Nas primeiras décadas século XVI, quando no imenso território que hoje é o Brasil os colonizadores começavam e explorar o pau brasil para ocupar o território, na América Central a colonização espanhola seguia acelerada, dizimando povos nativos, “empunhando uma espada e uma cruz na outra mão”. Numa das regiões que hoje é o território hondurenho, os desde então chamados indígenas resistiram com mais força, liderados por Lempira. Este foi traído e morto em combate, mas deixou rastros na cultura e na ideologia do povo mestiçado nos quase cinco séculos seguintes. A moeda de Honduras chama-se Lempira, uma cínica homenagem burguesa ao herói indígena.
Mas na alma profunda do povo mestiço, ficou a mensagem: o povo não se renderá, embora continue sendo traído, agora por modernos gestores dos monopólios, a maioria dos quais de origem estadunidense.
Desde o dia 28 de junho tem manifestações todos os dias nas principais cidades de Honduras, especialmente na capital, Tegucigalpa. É assim mesmo, todos os dias, sem que ninguém faça um panfleto sequer de convocação, reúnem-se e protestam aos milhares. Nos dias de convocação, são trinta ou cinqüenta mil pessoas na capital e em San Pedro Sula, a cidade industrial.
Os gorilas (e nenhum outro nome lhes cabe tão bem) realizaram um golpe preventivo, seqüestrando o presidente, no dia 28 de junho, justamente para que os trabalhadores e o povo pobre não começassem a tomar gosto pela soberania popular e pelos direitos elementares. Manuel Zelaya tinha aumentado os salários, distribuído terras, rurais e urbanas, entrou na ALBA, e, gota d´água, convocara um referendum com o objetivo de eleger uma assembléia constituinte.
Erraram nos cálculos os golpistas, pois o povo já começara a gostar de transformações, e não saíram mais das ruas. Não deram um único dia de trégua aos usurpadores.
Com o retorno de Zelaya, no dia 21 de setembro, indo pedir proteção justamente na embaixada brasileira, a euforia popular se multiplicou por cem. Esse plano foi inteligentíssimo, pois o Brasil é um país respeitado por lá, e força o governo brasileiro a girar à esquerda na sua política internacional. Se Zelaya fosse para a embaixada da Venezuela, não haveria tanta repercussão internacional, e os gorilas poderiam com mais facilidade invadi-la. Se fosse para a embaixada dos Estados Unidos, ela não seria invadida, mas a saída diplomática seria pela direita. Desde que se espalhou a notícia da presença de presidente legítimo, Honduras deixou de ser um país em “transe” e agora é um país em ebulição. Não tem mais jeito, a menos que liquidem multidões pela força. Os golpistas perderão!
Reprimem violentamente, e isso enfurece mais os manifestantes, radicalizando os ânimos. Decretam toque de recolher, e, pelo tempo de duração, acabam indignando também a parte da população que está indecisa, pois começa a haver uma crise de abastecimento. Suspendem o toque de recolher, e centenas de milhares aparecem em marcha, no centro da capital. Reprimem com mais violência, e instigam revoltas sempre mais fortes. Agora, às 17:00h locais (20:00h de Brasília) lançam o estado de sítio, para reprimir mais…
Não se despreze o fato de que estão matando gente, neste momento. Se o governo golpista reconhece uma morte entre os manifestantes, é porque já devem ser dezenas. Realizam prisões em massa, e precisam usar estádios como prisões, lembrando o Chile de 1973. Como ainda podem falar em democracia?!? Rádios e canais de televisão independentes fora do ar, aeroportos fechados, inclusive para impedir a presença de organismos internacionais. Uma ditadura no sentido mais exato da palavra.
E os filhos de Lempira não param de ir às ruas, e já perderam o medo até mesmo de morrer. “Nos tienen miedo porque no tenemos miedo” cantam diante dos repressores, e é verdade, porque já não temem nada. E os gorilas atacam porque todo gorila tem medo de povo na rua. Senhoras idosas, senhores de cabelo brancos, meninos, muitos jovens, todos vão às ruas. Regressando quinhentos anos na ideologia, a espada e a cruz estão juntas no combate ao povo mestiço do século XXI, assim como estavam juntas no século XVI massacrando e “reduzindo” os descendentes do povo maya. O bispo chefe da igreja católica também é gorila, desde o primeiro dia do golpe, muito embora padres católicos estejam com a resistência, assim como os evangélicos, os umbandistas e os antigos credos indígenas remanescentes.
O povo vencerá em Honduras, e isso é questão apenas de tempo e de forma. Se ainda nesta data as forças de repressão estão massacrando o povo, esse jogo vira, e em pouco tempo os organismos internacionais terão que ir garantir a vida dos gorilas. A menos que algum país abasteça de armas e munições as forças da repressão (e Israel já mandou tecnologia e instrutores de massacre) em algum momento o exército e a polícia terão que recuar, como já esboçam fazer nas escaramuças dos bairros.
A luta do povo hondurenho é nossa luta! Honduras de 2009 não pode ser a Guatemala de 1953, ou seja, o limiar de uma onda de golpes militares por todo o continente. A vitória do povo hondurenho será a nossa vitória, pois avançarão lá em soberania popular, espalhando exemplo, e os gorilas de todo o continente, inclusive os daqui, terão que pensar muito mais antes de cometer desatinos.
O governo brasileiro precisa jogar duro na ONU, e exigir uma decisão de fechamento do cerco sobre os golpistas, forçando-os a fugir enquanto têm tempo, e levando-os aos tribunais internacionais para que paguem por seus crimes. Ou o mundo vai esperar a continuidade do massacre, que pode se intensificar muito quando acabarem as munições não letais e usarem apenas as outras. Já que o povo hondurenho venceu, é preciso que os governos e os organismos multilaterais parem de fazer cena e ocupem espaço para evitar que em poucas horas os golpistas matem milhares de pessoas. Em Honduras reside parte significativa da direita mais reacionária e dos algozes mais sanguinários de todo o continente, e o mundo não pode desprezar esse elemento. Eles podem matar muita gente em poucas horas, num derradeiro suspiro de vilania.
Avante filhos de Lempira, ao pescoço dos gorilas!
Mas na alma profunda do povo mestiço, ficou a mensagem: o povo não se renderá, embora continue sendo traído, agora por modernos gestores dos monopólios, a maioria dos quais de origem estadunidense.
Desde o dia 28 de junho tem manifestações todos os dias nas principais cidades de Honduras, especialmente na capital, Tegucigalpa. É assim mesmo, todos os dias, sem que ninguém faça um panfleto sequer de convocação, reúnem-se e protestam aos milhares. Nos dias de convocação, são trinta ou cinqüenta mil pessoas na capital e em San Pedro Sula, a cidade industrial.
Os gorilas (e nenhum outro nome lhes cabe tão bem) realizaram um golpe preventivo, seqüestrando o presidente, no dia 28 de junho, justamente para que os trabalhadores e o povo pobre não começassem a tomar gosto pela soberania popular e pelos direitos elementares. Manuel Zelaya tinha aumentado os salários, distribuído terras, rurais e urbanas, entrou na ALBA, e, gota d´água, convocara um referendum com o objetivo de eleger uma assembléia constituinte.
Erraram nos cálculos os golpistas, pois o povo já começara a gostar de transformações, e não saíram mais das ruas. Não deram um único dia de trégua aos usurpadores.
Com o retorno de Zelaya, no dia 21 de setembro, indo pedir proteção justamente na embaixada brasileira, a euforia popular se multiplicou por cem. Esse plano foi inteligentíssimo, pois o Brasil é um país respeitado por lá, e força o governo brasileiro a girar à esquerda na sua política internacional. Se Zelaya fosse para a embaixada da Venezuela, não haveria tanta repercussão internacional, e os gorilas poderiam com mais facilidade invadi-la. Se fosse para a embaixada dos Estados Unidos, ela não seria invadida, mas a saída diplomática seria pela direita. Desde que se espalhou a notícia da presença de presidente legítimo, Honduras deixou de ser um país em “transe” e agora é um país em ebulição. Não tem mais jeito, a menos que liquidem multidões pela força. Os golpistas perderão!
Reprimem violentamente, e isso enfurece mais os manifestantes, radicalizando os ânimos. Decretam toque de recolher, e, pelo tempo de duração, acabam indignando também a parte da população que está indecisa, pois começa a haver uma crise de abastecimento. Suspendem o toque de recolher, e centenas de milhares aparecem em marcha, no centro da capital. Reprimem com mais violência, e instigam revoltas sempre mais fortes. Agora, às 17:00h locais (20:00h de Brasília) lançam o estado de sítio, para reprimir mais…
Não se despreze o fato de que estão matando gente, neste momento. Se o governo golpista reconhece uma morte entre os manifestantes, é porque já devem ser dezenas. Realizam prisões em massa, e precisam usar estádios como prisões, lembrando o Chile de 1973. Como ainda podem falar em democracia?!? Rádios e canais de televisão independentes fora do ar, aeroportos fechados, inclusive para impedir a presença de organismos internacionais. Uma ditadura no sentido mais exato da palavra.
E os filhos de Lempira não param de ir às ruas, e já perderam o medo até mesmo de morrer. “Nos tienen miedo porque no tenemos miedo” cantam diante dos repressores, e é verdade, porque já não temem nada. E os gorilas atacam porque todo gorila tem medo de povo na rua. Senhoras idosas, senhores de cabelo brancos, meninos, muitos jovens, todos vão às ruas. Regressando quinhentos anos na ideologia, a espada e a cruz estão juntas no combate ao povo mestiço do século XXI, assim como estavam juntas no século XVI massacrando e “reduzindo” os descendentes do povo maya. O bispo chefe da igreja católica também é gorila, desde o primeiro dia do golpe, muito embora padres católicos estejam com a resistência, assim como os evangélicos, os umbandistas e os antigos credos indígenas remanescentes.
O povo vencerá em Honduras, e isso é questão apenas de tempo e de forma. Se ainda nesta data as forças de repressão estão massacrando o povo, esse jogo vira, e em pouco tempo os organismos internacionais terão que ir garantir a vida dos gorilas. A menos que algum país abasteça de armas e munições as forças da repressão (e Israel já mandou tecnologia e instrutores de massacre) em algum momento o exército e a polícia terão que recuar, como já esboçam fazer nas escaramuças dos bairros.
A luta do povo hondurenho é nossa luta! Honduras de 2009 não pode ser a Guatemala de 1953, ou seja, o limiar de uma onda de golpes militares por todo o continente. A vitória do povo hondurenho será a nossa vitória, pois avançarão lá em soberania popular, espalhando exemplo, e os gorilas de todo o continente, inclusive os daqui, terão que pensar muito mais antes de cometer desatinos.
O governo brasileiro precisa jogar duro na ONU, e exigir uma decisão de fechamento do cerco sobre os golpistas, forçando-os a fugir enquanto têm tempo, e levando-os aos tribunais internacionais para que paguem por seus crimes. Ou o mundo vai esperar a continuidade do massacre, que pode se intensificar muito quando acabarem as munições não letais e usarem apenas as outras. Já que o povo hondurenho venceu, é preciso que os governos e os organismos multilaterais parem de fazer cena e ocupem espaço para evitar que em poucas horas os golpistas matem milhares de pessoas. Em Honduras reside parte significativa da direita mais reacionária e dos algozes mais sanguinários de todo o continente, e o mundo não pode desprezar esse elemento. Eles podem matar muita gente em poucas horas, num derradeiro suspiro de vilania.
Avante filhos de Lempira, ao pescoço dos gorilas!
Florianópolis, Santa Catarina – Brasil, 23 de setembro de 2009.
Amauri Soares
Deputado Estadual
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