sexta-feira, 3 de julho de 2009

Na greve, fique em casa!

Elaine Tavares

Quando o capitalismo começou era assim. Os ricos montavam fábricas e os trabalhadores se amontoavam em volta delas com suas choças, as quais só serviam para dormir,uma vez que eles ficavam mais de 18 horas no trabalho, inclusive suas mulheres e filhos. Depois, com o passar do tempo e o crescimento das cidades, os lugares onde o comércio vicejava passaram a ser reconhecidos como zonas nobres e uma nesga de terra nestas áreas encareceu demais.
É por isso que nas grandes cidades os trabalhadores, no mais das vezes, moram sempre longe de seus locais de trabalho. As regiões nobres se enchem de comércio e prédios de primeira classe e os pobres vão sendo afastados para o interior, os bairros, as encostas dos morros e, até, para municípios vizinhos. Em Florianópolis, por exemplo, um aluguel perto da universidade federal, zona nobre, não é coisa para trabalhador. No centro, nem pensar. Bairros como o Estreito, Coqueiros e Costeira, que ficam bem próximos do centro, também são caros.
Não é à toa que o transporte coletivo seja tão necessário. Ele serve para levar e trazer os trabalhadores que se deslocam de grandes distâncias para exercer seu ofício. Em Florianópolis, são mais de 200 mil pessoas nos ônibus todos os dias. Portanto, o transporte coletivo deveria ser responsabilidade dos patrões, dos que sugam a mais-valia daqueles que vendem sua força de trabalho. São os patrões que deveriam se estressar no caso de uma greve de ônibus, como a que vivemos agora na capital. Mas, em vez de vermos os magnatas se desesperando, o que a gente vê? Trabalhadores brigando uns com os outros pelo lugar numa van. Gente xingando os grevistas - trabalhadores como eles - porque estão lutando por vida digna.
O caos entre os usuários do transporte se instala, as ruas ficam cheias de gente que anda quilômetros para chegar no local de trabalho, que se desespera. Enquanto isso, nas mansões, nas casas chiques, ninguém sequer sabe o que acontece. Os patrões e seus agregados seguem com suas vidas mansas sem nem se importar. Os donos dos ônibus recusam aumentos pífios aos trabalhadores e ameaçam com aumentos na passagem. A prefeitura se dispõe a encher as burras dos empresários, sempre mais e mais, sem se decidir a encampar o transporte público como coisa pública de fato. E assim vamos nós até a próxima greve.
Penso que o melhor seria todo mundo ficar em casa. Descansando, lendo, fazendo tricô, comendo pinhão. Os trabalhadores deveriam dar seu apoio aos que estão lutando, fazendo os que lhes sugam o sangue diariamente ver que eles também são importantes no processo de produção. Ficar em casa, deixar a rua vazia, o comércio parado, as fábricas e as repartições vazias. Aí os jornalistas de aluguel fariam suas matérias alarmistas sobre como "a economia parou" e os patrões tremeriam diante da queda dos lucros e pressionariam os colegas donos de empresa de ônibus a ceder. Ninguém mais do que os empresários defendem o direito de ir e vir dos trabalhadores, não é mesmo? Nem que seja só para o eterno girar na mó da escravidão...
Estas greves, sempre a me ensinar...

Um comentário:

Li Travassos disse...

Genial o texto Elaine. Me incomoda muito que as pessoas sejam obrigadas a morar tão longe de seu trabalho, que se desloquem de forma tão desumana todos os dias, que isto tudo gere um trânsito poluidor e caótico, enfim, que sequer o Bancos públicos, que empregam um número enorme de pessoas, sejam capazes de pensar em colocar seus funcionários trabalhando o mais perto possível de suas casas. Também penso que, se os trabalhadores se unissem sempre, tudo ficaria melhor rapidinho. A começar por todos os policiais se tocarem que também são trabalhadores (alguns já sabem disso, mas são poucos...). Um abraço. Li Travassos