Li Travassos
A fêmea será responsável pelo início da civilização e da própria raça humana. Por isso, Eva será acusada de levar Adão a comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, o que os levaria a serem expulsos do paraíso (paraíso este relacionado à inocência irracional dos outros animais). Senão, vejamos: quando os proto-hominídeos passam a locomover-se na posição bípede (provavelmente para poderem deslocar-se carregando alimentos, devido às estações secas na África), eles sofrem uma diminuição na pelve, o que, nas fêmeas, significa um encurtamento do orifício genital. A seleção natural levaria as fêmeas a começar a parir filhotes com crânios menores, que exigiriam, contudo, cuidados suplementares por meses ou anos. Com a posição bípede, são obrigadas a segurá-los nos braços ou prendê-los às costas – o que dificulta enormemente a caça de animais para seu sustento e dos filhotes maiores.
Chega, assim, o momento de fazer um acordo com os machos. Acordo este que seria fundamental para a sobrevivência da espécie: as fêmeas passam apenas a colher vegetais, sem ter que afastar-se das crias para procurar a carne, ou seja, caçar – tarefa que passa a ser exclusivamente masculina. Há uma imobilidade crescente da fêmea e dos filhotes, levando ao lar fixo, à criação de famílias nucleares, à fabricação de utensílios. A partir daí, as fêmeas vão libertando-se do cio, pois a mortalidade no parto continua alta, e é preciso que possam ser fecundadas sempre que possível, ou seja: em todos os meses. A união entre macho e fêmea aumenta, permitindo às mães a ocupação com vários filhotes ao mesmo tempo. Anos depois, surgiria o primitivo ser humano (ver mais sobre este assunto em TRAVASSOS, Mulher, História, Psicanálise. Florianópolis, 2003. Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-Graduação em Psicologia, UFSC).
Durante um certo período, esta divisão de tarefas de acordo com o sexo (o conjunto de características, como tarefas, vestimentas, comportamentos, etc., que se espera de cada sexo em uma dada sociedade e/ou época é chamado de "gênero") é considerada ideal, pois cada um contribui com uma parte importante da alimentação e, se o homem arrisca a vida na caça, a mulher o faz no parto, então ambos têm muito valor nas sociedades primitivas, sendo a mulher em alguns períodos retratada como tendo um poder divino em função da maternidade. Contudo, quando o ser humano deixa de ser nômade, as mulheres passam a plantar, e os homens a criar animais, ao invés de caçá-los. Ao observar estes animais, o homem descobre que o macho tem uma grande importância no processo de fecundação e, conseqüentemente, a importância das mulheres é muito diminuída.
Com a fixação na terra, as tribos passam a lutar entre si pela mesma, e os homens têm seu poder aumentado por arriscar sua vida na guerra. Neste período, a terra e as mulheres pertencem à tribo. As tribos vencidas tornam-se escravas das outras, e a mulher escrava é sempre tratada de forma ainda mais abjeta que os homens na mesma condição. Contudo, viver em guerra constante traz grandes desvantagens também, e os homens desejam criar laços de amizade com outras tribos. Assim, passam a "trocar as mulheres" como forma de conquistar a paz. Ou seja: um homem abre mão de uma irmã para conquistar um cunhado, ou de uma filha, para conquistar um genro. Surge a proibição do incesto, e a mulher, agora como objeto, não mais como sujeito, é novamente responsável por um passo sem precedentes na civilização humana.
A propriedade privada, que se seguirá nesta história, trará, por sua vez, a necessidade de castidade para as mulheres solteiras, e de fidelidade para as mulheres casadas, permitindo a transmissão da herança para os descendentes legítimos dos homens. Para que isto seja garantido, as mulheres precisam ficar restritas ao ambiente doméstico. Os homens prosseguem se impondo pela força, pela inteligência desenvolvida no trato social, e alguns, pela esperteza suprema de dizerem-se filhos dos deuses, portanto soberanos divinos. Há uma grande diferença de poder entre os homens, e alguns tornam-se servos dos outros, sendo que o trabalho das mulheres servas é sempre mais humilde que o dos homens.
Com a Revolução Industrial, em 1750, a força de trabalho feminina torna-se necessária nas fábricas e as máquinas tornam desnecessária a força física no trabalho. Mas os homens estão cansados da diferença de poder entre os homens (leia-se seres humanos do sexo masculino). Desejosos de uma igualdade entre os homens, irão, com o início na Revolução Francesa (ainda no século XVIII), iniciar também, sem querer nem perceber, a destruição do patriarcado. Há, então, uma analogia entre Deus, o soberano e o pai. O soberano ou rei é o pai de todos, escolhido por Deus. O pai de família é o soberano em sua casa. Por meio desta analogia, ao matar o rei na Revolução Francesa, o próprio homem acaba com qualquer idéia de superioridade natural (incluindo a do homem sobre a mulher).
Mas, da mesma forma que aqueles que perdem seu poder sobre outros homens sentem-se lesados por isso, o homem comum, o dito "pai de família", irá resistir muito até admitir a necessidade de abrir mão de seus poderes na célula familiar. A luta pela igualdade pára na fronteira entre os sexos. A maioria dos homens busca livrar-se do patriarcado político, mas deseja, a qualquer preço, manter o patriarcado familiar (muito já se criticou a esquerda política por não incluir a igualdade dos sexos entre suas bandeiras).
Assim, na continuidade da história humana, as diferenças físicas entre os homens e as mulheres serão supervalorizadas, visando definir o lugar "natural" de cada um. A mulher, pela sua biologia, deve limitar sua existência à tarefa de ser mãe, e cuidar do lar e dos filhos (e do marido, por conseqüência). As mulheres de famílias de baixa renda precisam continuar contribuindo para o sustento de suas famílias, mas seu trabalho será sempre o menos valorizado.
Assim, as mulheres do século XX terão, no mínimo, que engravidar, carregar a criança por nove meses, parir, amamentar, vestir, limpar e lavar seus filhos, continuando a alimentá-los depois do desmame. A maioria esmagadora deverá ainda, sem ajuda alguma, cuidar da limpeza da casa, das roupas de toda a família, da alimentação do marido, etc. Resumindo, ser dona de casa sem nenhuma ajuda já representa um trabalho hercúleo. Algumas mulheres contam com a ajuda de outras mulheres para estas tarefas. Se não forem mulheres de sua família, serão babás, lavadeiras, cozinheiras, arrumadeiras, faxineiras, enfim, como diaristas ou mensalistas, um batalhão de mulheres que, além de cuidar de suas próprias casas, maridos e filhos, ajudam a cuidar das casas, maridos e filhos de outras mulheres. Muitas vezes tratadas quase como escravas, a maioria destas mulheres que fazem trabalhos domésticos nas casas dos outros não acha nada bom ter que trabalhar fora de casa. Mas o salário do marido não é suficiente para o sustento da família. Justo seria que ele dividisse com ela as tarefas domésticas, não? Mas muito raramente isso irá acontecer.
Na classe média as mulheres estudam, e valorizam o fato de terem uma carreira fora de casa. Conseguem um bom desempenho em todos os campos de saber, e em todos os tipos de manifestações artísticas. Contudo, se todas as tarefas maternas e domésticas permanecem em suas mãos, podem questionar a "diversão" de ter uma vida profissional. Além disso, as mulheres são acusadas por tudo que dá errado dentro de casa, mesmo que trabalhem arduamente e colaborem efetivamente para o sustento da família. Acima de tudo, a mulher é responsabilizada pelos problemas que os filhos apresentam. As mulheres são responsabilizadas de tal maneira pelos filhos que dificilmente conseguem creches e escolas de período integral, tendo que arrumar alguém para cuidar dos filhos caso trabalhem o dia todo, além de ter que lidar com os enormes períodos de férias escolares que não fazem mais o menor sentido...
Sem nunca ter deixado de trabalhar, a mulher sempre encontrou tempo para, paralelamente, ir lutando por seus direitos. Assim, passou a poder votar e ser votada na maioria dos países, a ter sua vida e integridade física minimamente respeitadas, mas, embora a lei determine salários iguais para tarefas iguais em grande parte do mundo, as mulheres ainda ganham menos que os homens em muitos lugares. No Brasil, o Estado de SC é campeão de desigualdade. Vale ressaltar que a mulher só se aposenta do trabalho "fora de casa". As tarefas domésticas costumam permanecer sua responsabilidade até que a morte ou uma doença degenerativa a impeçam de prosseguir. Apenas nas famílias muito, mas muito ricas, as mulheres não precisam se preocupar sequer em comandar a organização doméstica e a alimentação da família. Nestes raros casos, são substituídas por governantas ou mordomos.
As mulheres ajudam a cuidar dos netos e dos sobrinhos. As mulheres cuidam dos filhos doentes, cuidam dos netos doentes, cuidam dos pais e mães doentes e, sobretudo, cuidam dos maridos doentes, mormente até a hora de sua morte. Coisa que dificilmente um marido é capaz de fazer por sua esposa. Neste nosso século XXI, é cada vez mais comum ver homens que moram no imóvel que pertence à mulher, que ganham menos do que a mulher, e mesmo que são totalmente sustentados pela mulher – neste último caso, sem que isto lhes incomode em nada ou lhes incentive a procurar um trabalho, muitíssimo pelo contrário.
