Míriam Santini de Abreu
Estou fazendo um curso de vídeo oferecido pelo Sinergia, o Sindicato dos Eletricitários, na TV Floripa, que tem à frente o colega Silvio Smaniotto. Pois graças ao curso conheci o fotógrafo e documentarista Dario de Almeida Prado Jr., e graças ao Dario, que é o nosso oficineiro, abriu-se uma comporta inesgotável de beleza produzida por fotógrafos e cineastas, cujas referências artísticas e históricas ele compartilha com arrebatamento.
Na semana passada, falou sobre o filme “A Voz da Lua”, de Fellini, que eu não conhecia. Enluarada como sou, quis saber mais, pesquisei, e agora, pelas mãos do nosso oficineiro, tenho o DVD à espera dos meus cuidados (há uma crítica do filme em http://cinemaitalianorao.blogspot.com/2008/12/fellini-no-mundo-da-lua.html). Coisa para ser saboreada na madrugada, à beira de uma taça de vinho.
Neste 19 de agosto, lembrou-nos Dario na aula desta quarta-feira, a fotografia completa 170 anos. E um dos seus grandes nomes foi Jacques Henri Lartigue, cujas fotos podem ser vistas no Google Imagens. Pesquisei mais e achei um artigo lindo sobre o trabalho do francês, que amava os “odores misteriosos” da fotografia. Está em http://www.rever.fot.br/pdf/Jacques%20Henri%20Lartigue.pdf.
Mas há outra tirada do Dario que eu agora não esqueço. Falávamos, na oficina, sobre a necessidade de – por assim dizer – perder o medo da parafernália eletrônica, à qual os profissionais da imagem estão acostumados. Eu não consigo. Aí o Dario se saiu com essa: - Tem que ter mão mandona! E narrou um trecho do filme “A hora e vez de Augusto Matraga”, de Roberto Santos, baseado na novela de Guimarães Rosa. Há uma cena em que Nhô Augusto é estimulado a mostrar a habilidade de atirar, que deixou de usar há muito tempo. E recebe o elogio do chefe dos jagunços:
— Não faz conta de balas, amigo? Isto é arma que cursa longe...
— Pode gastar as oito. Experimenta naquele pássaro ali, na pitangueira...
— Deixa de criaçãozinha de Deus. Vou ver só se corto o galho... Se errar, vocês não reparem, porque faz tempo que eu não puxo dedo em gatilho...
Fez fogo.
— Mão mandona, mano velho. Errou o primeiro, mas acertou um em dois... Ferrugem em bom ferro!
Mão mandona... A expressão que Dario gosta de usar me encantou, porque me dá prazer observar a forma dos braços e das mãos, a musculatura retesada sob a pele, quando o corpo humano trabalha. E cada pessoa tem mão mandona em algum tipo de trabalho, atividade, profissão, ou em vários, porque tem mão mandona exibida, plural.
Durante uns meses, meu pai dirigiu um caminhão de entregas para completar a aposentadoria, e uma vez ele contou que, numa dessas saídas, conseguiu controlar o veículo e evitar um acidente. Ao olhar em volta para ver se dera tudo certo, outro motorista passou por ele e, num instante, colocou a mão sobre o bíceps, com um sorriso e um sinal de assentimento, e gritou: - Aí tem braço! Agora consigo dar um nome ao que motivou o prazer de meu pai ao contar a história: o deleite da mão mandona, reconhecida nele por outro homem.
Isso está bem expresso na música “Quem Saberia Perder”, de Ivans Lins, disponível em http://www.youtube.com/watch?v=WbxJlHzVKLg&feature=PlayList&p=41C71AFA434071BC&playnext=1&playnext_from=PL&index=19, da qual amo especialmente esse trecho:
Vivo do que faz meu braço
Meu braço faz o que a terra manda
Ah, que tributo à ação!
Num tempo em que a nossa profissão é tornada vil no mercado de trabalho, em que se fala do fim do jornalismo, do fim do fotojornalismo, digo: a maior parte do que se vê nos meios de comunicação não é jornalismo nem fotojornalismo. É outra coisa, tem outro nome, é tema de outro artigo.
Quem faz jornalismo, fotojornalismo, de verdade, sabe muito bem: coisa boa só sai de quem tem mão mandona. E mão mandona no jornalismo - como em qualquer outro trabalho - não é para qualquer um! Ora, ora... que morte, que nada!
