Míriam Santini de Abreu
Eu devia ter uns 15 anos quando descobri que minha mãe fazia, às escondidas, o meu enxoval. Delicados conjuntos para enfeite em crochê, toalhas, colchas, lençóis, tudo bordado com ponto cruz colorido e miúdo, lá estavam, na prateleira mais alta do guarda-roupa dela, escondidos. Ah, que berros eu dei naquele dia! Fiz um inflamado discurso contra o que, naquela época, o enxoval significava para mim: casamento formal e filhos. E eu, eu só pensava em ser jornalista.
A mãe, como sempre, fez cara de paisagem, e não deu a mínima para as minhas reclamações. Anos a fio, continuou a comprar conjuntos, toalhas, tecidos de lençóis, e a costurar e pregar, nas barras, peças bordadas naquele caprichado ponto cruz que ela até hoje tem disposição para fazer.
Quando finalmente pude morar num local onde valia a pena colocar adornos tão bonitos, humildemente pedi o enxoval. Olha me olhou com aquela expressão de triunfo e disse que eu deveria, sim, levar o que quisesse, mas aos poucos. E assim é, até hoje.
Toda vez que vou para casa, vasculho o guarda-roupa dela para escolher peças do enxoval. Algumas sequer existem para venda, feitas a mão, com modelos de umas antigas revistas de ponto cruz que a mãe guarda até hoje. Muitas das peças em crochê foram feitas por tias já falecidas ou mulheres conhecidas sobre as quais não se ouviu mais falar.
Se a mãe inventa de dar alguma peça de presente para amigas e parentes, eu faço um berreiro, em atitude quase infantil:
- É meeeeeuuuuuu! É tudo meu!
Pensei nisso a propósito do Dia Internacional da Mulher. Naquela época, o enxoval significava tudo o que eu não desejava para mim, o modelo contra o qual eu me rebelava. Hoje, significa o que é: peças delicadas feitas pela minha mãe. O sentido mudou porque, afinal, eu me tornei o que desejava ser: uma mulher capaz de tomar decisões.
A mãe, como sempre, fez cara de paisagem, e não deu a mínima para as minhas reclamações. Anos a fio, continuou a comprar conjuntos, toalhas, tecidos de lençóis, e a costurar e pregar, nas barras, peças bordadas naquele caprichado ponto cruz que ela até hoje tem disposição para fazer.
Quando finalmente pude morar num local onde valia a pena colocar adornos tão bonitos, humildemente pedi o enxoval. Olha me olhou com aquela expressão de triunfo e disse que eu deveria, sim, levar o que quisesse, mas aos poucos. E assim é, até hoje.
Toda vez que vou para casa, vasculho o guarda-roupa dela para escolher peças do enxoval. Algumas sequer existem para venda, feitas a mão, com modelos de umas antigas revistas de ponto cruz que a mãe guarda até hoje. Muitas das peças em crochê foram feitas por tias já falecidas ou mulheres conhecidas sobre as quais não se ouviu mais falar.
Se a mãe inventa de dar alguma peça de presente para amigas e parentes, eu faço um berreiro, em atitude quase infantil:
- É meeeeeuuuuuu! É tudo meu!
Pensei nisso a propósito do Dia Internacional da Mulher. Naquela época, o enxoval significava tudo o que eu não desejava para mim, o modelo contra o qual eu me rebelava. Hoje, significa o que é: peças delicadas feitas pela minha mãe. O sentido mudou porque, afinal, eu me tornei o que desejava ser: uma mulher capaz de tomar decisões.
5 comentários:
Mimi: que beleza de texto! Parabéns! E viva o enxoval!!! As mães são sábias.
Enxoval, medito profundamente nesta palavra antiga, tão antiga que só pode ter sido criada num dia de chuva e neve lá fora.
Karl
maravilhoso... como diz o samuel, as mães são sábias e a gente aprende a ver o invisível...
Miri que lindo texto tenho certeza que está usando tudo com muito amor .Beijos Laura
Mimi. Tive uma boa ideia após ler teu texto. Vou atacar teu enxoval enquanto é tempo. Cesoca.
Postar um comentário