segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Figadas de verão

Por Míriam Santini de Abreu, jornalista

Adoro a Serra Gaúcha no verão. Os caminhos para as colônias cheiram a uva, os parreirais amaciam a minha melancolia. É época de figos, também, e torço para que minha mãe e minha tia Nique mais uma vez façam figada.
Lembro do ritual, guardado nas memórias de infância:


Comprar uns 10 quilos de figo, o açúcar.
Moer. Despejar o fruto no tacho.
Mexer, mexer, horas a fio, com uma pá de madeira.
Que canseira, aquilo. A uvada é pior, as bolhas doces pulam, às vezes nas mãos.
Eu mexia uns 10 minutos e cansava. A mãe e a tia não cansavam.
Depois, despejar a pasta docemente viscosa nos potes de vidro.


O tacho, como dantes, continua a ser acomodado no canteiro. Negro por fora, dourado-escuro por dentro. E as minhas duas bruxas ali manejam a pá, naquele caldeirão doce. Eu gosto de olhar. E, depois, deslizar, com indolência, a fruta virada pasta num pão caseiro recém-saído do forno. Mas, nem que por uns minutos, eu também deslizo a grande colher de pau no fundo do tacho, preguiçosamente, só para poder dizer que também fui partícipe daquele ritual da colônia.

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