quarta-feira, 8 de julho de 2009

Olhos-de-boneca

Míriam Santini de Abreu
O inverno mal começou e já me cansa. A umidade, a chuva que molha as roupas no varal, as sombrinhas baratas e temperamentais. Hoje vi um guarda-chuva largado na rua, todo retorcido. Triste quando os objetos perdem a utilidade.
Mas pressinto a primavera nos ossos. E, quando ela chega, são os olhos-de-boneca os mensageiros que mais me enternecem. Em Joinville, quando eu lá morava, as minhas amadas orquídeas abriam da noite para o dia. Eu vigiava os canteiros, e eram dourados os finais de tarde em que as surpreendia agarradas a alguma árvore. Foi lá que as vi pela primeira vez, na Joinville que também amei assim que vi, lugar contido pelas costas duras da Serra do Mar e pelo ventre líquido da Baía da Babitonga. E assim, Joinville e os olhos-de-boneca são sinônimos na minha memória revolta...

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