Por Elaine Tavares - jornalista
Um elegante terno de linho, um riso largo e muito bom humor. “Sou neto do Albertinho Limonta, da novela O Direito de Nascer”, diz entre risos. Pois bem poderia ser. Manoel Limonta é um “santiaguero” de Cuba, nascido na bela Santiago, ao sul da ilha insurgente. De sua baía exuberante pode-se divisar a mítica Sierra Maestra, palco das lutas de libertação, e é conhecida mundialmente por sua rebeldia, já que foi berço das batalhas contra a colonização espanhola e, foi ali, na sua serra, que se definiu revolução libertadora. Também foi ali, em Santiago, que ficou preso Fidel antes de iniciar a caminhada que terminou na vitória em 1958.
Foi neste cenário de calorosas lutas que Manoel se fez menino e, nas brincadeiras de infância, já se via médico. Era tudo o que queria ser. Cuidar das gentes tal qual um tio que lhe servia de exemplo. Jovem, não participou diretamente da luta armada, mas seus familiares incursionavam por dentro da revolução que iria trazer nova vida à ilha. E foi graças ao fim da ditadura de Batista que ele conseguiu entrar para a faculdade de medicina e fazer real o seu sonho.
Quando chegou a hora de seguir os estudos, o novo governo revolucionário já estava consolidado. Era o ano de 1962. Manoel Limonta se foi para a capital, Havana. “Em muito pouco tempo o governo promoveu uma revolução também na educação. Já era uma meta a educação gratuita para todos. Por isso, eu tive bolsa de estudo. Em Havana tive alojamento, comida, livros e até dinheiro para os pequenos gastos. Da escola de Medicina saí em 1968 formado como médico social”. Dalí, Manoel foi para o campo, clinicar, pois era no interior que a necessidade se fazia maior. Mas, seu desejo era pesquisar, fazer a diferença para o seu povo. Gostava de hematologia e decidiu fazer especialização. Neste meio tempo decidiu participar de uma missão na África, seguindo a tradição solidária de Cuba, e lá se foi para a Tanzânia, onde viveu experiências marcantes do ponto de vista humano. Por isso, sempre assoma uma lágrima quando fala deste momento da vida.
Chamado por Fidel
Na volta para Cuba, seguiu atuando na clínica, trabalhando em hospital, mas nunca se descuidou dos estudos. Andava por toda a ilha falando sobre o interferon, um medicamento que estava sendo usado para combater o câncer e que tinha a vantagem de ser natural, produzido a partir dos glóbulos brancos. “Este medicamento tem a vantagem de não produzir os efeitos colaterais comuns dos citostáticos – químicos - como a queda de cabelos, enjôos, etc... e também funciona contra os vírus em geral”. Pois um belo dia do ano de 1981 Manoel recebeu um chamado especial. O presidente Fidel Castro queria falar com ele.
- Quero que Cuba produza o interferon. Acha possível?
-Sim, podemos.
Um elegante terno de linho, um riso largo e muito bom humor. “Sou neto do Albertinho Limonta, da novela O Direito de Nascer”, diz entre risos. Pois bem poderia ser. Manoel Limonta é um “santiaguero” de Cuba, nascido na bela Santiago, ao sul da ilha insurgente. De sua baía exuberante pode-se divisar a mítica Sierra Maestra, palco das lutas de libertação, e é conhecida mundialmente por sua rebeldia, já que foi berço das batalhas contra a colonização espanhola e, foi ali, na sua serra, que se definiu revolução libertadora. Também foi ali, em Santiago, que ficou preso Fidel antes de iniciar a caminhada que terminou na vitória em 1958.
Foi neste cenário de calorosas lutas que Manoel se fez menino e, nas brincadeiras de infância, já se via médico. Era tudo o que queria ser. Cuidar das gentes tal qual um tio que lhe servia de exemplo. Jovem, não participou diretamente da luta armada, mas seus familiares incursionavam por dentro da revolução que iria trazer nova vida à ilha. E foi graças ao fim da ditadura de Batista que ele conseguiu entrar para a faculdade de medicina e fazer real o seu sonho.
Quando chegou a hora de seguir os estudos, o novo governo revolucionário já estava consolidado. Era o ano de 1962. Manoel Limonta se foi para a capital, Havana. “Em muito pouco tempo o governo promoveu uma revolução também na educação. Já era uma meta a educação gratuita para todos. Por isso, eu tive bolsa de estudo. Em Havana tive alojamento, comida, livros e até dinheiro para os pequenos gastos. Da escola de Medicina saí em 1968 formado como médico social”. Dalí, Manoel foi para o campo, clinicar, pois era no interior que a necessidade se fazia maior. Mas, seu desejo era pesquisar, fazer a diferença para o seu povo. Gostava de hematologia e decidiu fazer especialização. Neste meio tempo decidiu participar de uma missão na África, seguindo a tradição solidária de Cuba, e lá se foi para a Tanzânia, onde viveu experiências marcantes do ponto de vista humano. Por isso, sempre assoma uma lágrima quando fala deste momento da vida.
Chamado por Fidel
Na volta para Cuba, seguiu atuando na clínica, trabalhando em hospital, mas nunca se descuidou dos estudos. Andava por toda a ilha falando sobre o interferon, um medicamento que estava sendo usado para combater o câncer e que tinha a vantagem de ser natural, produzido a partir dos glóbulos brancos. “Este medicamento tem a vantagem de não produzir os efeitos colaterais comuns dos citostáticos – químicos - como a queda de cabelos, enjôos, etc... e também funciona contra os vírus em geral”. Pois um belo dia do ano de 1981 Manoel recebeu um chamado especial. O presidente Fidel Castro queria falar com ele.
- Quero que Cuba produza o interferon. Acha possível?
-Sim, podemos.
“Fidel havia falado com o diretor de um hospital em Houston, no Texas, e este havia falado das maravilhas do interferon. Interessado em produzir o medicamento Fidel perguntou se podia mandar dois médicos para o hospital, aprender com ele. Ele disse que sim. Então o próprio Fidel selecionou as pessoas. Fomos eu e a pesquisadora Vitória Ramirez”. Segundo Limonta, aquele foi um período importante de aprendizado. Depois, descobriram que na Finlândia havia um pesquisador que já lograra produzir o medicamento. Fidel decidiu enviar mais seis médicos para o norte da Europa. “Todo o processo era dirigido pelo próprio Fidel. Ele estava obcecado por garantir a saúde de todos os cubanos, e aquele medicamento era de uma importância vital”.
Por dez dias, uma equipe de seis médicos, incluindo Limonta, Ramirez e mais quatro do Centro Nacional de Investigações Científicas de Cuba, ficou na Finlândia aprendendo o método de produção do interferon. Na volta para Cuba, Fidel já havia arranjado uma casa que serviria de laboratório para a empreitada. Outros pesquisadores foram chamados para somarem-se nesta aventura e, em 48 dias, num trabalho ininterrupto, sem descanso, sem sábado ou domingo, a equipe conseguiu seu intento. “Fidel ia todos os dias ao laboratório, acompanhava de perto. Ele dizia que um método de trabalho precisa ser avaliado a cada final de dia, para que não haja qualquer furo. E foi assim, que no dia 28 de maio de 1981, nós entregamos ao comandante o produto envasado e com as provas que definiam a sua qualidade”.
Inventando a ciência cubana
Pois como se só esperasse que aquela odisséia tivesse sua vitória, no mês seguinte a ilha foi assolada com uma epidemia de dengue hemorrágica. O interferon foi usado, sempre acompanhado de um protocolo de estudo, comprovando que o medicamento, aplicado nas primeiras fases da doença, tinha uma boa resposta. Depois, mais tarde, usaram o interferon para combater uma espécie de conjuntivite hemorrágica, também com sucesso, assim como no tratamento da hepatite B e no câncer de mama.
Por conta disso Fidel entendeu que era preciso construir um novo centro de pesquisas para incrementar a produção do interferon e, aproveitando o método de trabalho que resultou na produção daquele medicamento, desenvolver também a biologia molecular e a engenharia genética. “Este é o que chamamos de modelo de ciclo fechado porque os mesmos investigadores que desenharam o projeto, participaram da produção e da aplicação clínica”. Limonta conta que este método acabou servindo de modelo para o trabalho em biotecnologia que não existia ainda em Cuba. E o desejo de Fidel de garantir a saúde para todos gerou em poucos meses um novo centro com mais de quatro mil metros quadrados, com equipamentos novos e mais pesquisadores. Foi o nascimento da engenharia genética que, por sua vez, produziu o interferon recombinante, que não necessita mais dos glóbulos brancos. Ele se faz a partir da introdução num hospedeiro que cria um novo gen mais limpo e mais produtivo. “Foi um salto impressionante na pesquisa”.
