Míriam Santini de Abreu, jornalista
O You Tube tem vídeos memoráveis. Encontrei, graças à dica do amigo Samuel Frison, a entrevista concedida por Clarice Lispector a Júlio Lerner, na TV Cultura, em 1977, ano em que a escritora faleceu. O compromisso da emissora foi o de só transmitir a entrevista após a morte da entrevistada. Os vídeos estão na lista de Favoritos na conta de P&N no You Tube (à direita). Entrevista difícil, não-planejada, mas os vazios, as imprecisões, as perguntas não-feitas, inquietam ardentemente, tanto quanto as respostas.
Lerner, em certo momento, pergunta:
- A partir de que momento o ser humano vai se tornando triste e solitário?
- Ah, isso é segredo. Desculpa não vou responder. [...] Só estou triste hoje porque estou cansada.
Mais adiante, Clarice fala de um texto sobre um certo Mineirinho, morto pela polícia com vários tiros:
- Uma bala bastava. O resto era vontade de matar. Era prepotência.
Quase ao final, é questionada sobre o ato de escrever, se tal ato muda alguma coisa no mundo:
- Eu escrevo sem esperança de que o que escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada.
- E porque continua? - pergunta Lerner.
- E eu sei? – responde ela, parecendo surpresa ao perceber que ele esperasse alguma resposta.
Lerner morreu em 2007.
Clarice não temia sentir. Mais: não temia escrever sobre o que sentia.
O You Tube tem vídeos memoráveis. Encontrei, graças à dica do amigo Samuel Frison, a entrevista concedida por Clarice Lispector a Júlio Lerner, na TV Cultura, em 1977, ano em que a escritora faleceu. O compromisso da emissora foi o de só transmitir a entrevista após a morte da entrevistada. Os vídeos estão na lista de Favoritos na conta de P&N no You Tube (à direita). Entrevista difícil, não-planejada, mas os vazios, as imprecisões, as perguntas não-feitas, inquietam ardentemente, tanto quanto as respostas.
Lerner, em certo momento, pergunta:
- A partir de que momento o ser humano vai se tornando triste e solitário?
- Ah, isso é segredo. Desculpa não vou responder. [...] Só estou triste hoje porque estou cansada.
Mais adiante, Clarice fala de um texto sobre um certo Mineirinho, morto pela polícia com vários tiros:
- Uma bala bastava. O resto era vontade de matar. Era prepotência.
Quase ao final, é questionada sobre o ato de escrever, se tal ato muda alguma coisa no mundo:
- Eu escrevo sem esperança de que o que escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada.
- E porque continua? - pergunta Lerner.
- E eu sei? – responde ela, parecendo surpresa ao perceber que ele esperasse alguma resposta.
Lerner morreu em 2007.
Clarice não temia sentir. Mais: não temia escrever sobre o que sentia.
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