Míriam Santini de Abreu
Passa da uma da madrugada. Vão-se meses, quase dois anos, mais, talvez, que não escrevo de madrugada. Vão-se meses que não escrevo. Li há pouco o texto "Na casa de Olímpia", da Elaine, e fiquei a matutar. Não sei há quanto tempo as palavras partiram de mim. Não as encontro para dizer nada que valha a pena ser dito. Mas hoje, finalmente, coloquei em ordem meus livros nas estantes, tenho novamente uma longa escrivaninha branca, ao lado do computador um alienígena que encontrei em uma loja da Vidal Ramos, três prateleiras cheias de canetas coloridas e trecos em geral, na parede três fotos que amo, a casa de meu bisavô, a que mostra Elaine e eu Susques, no alto dos Andes, e outra minha e dela voando em vassouras sob a lua, montagem que o Rogério fez para mim.
Gosto de ver os livros alinhados nas estantes, adormecidos, mas prontos para despertarem. Depois de um longo tempo ser ler nada a sério, sem conseguir me deter em nada, já passei da metade de "A casa da sabedoria: como a valorização do conhecimento pelos árabes transformou a civilização ocidental".
O livro está ao meu lado. O alienígena me espia. Lembro de um outro livro que li há tempos, “Um Teto Todo Seu”, ensaio de Virginia Woolf no qual ela diz: “A mulher precisa ter dinheiro e um teto todo dela se pretende mesmo escrever ficção”.
Virginia Woolf ... Dela o que mais amo é "Passeio ao farol", no qual flui, violenta, toda a sua melancolia. Não, melancolia não. Tristeza. A sua tristeza. Os tristes sabem do que falo. Sentem. Buscar a alegria é um projeto. Um projeto que também entristece. Virginia Woolf entristeceu-se demais. Não pôde se salvar. Mas salvou o que deixou antes de se levar. Salvou sua palavra. Salvar a palavra também é um projeto, assim como procurar a alegria.
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