segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Botinhas em fogo



Acima, resultado de primeira; abaixo, Pedro no seu fazer

Míriam Santini de Abreu

Já contei que tenho há anos um par de botas de couro, pretas, com cadarço, cujo salto já troquei três vezes. Eles gastam, mas só. O couro é bom. Por isso as mantenho no armário, e as chamo de “botinhas de repórter”. Para mim, elas representam a profissäo que escolhi. Eu visto as botas nos dias em que saio de casa para fazer algo especial, fora da rotina de trabalho.

Sexta dessas estávamos eu e Elaine no Mercado Público de Floripa quando um homem apresenta um cartão e pergunta: - Quer engraxar a bota?

Eu detesto engraxar bota. O resultado, quando eu mesma faço o serviço, sempre fica meio ruim. Pois Pedro João Felomeno – este é o nome dele – disse que era o caso de também aplicar uma tinta.

- Manda ver – respondi.

E eis que, ainda conversando com a Elaine, sinto um calorzito no pé, espio e vejo o Pedro a “benzer” a minha bota com fogo, uma chama alongada vinda de uma buchinha de feltro espetada num arame. Era para fixar a tinta.

Pedro tem 40 anos e trabalha desde os 12. Também é pedreiro, carpinteiro, o que precisar. O seu cartão de visita tem o número de celular, e ele conta que é muito requisitado por advogados que, logo antes de uma audiência, notam que o sapato que usam não está nas melhores condições. Pedro pode ser encontrado no Mercado Público. O serviço é de primeira.

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