Míriam Santini de Abreu
Um homem com os olhos sombreados pelo chapéu, sentado na beira do rio, conta histórias sobre o saci. Lugar: o sertão paulista. Outro homem, rosto fino marcado por rugas, bate na terra com um sarrafo e revela que assim encontra objetos enterrados na mata, arte batizada de rabdomancia. Lugar: o litoral fluminense. São pessoas assim que os viajantes encontram Brasil afora, memória plena de causos, vidas enlaçadas com todos os que se dispõem a sentar e ouvir.
Há boa literatura sobre viajar, deslocar-se no tempo e no espaço, deixar para trás o que é familiar. Mas os significados disso são sempre muito pessoais. Viajar, penso eu, também é um ato de profunda fé. É preciso acreditar que o tempo passado longe dos amores, dos amigos, do que nos é sagrado, será generoso. Que a sorte será boa. Viajar é se desprender momentaneamente do-que-é para apostar no que-virá-a-ser.
Viagens também revelam o sem-fim de experiências de vida. Muitas vezes fica-se um dia, dois em uma cidade, um pequeno lugarejo, e no terceiro alguém nos cumprimenta, porque nos viu no dia anterior. Ou então basta entrar na padaria de uma ruazinha para receber o sorriso de uma atendente para quem somos ligeiramente familiares. Aí se tem a sensação de já pertencer àquela terra, àquelas rotinas, como se não houvesse lugar para voltar. Ali nascemos, ali ficamos. Por isso o retorno ao lar às vezes deixa a alma cheia de penumbras. A gente percebe que é de todos os lugares, e também de nenhum.
Nas últimas décadas o ato de viajar passou a fazer parte do lazer administrado, com uma imensa rede de negócios voltada para a prestação do turismo. Esse é mais um serviço do capitalismo. Mas conhecer aqueles homens – um na beira do rio, outro na trilha no meio da mata – é algo que não está em nenhum pacote turístico.
Há boa literatura sobre viajar, deslocar-se no tempo e no espaço, deixar para trás o que é familiar. Mas os significados disso são sempre muito pessoais. Viajar, penso eu, também é um ato de profunda fé. É preciso acreditar que o tempo passado longe dos amores, dos amigos, do que nos é sagrado, será generoso. Que a sorte será boa. Viajar é se desprender momentaneamente do-que-é para apostar no que-virá-a-ser.
Viagens também revelam o sem-fim de experiências de vida. Muitas vezes fica-se um dia, dois em uma cidade, um pequeno lugarejo, e no terceiro alguém nos cumprimenta, porque nos viu no dia anterior. Ou então basta entrar na padaria de uma ruazinha para receber o sorriso de uma atendente para quem somos ligeiramente familiares. Aí se tem a sensação de já pertencer àquela terra, àquelas rotinas, como se não houvesse lugar para voltar. Ali nascemos, ali ficamos. Por isso o retorno ao lar às vezes deixa a alma cheia de penumbras. A gente percebe que é de todos os lugares, e também de nenhum.
Nas últimas décadas o ato de viajar passou a fazer parte do lazer administrado, com uma imensa rede de negócios voltada para a prestação do turismo. Esse é mais um serviço do capitalismo. Mas conhecer aqueles homens – um na beira do rio, outro na trilha no meio da mata – é algo que não está em nenhum pacote turístico.
2 comentários:
Míriam, que texto gostoso de ler! O blog é muito legal, textos muito bem escritos e com conteúdo.
Isso de viajar e não ter apegos materiais que te prendam em determinado lugar, é bom demais!
Assim, não nos acomodamos e, de quebra, conhecemos personagens factuais realmente especiais.
Uma imensa satisfação encontrar, na semana da mulher, um grupo de mulheres tão deliciosamente lutadoras e femininas feministas!
Felicidade imensa!
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