Elaine Tavares
Enquanto a mídia entreguista faz alarde sobre as ações de governos como de Hugo Chávez, na Venezuela, e Rafael Correa, no Equador, que se dispuseram a dar um freio ao sistema de propaganda do sistema promovido pela mídia comercial dos seus referidos países, praticamente nada fala da clara tendência fascista de países como México e Colômbia, que têm promovido impunemente o terrorismo de estado. Tanto no governo de Calderón como no de Uribe, o processo de criminalização dos movimentos sociais se agiganta, quando não ocorrem assassinatos e desaparições.
A última ação protagonizada pelos dois países envolve um estudante colombiano que fazia pós-graduação na UNAM, México: o sociólogo Miguel Angel Beltrán. Pois este jovem foi sumariamente preso e – em tempo recorde – deportado para a Colômbia sob a acusação de ter “ligações” com as FARCs e Raul Reys, o líder guerrilheiro morto em uma ação orquestrada pelos Estados Unidos. Segundo autoridades mexicanas, as informações do “envolvimento” do sociólogo com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia foram prestadas pelo governo colombiano com quem o país tem estreita colaboração. Isso mostra o quanto o velho sistema inaugurado pelos Estados Unidos de espionagem e delação dos lutadores sociais continua mais vivo do que nunca. A doutrina da contra-insurgência inaugurada nos anos 60 para “caçar comunistas” segue a pleno vapor, passando inclusive por cima de todas as leis nacionais e internacionais. A criminalização das lutas sociais hoje é o substituto legítimo da caçada comunista dos tempos da guerra fria.
A prisão
A detenção - e deportação - de Miguel Angel se deu no momento em que ele foi renovar seus papéis no setor de migração. Segundo dirigentes do Instituto Nacional de Migração mexicano, a prisão se deu porque o sociólogo resistiu à expulsão. O que eles não disseram é que ao se apresentar com um advogado da UNAM para dar entrada aos trâmites de renovação do visto, no bairro de Polanco, Miguel foi imediatamente separado do profissional e levado para um bairro vizinho onde ficou incomunicável, sem poder fazer sequer uma chamada telefônica, o que configura, no dizer da professora Raquel Sosa, orientadora do sociólogo na UNAM, “uma grave violação dos direitos humanos por parte dos governos de ambos os países”.
Todo esse trâmite se deu em poucas horas e no dia seguinte o sociólogo Miguel Angel já estava num avião rumo a Bogotá. E, ao contrário do que disseram as autoridades mexicanas, na Colômbia a polícia afirmava que a prisão tinha sido feita graças a “valiosa cooperação” que existe entre os dois países para coibir delitos. As acusações que pesam sobre o sociólogo são a de ser muito chegado a Raul Reys e de administrar recursos para ações terroristas. As provas – dizem – estão no mui famoso computador que se salvou “por milagre” na ação em que acabou morto o líder das FARC.
Miguel Angel Beltrán é professor da Universidade Nacional da Colômbia e já havia feito seu doutorado no México com uma tese sobre o movimento de libertação nacional de Lázaro Cárdenas. Atualmente fazia um pós-doutorado enfocando a sucessão presidencial no México em 1933-1934. Estar afinado com as questões sociais e políticas da América Latina foi “a prova” apresentada de que o professor é perigoso e subversivo. Já para sua orientadora na UNAM, Miguel nada mais é do que uma pessoa totalmente dedicada à investigação acadêmica, não estando ligado a nenhuma atividade política.
As conseqüências
Não é de hoje que a imprensa internacional alternativa vem divulgando as ações de terrorismo de estado intensificadas pelo governo de Álvaro Uribe na Colômbia. Além da sistemática atuação dos grupos paramilitares e das milícias do narcotráfico contra camponeses e lideranças sociais, há um ataque metódico contra todo e qualquer pensamento crítico, o que torna os universitários e intelectuais figuras altamente “perigosas” para o regime de exceção deste país, ocupado pelos marines estadunidenses em parceria com a elite entreguista.