Todo o processo do nascimento da ciência própria em Cuba teve a participação de Manoel Limonta. Ele foi o responsável pelo primeiro grupo, depois respondeu pelo Centro e coordenou o trabalho com o interferon, biotecnologia, imunologia moderna e microbiologia avançada. Em 1986 foi inaugurado o Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia, com 74 mil metros quadrados de construção em 15 hectares de terra, que agrupava todas as áreas da biotecnologia. Limonta foi o diretor geral. “Foram cinco anos de revolução na ciência cubana. Introduzimos uma tecnologia que não existia e realizamos uma mudança radical”.
A terceira etapa da estruturação da ciência cubana se deu de 1986 a 1991. Nestes outros cinco anos os profissionais desenvolveram novos produtos recombinantes que foram decisivos para consolidar a posição de Cuba na ciência mundial. A partir daí a ilha não só passou a ser autossuficiente na área de medicamentos, mas, fundamentalmente, começou a ser uma exportadora de remédios, ampliando assim as divisas.
Enfrentando o bloqueio
Toda essa aventura da ciência cubana não aconteceu por mágica. Foram 10 anos de estafante trabalho num período de grandes turbulências em nível mundial. Enquanto os pesquisadores trabalhavam como loucos nos laboratórios, o mundo lá fora se transformava, inclusive com a queda do bloco soviético que, por muito tempo, fora o principal parceiro de Cuba. “Nós estávamos mergulhados no trabalho, baseados num princípio de Fidel que dizia que não podíamos desperdiçar horas de esforço quando a saúde do povo cubano dependia do trabalho que estávamos fazendo. Ali, o único que nos interessava era avançar nas pesquisas e na produção de remédios para abastecer nossa gente”. O resultado é que, hoje, Cuba tem dezenas de produtos à disposição do mundo todo, centenas de patentes e contratos com mais de 50 países.
A educação e a ciência sempre foram prioridade em Cuba. Cuidar da mente e do corpo do povo era e é o grande compromisso da revolução. Por isso, já no final dos anos 80 criaram-se novas instituições como o Centro de Imuno-Ensaio, preparado para a elaboração de diagnósticos, o Instituto Finley, para a produção da vacina contra a meningite meningocócica tipo B, outros centros de Engenharia Genética no interior do país, o Centro Nacional de Bio-preparados, o Centro de Imunologia Molecular, que produz vacinas terapêuticas contra o câncer. “Isso tudo fez com que tivéssemos um desenvolvimento incrível. O método e uma agrupação de profissionais que não compete, que coopera, que se fortalece e que oferece medicamentos gratuitos a toda população”.
Essa obsessão pela ciência e pela saúde popular seguiu firme pela década de 90 e hoje a biotecnologia cubana é um dos elementos mais importante do Produto Interno Bruto, ocupando o terceiro lugar. Para quem está envolvido até a medula no processo como Manoel Limonta o que assoma é a satisfação. “Naqueles dias em que iniciamos a produção do interferon cheguamos a passar 18 dias inteiros no laboratório, sem ir pra casa. Mas aquilo era uma sensação maravilhosa. Tínhamos a atenção e a exigência de Fidel. Sabíamos que aquilo era importante para a gente cubana. Fidel é uma pessoa que irradia patriotismo, segurança no futuro, altruísmo. Ele fazia a gente se sentir especial. Foi um tempo muito lindo”.
A ilha sem Fidel
Agora, nesta primeira década do século XXI, a ilha de Cuba se deparou com um fato de difícil assimilação: ficar sem Fidel. O velho comandante está doente e afastou-se da direção do país. Quem compartilhou estes anos todos do sonho revolucionário que tornou Cuba uma referência no mundo sabe que Fidel faz e fará muita falta. “Ele é um ser humano incomparável. Tem um altíssimo nível cultural, político, ético. Mas ele também soube preparar muito bem o país para seguir o caminho sem ele. Isso faz um líder”. Limonta acredita que Cuba está capacitada para enfrentar novos desafios, novas circunstâncias, que vai se desenvolver sem perder o princípio do social, as conquistas e a pureza moral das coisas que a revolução alcançou.
No campo da ciência, estes pesquisadores que entregaram sua vida para a melhoria da saúde em Cuba, não se arrependem um segundo de todos os sacrifícios que tiveram de fazer. “Trabalhamos como animais, mas valeu a pena. O bloqueio imposto pelos Estados Unidos nos colocou desafios grandiosos e nós soubemos ultrapassar tudo isso. O inimigo nos tornou mais fortes e determinados. Por isso, não há como parar Cuba. Porque somos um povo criativo, capaz e nunca deixamos de enfrentar os desafios. Isso não vai mudar”.
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