Li Travassos*
Sem jamais desconsiderar todo o horror da censura na época da ditadura brasileira, devo dizer de minha falta de paciência absoluta com o uso do fantasma da censura para garantir o direito dos donos-da-mídia neste país, de continuar manipulando informações, de maneira nada sutil, na direção que lhes interessa. O fantasma da censura já foi usado para questionar a proibição da participação de crianças pequenas em novelas com cenas violentas e assustadoras, como se em nosso país o trabalho infantil não fosse proibido, e como se esta proibição não fosse burlada, diariamente, às vistas de todos, através do trabalho de crianças na mídia.
O fantasma da censura já foi usado, da forma mais descarada possível, para defender o direito à “liberdade de empresa”, quando da tentativa de criação de um Conselho Federal de Jornalismo (e seus respectivos conselhos regionais). A justificativa? Queriam criar um Conselho para “orientar, disciplinar e fiscalizar” o exercício da profissão de jornalista. Vejam que horror! Igualzinho aos conselhos de enfermagem, assistência social, nutrição, psicologia, medicina, engenharia e arquitetura, fisioterapia, direito (OAB) e todos os outros conselhos profissionais que regulamentam a maioria das profissões que exigem curso superior, e que consideram que devem, à sociedade a qual estes profissionais servem, uma garantia de que sua postura será o mais ética e correta possível! E como fica a liberdade da empresa de mandar o jornalista ferir a ética a torto e direito, se existir um conselhinho metido a besta, disposto a dizer o que o jornalista pode ou não pode fazer???
Por este motivo, e por nenhum outro, a profissão de jornalista no Brasil continua praticamente não reconhecida como tal. Afinal, não é preciso um diploma de curso superior para exercer o jornalismo. Logo, não há sentido algum em se criar um Conselho Profissional para esta profissão que não existe. Jornalismo no Brasil, faz quem quer e, neste caso, engole quem não tem juízo.
Agora, o fantasma da censura está sendo usado contra uma deliberação da Conferência Nacional de Comunicação, que aconteceu em 2009. Refere-se à criação de Conselhos de Comunicação (que podem ser municipais, regionais, estaduais...), com participação da sociedade civil, para exercer um controle social sobre as empresas que detêm a mídia neste país. E, em mais uma flagrante manipulação da informação, a notícia vem sendo veiculada como a tentativa de criação de Conselhos de Comunicação, para fiscalizar os jornalistas, impondo a censura à profissão, que foi deliberada na Conferência Nacional de Comunicação, “promovida pelo Governo Federal”. Falta dizer que Conferências devem ser sempre promovidas pelo Governo, pois é o que garante sua legitimidade.
Falta dizer também, que as conferências são uma forma de ouvir toda a população a respeito de suas aspirações sobre o assunto em questão. Mas claro que não iam perder a chance de fazer mais uma crítica ao governo atual, nesta reta final de propaganda eleitoral. A cada dia, a mídia de direita divulga um grave problema nacional, aumentando, gratuita e infinitamente, o tempo de propaganda do candidato José Serra. Assim mesmo, ele não para de cair... “Tenha fé em nosso povo que ele acorda...” (da música Credo, de Milton e Brant).
Há um ótimo texto da FENAJ sobre a questão da criação dos Conselhos, no site do Fórum Nacional Pela Democratização da Comunicação (http://www.fndc.org.br/internas.php?p=noticias&cont_key=608521). Entidades podem assinar este texto do FNDC, como forma de manifestar seu apoio à criação dos conselhos. Acredito ser fundamental a assinatura das entidades que participaram da Conferência, já que esta criação foi uma deliberação da mesma, representando portanto, a vontade soberana do povo brasileiro...
*Li Travassos foi coordenadora do COMITÊ ESTADUAL PELA DEMOCRATIZAÇÃO DA COMUNICAÇÃO DE SC, desde sua recriação, em 2003, até 2007, representando o Conselho Regional de Psicologia de SC.
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