Dia destes li um texto de Marcelo Semer, sobre o que se falou na internet na data da posse de Dilma, e especialmente sobre Marcela Temer. A pobre "segunda dama" teria sido acusada de golpista, interesseira e daí para baixo, por ser uma mulher bonita e ter casado com um homem mais velho e poderoso (leia o texto integral em http://blog-sem-juizo.blogspot.com/2011/01/superar-estereotipo-e-primeiro-passo.html). Embora tenha achado o texto de Marcelo ótimo, creio que faltou falar do que a mídia oficial comentou sobre a posse, e também sobre as bobagens postas em destaque agora que temos uma mulher no poder máximo.
Na Globo News, minutos antes da posse, Cristiana Lobo não falava em outra coisa a não ser: "como será o vestido da presidente?" Com a desculpa de querer saber se seria vermelho, em deferência ao PT, ou de outra cor, o comportamento desta mulher jornalista, aparentemente um tanto descolada dos moldezinhos de gênero, lembrava todos os comentários a respeito do vestido de Michelle Obama na posse do marido. No domingo seguinte ao da posse, o Fantástico informava quem vai ser o cabeleireiro de Dilma. Informação fundamental para o futuro do país, não? Também ouvimos comentários sobre as plásticas que Dilma teria feito, as vezes em que trocou o penteado...
E, para mim, este destaque a esposa de Temer (ao menos o que acontece na mídia oficial) não é uma tentativa de reduzi-la a uma boneca interesseira, mas sim, uma tentativa de elogiar-lhe justamente os atributos opostos aos de Dilma. Ela sim, faz o papel que uma mulher deve fazer: fica quietinha do lado do marido, e ainda por cima enfeita a festa, já que nasceu com uma beleza acima da média. Isso não é apenas reduzir a mulher a seus atributos físicos, mas indicar às mulheres de classe média e alta a posição correta de mulher "por trás do grande homem". Mulheres que deveriam gastar seu tempo não no trabalho produtivo, mas no salão de beleza ou "fazendo comprinhas".
Nesta linha, o Fantástico do domingo seguinte ensinava a fazer tranças como a de Marcela, pode??? É quase como se Marcela fosse nossa nova primeira dama. Não é, é a segunda. Mas onde está a primeira, se Dilma não tem sequer um marido para ser primeiro cavalheiro??? Como fica esta nova ordem brasileira onde uma mulher sozinha irá comandar o país, sem sequer um marido que disfarçadamente lhe soprasse ao ouvido o que fazer (como acusavam Cristina Kirchner de agir enquanto seu marido era vivo)?
Dilma, para esta direita retrógrada e desesperada, que não aguenta uma mulher no cargo máximo do país, é a nova primeira dama de Lula. À dona Marisa, a quem a imprensa nunca perdoou a falta de nobreza no sangue e na postura "brasileira" (leia-se pobre) demais, não se deu sequer o direito do adeus que um divórcio ou a morte traria... Assim, uns vão repetir ad nauseam que Dilma só faz o que Lula manda (e portanto ela não passa de uma primeira dama), enquanto outros vão considerar Marcela a primeira dama, e portanto, Temer seria o verdadeiro presidente do Brasil. Dilma só estaria lá por descuido...
De minha parte, gostaria de dizer a Marcela Temer que, independentemente do que eu possa pensar a respeito das posturas políticas de seu marido, entendo perfeitamente porque casou com ele, afinal, o sujeito tem lá o seu charme, não? E que ela não leve a sério demais nem as críticas nem os elogios, pois está apenas sendo usada como bucha de canhão por quem, não tendo mais o que fazer contra a eleição de Dilma, está tentando manipular informações, e vai usar quem for preciso para isso.
Quanto a Dilma, quero dizer a esta mulher corajosa ao extremo que ela é, uma frase de Zeca Baleiro: "Você não precisa de um salão de beleza [...] a sua beleza é bem maior do que qualquer beleza de qualquer salão"... Afinal, você sabe que não está aí neste lugar para "ser bonita", mas para comandar o país. E se respeitar os interesses das mulheres, como vem prometendo fazer, não precisa nem convidar sua filha para lhe acompanhar em qualquer cerimônia, pois você nunca estará sozinha, mas sim com milhares de pessoas que querem ver este governo dar certo.
Um comentário:
voltei aqui para acrescentar um comentário e mostrar que não é só no Brasil que a mulher ainda é considerada um "enfeite":
En medio de una viva polémica acerca de la necesidad o no de introducir cuotas de mujeres por ley en Alemania, el presidente del Deutsche Bank, Josef Ackermann, ha sembrado la polémica al decir en una entrevista que "no hay ninguna mujer en el comité ejecutivo del Deutsche Bank, pero espero que un día u otro la dirección sea más bonita y tenga más colorido gracias a la integración de mujeres". Ministras y mujeres de todo el país han tachado sus palabras de "inapropiadas" y de "mal gusto".
leia tudo em
http://www.elpais.com/articulo/sociedad/lider/Deutsche/Bank/afirma/mujeres/banco/harian/bonito/elpepusoc/20110208elpepusoc_11/Tes
um abraço, Li Travassos
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