Segundo os colegas de Beltrán no México, o professor está sendo perseguido por ter tido um passado de luta no seu país. Quando jovem foi militante da União Patriótica, uma organização de esquerda praticamente exterminada nos anos 80 pelos governos-marionetes de plantão. Hoje, mesmo com a vida totalmente entregue aos estudos e ao ensino, o sociólogo segue sendo estigmatizado, tal qual outros intelectuais do país, sendo perseguido por sua visão crítica, acusado de terrorista. É que na Colômbia ocupada, qualquer um que não pense como o governo quer que pense, imediatamente é rotulado de terrorista.
Para quem não sabe, a luta anticapitalista e pela libertação da Colômbia existe desde o início dos anos 50, quando vários grupos se armaram para defender a pátria jogada num caos político pela ação da direita, com o assassinato de Jorge Gaitán, então candidato presidencial. Desde aí, o país vem sendo governado por governos títeres dos Estados Unidos que seguem a ferro e fogo a política de extermínio de qualquer dissidência crítica. Ainda assim, vários grupos insurgentes seguem resistindo, armados, numa luta que está longe do fim. A Colômbia hoje é um espaço geográfico estratégico na geopolítica estadunidense uma vez que faz fronteira com a Venezuela, o Equador e A Amazônia brasileira.
Não é sem razão que o governo de Álvaro Uribe segue a cartilha contra-insurgente dos Estados Unidos que tem como ponto principal a aniquilação total do inimigo. E isso pressupõe não só a destruição política, mas da vida mesma. No primeiro mandato de Uribe a ação anti-insurgente ficou mais focada no movimento sindical e camponês. Agora, o ataque está sendo contra a universidade, contra os centros de pensamento crítico. O fato de Beltrán ter pautado suas investigações nos movimentos sociais latino-americanos e no próprio confronto armado da Colômbia o tornou um inimigo a ser destruído.
Resta agora ao movimento popular latino-americano iniciar mais uma cruzada em defesa do pensamento crítico e, mais, voltar os olhos para a Colômbia, tão perto e tão longe das preocupações solidárias.
Enquanto a mídia entreguista faz alarde sobre as ações de governos como de Hugo Chávez, na Venezuela, e Rafael Correa, no Equador, que se dispuseram a dar um freio ao sistema de propaganda do sistema promovido pela mídia comercial dos seus referidos países, praticamente nada fala da clara tendência fascista de países como México e Colômbia, que têm promovido impunemente o terrorismo de estado. Tanto no governo de Calderón como no de Uribe, o processo de criminalização dos movimentos sociais se agiganta, quando não ocorrem assassinatos e desaparições.
A última ação protagonizada pelos dois países envolve um estudante colombiano que fazia pós-graduação na UNAM, México: o sociólogo Miguel Angel Beltrán. Pois este jovem foi sumariamente preso e – em tempo recorde – deportado para a Colômbia sob a acusação de ter “ligações” com as FARCs e Raul Reys, o líder guerrilheiro morto em uma ação orquestrada pelos Estados Unidos. Segundo autoridades mexicanas, as informações do “envolvimento” do sociólogo com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia foram prestadas pelo governo colombiano com quem o país tem estreita colaboração. Isso mostra o quanto o velho sistema inaugurado pelos Estados Unidos de espionagem e delação dos lutadores sociais continua mais vivo do que nunca. A doutrina da contra-insurgência inaugurada nos anos 60 para “caçar comunistas” segue a pleno vapor, passando inclusive por cima de todas as leis nacionais e internacionais. A criminalização das lutas sociais hoje é o substituto legítimo da caçada comunista dos tempos da guerra fria.
A prisão
A detenção - e deportação - de Miguel Angel se deu no momento em que ele foi renovar seus papéis no setor de migração. Segundo dirigentes do Instituto Nacional de Migração mexicano, a prisão se deu porque o sociólogo resistiu à expulsão. O que eles não disseram é que ao se apresentar com um advogado da UNAM para dar entrada aos trâmites de renovação do visto, no bairro de Polanco, Miguel foi imediatamente separado do profissional e levado para um bairro vizinho onde ficou incomunicável, sem poder fazer sequer uma chamada telefônica, o que configura, no dizer da professora Raquel Sosa, orientadora do sociólogo na UNAM, “uma grave violação dos direitos humanos por parte dos governos de ambos os países”.
