domingo, 22 de março de 2009

E louvemos agora as grandes máquinas...

Míriam Santini de Abreu
Ouvi o ronco da motosserra numa manhã. Imaginei que a prefeitura estaria limpando o terreno baldio atrás do prédio onde moro. Mas o resultado eu só vi na noite do dia seguinte, quando cheguei em casa e fui recolher a roupa. Tudo, absolutamente tudo, havia sido arrancado, inclusive a árvore querida na qual pousavam pássaros e que eu gostava de contemplar da janela da sala. De dia fui conferir o estrago. Dela só restou um toco com algumas farpas, em meio a um solo nu e poeirento.
Quando estive em Cambará do Sul (RS), ouvi uma piada freqüente. A região gaúcha não é mais chamada de Campus de Cima da Serra, e sim de Pinus de Cima da Serra. O pinus tomou a terra onde pastava o gado porque dá mais dinheiro. Os produtores, sempre às voltas com as migalhas da pífia política agrícola do governo, agora se dedicam às enfileiradas plantações, que crescem rápido nestas terras do Brasil.
Gosto de “viajar” no Google Earth, que permite observar qualquer parte da Terra, especialmente com o recurso pelo qual se vê o mundo em três dimensões. É com fascínio amedrontado que observo a Mata Atlântica pontilhada de cidades, a Serra do Mar cheias de estrias-estradas, a cratera cinzenta da mina de cobre de Chuquicamata no coração do Deserto de Atacama, o fulgor de Manhattan, tal como no filme AI - Inteligência Artificial. Ali está o resultado do trabalho social no que ele tem de poético, estupendo, perverso. E principalmente o resultado deste trabalho sobre a superfície terrestre. A motosserra que despedaçou a minha arvoreta é filha dessa história, gene de uma linhagem cujo apetite é cada vez mais voraz. Veja o tamanho desta fome em:
www.youtube.com/watch?v=-pLsjqPAIdE
http://www.youtube.com/watch?v=TLhGVOZL8JU&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=RLumXbRP3Fc&feature=related

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