quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Ah, Primavera!


Míriam Santini de Abreu

Que se passa neste agosto, não sei. Parece que as palavras fugiram, encolheram-se, acuadas, num canto qualquer da vontade. Os textos andam escassos. Nesses dias tenho compartilhado com as jornalistas dos meus quereres esse desejo de não dizer, de não escrever, um fastio. Mas é um fastio estranho, porque há tudo por dizer, tudo por escrever. Só que as letras não engravidam. Os jornais andam atrasados, as revistas teimam em não sair da virtualidade. Fechar um boletim no trabalho é um gesto heróico. Alimentar a fome de um site por novas notícias é tarefa que leva horas. Que é?
Em nossas conversas, suspeitamos que seja o desejo da Primavera, o desejo do equinócio, um igual período de claridade e de escuridão. O desejo de sair ao dia com os cabelos cheios de rosas, espiando, nos jardins, o nascer suave, mas atordoante, dos olhos-de-boneca!


Primavera

Florbela Espanca


É Primavera agora, meu Amor!
O campo despe a veste de estamenha;
Não há árvore nenhuma que não tenha
O coração aberto, todo em flor!

Ah! Deixa-te vogar, calmo, ao sabor
Da vida... não há bem que nos não venha
Dum mal que o nosso orgulho em vão desdenha!
Não há bem que não possa ser melhor!

Também despi meu triste burel pardo,
E agora cheiro a rosmaninho e a nardo
E ando agora tonta, à tua espera...

Pus rosas cor-de-rosa em meus cabelos...
Parecem um rosal! Vem desprendê-los!
Meu Amor, meu Amor, é Primavera!...

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