Todo esse trâmite se deu em poucas horas e no dia seguinte o sociólogo Miguel Angel já estava num avião rumo a Bogotá. E, ao contrário do que disseram as autoridades mexicanas, na Colômbia a polícia afirmava que a prisão tinha sido feita graças a “valiosa cooperação” que existe entre os dois países para coibir delitos. As acusações que pesam sobre o sociólogo são a de ser muito chegado a Raul Reys e de administrar recursos para ações terroristas. As provas – dizem – estão no mui famoso computador que se salvou “por milagre” na ação em que acabou morto o líder das FARC.
Miguel Angel Beltrán é professor da Universidade Nacional da Colômbia e já havia feito seu doutorado no México com uma tese sobre o movimento de libertação nacional de Lázaro Cárdenas. Atualmente fazia um pós-doutorado enfocando a sucessão presidencial no México em 1933-1934. Estar afinado com as questões sociais e políticas da América Latina foi “a prova” apresentada de que o professor é perigoso e subversivo. Já para sua orientadora na UNAM, Miguel nada mais é do que uma pessoa totalmente dedicada à investigação acadêmica, não estando ligado a nenhuma atividade política.
As conseqüências
Não é de hoje que a imprensa internacional alternativa vem divulgando as ações de terrorismo de estado intensificadas pelo governo de Álvaro Uribe na Colômbia. Além da sistemática atuação dos grupos paramilitares e das milícias do narcotráfico contra camponeses e lideranças sociais, há um ataque metódico contra todo e qualquer pensamento crítico, o que torna os universitários e intelectuais figuras altamente “perigosas” para o regime de exceção deste país, ocupado pelos marines estadunidenses em parceria com a elite entreguista.
Segundo os colegas de Beltrán no México, o professor está sendo perseguido por ter tido um passado de luta no seu país. Quando jovem foi militante da União Patriótica, uma organização de esquerda praticamente exterminada nos anos 80 pelos governos-marionetes de plantão. Hoje, mesmo com a vida totalmente entregue aos estudos e ao ensino, o sociólogo segue sendo estigmatizado, tal qual outros intelectuais do país, sendo perseguido por sua visão crítica, acusado de terrorista. É que na Colômbia ocupada, qualquer um que não pense como o governo quer que pense, imediatamente é rotulado de terrorista.
Para quem não sabe, a luta anticapitalista e pela libertação da Colômbia existe desde o início dos anos 50, quando vários grupos se armaram para defender a pátria jogada num caos político pela ação da direita, com o assassinato de Jorge Gaitán, então candidato presidencial. Desde aí, o país vem sendo governado por governos títeres dos Estados Unidos que seguem a ferro e fogo a política de extermínio de qualquer dissidência crítica. Ainda assim, vários grupos insurgentes seguem resistindo, armados, numa luta que está longe do fim. A Colômbia hoje é um espaço geográfico estratégico na geopolítica estadunidense uma vez que faz fronteira com a Venezuela, o Equador e A Amazônia brasileira.
Não é sem razão que o governo de Álvaro Uribe segue a cartilha contra-insurgente dos Estados Unidos que tem como ponto principal a aniquilação total do inimigo. E isso pressupõe não só a destruição política, mas da vida mesma. No primeiro mandato de Uribe a ação anti-insurgente ficou mais focada no movimento sindical e camponês. Agora, o ataque está sendo contra a universidade, contra os centros de pensamento crítico. O fato de Beltrán ter pautado suas investigações nos movimentos sociais latino-americanos e no próprio confronto armado da Colômbia o tornou um inimigo a ser destruído.
Resta agora ao movimento popular latino-americano iniciar mais uma cruzada em defesa do pensamento crítico e, mais, voltar os olhos para a Colômbia, tão perto e tão longe das preocupações solidárias.
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