Estou fazendo um curso de vídeo oferecido pelo Sinergia, o Sindicato dos Eletricitários, na TV Floripa, que tem à frente o colega Silvio Smaniotto. Pois graças ao curso conheci o fotógrafo e documentarista Dario de Almeida Prado Jr., e graças ao Dario, que é o nosso oficineiro, abriu-se uma comporta inesgotável de beleza produzida por fotógrafos e cineastas, cujas referências artísticas e históricas ele compartilha com arrebatamento.
Na semana passada, falou sobre o filme “A Voz da Lua”, de Fellini, que eu não conhecia. Enluarada como sou, quis saber mais, pesquisei, e agora, pelas mãos do nosso oficineiro, tenho o DVD à espera dos meus cuidados (há uma crítica do filme em http://cinemaitalianorao.blogspot.com/2008/12/fellini-no-mundo-da-lua.html). Coisa para ser saboreada na madrugada, à beira de uma taça de vinho.
Neste 19 de agosto, lembrou-nos Dario na aula desta quarta-feira, a fotografia completa 170 anos. E um dos seus grandes nomes foi Jacques Henri Lartigue, cujas fotos podem ser vistas no Google Imagens. Pesquisei mais e achei um artigo lindo sobre o trabalho do francês, que amava os “odores misteriosos” da fotografia. Está em http://www.rever.fot.br/pdf/Jacques%20Henri%20Lartigue.pdf.
Mas há outra tirada do Dario que eu agora não esqueço. Falávamos, na oficina, sobre a necessidade de – por assim dizer – perder o medo da parafernália eletrônica, à qual os profissionais da imagem estão acostumados. Eu não consigo. Aí o Dario se saiu com essa: - Tem que ter mão mandona! E narrou um trecho do filme “A hora e vez de Augusto Matraga”, de Roberto Santos, baseado na novela de Guimarães Rosa. Há uma cena em que Nhô Augusto é estimulado a mostrar a habilidade de atirar, que deixou de usar há muito tempo. E recebe o elogio do chefe dos jagunços:
— Não faz conta de balas, amigo? Isto é arma que cursa longe...
— Pode gastar as oito. Experimenta naquele pássaro ali, na pitangueira...
— Deixa de criaçãozinha de Deus. Vou ver só se corto o galho... Se errar, vocês não reparem, porque faz tempo que eu não puxo dedo em gatilho...
Fez fogo.
— Mão mandona, mano velho. Errou o primeiro, mas acertou um em dois... Ferrugem em bom ferro!
Mão mandona... A expressão que Dario gosta de usar me encantou, porque me dá prazer observar a forma dos braços e das mãos, a musculatura retesada sob a pele, quando o corpo humano trabalha. E cada pessoa tem mão mandona em algum tipo de trabalho, atividade, profissão, ou em vários, porque tem mão mandona exibida, plural.
Durante uns meses, meu pai dirigiu um caminhão de entregas para completar a aposentadoria, e uma vez ele contou que, numa dessas saídas, conseguiu controlar o veículo e evitar um acidente. Ao olhar em volta para ver se dera tudo certo, outro motorista passou por ele e, num instante, colocou a mão sobre o bíceps, com um sorriso e um sinal de assentimento, e gritou: - Aí tem braço! Agora consigo dar um nome ao que motivou o prazer de meu pai ao contar a história: o deleite da mão mandona, reconhecida nele por outro homem.
Isso está bem expresso na música “Quem Saberia Perder”, de Ivans Lins, disponível em http://www.youtube.com/watch?v=WbxJlHzVKLg&feature=PlayList&p=41C71AFA434071BC&playnext=1&playnext_from=PL&index=19, da qual amo especialmente esse trecho:
Vivo do que faz meu braço
Meu braço faz o que a terra manda
Ah, que tributo à ação!
Num tempo em que a nossa profissão é tornada vil no mercado de trabalho, em que se fala do fim do jornalismo, do fim do fotojornalismo, digo: a maior parte do que se vê nos meios de comunicação não é jornalismo nem fotojornalismo. É outra coisa, tem outro nome, é tema de outro artigo.
Quem faz jornalismo, fotojornalismo, de verdade, sabe muito bem: coisa boa só sai de quem tem mão mandona. E mão mandona no jornalismo - como em qualquer outro trabalho - não é para qualquer um! Ora, ora... que morte, que nada!
Um comentário:
QUE LINDO ISSO MIMI...gostei de ver o dario inspirando...
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