terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Onde foram os meses?




Míriam Santini de Abreu

Ouço agora essa jóia na madrugada. Não sei onde foram parar setembro, outubro e novembro. Em setembro vi apenas uma vez os meus amados olhos-de-boneca, as minhas flores favoritas, agarrados a um tronco de árvore em uma casa naquela rua ao lado da Praça dos Bombeiros, na Capital. Fiquei minutos a fio parada ali, encantada. Minutos a fio... Não parece que falo de perólas - minutos que parecem pérolas em um longo e interminável fio? Depois daquele dia, não mais. Elas rápido florescem, e rápido desaparecem. Pouco sei de outubro e de novembro, e agora me assalta dezembro, como no início de uma noite na semana passada, na Praça 15, quando instalavam fios de bolas coloridas e brilhantes nas antigas árvores. Não sei mais quando é lua cheia. Não me importo. Confundo os dias da semana, as datas. Não consigo encontrar onde me deixei.
Vi "O Tesouro de Sierra Maestra" (1948) neste final de semana. Há duas cenas lindas. Uma quando o velho garimpeiro diz aos dois homens mais jovens que o acompanham que, antes de ir embora com o ouro, é preciso recuperar a montanha, porque ela foi magoada pelo ato de dela extraírem o metal, e aí ficam os três mais uma semana para recuperar a parte da Serra magoada por dela terem arrancado algo precioso. Outra é quando ladrões roubam os burros que carregam a riqueza e pensam que os sacos de ouro contêm areia, e assim largam tudo à terra. Quando os três garimpeiros encontram os sacos abertos, uma ventania leva com ela todo o valioso pó. O velho cai na gargalhada e chega à conclusão de que o estranho episódio valeu pelos 10 meses de trabalho. Às vezes é isso mesmo: vão-se os pós dourados, os olhos-de-boneca, os luares, é só nos resta gargalhar.
Nas fotos: um fio brilhante de bolas que me lembrou: chegou dezembro. Onde ficaram os outros meses? Na outra foto, uma velha casa na Anita Garibaldi, onde sou planta que insiste em vazar do concreto.


Um comentário:

elaine tavares disse...

Diz a lenda que essa música o paulinho fez para sua mulher amada, já morta... é de uma beleza infinita... Eu sei onde foram parar os meses...eu sei....