Pesquisas já comprovaram que irmãos de sexos diferentes criados exatamente da mesma maneira mostram apenas uma diferença realmente significativa: os homens são fisicamente mais fortes. Contudo, as religiões ainda consideram os homens naturalmente superiores às mulheres. A não ser que as religiões considerem que a força física ainda é muito importante no século XXI fica difícil entender que superioridade é esta. É claro que isto só se explica pelo fato de que a maioria esmagadora dos líderes religiosos são homens. E dificilmente alguém se dispõe a perder um poder uma vez adquirido, mesmo quando não tem mais como justificá-lo.
No mês de maio, além do dia do trabalho, comemora-se o "dia das mães". Um super incentivo ao consumismo, este dia muito frequentemente leva os filhos (e o marido) a presentearem a mãe com algum objeto ou eletrodoméstico que irá facilitar para ela a realização de tarefas que interessam a eles próprios. De batedeiras e liquidificadores a máquinas de lavar roupa, fogões e até mesmo geladeiras, os presentes são para toda a família, hipocritamente disfarçados de amor filial.
Já é hora de dar um basta na desvalorização do trabalho da mulher e, portanto, na desvalorização da própria mulher, pois não se pode considerar libertário aquele que não defende exclusivamente os sistemas ideológicos ou políticos que pressupõem direitos iguais para todas as pessoas, independentemente de sexo, etnia, orientação sexual, etc.
Também no dia do trabalho não custa lembrar que enquanto tiver trabalho escravo e/ou trabalho infantil (na maioria das vezes escravo também) dentro de suas fronteiras, nenhum país pode ser considerado justo, ético ou democrático. A erradicação destas formas de trabalho deveria ser prioridade máxima em todas as escalas de governo.
E tudo isso é tão óbvio, que eu quase não sei como terminar este texto. Então, o farei com o desejo de que este 1º de maio de 2009 seja um "dia do trabalho" realmente revolucionário. Se não no mundo concreto, onde as mudanças demoram para acontecer, ao menos nos "corações e mentes" de cada um e de cada uma de nós, onde toda revolução se inicia...
A fêmea será responsável pelo início da civilização e da própria raça humana. Por isso, Eva será acusada de levar Adão a comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, o que os levaria a serem expulsos do paraíso (paraíso este relacionado à inocência irracional dos outros animais). Senão, vejamos: quando os proto-hominídeos passam a locomover-se na posição bípede (provavelmente para poderem deslocar-se carregando alimentos, devido às estações secas na África), eles sofrem uma diminuição na pelve, o que, nas fêmeas, significa um encurtamento do orifício genital. A seleção natural levaria as fêmeas a começar a parir filhotes com crânios menores, que exigiriam, contudo, cuidados suplementares por meses ou anos. Com a posição bípede, são obrigadas a segurá-los nos braços ou prendê-los às costas – o que dificulta enormemente a caça de animais para seu sustento e dos filhotes maiores.
Chega, assim, o momento de fazer um acordo com os machos. Acordo este que seria fundamental para a sobrevivência da espécie: as fêmeas passam apenas a colher vegetais, sem ter que afastar-se das crias para procurar a carne, ou seja, caçar – tarefa que passa a ser exclusivamente masculina. Há uma imobilidade crescente da fêmea e dos filhotes, levando ao lar fixo, à criação de famílias nucleares, à fabricação de utensílios. A partir daí, as fêmeas vão libertando-se do cio, pois a mortalidade no parto continua alta, e é preciso que possam ser fecundadas sempre que possível, ou seja: em todos os meses. A união entre macho e fêmea aumenta, permitindo às mães a ocupação com vários filhotes ao mesmo tempo. Anos depois, surgiria o primitivo ser humano (ver mais sobre este assunto em TRAVASSOS, Mulher, História, Psicanálise. Florianópolis, 2003. Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-Graduação em Psicologia, UFSC).
Durante um certo período, esta divisão de tarefas de acordo com o sexo (o conjunto de características, como tarefas, vestimentas, comportamentos, etc., que se espera de cada sexo em uma dada sociedade e/ou época é chamado de "gênero") é considerada ideal, pois cada um contribui com uma parte importante da alimentação e, se o homem arrisca a vida na caça, a mulher o faz no parto, então ambos têm muito valor nas sociedades primitivas, sendo a mulher em alguns períodos retratada como tendo um poder divino em função da maternidade. Contudo, quando o ser humano deixa de ser nômade, as mulheres passam a plantar, e os homens a criar animais, ao invés de caçá-los. Ao observar estes animais, o homem descobre que o macho tem uma grande importância no processo de fecundação e, conseqüentemente, a importância das mulheres é muito diminuída.
