Míriam Santini de Abreu
Há pouco tempo fiz uma crônica sobre as reuniões de vizinhos feitas no condomínio onde mora meu irmão César e minha cunhada Valéria, em Porto Alegre. Graças a essa crônica, tive a honra de ser convidada para participar de um encontro no sábado, do qual infelizmente não poderei participar por causa de compromissos de trabalho.
Mas o convite me emocionou. Há dois anos me envolvi em um problema que gerou muita dor de cabeça e ainda não se resolveu. O então síndico do condomínio onde eu morava surrupiou uma quantidade expressiva de dinheiro do caixa. Eu e outra moradora denuciamos isso e, depois de uma interminável novela, a processada fui eu e um grupo de moradores que fez a denúncia, e processados por danos morais! A ação está na justiça, mas já obtivemos uma vitória porque as falcatruas aparecem em vários documentos, e diversos proprietários e inquilinos depuseram a nosso favor com relação às mentiras contadas pelo tal ex-síndico.
O caso, portanto, é que me comovem essas expressões de solidariedade entre pessoas que não têm laços de sangue entre si, mas que se unem em nome da partilha da beleza do cotidiano, do bem-querer.
Noite dessas, cheguei em casa, uma chuva fina, e, supresa, notei que algum vizinho havia recolhido minha roupa do varal. Estava lá, sobre um banco, sequinha! Num mundo onde tudo o que vale nada mais vale, esses gestos, essas delicadezas, têm um valor inestimável. Às vezes é alguém que segura a porta do banco para a gente passar; alguém que, com mais tempo, cede o lugar na fila; um outro que, dentro de um automóvel num cruzamento agitado, permite que atravessemos a rua.
Escrevo no cair da noite neste feriado, quando Florianópolis acende suas luzes sob um céu escuro e pesado. Aproxima-se o frio, as pessoas caminham apressadas rumo ao lar, ou ao que, de algum modo, a gente tenta fazer de conta que é lar, em busca de aconchego, dessa imemorial necessidade humana de compartilhar a vida, a beleza, a dor. E mesmo que, ao cair da noite, existam seres que encontrem somente a sua solidão, que também eles possam cruzar o caminho com um outro alguém para saudar:
- Boa noite, vizinho!
Um mundo de beleza compartilhada entre todos será, em ampla escala, como esse experimentado por meu irmão e seus vizinhos, que se unem para celebrar a vida. E celebrar a vida em volta de uma mesa repleta de boa comida e boa bebida, por deus, é bom demais!
3 comentários:
É num mundo assim que eu queria viver para sempre!! Só de compartilhamentos, de alegrias, sem violência,sem miséria, sem fome!! Ainda bem que temos o mesmo sonho,né Mimiiii?
Mimi. Os vizinhos já disseram que sentirão tua falta no sábado. Nem que fosse para defender Cuba e Chaves. No fundo, as pessoas abertas gostam de ouvir opiniões diferentes, quando fundamentadas. Comerei a tua parte do churrasco. Bjs. Cesar.
Ei princesa, que bom que ja estas ate gostando dos vizinhos..heheheheheh
a vida pode ser assim.. a vida pode e deve ser assim.. estou aqui na conlutas, dando risadas sozinha, justamente porque sonho com esse mundo.. que parece nunca vir....
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