segunda-feira, 9 de março de 2009

Nas ruas rebeldes, presente!...

Elaine Tavares, jornalista
Eu tenho outros pensares sobre a morte. Acredito firmemente que há mortos que nunca morrem. Estes são aqueles, imprescindíveis, que estão sempre na ponta de lança das lutas. Por isso não perco meu tempo com lágrimas. Gosto de celebrar meus mortos seguindo seus exemplos.
Por isso que estes dias, nas passeatas das gentes em luta pelo transporte coletivo, eu os vi, vivos, carregando bandeiras vermelhas, tal qual faziam em vida. Dois queridos companheiros desta UFSC, cujos corpos já não estão. Mas que eu jamais considerarei mortos, porque vivem em mim e em tantos outros que os amam.
Nas tardes quentes em que os jovens estudantes, junto com os militantes sociais, enfrentavam a polícia e o nojo dos passantes, pude vislumbrar o meu querido amigo Eduardo Dalri, militante comunista, implacável diante da injustiça, sempre presente nos protestos e nas lutas. Caminhava colado na pele daquela gurizada que iniciava agora o caminho tantas vezes por ele percorrido. Eduardo nunca morrerá enquanto houver um menino clamando justiça.
E o outro, que vi, riso largo, olhar azul, correndo por entre o povo, foi o Assis, guerreiro da gente, amigo fiel, eterno militantes de todas as causas. Assis sempre puxou a orelha dos estudantes da UFSC, no seu jeito meigo/bruto. “Não sejam burros, tem que lutar”. Ver ali, carregando o carrinho de som, o Diógenes, da Economia, foi ver o Assis. Era o sonho do Assis, um DCE de luta.
E assim são as coisas. Os nossos mortos seguem aí, vivos em nós. Eles não precisam de bustos, de placas, de nada que não seja nossa boa e velha luta. Mas, sempre é bom lembrá-los. E nem precisa ser em datas específicas. Falo isso porque me lembro das mulheres que foram ao sepulcro chorar por Jesus, quando ele se foi. Foram duramente repreendidas por um anjo que guardava a tumba. “Por que procurais entre os mortos aquele que vive?”. Faço minhas estas palavras, e conclamo aos que amam estes dois companheiros que foram para outro plano há tão pouco tempo a não procurá-los entre os mortos. Porque não estão. Eles vivem, nas ruas rebeldes... É lá que o reverenciamos!

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