Míriam Santini de Abreu
Passei o final de semana revendo a sexta e metade da sétima temporada de Arquivo X, e pensei nisso ao acompanhar novamente a trama dos dois primeiros episódios da sétima temporada. Mulder, na incessante busca por respostas, se vê mentalmente aprisionado por seu maior inimigo. E esse inimigo dá a ele, enquanto lhe tira fisicamente a vida, a chance de ter, durante um sonho, outra existência, a existência almejada pelas pessoas comuns, neste episódio concretizada no modo de vida da classe média dos EUA. Mas, mais do que isso, Mulder, nesta falsa realidade, tem de volta tudo o que lhe foi tirado. E assim não há buscas por respostas, porque não há perguntas. E ele envelhece, no sonho, protegido das dúvidas que o atormentavam. Mas não passa disso, um sonho forjado para que seu inimigo possa extrair de Mulder tudo o que essa busca atormentada forjou de mais valioso em seu corpo e sua mente. O que nele há de mais essencial, a síntese de sua extraordinária humanidade e ousadia.
Mulder está à beira da morte quando Scully aparece no sonho induzido por drogas, porque na vida real tenta salvá-lo. Ela jovem; ele, envelhecido e convicto de que seu maior inimigo deu-lhe uma alternativa de viver apenas com respostas, sem perguntas, sem dor. E que isso foi um gesto de amor e proteção. E, no sonho, Scully, implacável diante do choro e dos apelos de Mulder – um Mulder indiferente a tudo o que era e pelo qual lutou, ordena a ele:
- Você tem que se levantar. Levante-se para lutar. Levante-se e encare a luta.
No final do episódio, Scully é que fraqueja e chora, incapaz de saber em quê acreditar e em quem confiar. E Mulder diz a ela, referindo-se ao sonho no qual quase se perdeu:
- Embora o meu mundo fosse irreconhecível e eu estivesse perdido, houve uma coisa que permaneceu igual: você era minha amiga e me contou a verdade. Mesmo quando o mundo estava desmoronando, você foi o alicerce. Minha pedra fundamental.
- E você a minha, Mulder.
Ai, que saudades desses dois...
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