Com a fixação na terra, as tribos passam a lutar entre si pela mesma, e os homens têm seu poder aumentado por arriscar sua vida na guerra. Neste período, a terra e as mulheres pertencem à tribo. As tribos vencidas tornam-se escravas das outras, e a mulher escrava é sempre tratada de forma ainda mais abjeta que os homens na mesma condição. Contudo, viver em guerra constante traz grandes desvantagens também, e os homens desejam criar laços de amizade com outras tribos. Assim, passam a "trocar as mulheres" como forma de conquistar a paz. Ou seja: um homem abre mão de uma irmã para conquistar um cunhado, ou de uma filha, para conquistar um genro. Surge a proibição do incesto, e a mulher, agora como objeto, não mais como sujeito, é novamente responsável por um passo sem precedentes na civilização humana.
A propriedade privada, que se seguirá nesta história, trará, por sua vez, a necessidade de castidade para as mulheres solteiras, e de fidelidade para as mulheres casadas, permitindo a transmissão da herança para os descendentes legítimos dos homens. Para que isto seja garantido, as mulheres precisam ficar restritas ao ambiente doméstico. Os homens prosseguem se impondo pela força, pela inteligência desenvolvida no trato social, e alguns, pela esperteza suprema de dizerem-se filhos dos deuses, portanto soberanos divinos. Há uma grande diferença de poder entre os homens, e alguns tornam-se servos dos outros, sendo que o trabalho das mulheres servas é sempre mais humilde que o dos homens.
Com a Revolução Industrial, em 1750, a força de trabalho feminina torna-se necessária nas fábricas e as máquinas tornam desnecessária a força física no trabalho. Mas os homens estão cansados da diferença de poder entre os homens (leia-se seres humanos do sexo masculino). Desejosos de uma igualdade entre os homens, irão, com o início na Revolução Francesa (ainda no século XVIII), iniciar também, sem querer nem perceber, a destruição do patriarcado. Há, então, uma analogia entre Deus, o soberano e o pai. O soberano ou rei é o pai de todos, escolhido por Deus. O pai de família é o soberano em sua casa. Por meio desta analogia, ao matar o rei na Revolução Francesa, o próprio homem acaba com qualquer idéia de superioridade natural (incluindo a do homem sobre a mulher).
Mas, da mesma forma que aqueles que perdem seu poder sobre outros homens sentem-se lesados por isso, o homem comum, o dito "pai de família", irá resistir muito até admitir a necessidade de abrir mão de seus poderes na célula familiar. A luta pela igualdade pára na fronteira entre os sexos. A maioria dos homens busca livrar-se do patriarcado político, mas deseja, a qualquer preço, manter o patriarcado familiar (muito já se criticou a esquerda política por não incluir a igualdade dos sexos entre suas bandeiras).
Assim, na continuidade da história humana, as diferenças físicas entre os homens e as mulheres serão supervalorizadas, visando definir o lugar "natural" de cada um. A mulher, pela sua biologia, deve limitar sua existência à tarefa de ser mãe, e cuidar do lar e dos filhos (e do marido, por conseqüência). As mulheres de famílias de baixa renda precisam continuar contribuindo para o sustento de suas famílias, mas seu trabalho será sempre o menos valorizado.
Assim, as mulheres do século XX terão, no mínimo, que engravidar, carregar a criança por nove meses, parir, amamentar, vestir, limpar e lavar seus filhos, continuando a alimentá-los depois do desmame. A maioria esmagadora deverá ainda, sem ajuda alguma, cuidar da limpeza da casa, das roupas de toda a família, da alimentação do marido, etc. Resumindo, ser dona de casa sem nenhuma ajuda já representa um trabalho hercúleo. Algumas mulheres contam com a ajuda de outras mulheres para estas tarefas. Se não forem mulheres de sua família, serão babás, lavadeiras, cozinheiras, arrumadeiras, faxineiras, enfim, como diaristas ou mensalistas, um batalhão de mulheres que, além de cuidar de suas próprias casas, maridos e filhos, ajudam a cuidar das casas, maridos e filhos de outras mulheres. Muitas vezes tratadas quase como escravas, a maioria destas mulheres que fazem trabalhos domésticos nas casas dos outros não acha nada bom ter que trabalhar fora de casa. Mas o salário do marido não é suficiente para o sustento da família. Justo seria que ele dividisse com ela as tarefas domésticas, não? Mas muito raramente isso irá acontecer.
