bem menos "besteiras", e as contas do super continuam um horror. Roupas? A maioria compro pano e mando fazer, garimpo um monte em brechó... Gasto um pouco mais em sapatos, já que ando muito e detono bastante os ditos cujos, mas como faço questão de sapato que não seja de couro, então eles são baratinhos também... Claro que tem também roupa de dormir, roupa íntima, meias, etc., e quando a gente vê...
Para além disso, tem os tais cartões de crédito, que são um terror: você acaba comprando o que não precisa, e depois se arromba para pagar. Mas de quê a gente precisa também é questionável ("a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte..." [3]). Então, quando eu compro um livro, sempre dá uma dor na consciência, mas depois eu mando a consciência passear, que eu também não vivo sem eles...
Completando a felicidade de pagar mil contas, vai ter sempre um infeliz que trabalha com tele marketing te ligando, para te oferecer mais um porrilhão de serviços daquela empresa cujos serviços você já usa, ou para te convidar para mudar para outra empresa, ou simplesmente para te enlouquecer. Quando é você que precisa ligar para uma empresa que te presta serviços, já é outra coisa você conseguir completar a ligação e resolver de alguma forma o problema. Tenho tentado, arduamente, não ter um siricotico a cada vez que falo com um atendente de tele marketing ou de atendimento ao consumidor, mas nem sempre consigo... Porque o que acho pior, mesmo, é que além de termos que pagar por tudo, de que tudo custa caríssimo (e você fica pensando: quem é que dá conta de pagar, como é que vivem as pessoas que recebem salário mínimo...) o pior é saber que a qualidade dos serviços e, em especial, do atendimento ao cliente, deixa muitíssimo a desejar... E aí eu até repenso aquela casinha no meio do mato, sem luz, sem telefone, sem internet...

1 Da música Pequeña Serenata Diurna, de Silvio Rodríguez.
2 Do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
3 Da música Comida, dos Titãs.

Meus olhos verão o paraíso

Simon Friedland, 1930

Nossos olhos vão ver o paraíso, sim, mas, claro, serão olhos apodrecidos.
Quem foi que disse que não vamos ressuscitar? O Bush?
Coragem, tudo é absurdo, a música é invisível.
Depois da morte, serei o meu mais profundo desejo sem as imperfeições da carne.
Fernando José Karl

O senhor Artaud

Henry B. Goodwin, 1910
Brinca às vezes com ela o senhor Artaud – 51 anos –, com a que mora na casa da frente e entra no seu quintal. Tem 18 anos e se chama Laura. Se chega um pouco mais cedo, o senhor Artaud manda ao criado que lhe traga a tina com água morna; quer lavar-se, observar atentamente essa menina que acaba de penetrar surdamente pela porta de seu quarto de dormir e, agora, abandona a cabeça no ombro dele. E, malgrado a diferença dos dois, o almoço foi sereno com truta e salada. O senhor Artaud devora, com alguma pausa é certo, os lábios da menina, a língua, a coxa. Para o fim do almoço, o senhor Artaud relaxa um pouco a gravata do espírito, expande-se, cita algumas aventuras amorosas de outros. Laura, para excitá-lo, fica ainda mais nua (se é que isso seja possível) e pede-lhe que chupe seus flancos como se chupa uma laranja.

Fernando José Karl


A Novembrada em vídeo


Vale a pena conferir o trabalho de conclusão do curso de jornalismo da colega Ana Carla Pimenta. Trata-se de um documentário em vídeo sobre os 30 anos da Novembrada. A apresentação será nesta segunda, 6 de julho, às 20 horas, no Auditório do Palácio Cruz e Sousa.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Na greve, fique em casa!

