Míriam Santini de Abreu
Já contei que tenho há anos um par de botas de couro, pretas, com cadarço, cujo salto já troquei três vezes. Eles gastam, mas só. O couro é bom. Por isso as mantenho no armário, e as chamo de “botinhas de repórter”. Para mim, elas representam a profissäo que escolhi. Eu visto as botas nos dias em que saio de casa para fazer algo especial, fora da rotina de trabalho.
Sexta dessas estávamos eu e Elaine no Mercado Público de Floripa quando um homem apresenta um cartão e pergunta: - Quer engraxar a bota?
Eu detesto engraxar bota. O resultado, quando eu mesma faço o serviço, sempre fica meio ruim. Pois Pedro João Felomeno – este é o nome dele – disse que era o caso de também aplicar uma tinta.
- Manda ver – respondi.
E eis que, ainda conversando com a Elaine, sinto um calorzito no pé, espio e vejo o Pedro a “benzer” a minha bota com fogo, uma chama alongada vinda de uma buchinha de feltro espetada num arame. Era para fixar a tinta.
Pedro tem 40 anos e trabalha desde os 12. Também é pedreiro, carpinteiro, o que precisar. O seu cartão de visita tem o número de celular, e ele conta que é muito requisitado por advogados que, logo antes de uma audiência, notam que o sapato que usam não está nas melhores condições. Pedro pode ser encontrado no Mercado Público. O serviço é de primeira.
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