sexta-feira, 24 de abril de 2009

O tempo do pó

Míriam Santini de Abreu
Era o tempo da volta ao pó. Uma aridez na terra jamais vista. Lembro-me do caminho deserto sob o qual eu pisava, o medo me envilecia um pouco. O medo do fim. Mas eu subia a montanha porque era preciso procurar a chuva.
A senda era cada vez mais estreita, o nevoeiro espesso tapava o mundo. Um ar quase sólido. E então, num átimo, o cume abriu-se diante de mim. Pisei em falso, segurei-me em nada, uma vertigem assustadora. Estava ali a treva do tempo. A origem da chuva. Na entrada de uma gruta o ser emplumado, do qual vi apenas o dorso negro com duas asas. Tlaloc? Chiqui? Dzahui? Chaac? Eu apenas soube, quando o vi, que o tempo do pó havia passado.

2 comentários:

Anônimo disse...

que coisa mais linda!
prosa mansa, profunda, vital.

karl

UN VOYAGEUR SANS PLACE disse...

A neve sempre passa,
E a bruma também.
Mesmo o sol não fica
Nos dias em que vem.