Elaine Tavares

Quando o capitalismo começou era assim. Os ricos montavam fábricas e os trabalhadores se amontoavam em volta delas com suas choças, as quais só serviam para dormir,uma vez que eles ficavam mais de 18 horas no trabalho, inclusive suas mulheres e filhos. Depois, com o passar do tempo e o crescimento das cidades, os lugares onde o comércio vicejava passaram a ser reconhecidos como zonas nobres e uma nesga de terra nestas áreas encareceu demais.
É por isso que nas grandes cidades os trabalhadores, no mais das vezes, moram sempre longe de seus locais de trabalho. As regiões nobres se enchem de comércio e prédios de primeira classe e os pobres vão sendo afastados para o interior, os bairros, as encostas dos morros e, até, para municípios vizinhos. Em Florianópolis, por exemplo, um aluguel perto da universidade federal, zona nobre, não é coisa para trabalhador. No centro, nem pensar. Bairros como o Estreito, Coqueiros e Costeira, que ficam bem próximos do centro, também são caros.
Não é à toa que o transporte coletivo seja tão necessário. Ele serve para levar e trazer os trabalhadores que se deslocam de grandes distâncias para exercer seu ofício. Em Florianópolis, são mais de 200 mil pessoas nos ônibus todos os dias. Portanto, o transporte coletivo deveria ser responsabilidade dos patrões, dos que sugam a mais-valia daqueles que vendem sua força de trabalho. São os patrões que deveriam se estressar no caso de uma greve de ônibus, como a que vivemos agora na capital. Mas, em vez de vermos os magnatas se desesperando, o que a gente vê? Trabalhadores brigando uns com os outros pelo lugar numa van. Gente xingando os grevistas - trabalhadores como eles - porque estão lutando por vida digna.
O caos entre os usuários do transporte se instala, as ruas ficam cheias de gente que anda quilômetros para chegar no local de trabalho, que se desespera. Enquanto isso, nas mansões, nas casas chiques, ninguém sequer sabe o que acontece. Os patrões e seus agregados seguem com suas vidas mansas sem nem se importar. Os donos dos ônibus recusam aumentos pífios aos trabalhadores e ameaçam com aumentos na passagem. A prefeitura se dispõe a encher as burras dos empresários, sempre mais e mais, sem se decidir a encampar o transporte público como coisa pública de fato. E assim vamos nós até a próxima greve.
Penso que o melhor seria todo mundo ficar em casa. Descansando, lendo, fazendo tricô, comendo pinhão. Os trabalhadores deveriam dar seu apoio aos que estão lutando, fazendo os que lhes sugam o sangue diariamente ver que eles também são importantes no processo de produção. Ficar em casa, deixar a rua vazia, o comércio parado, as fábricas e as repartições vazias. Aí os jornalistas de aluguel fariam suas matérias alarmistas sobre como "a economia parou" e os patrões tremeriam diante da queda dos lucros e pressionariam os colegas donos de empresa de ônibus a ceder. Ninguém mais do que os empresários defendem o direito de ir e vir dos trabalhadores, não é mesmo? Nem que seja só para o eterno girar na mó da escravidão...
Estas greves, sempre a me ensinar...

Sobre o golpe de Estado em Honduras

O coletivo da Pobres e Nojentas repudia veementemente o golpe de Estado em Honduras e se solidariza com o povo hondurenho na luta por liberdade, dignidade e soberania.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Para entender o golpe em Honduras

