Por Raul Fitipaldi
Os fenômenos políticos que marcam o início do milênio na América Latina são parentes, mas não são irmãos. Dessa sorte, o que se observa como bom para a região não necessariamente é o ideal para cada país.
A inexistência de alternativas para uma transformação desde a perspectiva da classe pobre (trabalhadora ou desempregada) fica manifesta em cada processo eleitoral do sistema burguês. O PSoL e o PSTU, por exemplo, não constituem um projeto de poder, nem sequer algo mais que uma amostra de que se pode pensar distinto, embora de forma insignificante. Marina Silva, ao menos até agora, é uma nova “grife” do sistema com ares ecologicamente populares.
A vitória de Dilma Rousseff, importante desde o ponto de vista de gênero e, sobretudo, da continuidade política do governo Lula e do modelo que agrada aos mercados, é muito boa, no entanto, para o atual estágio da América Latina. Todo governo progressista deve saudar essa vitória de forma honesta, porém, sem outra expectativa que manter o atual patamar estratégico de relativa unidade para enfrentar-se com os Estados Unidos e a União Européia, além de, naturalmente, ter trânsito e táticas comerciais e políticas comuns com o sócio maior da América Latina. Implica isso também numa relação mais harmônica para enfrentar as assimetrias com o próprio Brasil, Rússia, Índia e China (mais outros aliados conjunturais) e ser menos dependentes dos velhos países centrais.
Não pode ser outra a expectativa porque dentro do Brasil se fracassou e se continua fracassando na criação de alternativas de poder ao modelo, e não será o Brasil que vai apostar numa derrota fundamental do sistema. Não foi o Brasil do Lula nem será o Brasil do Dilma.
A exaltação da Constituição de 88 continua sendo suficiente para garantir que na sua contramão se necessário, todo e qualquer governo encontrará a medida necessária do que pode-se fazer para sustentar a gobernabilidade, como se deve driblar a mobilização popular, como se deve usar o aparelho estatal, o congressual e o jurídico, e como se pode cumprir com a ordem do mercado e distribuir alguma migalha com sensação de conforto (a facilidade para o crédito e a estabilidade aparente, com uma inflação puxada para abaixo do tapete) que será submetida a prova com o declínio econômico dos grandes clientes da União Européia e dos EUA. China é o sócio principal, se ele compra mais e mais ainda tudo bem, se ele pára de comprar, Dilma, Palocci e companhia terão bons motivos para esfaquear a sensação de conforto, começando pelo sistema previdenciário e depois, pela parca distribuição da riqueza.
A sombra benéfica de Lula sempre será uma proteção para a nova Presidente, mas, também para o eleitor (o Povo, ao fim) que suportou séculos de exploração sem um mísero assistencialismo sequer, e pode, por que não, suportar quatro anos mais, se alguém sabe lhe inculcar com bons modos (os de Mantega, Ciro Gomes, Michel Temer, Celso Amorim, entre outros) que a culpa é dos países centrais, do protecionismo. E é, mas, sobretudo sonegando-lhe ao Povo que o sistema capitalista, que o modelo ao qual tem seguido piamente o governo Lula está falido.
Entretanto, alguém levantará a bandeira de um país diferente? De uma Constituição melhor que a mítica 88, que é maravilhosa, mas, não demonstra ser tão útil para eliminar a miséria, para acabar com a riqueza injusta, com a violação dos valores fundamentais da sociedade pobre, majoritária e produtora dessa riqueza que nos faz uma “potência” para fora e um país injusto para adentro? O “alinhamento” dos Movimentos Sociais à candidatura Dilma, especialmente no 2º. Turno é compreensível, porém, não pode ser gratuito. Precisa passar fatura, necessita exigir o cumprimento da Reforma Agrária, o incentivo à educação dos setores do povo excluído, à laicidade do Estado (não existe aqui um tom moralista e sim econômico), às liberdades de opção sexual, à PLENA soberania ambiental, territorial, energética, alimentar e nada disso parece estar na pauta da nova administração que começa em 2011.
Apenas se assoma uma Campanha de Erradicação da Pobreza. Qual delas? São tantas as pobrezas, que só com a distribuição total da riqueza é possível erradicar a pobreza que destrói às gentes que apenas sobrevivem. Os Movimentos Sociais precisam exigir a distribuição das terras, da estrutura de produção e a DEMOCRACIA DIRETA, e parece que só uma Assembléia Constituinte que encurte a relação entre o Poder e Povo (e este controle esse Poder) pode conseguir os mecanismos para tal realização. Isso não estará na agenda de Dilma, tem que surgir da agenda dos Movimentos Sociais e da Classe Trabalhadora do Brasil.
Enquanto isso haverá momentos mais doces, mais azedos, mas sempre será um país na lógica do capitalismo mais perverso e excludente, esse que nem se observa tanto aqui no Sul, e que parece mais uma obra de García Márquez que a verdade cotidiana de um Brasil imenso que vota e uma semana depois nem sabe a quem votou.
Chegou Dilma, é a primeira mulher no poder depois da princesa Isabel; é o Terceiro Milênio, é a América Latina-Abya Yala em debate de transformação, é a Pátria Grande jogando suas fichas. Podemos apostar em Dilma? Não se sabe ainda, mas, não é para jogar muitas fichas.
O salutar é a derrota eleitoral da pior da oligarquia paulista, mas, é pouco. Na casa de Andrea Matarazzo alguém perguntou: - E agora José? E José: - Deixa pra lá, Aécio já fez sua Carta ao Povo Brasileiro.