Na classe média as mulheres estudam, e valorizam o fato de terem uma carreira fora de casa. Conseguem um bom desempenho em todos os campos de saber, e em todos os tipos de manifestações artísticas. Contudo, se todas as tarefas maternas e domésticas permanecem em suas mãos, podem questionar a "diversão" de ter uma vida profissional. Além disso, as mulheres são acusadas por tudo que dá errado dentro de casa, mesmo que trabalhem arduamente e colaborem efetivamente para o sustento da família. Acima de tudo, a mulher é responsabilizada pelos problemas que os filhos apresentam. As mulheres são responsabilizadas de tal maneira pelos filhos que dificilmente conseguem creches e escolas de período integral, tendo que arrumar alguém para cuidar dos filhos caso trabalhem o dia todo, além de ter que lidar com os enormes períodos de férias escolares que não fazem mais o menor sentido...
Sem nunca ter deixado de trabalhar, a mulher sempre encontrou tempo para, paralelamente, ir lutando por seus direitos. Assim, passou a poder votar e ser votada na maioria dos países, a ter sua vida e integridade física minimamente respeitadas, mas, embora a lei determine salários iguais para tarefas iguais em grande parte do mundo, as mulheres ainda ganham menos que os homens em muitos lugares. No Brasil, o Estado de SC é campeão de desigualdade. Vale ressaltar que a mulher só se aposenta do trabalho "fora de casa". As tarefas domésticas costumam permanecer sua responsabilidade até que a morte ou uma doença degenerativa a impeçam de prosseguir. Apenas nas famílias muito, mas muito ricas, as mulheres não precisam se preocupar sequer em comandar a organização doméstica e a alimentação da família. Nestes raros casos, são substituídas por governantas ou mordomos.
As mulheres ajudam a cuidar dos netos e dos sobrinhos. As mulheres cuidam dos filhos doentes, cuidam dos netos doentes, cuidam dos pais e mães doentes e, sobretudo, cuidam dos maridos doentes, mormente até a hora de sua morte. Coisa que dificilmente um marido é capaz de fazer por sua esposa. Neste nosso século XXI, é cada vez mais comum ver homens que moram no imóvel que pertence à mulher, que ganham menos do que a mulher, e mesmo que são totalmente sustentados pela mulher – neste último caso, sem que isto lhes incomode em nada ou lhes incentive a procurar um trabalho, muitíssimo pelo contrário.
Pesquisas já comprovaram que irmãos de sexos diferentes criados exatamente da mesma maneira mostram apenas uma diferença realmente significativa: os homens são fisicamente mais fortes. Contudo, as religiões ainda consideram os homens naturalmente superiores às mulheres. A não ser que as religiões considerem que a força física ainda é muito importante no século XXI fica difícil entender que superioridade é esta. É claro que isto só se explica pelo fato de que a maioria esmagadora dos líderes religiosos são homens. E dificilmente alguém se dispõe a perder um poder uma vez adquirido, mesmo quando não tem mais como justificá-lo.
No mês de maio, além do dia do trabalho, comemora-se o "dia das mães". Um super incentivo ao consumismo, este dia muito frequentemente leva os filhos (e o marido) a presentearem a mãe com algum objeto ou eletrodoméstico que irá facilitar para ela a realização de tarefas que interessam a eles próprios. De batedeiras e liquidificadores a máquinas de lavar roupa, fogões e até mesmo geladeiras, os presentes são para toda a família, hipocritamente disfarçados de amor filial.
Já é hora de dar um basta na desvalorização do trabalho da mulher e, portanto, na desvalorização da própria mulher, pois não se pode considerar libertário aquele que não defende exclusivamente os sistemas ideológicos ou políticos que pressupõem direitos iguais para todas as pessoas, independentemente de sexo, etnia, orientação sexual, etc.
Também no dia do trabalho não custa lembrar que enquanto tiver trabalho escravo e/ou trabalho infantil (na maioria das vezes escravo também) dentro de suas fronteiras, nenhum país pode ser considerado justo, ético ou democrático. A erradicação destas formas de trabalho deveria ser prioridade máxima em todas as escalas de governo.
E tudo isso é tão óbvio, que eu quase não sei como terminar este texto. Então, o farei com o desejo de que este 1º de maio de 2009 seja um "dia do trabalho" realmente revolucionário. Se não no mundo concreto, onde as mudanças demoram para acontecer, ao menos nos "corações e mentes" de cada um e de cada uma de nós, onde toda revolução se inicia...
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