Elaine Tavares
De repente, um pequeno país da América Central, cuja capital poucos conseguem pronunciar o nome, Tegucigalpa, virou notícia mundial. Uma velha e conhecida história ali se repetia, quando mais ninguém acreditava que isso pudesse ser possível. Um golpe de estado contra um presidente que não é nenhum revolucionário de esquerda, pelo contrário, é um bem comportado político do partido liberal. O motivo do golpe é pueril: a decisão do presidente de fazer uma consulta popular sobre a possibilidade de uma Constituinte. Em Honduras, ouvir o povo é considerado um ato de lesa pátria. Nada poderia ser mais anacrônico nestes tempos de particpação protagônica das gentes.
A história
Honduras é um pequeno país da América Central cuja história é muito peculiar. Primeiro, porque foi o berço de uma das mais incríveis civilizações desta parte do mundo: os maias. E segundo, porque durante as guerras de independência que tomaram conta da américa espanhola, foi ali que se criou a República Federal das Províncias Unidas da América Central, um ensaio da pátria grande, tão sonhada por Bolívar. Os maias foram dizimados e a proposta de federação não resistiu ao sonhos de grandeza de alguns e, em 1838, a região da América Central também balcanizou. Honduras virou um estado independente e acabou entrando no diapasão das demais repúblicas da região: dominada por caudilhos e fiel serviçal das grandes potências da época, tais como a Inglaterra, a Alemanha e a nascente nação dos Estados Unidos.
As ligações perigosas
Como era comum naqueles dias, a elite governante se digladiava entre liberais e conservadores. Com o fim da idéia de federação e a morte do liberal Francisco Morazón, considerado o mártir de Tegucigalpa, que morreu em 1842 ainda lutando pela unificação da América Central, os conservadores assumiram o comando e o país virou prisioneiros da dívida externa, conforme conta o historiador James Cockcroft, no livro América Latina e Estados Unidos. Os liberais só voltaram ao poder no final do século XIX, mas já totalmente catequisados para viverem de maneira dependente dos países centrais. No início dos século XX chegaram as bananeiras estadunidenses e com elas o processo de super-exploração. A United Fruit Company, a Standart Fruit e a Zemurray´s Cuyamel Fruit passaram a comandar os destinos das gentes. E quando estas tentaram se rebelar, foi a marinha estadunidense quem desembarcou no país para aplastar as mobilizações. Honduras virou, desde então, um país ocupado. Os camponeses trabalhavam nas piores condições e as bananeiras ditavam as leis, financiando os dois partidos políticos locais.Nos anos 30, quando uma grande depressão agitou o país, o governante de plantão, General Carías, submeteu o país, com a ajuda armada estadunidnese, a 16 anos de lei marcial. E, como é comum, quando ficou obsoleto, foi retirado do poder por um golpe.
Em 1950, depois da segunda guerra, as bananeiras exigiram mudanças e o Banco Mundial foi chamado para promover a “modernização” de Honduras. Gigantesgas greves de trabalhadores – como a dos plantadores de banana que parou o país por 69 dias - e de estudantes foram aplastadas em nome do desenvolvimento. E tudo o que eles queriam era o direito de ter um sindicato. Havia eleições mas, na verdade, com uma elite claudicante eram os militares quem davam as cartas e foram eles, apavorados com os avanços dos trabalhadores, que assinaram um acordo com os Estados Unidos para que este país pudesse ter bases militares no território hondurenho.
O medo de mais revoltas populares fez com que o governo realizasse uma espécie de reforma agrária nos anos 60 e 70 que acabou freando as mobilizações no campo, embora o benefício não tenha chegado a um décimo dos camponeses. Ao longo dos anos 70 os escândalos envolvendo generais no governo e as bananeiras se sucederam, causando mais mobilização nas cidades e nos campos, onde ostrabalhadores já se organizavam de modo mais sistemático. Mas, os anos 80 trarão um nova ocupação estadunidense que acabou subordinando a vida das gentes outra vez.

Os sandinistas e os EUA
Os anos 80 são tempos de guerra fria. Os Estados Unidos insistem na luta contra Cuba e também contra a Nicarágua que busca sua autonomia através da revolução sandinista. E, assim, com o mesmo velho discurso de combater o comunismo, Jimmy Carter manda para Honduras os seus “boinas verdes”, para ajudar na defesa das fronteiras, uma vez que o país faz limite com a Nicarágua. Além disso, os EUA abocanham mais de três milhões de dólares pela venda de armas e alugel de helicópteros. Na verdade, lucram e ainda usam o exército hondurenho para realizar numerosas matanças de refugiados salvadorenhos e nicaraguenses. É ali, em Honduras, que, com o apoio da CIA, se leva a cabo o treinamento dos contras que, por anos, assolaram a revolução sandinista e o próprio governo revolucionário. Era o tempo em que um batalhão especial liderado por um general hondurenho anti-comunista, promoveu massacres contra lideranças da esquerda de toda a região. E assim, durante toda a década, apesar dos escândalos políticos e mudanças de mando, a “ajuda” estadunidense aos generias de plantão sempre se manteve impávida com milhões de dólares sendo investidos nos acampamentos dos contras, que somavam mais de 15 mil soldados.
Nos anos 90, a situação em Honduras era tão crítica que até a conservadora igreja católica passou a apoiar os militantes dos direitos humanos que denunciavam estar o país a beira de uma guerra. A derrota dos sandinistas na Nicarágua refreou os ânimos, mas ainda assim, seguiram as denúncias de assassinatos e violações. No final da década, os governos neoliberais já haviam destruido as cooperativas de trabalhadores e devolvido terras às companhias estadunidenses. Nada mudava no país.

