Igreja de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito
Sala da pousada no Largo do Rosário
Sala da pousada no Largo do Rosário
Míriam Santini de Abreu
Uma parte fugidia da minha alma, eu a encontrei em Paraty [RJ] no quente fevereiro. Desde então não se passa dia sem que eu me deseje lá, toda líquida na baía que a banha, toda sólida na maciça Serra da Bocaina, sob a qual Paraty adormece e amanhece.
***
A pousada em que eu e Pepe pousamos era mui cheia de anos, localizada no Largo do Rosário, parte do Centro Histórico. A dona era uma professora aposentada que – contou-nos ela – ia para a escola a cavalo, e tinha a fama – contaram-nos outros – de a mais severa mestra de Paraty. Deu-nos a chave do quarto e da pousada e disse: - Fiquem à vontade.
Chovia quando, já noite, a cidade ficou totalmente às escuras. Pousada vazia, apenas nós de hóspedes, e a nossa professora não havia ainda chegado em casa. Saímos às ruas com um velho guarda-chuva e, numa esquina, paramos. Será que havíamos flagrado Paraty numa curva do tempo, séculos atrás, ainda iluminada por lampiões? Quase nada se via, a não ser as velas nos bares e restaurantes, e as vozes animadas e expectantes.
- E a luz?!
E então ela veio. Animamo-nos, e nossos pés molhados nos levaram para as ruelas estreitas e pararam na frente da Igreja de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito, onde havia missa. Construção de 1725 inicialmente feita para os escravos. Eu estava em um estado numinoso, também porque, num dos bancos atrás de mim, sentara-se uma velha mulher, pequena, de cabelo branco e espesso, o rosto sulcado, vestida com uma saia longa e uma blusinha branca. Eu a olhava e ela retribuía o olhar, com um sorrisinho cúmplice. Na noite seguinte eu e Pepe voltamos à igreja para a missa e ela novamente estava lá, desta vez perdida em si mesma.
***
Com aquela mulher fiquei eu, mansa e ardentemente presa em Paraty.
Uma parte fugidia da minha alma, eu a encontrei em Paraty [RJ] no quente fevereiro. Desde então não se passa dia sem que eu me deseje lá, toda líquida na baía que a banha, toda sólida na maciça Serra da Bocaina, sob a qual Paraty adormece e amanhece.
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A pousada em que eu e Pepe pousamos era mui cheia de anos, localizada no Largo do Rosário, parte do Centro Histórico. A dona era uma professora aposentada que – contou-nos ela – ia para a escola a cavalo, e tinha a fama – contaram-nos outros – de a mais severa mestra de Paraty. Deu-nos a chave do quarto e da pousada e disse: - Fiquem à vontade.
Chovia quando, já noite, a cidade ficou totalmente às escuras. Pousada vazia, apenas nós de hóspedes, e a nossa professora não havia ainda chegado em casa. Saímos às ruas com um velho guarda-chuva e, numa esquina, paramos. Será que havíamos flagrado Paraty numa curva do tempo, séculos atrás, ainda iluminada por lampiões? Quase nada se via, a não ser as velas nos bares e restaurantes, e as vozes animadas e expectantes.
- E a luz?!
E então ela veio. Animamo-nos, e nossos pés molhados nos levaram para as ruelas estreitas e pararam na frente da Igreja de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito, onde havia missa. Construção de 1725 inicialmente feita para os escravos. Eu estava em um estado numinoso, também porque, num dos bancos atrás de mim, sentara-se uma velha mulher, pequena, de cabelo branco e espesso, o rosto sulcado, vestida com uma saia longa e uma blusinha branca. Eu a olhava e ela retribuía o olhar, com um sorrisinho cúmplice. Na noite seguinte eu e Pepe voltamos à igreja para a missa e ela novamente estava lá, desta vez perdida em si mesma.
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Com aquela mulher fiquei eu, mansa e ardentemente presa em Paraty.
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