quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Editoras de P&N têm dois artigos em livro

Será realizado no dia 29 de novembro, quinta-feira, às 18h, no Hall do Centro Sócio-Econômico da UFSC, em Florianópolis, o lançamento da segunda edição do livro Universidade: a democracia ameaçada, organizado por Valdir Alvim, Waldir Rampinelli e Gilmar Rodrigues. Um das editoras de Pobres & Nojentas, Míriam Santini de Abreu, assina o artigo “A resposta do poder ao movimento grevista de nove meses na UERJ: ruptura do discurso e da prática da democracia. Já Elaine Tavares, também editora de Pobres & Nojentas, assina, com Raquel Moysés, o artigo “Esta democracia?! Ou a invenção do novo...” A obra tem 14 artigos, com autores da UFSC e de outras universidades, entre os quais professores, técnicos-administrativos e estudantes.
O livro Universidade: a democracia ameaçada tem como objetivo principal analisar e apontar novos rumos para o avanço de um processo democrático na universidade brasileira. Para tanto são abordados vários assuntos, entre os quais o papel dos intelectuais na sociedade, passando pela democracia e pelas eleições internas, focando o dirigismo dos órgãos fomentadores de pesquisa, analisando o carreirismo que leva “à raridade do pensamento crítico e abrangente”, discorrendo sobre o movimento estudantil e dos técnicos-administrativos, denunciando o expansionismo dos cursos pagos lato senso, discutindo a idéia de universidade e a recente reforma universitária. Temas por demais importantes que requerem uma discussão constante. Universidade: a democracia ameaçada é o resultado de um debate permanente nas comunidades universitárias, bem como entre os próprios autores.


- Apresentação: Ricardo Antunes – Professor da Unicamp;- Prefácio: Zilda Márcia Grícoli Iokoi – Professora da USP;- O Papel dos intelectuais na transformação social: James Petras - Universidade de Nova Iorque;- Universidade, Sociedade e Política - Adriano Luiz Duarte e Waldir José Rampinelli – UFSC;- Democracia capilar – Armando de Melo Lisboa – UFSC;- Esta democracia?! Ou a invenção do novo... - Elaine Tavares e Raquel Moisés – UFSC;- A corrida pelo Lattes - Antonio Ozaí da Silva; UEM;- A resposta do poder ao movimento grevista de nove meses na UERJ - Míriam Santini de Abreu – UFSC;- Representação, Participação e Democracia – Rodrigo Mioto dos Santos – UFSC;- A crise da universidade, o desafio digital e a democratização do ensino - Sérgio Luiz Prado Bellei – UFSC;- Democratização universitária com políticas de comunicação – Paulo Fernando Liedtke e Moacir Loth – UFSC;- Kant, Derrida, e a idéia de universidade - Maria de Lourdes Borges – UFSC;- Entre Córdoba e Washington: a disputa pela reforma universitária na América Latina – Nildo Ouriques – UFSC;- Democracia e Universidade: A reforma que não reforma - Fernando Ponte de Sousa – UFSC;- Rumos da Educação Universitária – Célio Espíndola – UFSC;- Ensino público e gratuito: a problemática dos cursos de pós-graduação ‘lato sensu’ e as fundações de apoio – Valdir Alvim e Gilmar Rodrigues – UFSC.

LEIA ARTIGO DA PROFESSORA MARLI AURAS ESCRITO PARA O LANÇAMENTO DA PRIMEIRA EDIÇÃO DO LIVRO:

Por que a democracia encontra-se ameaçada no interior da Universidade?
Marli Auras - Professora Titular do CED/UFSC, aposentada

Está para ser lançado o livro Universidade: a democracia ameaçada, organizado por Waldir Rampinelli, Valdir Alvim e Gilmar Rodrigues, pela editora Xamã, São Paulo. Trata-se de uma obra composta por 14 artigos, todos de autoria de integrantes do cotidiano universitário, professores, pós-graduandos, jornalistas e servidores técnico-administrativos da UFSC e de outras universidades públicas brasileiras e latino-americanas. Posso afirmar que o traço comum a amalgamar os artigos é a forte preocupação para com a defesa do caráter público da Universidade, sob diversos ângulos do trabalho realizado no interior da instituição. Daí o próprio título da obra, que apresenta como inspiração e como força motriz o entendimento de que, para que se consiga ampliar, realmente, com firmeza e coerência, tal compromisso com o público, é indispensável a ampliação e o aprofundamento das práticas democráticas também no âmbito da própria Universidade. Inclusive porque esta instituição, mantida pelos cofres públicos, diante do avassalador domínio do analfabetismo, funcional ou não, a caracterizar historicamente a sociedade brasileira, é um campo privilegiado para a promoção do avançar da democracia em nosso meio, teórica e praticamente (para percebermos mais fundamente o significado disto, é fundamental lembrarmos que a pesada e distorcida carga tributária nacional, proporcionalmente, acaba incidindo mais sobre a multidão dos brasileiros que ganham menos, sob a forma de impostos indiretos, como é o caso do ICMS).