Zelaya
Manuel Zelaya foi eleito presidente em 2005, pelo Partido Liberal, mas esteve em cargos importantes durantes os últimos governos. Era, portanto, um homem do sistema. Seus problemas com os Estados Unidos começaram em 2006, quando decidiu reduzir o custo do petróleo, passando a discutir com Hugo Chávez, da Venezuela, a possibilidade de negócios conjuntos, o que acabou culminando, em janeiro de 2008, com a entrada de Honduras na órbita da Petrocaribe, um acordo de cooperação energética que busca resolver as assimetrias no acesso aos recursos energéticos. Este acordo incluiu Honduras na lógica da ALBA, a Alternativa Bolivariana para as Américas, projeto de Chávez em contraposição à ALCA, que tentava se impor a partir dos Estados Unidos. A proposta de Chávez foi a de vender o petróleo a Honduras, com pagamento de apenas 50%, sendo a outra metade paga em 25 anos, com um juro pífio, permitindo assim que Honduras investisse em áreas sociais. O plano, apesar de bom para o país, foi duramente criticado pela classe política. E os Estados Unidos perderam um parceiro de TLC (os mal fadados acordos de livre comércio), o que provocou tremendo mal estar em Washington. Assim, quando o presidente Zelaya decidiu fazer um plebiscito, consultando a população sobre a possibilidade de uma Assembléia Nacional Constituinte, e não apenas de uma mudança para um novo mandato como dizem alguns veículos de informação, o mundo veio abaixo. Entre os direitistas de plantão e amigos da política estadunidense, isso era influência de Chávez. O próprio partido Liberal reacinou contra a medida, considerada “progressita” demais. Afinal, uma nova Constituinte colocaria o país num rumo bastante diferente do que vinha sendo trilhado nas últimas décadas. Mesmo assim o presidente levou adiante a proposta de ouvir a população e acabou exonerando o chefe do Estado Maior, general Romeo Vásquez Velásquez, quando este se recusou a distribuir as cédulas para a votação. A Corte Suprema votou contra a consulta popular e exigiu que o presidente reconduzisse o general ao seu posto, o que foi negado. Por conta disso, no dia da votação, domingo, dia 28, os militares prenderam Zelaya, o sequestraram e o levaram para Costa Rica, coincidentemente seguindo os mesmos trâmites do golpe perpetrado contra Chávez em 2001. O Congresso hondurenho chegou a discutir até a sanidade mental do presidente e, no dia do golpe, se prestou a ler uma fictícia carta de renúncia, imediatamente desmentida pelo próprio presidente desterrado. Ainda assim, o Congresso decidiu instituir o presidente da casa, Roberto Micheletti, como presidente da nação. Este, nega que esteja assumindo num momento de golpe. “Foi perfeitamente legal a ação do Congresso”, dizia, e, enquanto isso, mandava suspender os sinais de televisão e os telefones.

Reação Popular
Agora estão jogados os dados. O presidente Zelaya disse que volta a Honduras nesta quinta-feira e vai acompanhado de presidentes de nações livres e amigas, tais como Equador e Argentina. O mundo inteiro repudiou o golpe e nenhum país reconheceu o governo golpista. A população deflagrou greve geral no país e, aos poucos, as grandes cidades estão parando. A proposta de Zelaya é reassumir e terminar o seu mandato. Não se sabe se ele vai insistir na consulta popular para uma nova Constituição, tudo vai depender da correlação de forças. Se a sua volta se der a partir da mobilização popular, haverá condições objetivas de apresentar esta proposta aos hondurenhos, além de purgar toda a camarilha que buscou reavivar um passado que as gentes de Honduras não querem mais. Há rumores de que políticos da direita estejam alinhavando um acordo, permitindo a volta do presidente, mas exigindo que ninguém seja punido. Se assim for, a volta será derrota.
O cenário mais provável é que, configurado o apoio popular e também o apoio da comunidade internacional, o presidente Zelaya coloque para correr os golpistas e inaugure um novo tempo em Honduras. Caso seja assim, enfraquece o domínio dos Estados Unidos na região e cresce o fortalecimento da Aliança Bolivariana dos Povos de Nuestra América.