Míriam Santini de Abreu
Volta e meia recebo essas mensagens que falam das mil vantagens dos homens sobre as mulheres, muitas das quais ironizando os nossos cuidados excessivos com a aparência, a nossa vontade de dividir a vida - fatos alegres ou tristes - com as amigas, a nossa disposição excessivamente emocional, lendo nas entrelinhas sutilezas que os homens são incapazes de pronunciar nas linhas. Sim, sim...
Essas mensagens me fazem pensar nas minhas amigas, minha família que não é de sangue, mas que me socorre em ocasiões nas quais a família de sangue não está por perto para me livrar do abismo. São mulheres com as quais eu rio, eu choro, eu celebro a vida, enfrento a escuridão. Elas sabem o que me faz sofrer, o que me deixa feliz. E quantas vezes foi no colo delas que salvei a melhor parte de mim.
Em Cuba, onde estive durante duas semanas, não se discute muito relações de gênero. Lá as mulheres se colocam à altura em tudo, sempre. Claro, foi um processo construído ao longo de décadas. Como me encantaram aquelas mulheres! Elas fazem parte de um projeto coletivo, e tenho notado cada vez mais a importância disso. Quando a gente aposta demais em projetos individuais, e eles fracassam, é difícil demais ficar à tona. Os projetos coletivos, não, eles nos alimentam mais porque enredam a nossa vida com a vida dos outros.
Eu faço parte de um projeto coletivo com muitas das minhas amigas, a revista Pobres & Nojentas. E quando sinto que vou cair, ou mesmo que caí, da beira do abismo elas agarram as minhas mãos porque a nossa menina - filha do jornalismo no qual acreditamos - tem que sair!
E isso me faz pensar nos homens, que - dizem as mensagens de correios eletrônicos - não são tão massacrados quanto nós pela imposição da beleza e da juventude, não procuram os amigos para chorar, tão racionais e incapazes de deter dor ou prazer nas entrelinhas. Sim, sim... Será?
Mas vou dizer: tanto aço, tanta têmpera, para mim só faz sentido se, naqueles momentos de fragilidade de todos nós - homens e mulheres - esse aço puder se deixar penetrar por ternura a ser compartilhada. Assim a vida fica mais leve e a gente menos frágil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário