Elaine Tavares
O professor Mauro César Silveira, do Curso de Jornalismo da UFSC, foi o conferencista na primeira atividade do Núcleo de Estudos da História da América Latina, coordenado por Waldir Rampinelli. Ele trouxe as informações sobre o estudo que fez das charges publicadas em jornais brasileiros durante o episódio da Guerra contra o Paraguai, de 1864 a 1870. Este trabalho acabou virando livro, esgotou, e agora deve ser reeditado pela editora da UFSC em 2010.
Mauro tem formação em jornalismo, mas fez mestrado e doutorado em História, porque entende que o jornalismo só pode expressar seu compromisso social se tiver perspectiva histórica. E a opção pela busca do desvelamento da idéia-imagem do Paraguai durante o período da guerra contra aquele país surgiu justamente para observar como o jornalismo considerado mais crítico da época desenhou o conflito. “Eu sempre acreditei que o jornalismo tem como papel central quebrar estereótipos, eliminar os preconceitos e esperava encontrar isso nas charges, porque sempre foi do humor, da caricatura, essa coisa de questionar o poder”.
Mas, ao pesquisar nas folhas satíricas mais importantes da corte Mauro ficou surpreso ao perceber que todas elas, mesmo as mais críticas, tinham a mesma idéia preconceituosa do Paraguai. E mais, ao logo da pesquisa, ele constatou que a maior tragédia do continente latino-americano, que massacrou um povo inteiro, tinha sido apresentada como a saga de um “sanguinário e cruel” dirigente: Francisco Solano Lopes. Isso sem contar no desrespeitoso e preconceituoso tratamento dado ao fato de que a maioria dos paraguaios era indígena.
Mauro levantou 591 imagens que se referiam ao Paraguai, 202 delas especificamente relacionadas com a questão do conflito. E, em todas estas, a referência a Solano Lopes era a de um inimigo sádico e sanguinário. “Solano aparecia sempre associado ao demônio ou a uma ave de rapina, e os desenhos ainda apresentavam o castigo que ele devia merecer: a morte. Ou seja, o jornalismo estava totalmente submetido à visão oficial de que a guerra era uma cruzada civilizatória para libertar os paraguaios de um louco”. O professor destaca a importância deste tipo de trabalho para compreender como o jornalismo ainda hoje faz esse jogo de servidão ao poder instituído. Lembrou da invasão do Iraque, evento tão contemporâneo, que foi referendado pela mídia com a mesma lógica de mentiras.
O fato é que esta imagem construída durante a guerra contra o Paraguai - que é conhecida como um tremendo genocídio uma vez que dos um milhão e trezentos mil habitantes do Paraguai, restaram pouco mais de 200 mil no final do conflito – até hoje povoa o imaginário social, fazendo do país de Solano Lopes sempre um “lugar ruim”. Mauro lembra que até no esporte, um espaço do jornalismo que aparece como neutro politicamente, esta imagem do Paraguai é bastante reforçada. “Agora pouco se falava que os times pequenos que disputam o campeonato brasileiro são como cavalos paraguaios, ou seja, pensam grande e morrem no meio do caminho. Isso é uma alusão à Solano Lopes que, segundo a mídia da época, foi quem declarou guerra ao Brasil, sem se dar conta que lutava contra um gigante e por isso foi derrotado. Ora, nada mais mentiroso. A guerra começou porque o Brasil invadiu o Uruguai e servia aos interesses dos latifundiários gaúchos e do império inglês. Solano Lopes apenas se defendeu.
Mauro também mostrou uma reportagem bem atual da revista Veja em que ela mostra os dez países que mais fazem falsificações. Nesta lista não estava o Paraguai, mas o título da matéria era: Made in Paraguai. Isso só reafirma a idéia-imagem de um lugar onde reina a pobreza, a feiúra, a corrupção e a falsificação. Tudo herança daqueles dias da guerra. “Até o Almanaque Abril, na sua edição deste ano, divulga informações incorretas sobre o conflito. Diz que Solano declarou guerra contra o Brasil porque queria chegar ao mar. Não fala da invasão do Uruguai, não fala que o Brasil nem exército tinha, montou um com escravos e pobres. Ou seja, a guerra contra o Paraguai segue criando preconceitos e mentiras”.
O trabalho de Mauro Silveira é uma instigante reflexão sobre o caráter cortesão do jornalismo atual que, tal qual nos dias da guerra contra o Paraguai, nada mais é do que um modelo de propaganda como bem já apontou o teórico estadunidense Noam Chomski. Basta que se observe como trata a Venezuela, Hugo Chávez ou o aymara Evo Morales. Exceções há que só confirmam a regra.
Mauro tem formação em jornalismo, mas fez mestrado e doutorado em História, porque entende que o jornalismo só pode expressar seu compromisso social se tiver perspectiva histórica. E a opção pela busca do desvelamento da idéia-imagem do Paraguai durante o período da guerra contra aquele país surgiu justamente para observar como o jornalismo considerado mais crítico da época desenhou o conflito. “Eu sempre acreditei que o jornalismo tem como papel central quebrar estereótipos, eliminar os preconceitos e esperava encontrar isso nas charges, porque sempre foi do humor, da caricatura, essa coisa de questionar o poder”.
Mas, ao pesquisar nas folhas satíricas mais importantes da corte Mauro ficou surpreso ao perceber que todas elas, mesmo as mais críticas, tinham a mesma idéia preconceituosa do Paraguai. E mais, ao logo da pesquisa, ele constatou que a maior tragédia do continente latino-americano, que massacrou um povo inteiro, tinha sido apresentada como a saga de um “sanguinário e cruel” dirigente: Francisco Solano Lopes. Isso sem contar no desrespeitoso e preconceituoso tratamento dado ao fato de que a maioria dos paraguaios era indígena.
Mauro levantou 591 imagens que se referiam ao Paraguai, 202 delas especificamente relacionadas com a questão do conflito. E, em todas estas, a referência a Solano Lopes era a de um inimigo sádico e sanguinário. “Solano aparecia sempre associado ao demônio ou a uma ave de rapina, e os desenhos ainda apresentavam o castigo que ele devia merecer: a morte. Ou seja, o jornalismo estava totalmente submetido à visão oficial de que a guerra era uma cruzada civilizatória para libertar os paraguaios de um louco”. O professor destaca a importância deste tipo de trabalho para compreender como o jornalismo ainda hoje faz esse jogo de servidão ao poder instituído. Lembrou da invasão do Iraque, evento tão contemporâneo, que foi referendado pela mídia com a mesma lógica de mentiras.
O fato é que esta imagem construída durante a guerra contra o Paraguai - que é conhecida como um tremendo genocídio uma vez que dos um milhão e trezentos mil habitantes do Paraguai, restaram pouco mais de 200 mil no final do conflito – até hoje povoa o imaginário social, fazendo do país de Solano Lopes sempre um “lugar ruim”. Mauro lembra que até no esporte, um espaço do jornalismo que aparece como neutro politicamente, esta imagem do Paraguai é bastante reforçada. “Agora pouco se falava que os times pequenos que disputam o campeonato brasileiro são como cavalos paraguaios, ou seja, pensam grande e morrem no meio do caminho. Isso é uma alusão à Solano Lopes que, segundo a mídia da época, foi quem declarou guerra ao Brasil, sem se dar conta que lutava contra um gigante e por isso foi derrotado. Ora, nada mais mentiroso. A guerra começou porque o Brasil invadiu o Uruguai e servia aos interesses dos latifundiários gaúchos e do império inglês. Solano Lopes apenas se defendeu.
Mauro também mostrou uma reportagem bem atual da revista Veja em que ela mostra os dez países que mais fazem falsificações. Nesta lista não estava o Paraguai, mas o título da matéria era: Made in Paraguai. Isso só reafirma a idéia-imagem de um lugar onde reina a pobreza, a feiúra, a corrupção e a falsificação. Tudo herança daqueles dias da guerra. “Até o Almanaque Abril, na sua edição deste ano, divulga informações incorretas sobre o conflito. Diz que Solano declarou guerra contra o Brasil porque queria chegar ao mar. Não fala da invasão do Uruguai, não fala que o Brasil nem exército tinha, montou um com escravos e pobres. Ou seja, a guerra contra o Paraguai segue criando preconceitos e mentiras”.
O trabalho de Mauro Silveira é uma instigante reflexão sobre o caráter cortesão do jornalismo atual que, tal qual nos dias da guerra contra o Paraguai, nada mais é do que um modelo de propaganda como bem já apontou o teórico estadunidense Noam Chomski. Basta que se observe como trata a Venezuela, Hugo Chávez ou o aymara Evo Morales. Exceções há que só confirmam a regra.
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