Destino: Macchu Picchu no Peru
Saída: dia 10 de janeiro de 2008
Florianópolis - Campo Grande - Corumbá - Puerto Quijarro (Bolívia) - Santa Cruz de La Sierra (Bolívia)
Marcela Cornelli
Jornalista da P&N
Viajar como mochileiros para Macchu Picchu no Peru por terra, indo pela Bolívia, é tarefa para quem gosta de um pouco de aventura e não se importa de passar algumas privações. A viagem é linda, o povo acolhedor e a cultura maravilhosa. Eu e meu companheiro partimos rumo ao Peru, saindo da rodoviária de Florianópolis no dia 10 de janeiro num ônibus “executivo”, sem água, um dos bancos não baixava, enfim, sem grande conforto, rumo a Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Depois de 22 horas de viagem e um pneu furado chegamos à cidade, às 13h20min.
Foi o tempo de fazermos uma parada estratégica na casa de amigos, comermos, tomarmos um banho e à noite seguirmos viagem, agora sim num ônibus muito bom da empresa Andorinha (tenho que recomendar porque realmente a empresa tem ônibus muito bons) para Corumbá, cortando parte do Pantanal, já na divisa de MS com a Bolívia.
Chegamos a Corumbá às 5h30min e pegamos dois táxis para cruzar a fronteira (o do lado brasileiro saiu R$ 30,00, muito caro - o do lado boliviano, R$ 10,00) até a Estação Quijarro da Ferrovia Oriental para pegar o famoso Trem da Morte, com destino a Santa Cruz de La Sierra, nossa próxima parada. Não é necessário passaporte, somente carteira de Identidade e a carteira internacional de vacina contra a febre amarela para cruzar a fronteira. Entramos na fila na Estação Ferroviária um pouco antes das seis da manhã. A bilheteria abria às 8 horas. Éramos mais ou menos os números 70 e 71 da fila que já tinha umas 200 pessoas. Corria a informação de boca a boca que só havia 40 bilhetes para vender. E nós que havíamos programado comprar um bilhete mais caro da classe Super Pulmann, começamos a ver que o sonho de pegar o Trem da Morte ficaria para uma próxima vez.
Os portões abriram às 8 horas e, em meio a uma grande confusão e correria, pulamos para o número 100 da fila. Estávamos em desvantagem por causa das pesadas mochilas nas costas. Ficar horas na fila, embaixo de chuva e com fome, guardando o lugar não adiantou nada. Passagem para o Trem da Morte só dali a uns três a quatro dias. Como não podíamos e nem queríamos atrasar a viagem por causa do tempo e também, é claro, do gasto com hospedagem em Porto Quijarro, decidimos ficar mais um dia naquela cidade quente e em acomodações simples e baratas, fazer a mesma “via sacra” no dia seguinte e só então optar por ir de ônibus em último caso, porque era época das chuvas e o caminho podia ser muito perigoso. Mais um dia acordando cedo, nada de passagens.
Conversamos com pessoas do local e outros brasileiros que já estavam ali por dias tentando conseguir passagem, como uma professora do Rio de Janeiro que viajava sozinha e que passou o dia me fazendo companhia na entrada da hospedaria contando sobre sua viagem a Cuba, sobre os charutos cubanos e remédio para vitiligo que trouxe escondido do país para o Brasil.
Conversamos com pessoas do local e outros brasileiros que já estavam ali por dias tentando conseguir passagem, como uma professora do Rio de Janeiro que viajava sozinha e que passou o dia me fazendo companhia na entrada da hospedaria contando sobre sua viagem a Cuba, sobre os charutos cubanos e remédio para vitiligo que trouxe escondido do país para o Brasil.
Só os personagens que encontramos na viagem dariam uma bela história à parte. Todos nos disseram que seria muito difícil conseguir as passagens para o Trem da Morte em janeiro. Observamos que nem mesmo mães com crianças no colo conseguiam os bilhetes. Não tivemos nenhuma prova, mas ao conversar com os moradores de Puerto Quijarro entendemos que os bilhetes são vendidos pelas agências de turismo aos seus clientes, que podem pagar os caros pacotes fechados de viagens, antecipadamente. Alguns amigos paulistas que conhecemos em Puerto Quijarro encararam a proposta de um taxista de ir até uma localidade próxima e pular no Trem em movimento.
Encontramos esses mesmos amigos em La Paz dias depois. Eles disseram que revezaram às 24 horas de trem em um único banco para três pessoas, sem banheiro, enfrentando muito calor. Então dissemos a eles que o Trem da Morte até virou luxo perto da “Flota de la Muerte” como brincavam os turistas, que, como nós, encararam a ida de ônibus pelo interior da Bolívia por também 24 horas, empurrando o ônibus atolado, sem banheiro, e lotado com mulheres e crianças dormindo no corredor. A viagem pelo interior da Bolívia passa por povoados como El Carmem e Robore antes de chegar Santa Cruz de La Sierra, umas das principais e maiores cidades da Bolívia.
No caminho muita limonada servida em sacos plásticos e de canudinho, muita água, cuñape (o pão de queijo boliviano) paisagens lindas e a companhia de bolivianos, brasileiros, norte-americanos, peruanos e da simpática Deise, uma boliviana que vive no Brasil e trabalha como costureira em São Paulo e estava indo a Santa Cruz visitar a família. “A vida em São Paulo como costureira é difícil, mas é um pouco melhor do que na Bolívia, acho”, disse emocionada mostrando as fotos dos três filhos que ficaram com o marido no Brasil. O Ônibus atolava, quebrava, sofria nas subidas e ficava sem freios nas descidas, parava para revistas de policiais que tiravam até os parafusos dos pneus para ver se não tinha drogas. Os bagageiros não fechavam direito e eu ficava sempre espiando pra ver se as mochilas não caiam.
Passei a noite em claro, a região permitia ver o céu todo estrelado e até minha claustrofobia - o ônibus quase não tinha janelas que abriam e quando abriam só abria um pedacinho - ficou sobre controle na expectativa de chegar ao nosso destino. Foram 11 dias até chegarmos a Macchu Picchu. Dias de aventuras que aqui não caberiam todas, mas que tentarei contar nos próximos textos da série, com o objetivo de dar dicas para quem nunca foi e de relembrar a viagem junto com quem já chegou lá, na cidade perdida dos Incas.
2 comentários:
Ai essa nuestra américa, linda e tão esquecida pelas elites... Por isso hay que andar por esas carreteras... hay que verlas y amalas..
que saudade destas profundezas de mi amada abya ayala...
olá!
tive uma curiosidade e apreciaria muito se conseguisse uma resposta.
Qual foi a viaçao que vcs usaram para ir de Floripa a Campo Grande?
Eu estava aqui procurando a forma mais barata de se chegar na Bolivia pra um mochilao com a minha irmã, mas to com dificuldades de encontrar essa rota barata. Pelo menos pra chegar ate campo grande...
meu email é paul.pontbriand@gmail.com
abraços!
Paul
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