sábado, 26 de janeiro de 2008

Estorvos

Míriam Santini de Abreu, jornalista

Leio no Yahoo! que centenas de cães e gatos estão sendo abandonados nos Estados Unidos por causa da crise imobiliária. As pessoas perdem as casas e deixam para trás os bichos, que morrem trancados. Outros são jogados na rua ou levados para abrigos. Cerca de 2 milhões de famílias tiveram que devolver suas casas nos primeiros 11 meses de 2007.


Os bichos abandonados em casas e apartamentos morrem de fome. Alguns levam semanas para sucumbir, relata a notícia, e marcas de suas garras ou mordidas são encontradas em portas, janelas, móveis, tapetes e quadros. Tentam comer qualquer coisa para sobreviver.

Vê-se muito nos filmes a perfeita família nos EUA. Pai, mãe, casal de filhos e um cachorro. Em suas intermináveis hipotecas para ter casas cada vez maiores, plantaram a crise, e agora a família perfeita deixa para trás o que considera o acessório vivo desse mundo onde coisas, pessoas e animais são todos mercadoria. O cão e o gato são parte da encenação, um objeto descartável deixado de lado quando a peça fica real demais.
Leio em O Estado RJ o seguinte:

Segundo dados da Associação dos Revendedores de Produtos, Prestadores de serviços e Defesa Destinados ao Uso do Animal (Assofauna), são 29,7 milhões de cães e 14 milhões de gatos que estimulam as indústrias a estarem renovando e ampliando seu mix para melhor atender esta grande demanda cada vez mais exigente.
Em 2006, o faturamento do ramo veterinário foi de US$ 1,165 bilhão. Até junho deste ano, o volume já superou o do ano passado e a Associação Nacional dos Fabricantes de Alimentos para Animais de Estimação (Anfal Pet) estima que, até o final de 2007, o faturamento chegue a US$ 3,3 bilhões.


Três bilhões de dólares! Como tudo neste mundo, os bichos são apenas negócios. No imaginário de tantas famílias, adoráveis bichos de estimação, mas que, nos momentos de crise, não passam de um estorvo, com um eletrodoméstico velho.

O ser está em processo de construção do humano. Acredito que o dia do ser realmente humano virá. O dia de todos os seres. Mas temo que, até o processo alcançar esse estágio de evolução, não haverá mais base material que nos permita viver. Às vezes, não que mereçamos. Em tempo: a imagem é do blog do Solda.

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