sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Sinos ao Longe

Míriam Santini de Abreu
Havia uma série no final dos anos 70, início dos 80. Chamava-se Shane, e era uma das tantas que eu adorava. O papel principal era de David Carradine. Gostava de seu rosto anguloso, auto-suficiente, mas com lábios ondeados e desejosos. Um dos episódios, lembro bem, chamava-se Sinos ao Longe.
Pistoleiros queriam que a família para a qual Shane trabalhava abandonasse suas terras. Então ameaçaram incendiar a escola onde a mocinha da série, uma loura de olhos grandes, era professora. E ela disse a Shane:
- Se os sinos tocarem, é porque tudo estará bem.
Tocaram, e Shane, ao ouvi-los, encrespou os lábios. Ele amava a mocinha.
Pois bem, deve ser por causa daquele episódio que amadureci essa fascinação por sinos. Uma vez, numa vilazinha no interior de Caxias do Sul, inventei de entrar na torre sobre a qual repousava o sino. Fechei a porta para ninguém impedir o meu pequeno atrevimento e, ao me virar para iniciar a aventura, topei com um sujeito, um Quasímodo embriagado que se assustou tanto quanto eu. Saí dali aos gritos.
O meu irmão César certamente dirá que essa pode se tratar de mais uma das minhas falsas memórias... Quem pode saber!
O sino na foto é de uma igreja em Recife. Tão velho, tão gasto, tão belo... E sobre ele as folhagens indolentes, para as quais, como para mim, deve o sino proclamar:
- Excito lentos!

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