Os fenômenos políticos que marcam o início do milênio na América Latina são parentes, mas não são irmãos. Dessa sorte, o que se observa como bom para a região não necessariamente é o ideal para cada país.
A inexistência de alternativas para uma transformação desde a perspectiva da classe pobre (trabalhadora ou desempregada) fica manifesta em cada processo eleitoral do sistema burguês. O PSoL e o PSTU, por exemplo, não constituem um projeto de poder, nem sequer algo mais que uma amostra de que se pode pensar distinto, embora de forma insignificante. Marina Silva, ao menos até agora, é uma nova “grife” do sistema com ares ecologicamente populares.
A vitória de Dilma Rousseff, importante desde o ponto de vista de gênero e, sobretudo, da continuidade política do governo Lula e do modelo que agrada aos mercados, é muito boa, no entanto, para o atual estágio da América Latina. Todo governo progressista deve saudar essa vitória de forma honesta, porém, sem outra expectativa que manter o atual patamar estratégico de relativa unidade para enfrentar-se com os Estados Unidos e a União Européia, além de, naturalmente, ter trânsito e táticas comerciais e políticas comuns com o sócio maior da América Latina. Implica isso também numa relação mais harmônica para enfrentar as assimetrias com o próprio Brasil, Rússia, Índia e China (mais outros aliados conjunturais) e ser menos dependentes dos velhos países centrais.
Não pode ser outra a expectativa porque dentro do Brasil se fracassou e se continua fracassando na criação de alternativas de poder ao modelo, e não será o Brasil que vai apostar numa derrota fundamental do sistema. Não foi o Brasil do Lula nem será o Brasil do Dilma.
A exaltação da Constituição de 88 continua sendo suficiente para garantir que na sua contramão se necessário, todo e qualquer governo encontrará a medida necessária do que pode-se fazer para sustentar a gobernabilidade, como se deve driblar a mobilização popular, como se deve usar o aparelho estatal, o congressual e o jurídico, e como se pode cumprir com a ordem do mercado e distribuir alguma migalha com sensação de conforto (a facilidade para o crédito e a estabilidade aparente, com uma inflação puxada para abaixo do tapete) que será submetida a prova com o declínio econômico dos grandes clientes da União Européia e dos EUA. China é o sócio principal, se ele compra mais e mais ainda tudo bem, se ele pára de comprar, Dilma, Palocci e companhia terão bons motivos para esfaquear a sensação de conforto, começando pelo sistema previdenciário e depois, pela parca distribuição da riqueza.
A sombra benéfica de Lula sempre será uma proteção para a nova Presidente, mas, também para o eleitor (o Povo, ao fim) que suportou séculos de exploração sem um mísero assistencialismo sequer, e pode, por que não, suportar quatro anos mais, se alguém sabe lhe inculcar com bons modos (os de Mantega, Ciro Gomes, Michel Temer, Celso Amorim, entre outros) que a culpa é dos países centrais, do protecionismo. E é, mas, sobretudo sonegando-lhe ao Povo que o sistema capitalista, que o modelo ao qual tem seguido piamente o governo Lula está falido.
Entretanto, alguém levantará a bandeira de um país diferente? De uma Constituição melhor que a mítica 88, que é maravilhosa, mas, não demonstra ser tão útil para eliminar a miséria, para acabar com a riqueza injusta, com a violação dos valores fundamentais da sociedade pobre, majoritária e produtora dessa riqueza que nos faz uma “potência” para fora e um país injusto para adentro? O “alinhamento” dos Movimentos Sociais à candidatura Dilma, especialmente no 2º. Turno é compreensível, porém, não pode ser gratuito. Precisa passar fatura, necessita exigir o cumprimento da Reforma Agrária, o incentivo à educação dos setores do povo excluído, à laicidade do Estado (não existe aqui um tom moralista e sim econômico), às liberdades de opção sexual, à PLENA soberania ambiental, territorial, energética, alimentar e nada disso parece estar na pauta da nova administração que começa em 2011.
Apenas se assoma uma Campanha de Erradicação da Pobreza. Qual delas? São tantas as pobrezas, que só com a distribuição total da riqueza é possível erradicar a pobreza que destrói às gentes que apenas sobrevivem. Os Movimentos Sociais precisam exigir a distribuição das terras, da estrutura de produção e a DEMOCRACIA DIRETA, e parece que só uma Assembléia Constituinte que encurte a relação entre o Poder e Povo (e este controle esse Poder) pode conseguir os mecanismos para tal realização. Isso não estará na agenda de Dilma, tem que surgir da agenda dos Movimentos Sociais e da Classe Trabalhadora do Brasil.
Enquanto isso haverá momentos mais doces, mais azedos, mas sempre será um país na lógica do capitalismo mais perverso e excludente, esse que nem se observa tanto aqui no Sul, e que parece mais uma obra de García Márquez que a verdade cotidiana de um Brasil imenso que vota e uma semana depois nem sabe a quem votou.
Chegou Dilma, é a primeira mulher no poder depois da princesa Isabel; é o Terceiro Milênio, é a América Latina-Abya Yala em debate de transformação, é a Pátria Grande jogando suas fichas. Podemos apostar em Dilma? Não se sabe ainda, mas, não é para jogar muitas fichas.
O salutar é a derrota eleitoral da pior da oligarquia paulista, mas, é pouco. Na casa de Andrea Matarazzo alguém perguntou: - E agora José? E José: - Deixa pra lá, Aécio já fez sua Carta ao Povo Brasileiro.
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