Nas fotos, Ibirama vista do antigo hospital Hansahoehe e objetos de Eduardo Hoerhan expostos no Museu
Míriam Santini de Abreu, jornalista
Diz o poeta e jornalista Fernando Karl:
“Falamos em português - língua sumarenta - porque não exercer, então, a pureza com ferocidade e reinventar a língua portuguesa dentro de nós?”
Língua sumarenta... A língua portuguesa levou-me a Ibirama, Alto Vale do Itajaí [SC] numa tarde quente de novembro. A cidade não me era estranha, com seu relevo arredondado, as pontes sobre o rio Itajaí-açu, a construção imponente no alto de uma colina, construção e colina objetos de meu desejo. Uma Igreja? Escola? Eu não sabia, e, estando a caminho de Rio do Sul, não havia como parar na rodoviária e tirar o véu dos mistérios daquele prédio com a fachada repleta de janelas. Mas eis que descubro a história de Eduardo de Lima e Silva Hoerhan, responsável pela chamada “pacificação” dos índios Xokleng do Alto Vale do Itajaí.
A revelação se deu pelo escrito de Sheyla Germano, estudante de jornalismo na Unidavi, em Rio do Sul, que mora em Ibirama e fez o seu Trabalho de Conclusão de Curso sobre Eduardo Hoerhan. E desde que li a história deste homem – pureza e ferocidade demasiado humanas, chamado pelos indígenas de Katanghára, o rijo – não tive descanso até parar em Ibirama e conhecer o Museu onde estão alguns de seus objetos pessoais e o Cemitério onde ele foi enterrado. E o Museu, descubro, era na construção da colina, o antigo hospital Hansahoehe. Serendipity!
Lá encontro Wilde Bauner, em cujas mãos cuidadosas aqueles antigos vestígios experimentam, de novo, a vida:
Chapéu marrom manchado
Arreios de grosso couro
Botas negras de cano alto
Antigas fotografias, de antigos feitos. E aquela que tanta impressão me causou. Eduardo Hoerhan quase nu, corpo sem pêlos, curva acentuada nos ombros largos, no peito um colar indígena.
E vamos depois, eu e Sheyla, ao Cemitério, onde uma flecha de pedra à guisa de cruz, à sombra de uma palmeira, marca o lugar de descanso do Pacificador. No túmulo, apenas o epitáfio:
“Aqui jaz Katanghara. De seus nobres feitos podem falar as matas virgens de Santa Catarina ou os koingang de longos e negros cabelos que bem o conheceram.”
E experimento ali, sob o céu de Ibirama, o encontro desejado desde que a portuguesa língua deu a conhecer, revivida no livro-reportagem “Katanghára: Memórias do Pacificador”, a tortuosa trajetória de Eduardo de Lima e Silva Hoerhan.
Diz o poeta e jornalista Fernando Karl:
“Falamos em português - língua sumarenta - porque não exercer, então, a pureza com ferocidade e reinventar a língua portuguesa dentro de nós?”
Língua sumarenta... A língua portuguesa levou-me a Ibirama, Alto Vale do Itajaí [SC] numa tarde quente de novembro. A cidade não me era estranha, com seu relevo arredondado, as pontes sobre o rio Itajaí-açu, a construção imponente no alto de uma colina, construção e colina objetos de meu desejo. Uma Igreja? Escola? Eu não sabia, e, estando a caminho de Rio do Sul, não havia como parar na rodoviária e tirar o véu dos mistérios daquele prédio com a fachada repleta de janelas. Mas eis que descubro a história de Eduardo de Lima e Silva Hoerhan, responsável pela chamada “pacificação” dos índios Xokleng do Alto Vale do Itajaí.
A revelação se deu pelo escrito de Sheyla Germano, estudante de jornalismo na Unidavi, em Rio do Sul, que mora em Ibirama e fez o seu Trabalho de Conclusão de Curso sobre Eduardo Hoerhan. E desde que li a história deste homem – pureza e ferocidade demasiado humanas, chamado pelos indígenas de Katanghára, o rijo – não tive descanso até parar em Ibirama e conhecer o Museu onde estão alguns de seus objetos pessoais e o Cemitério onde ele foi enterrado. E o Museu, descubro, era na construção da colina, o antigo hospital Hansahoehe. Serendipity!
Lá encontro Wilde Bauner, em cujas mãos cuidadosas aqueles antigos vestígios experimentam, de novo, a vida:
Chapéu marrom manchado
Arreios de grosso couro
Botas negras de cano alto
Antigas fotografias, de antigos feitos. E aquela que tanta impressão me causou. Eduardo Hoerhan quase nu, corpo sem pêlos, curva acentuada nos ombros largos, no peito um colar indígena.
E vamos depois, eu e Sheyla, ao Cemitério, onde uma flecha de pedra à guisa de cruz, à sombra de uma palmeira, marca o lugar de descanso do Pacificador. No túmulo, apenas o epitáfio:
“Aqui jaz Katanghara. De seus nobres feitos podem falar as matas virgens de Santa Catarina ou os koingang de longos e negros cabelos que bem o conheceram.”
E experimento ali, sob o céu de Ibirama, o encontro desejado desde que a portuguesa língua deu a conhecer, revivida no livro-reportagem “Katanghára: Memórias do Pacificador”, a tortuosa trajetória de Eduardo de Lima e Silva Hoerhan.
Um comentário:
É o que eu digo sempre:
v. é uma exímia escritora e tem, isso é claro, um senso jornalístico de primeira linha.
Fernando karl
Postar um comentário