Considero importante recordarmos que a UFSC proclama como sua missão “produzir, sistematizar e socializar o saber filosófico, científico, artístico e tecnológico (...) na perspectiva da construção de uma sociedade justa e democrática”. Será que tal mister vem, de fato, sendo perseguido e concretizado? O livro ora em pauta possibilita levantar sérias dúvidas a respeito, chegando mesmo a afirmar que a democracia encontra-se ameaçada. Diante da continuidade secular do abissal quadro de excludência a caracterizar a realidade de nosso país (1) mantendo o Brasil na vergonhosa posição de ser um dos campeões mundiais no quesito desigualdade econômico-social, apenas superado por um e/ou outro país do continente africano (geralmente marcados pela presença de guerra civil entre seus diferentes grupos étnicos), urge perguntarmos pela real densidade do caráter público da propalada democracia brasileira e perguntarmos, também, já que são questões inter-relacionadas, pelo caráter público da universidade pública. Se o grande traço de nossa paisagem social é a desigualdade, a marcar feito um vergão gerações e gerações de nossos patrícios Brasil afora, seria ingênuo imaginar que a Universidade nada ou pouco tem a ver com tudo isso.

É fundamental, pois, que venha a contribuir para a criação de um outro “clima cultural”, que problematize fundamente o “status quo”, que busque desvelar - em todos os campos do saber - a gênese e os nexos responsáveis pela sempre reiterada reprodução do mesmo, de modo a possibilitar o avanço das condições históricas capazes de, efetivamente, promover a construção da “res publica”. Tal imperativo demanda, ao fim e ao cabo, a construção de um projeto nacional, democrático, popular, que trate de responder, de fato, ao desafio de mobilizar legiões e legiões de brasileiros, de todas as idades e quadrantes, para a geração de um coletivo que possa romper com a condição subalterna e garantir mais e mais uma vida decente e digna para o conjunto da população.

Todos os artigos da obra aqui referenciada, encharcados por esse caráter militante, desafiam ao debate, à produção de novas e singulares sínteses a partir da diversidade do trabalho realizado nesta instituição. Vale a pena conferir. O leque das discussões vai do papel dos intelectuais latino-americanos na transformação social aos rumos da educação universitária brasileira sob o domínio do capital financeiro e do conservadorismo. O que vem a ser democracia (é preciso “democratizar a democracia”) e a própria idéia de universidade, a relação entre o público e o privado e a questão do exercício do poder no interior da instituição, seus vários processos eleitorais, a acelerada corrida pelo Lattes (condição “sine qua non” para a vida acadêmica), a ausência de uma política de comunicação entendida como um bem público, a longa greve de nove meses dos servidores da UERJ e o desvelamento do discurso supostamente democrático da reitoria e a cerrada luta do movimento estudantil da Universidade Estadual de Londrina (PR) pelo alargamento de sua participação, são temas, todos da maior importância, trabalhados na obra em pauta, Universidade: a democracia ameaçada.

Mas há ainda mais. O leitor interessado encontrará artigos que, feito dardos, lançam perguntas fundamentais, tais como: “Com a universidade pública em descaso, é a sua reforma que precisamos discutir?”, “Por que atualmente se descarta com tanta facilidade o compromisso nacional que ‘toda’ universidade possui?”, “Como é possível que milhares de universitários brasileiros se dirijam, ano após ano, às universidades estadunidenses e européias e não percebam que as instituições que freqüentam e nas quais conquistam seus títulos são ‘universidades nacionais’?”.

Continuam, na obra, as problematizações, todas fecundas e fundamentais, abordando a relação crise da universidade, desafio digital e democratização do ensino (formação educacional para aprender a comprar ou para aprender a refletir?). Por fim, gostaria de destacar um artigo que, pela riqueza e seriedade de suas fontes, alcança o caráter de uma denúncia: “Ensino público e gratuito: a problemática dos cursos de pós-graduação ‘lato sensu’ e as fundações de apoio” (2). Você sabia, caro leitor, que há casos de professores que conseguem faturar cerca de R$ 70 mil mensais só com a remuneração recebida das fundações? E que há casos de alguns tão envolvidos com o oferecimento de cursos pagos fora da sede que chegam a ser substituídos pelos seus doutorandos que, como orientandos-professores, “eram remunerados pelas aulas ministradas!”?Para finalizar, faço minhas as palavras da professora Zilda M.G. Iokoi, da USP, responsável pelo prefácio: “Considero que este livro será muito significativo para o debate sobre a democratização da universidade, que, como puderam observar, é equivalente ao da democratização da sociedade”.

(1)A propósito, recentemente, em 21-09-05, a “Folha de São Paulo”, no Caderno Dinheiro, publicou a reportagem “Fosso – Brasil não só está entre os 4 países mais desiguais em estudo do Banco Mundial como tem mecanismos para perpetuar situação - Bird vê ‘armadilha da desigualdade’ no país”, p. B-1.
(2)Por uma questão de espaço e isonomia, não estou citando os autores do artigo, a exemplo de todos os demais que compõem o conjunto do livro.

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