sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Fernando Baéz - um guerreiro contra a destruição cultural

Elaine Tavares

Fernando Báez nasceu em San Felix de Guayana, Venezuela, e desde muito cedo começou a se interessar pela filosofia grega, especialmente Aristóteles. Depois, descobriu Averróis, o filósofo árabe que introduziu Aristóteles na Europa, via Granada. Formou-se em Educação, mas a filosofia continuou correndo rápida pelas veias. Em 1991 escreveu Reflexiones, um livro de ensaios, em 1993 foi a vez de fazer vir à luz os seus poemas no livro Alejado. Em 2000, lançou outro livro sobre o manuscrito bizantino, Tractatus Coislinianus, iniciando seu mergulho no mundo árabe.

Desde aí, Fernando Báez manteve constante interesse na poesia, filosofia árabe, censura antiga e contemporânea, escritura e na conexão do patrimônio cultural com a memória étnica. Em 2002 Báez publicou uma coleção de ensaios sobre a censura, La ortodoxia de los herejes, apresentando seu ponto de vista sobre as tentativas latino-americanas de construir uma teoria coerente sobre a questão da censura no século XX. Escritor fértil seguiu publicando poemas e outros textos sobre Aristóteles.

No ano de 1999, Fernando Báez iniciou o doutorado em Bibliotecologia e logo recebeu o Prêmio “Vintila Horia” por conta do seu ensaio acerca da História da antiga Biblioteca de Alexandria. Seu caminho pela filosofia e pelas bibliotecas consolidou a idéia de estudar a destruição cultural e encerrou seu doutorado com um livro que acabou se tornando um clássico: A história universal da destruição dos livros. Neste trabalho, que foi a sua tese, ele documenta a perda catastrófica de livros durante as guerras, tais como a destruição da biblioteca de Alexandria, queimada em 48 a.C. e as fogueiras acesas pelos nazistas.

Baéz faz da sua vida a busca pela história dos livros e a luta contra a destruição. Talvez porque, quando menino, tenha vivenciado a perda da biblioteca do seu pequeno povoado, San Félix, depois de uma inundação. Essa imagem nunca lhe saiu da cabeça e hoje, entender a destruição cultural e o que leva o poder a queimar os livros virou sua obsessão. Não foi sem razão que ele assumiu a missão de documentar, pela Unesco, a devastação de objetos culturais e religiosos no Iraque, depois da ocupação estadunidense, o que acabou gerando outro livro importantíssimo nesta área: A destruição cultural do Iraque – um testemunho do pós-guerra.

Hoje, Fernando Baéz é reconhecido como um dos mais importantes intelectuais do planeta, tendo seus livros traduzidos em mais de 12 línguas. Generoso, ele partilha diariamente com os amigos, as imagens dos estudos que segue fazendo pelo mundo no que diz respeito aos livros. No seu arquivo de fotos, estão raridades históricas como os cartazes feitos pelos nazistas incentivando a queima de livros.

Jovem e aficcionado pela memória cultural dos povos, Fernando é um intelectual latino-americano que precisa ser cada vez mais conhecido. Sua vitalidade e curiosidade investigativa colocam à nu a necessidade que o poder tem de destruir os livros, porque é deles que brotam as idéias, e as idéias movem mundo.

Veja na página do Iela (http://www.iela.ufsc.br/?page=noticia&id=1601) duas pérolas do arquivo de Baéz. O cartaz dos nazistas para queimar idéias marxistas e a contra propaganda para impedir esse crime.

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